História O caminho para uma alma perdida - O bom coração

Um bom coração, nestes dias, é difícil encontrar
Então, por favor, seja gentil com este meu coração
 

Logo ao voltar da primeira missão, Kaori já estava se sentindo exausta e implorando pela aposentadoria ninja. Seu cansaço estava dobrado agora que se encontrava na conhecida floresta de Konoha, onde treinava acompanhada de seu sensei de cabelos grisalhos e com uma bandana lhe cobrindo um dos olhos.    

— Kakashi-sensei, você nunca me disse porque usa a sua bandana dessa forma. — falou a menina em um intervalo rápido que conseguia ter cada vez que desviava de uma série de golpes que o homem aplicava na direção dela. Era incrível como a agilidade e percepção de Kaori dobraram em questão de poucos dias, deixando seu sensei surpreso. Ele até mesmo se esquecia que não conhecia a garota anteriormente e ela provavelmente não havia escutado sobre o “Kakashi Hatake o ninja copiador”, por isso não conhecia a história do olho com sharingan que o mais velho carregava.

— Hm… Você vai descobrir em alguma outra ocasião. — ele respondeu, deixando a menina descontente em não obter alguma revelação vinda de seu sensei. Kakashi riu baixinho por baixo da máscara, afinal ele logo percebeu com a convivência como a menina era teimosa. Os dois adquiriram a mania de conversar coisas até mesmo fúteis durante os treinos, apenas pelo prazer de terem a companhia um do outro. Ambos ao voltarem para casa encontravam um ambiente vazio e solitário, então ao estarem juntos aproveitavam para trocar palavras que não poderiam com as paredes de suas casas.     

Claro que Kaori tinha Naruto como companheiro de quarto e adorava quando o baixinho estava lhe fazendo rir enquanto comiam lámen instantâneo juntos. Porém nos últimos dias, desde que havia voltado da missão com Kiba, ela não tinha visto o amigo ainda e isso a preocupou. Sakura lhe explicou que Naruto estava treinando com Jiraiya-sensei e por isso tem estado tão ocupado.

— Concentração, Kaori. — advertiu Kakashi, acertando o alto da cabeça dela com uma batidinha de um livro que tinha em mãos. A morena havia se distraído tanto com os pensamentos sobre Naruto que não percebeu nem mesmo quando o homem havia pego o objeto do bolso. Ela o olhou com os olhos semicerrados e uma cara desconfiada quando viu o mesmo exemplar de sempre dos livros pervertidos que ele costumava ler.

— Vai me desafiar com esse livro de novo? Se eu roubá-lo de você, o jogo no rio. — disse petulante, pois estava levemente irritada ao imaginar que Kakashi a provocaria com o mesmo descaso que em seu primeiro treinamento juntos.    

— Não, só o usei para chamar sua atenção. — ele guardou o livro de volta no bolso da calça, sem cerimônias e sem desviar os olhos de Kaori. — Parece preocupada com alguma coisa.    

A morena que estava ocupada em esfregar o local acertado pelo livro do sensei, parou o que fazia para soltar os ombros e suspirar entregue ao cansaço do corpo e da mente por tantas coisas que lhe bagunçavam a cabeça ao mesmo tempo. Desconfiava que nem mesmo Kakashi poderia ser o ouvinte que seus desabafos precisavam, então engoliu parte deles antes de prosseguir.

— E estou realmente. Preocupada com Naruto, preocupada com aquele cabeça oca que deve estar treinando até ficar exausto e que a única coisa que come é lámen… — ela pode ouvir algo parecido com uma risada vindo de Kakashi, mas desconfiou já que o sensei não tinha esse hábito. — O que foi?

— A maneira como você se preocupa com Naruto é um pouco engraçada, mesmo que tenha o conhecido há apenas algumas semanas.

Kaori sentiu as bochechas queimarem quando foi pega no flagra daquela forma. Expor sua preocupação com Naruto era o mesmo que expor como podia ficar facilmente sentimental e ligada a alguém com facilidade. Era um fato sobre si mesma que havia acabado de perceber e isso lhe arrancou um sorrisinho de canto, coisa que tentou esconder de Kakashi quando virou o rosto para o outro lado.

— Você já deve ter percebido como aquele menino consegue cativar as pessoas naturalmente.

— Eu disse que é engraçado, mas não tem nada de errado. — Kakashi falou, afastando-se para pegar do chão uma kunai que havia caído sobre o gramado em algum momento do treino. — Afinal, Naruto se preocupou com você da mesma maneira quando você chegou na vila.

— Significa que me preocupo com ele por sentir que tenho uma dívida de retribuição?. — indagou ela, esperando respostas como se estivesse esperando uma análise de seu psicólogo. Kakashi por sua vez balançou a cabeça negativamente, entregando para a menina o objeto que pertencia a ela.

— Significa que você tem um coração bom, como Naruto.

Não era uma resposta que Kaori esperava receber tão diretamente e de forma tão segura como Kakashi falou, em pouco tempo que os dois se conheciam. Sentiu-se bem escutando aquilo, seu coração se aqueceu com uma chama pequena de agradecimento, seus olhos brilharam em orgulho próprio e seus lábios abriram e fecharam buscando palavras para dizer ao sensei. Não obteve sucesso em formular algo decente, mas o albino entendeu seu silêncio e para ele bastou.    

O que parecia o som de passos apressados que mal tocavam o chão pode ser ouvido de longe pelos dois, que se viraram para ver o que seria. De longe uma pequena bola de pelos com quatro patas de aproximava, ofegante após ter aparentemente corrido bastante. Kaori abriu um enorme sorriso ao ver o cachorrinho que até mesmo usava uma bandana de Konoha.

— Que lindinho! — uma voz boba saiu da morena, entregando seu amor por cães. Pakkun, por outro lado, não pareceu muito feliz por ter sido chamado daquele jeito.

— Lindinho? Assim você fere minha masculinidade, garota. — ele falou, para surpresa de Kaori, deixando ela de olhos arregalados. Desde quando cães falavam? Ela olhou para Kakashi, esperando respostas ou alguma resposta para verificar se não tinha ficado maluca.

— Como vai, Pakkun? — perguntou o Hatake, como se fosse acostumado a manter diálogos amigáveis com vira-latas pela vila. O mais velho sabia que Kaori estaria se sentindo perdida e confusa, mas não a respondeu propositalmente por diversão.

— Desde que você me emprestou para a Tsunade-Sama como mensageiro, eu não estou nada bem. Isso está acabando com as minhas patas. — o cachorrinho ergueu as patinhas para olhar por baixo delas, vislumbrando as almofadinhas rosinha que tinha. — Por falar nisso, a Hokage pediu que você fosse ao escritório dela. E é melhor não demorar, porque ela não está nada feliz.     

Kakashi suspirou longamente e cansado, já imaginando que alguma bomba iria cair sobre sua cabeça.

— Obrigado pelo aviso, Pakkun. Você pode ir descansar agora.

— Valeu Kakashi, era isso que estava precisando. Até mais para o casal. — ao falar, Pakkun desapareceu em meio a uma nuvem de poeira que se levantou do chão por isso. O albino e a morena se avermelharam pelo o último comentário do cachorro e evitaram se olhar após isso.

[...]

Kaori estava fazendo o caminho de volta para o apartamento, sentindo o corpo implorar por um banho quente, roupas limpas e sua cama macia. Uma boa noite de sono era tudo que precisava para repor as energias e deixar sua mente descansar. Kakashi despediu-se da aluna e foi direto para o escritório da Hokage, deixando Kaori curiosa sobre qual missão ela daria ao jounnin. Ficava sempre tentada em perguntar detalhes que desconhecia sobre o sensei, mas já se achava invasiva demais quando lhe indagava coisas simples sobre a vida e o homem escapava de responder. Talvez o albino não a enxergava como a amiga que ela buscava ser para ele ou não estivesse acostumado a ser tão aberto sobre a própria vida.    

Kaori suspirou de forma longa, levando uma mão até a testa para afastar fios de cabelo que caíram nos olhos. Porque tinha a estranha sensação que lidar com caras reservados e misteriosos era algo já comum em sua vida?

— Como se entendê-los fosse algo fácil… Are, are, Kaori, onde você está se metendo e porque se importa tanto? — estava falando sozinha no meio da rua? Sim e quem olhasse poderia julgar que a morena estava ficando louca. — Você precisa conhecer outras pessoas.

— Kaori-chan?

Kaori ergueu o rosto, reconhecendo a voz fina e delicada de Hinata Hyuga.

— Hinata! Como vai? — perguntou para a menina, observando que esta usava os trajes ninjas. — Voltando de missão?

— Vou bem e sim… Kiba e Akamaru ainda estão se recuperando da missão que foram com você, por isso fui apenas com Shino. — explicou, de uma forma doce e de mãos unidas de frente ao corpo com sua típica timidez. — Kiba nos contou como você o salvou. Obrigada, Kaori-chan por ter trazido o meu amigo em segurança.

Hinata curvou-se em uma reverência para Kaori, com seus cabelos curtos caindo para frente. A mais velha ficou sem reação, até mesmo envergonhada por algo tão repentino e por um motivo que a colocava em uma posição de heroísmo que não julgava que combinava consigo.     

— Hinata, não foi nada demais! Eu só… — analisou as próprias palavras após serem ditas em voz alta. “Não foi nada demais”?. Hinata não estava agradecendo seu suposto ato heroico. Estava agradecida por ter ser amigo bem ao seu lado de novo, por Kaori ter feito o que fez por ser sua parceira. — Eu só não poderia deixar que nada tivesse acontecido com Kiba e Akamaru.

— Kaori-chan, eu gostaria de pedir um favor a você.

— Hm?

— Na próxima semana teremos um festival em Konoha e precisamos de ajuda para arrumar algumas coisas. Você poderia nos ajudar? — o tom com que Hinata fazia aquele pedido e a possibilidade de Kaori passar um tempo com os seus outros amigos a deixava contente, então seria impossível negar.

— Claro! Vai ser um prazer.

— Isso é ótimo, obrigada Kaori-chan e…

— EEEII, KAORI, HINATA! — uma voz bastante conhecida pelas duas garotas gritou do outro lado da rua. Todo o escândalo vinha de um loiro baixinho, com cabelos bagunçados e os traços característicos do rosto, como aquelas marquinhas que lembravam bigodes. Hinata subitamente ficou com o rosto fervendo e sua voz entregava seu nervosismo.

— A-ah, é o N-Naruto-kun. E-eu preciso ir, a-até! — não houve tempo para Kaori se despedir da menina, pois essa em questão de segundos já estava há bons metros de distância com seus passos acelerados. A morena soltou uma baixa risada, entendendo rapidamente o que estava acontecendo com Hinata. Será que Naruto seria capaz de perceber algum dia também?

Virou a cabeça para onde o amigo estava e acenava para ela, esperando que se juntasse a ele. Pela primeira vez, Kaori notou a presença de um homem um tanto exótico ao lado do gennin, com longos e brancos cabelos espetados, amarrados para trás e em seu rosto duas linhas vermelhas que corriam de seus olhos. Aquele seria o famoso Jiraiya que estava o treinando nesses últimos dias?

Kaori andou até os dois, recebendo Naruto com um cascudo em sua cabeça e uma expressão zangada estampada no rosto.

— Ai, ai, Kaori-chan! O que eu fiz?! — perguntou esfregando  o local atingido com uma careta de dor.

— Baka, você me deixou preocupada por ter sumido e não ter dado notícias!

— Foi mal, Kaori-chan. Eu fiquei muito ocupado com o treinamento e…

Naruto foi interrompido pelos braços de Kaori se jogando ao redor dos ombros do menino, com o corpo da garota levemente curvado para isso. Um abraço carinhoso e quente, que transmitia a confusão de sentimentos bons que ela sentia pelo loiro. Estava aliviada por ele estar bem após treinar e o conhecia bem o suficiente para saber que deu tudo de si para aprender o que Jiraiya tentou lhe ensinar.

Sentia-se feliz por ver que o menino estava contente por depois de tanto tempo treinando sozinho, seu sensei finalmente havia voltado. Agora ficaria mais perto de alcançar o seu objetivo de ficar forte e chegar até Sasuke, para trazer o amigo de volta a Konoha.

E principalmente… Era grata por Naruto trazer o melhor dela á tona.

— Obrigada, Naruto…