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História O Capítulo Final - A Última Fanfic - Parte 1


Escrita por: LordeUnderworld

Notas do Autor


Os próximos capítulos são dedicados à todos aqueles que estiveram por aqui e tiveram a paciência para acompanhar essas histórias do início ao fim. Obrigado a cada um dos leitores fantasmas que saíram da zona de conforto só para vir até aqui dar um oi e me dar um gás a mais para continuar.

Obrigado ao Mattewz por ter tido paciência comigo e se tornado um bom amigo, obrigado pela Juliana que se tornou uma das minhas melhores amigas, obrigado à CatBlack, obrigado ao Igor, ao Felipe, à Saori... Um enorme beijo em cada um de vocês por que senão fosse pelos comentários e carinho de vocês acho que jamais teria saído do capítulo 01 lááá da minha primeira fanfic.

Sinta-se abraçado, sinta-se importante para mim, por que o carinho que recebi nesse site ao longo desse ano foi maravilhoso. Só de ver um comentário de vocês (todos vocês que acompanham) eu já parava, relia mil vezes e isso era suficiente para alegrar o meu dia. Agora é seguir em frente, é torcer para o que o futuro só traga coisas boas.

E pela última vez eu digo: Boa Leitura!

Capítulo 39 - A Última Fanfic - Parte 1


Fanfic / Fanfiction O Capítulo Final - A Última Fanfic - Parte 1

 

5 MESES DEPOIS

 

O casamento aconteceu em um salão reservado na cidade de Nova York, sendo uma sexta-feira fria em que a maioria dos convidados compareceu com casacos enormes. Uma áurea de paz se instaurava pelo local, as janelas brancas pela neve, não atrapalhavam a visão magnífica dos edifícios altos da cidade, as estrelas brilhavam como se contassem ao mundo que aquele era um dia especial e os murmúrios dos convidados só cessaram quando a música começou e bem baixinho uma versão instrumental de Maluco Beleza começou a tocar. Poucas ali sabiam português, mas aqueles que entendiam e conheciam a trajetória do casal, se sentiram tocados e seguraram as lágrimas de seus olhos marejados.

Os noivos entraram juntos. A família de Felipe havia se recusado a comparecer e como Liam não tinha ninguém ambos decidiram que o melhor a fazer era iniciar a nova vida sem desgarrar um do outro. O sorriso estampado no rosto do loiro fazia com que Felipe ruborizasse e se sentisse o homem mais feliz do mundo por estar finalmente tornando eterno seu voto de cuidar daquele que amava até o fim dos seus dias. O volume da música foi diminuindo à medida que se aproximavam do Juiz de Paz, o padrinho que carregava as alianças fingiu que tinha um cisco no olho e se virou de leve para arrastar os dedos pelos olhos a fim de que as lágrimas não escorressem. Ficou vermelho de emoção e quando o fotógrafo se aproximou dele um olhar fulminante fez o pobre homem se afastar e decidir que era mais seguro deixar suas lentes apontadas apenas para os noivos.

Entre as cabeças e todas as pessoas que se emocionavam, os amigos mais íntimos dos noivos haviam preenchido um banco e sussurravam entre si como tudo estava lindo. Lorde Underworld ficou no meio deles, perto de Lucas. Seus olhos iam para todos os cantos do salão, ficou admirando as palavras do juiz com o pouco de inglês que sabia, mas algumas partes do discurso ainda foram difíceis de assimilar. Seu foco ia para todas as pessoas que estavam ali, desde o Bernardo tentando não chorar até Christian que olhava para os próprios pés pensando como era desconfortável ter que usar sapato social. Liam e Felipe trocavam as alianças num momento sereno que haviam esperado tempo demais para dividirem. James e Symon estavam de mão dadas com Symon pendurado no ombro do marido e lembravam do próprio casamento que aconteceu na comunidade mágica. James lembrou do instante em que as alianças flutuaram em direção às mãos um do outro e como foi lindo trocarem votos de amor. Nico tentava fazer Thomas sorrir, mas ele não tirava a carranca do rosto pelo estresse de ter ficado horas trabalhando na organização da festa enquanto o Nico desaparecia com seus amigos da Alemanha que ele tinha insistido em convidar.

De todos ali presentes, Hugo era o mais sereno que observava o altar com aquele tom romântico de quem espera um dia estar lá na frente com alguém especial. Lucas era o que menos gostava de tudo aquilo, porque olhava para o relógio como se quisesse ir logo embora e ficava arrumando o terno do filho tentando se distrair e esconder a impaciência.

Quando a cerimônia acabou foi o momento de ir abraçar os noivos. A festa teve início, a pista de dança foi aberta, mas a maioria do pessoal apenas ficou circulando no salão e sentados nas mesas aproveitando as bebidas e comida liberada. O enfeite nas mesas eram jarros de cristal que formavam duas mãos entrelaçadas na base, as flores eram lírios brancos e o aroma no ar parecia até canela. Ou pelo menos era o que o Lorde pensava, já que estava com o nariz um pouco entupido. Ficou em pé perto da pista de dança, perto o suficiente das mesas para ver toda a Força-Tarefa se sentando juntos e rindo um com os outros, animados com toda a festa que devia durar a noite inteira. O clima de felicidade era predominante, e por mais que quisesse continuar naquele clima, Lorde sabia que estava ali por mais do que diversão ou afeto aos noivos. Por isso assim que a mulher apareceu ao seu lado e se escorou na parede olhando firme em sua direção, ele não se intimidou. Apenas acalmou a respiração e ficou trocando olhares com ela até que ela se aproximou mais um pouco.  

— Parece tenso, querido – disse ela, tirando um espelho discretamente da bolsa e observando de relance seu rosto.

O cabelo ruivo estava impecável com um brilho natural que daria inveja a qualquer mulher, ela usava um batom vermelho forte, o vestido da mesma cor, custava mais do que o aluguel do local da cerimônia e seus sapatos prata batiam no chão e ecoavam como barulho de espadas se cruzando. Seu sorriso se destacou quando se virou para falar com o Lorde.

— Pelo visto sabia que eu estaria aqui para acompanhar de perto o fim da história.

— Há pouca coisa que eu não sei – disse Lorde, olhando para frente e fingindo que não estava conversando com a moça. – Tive várias visões desde que isso tudo começou, e se tem uma coisa que aprendi nesses anos escrevendo é que nunca existe um final por mais que o escritor queira tentar bancar Deus.

— Quando uma história ganha vida própria são os personagens que fazem seu futuro – ela completou, entendendo o raciocínio do colega. – Você foi mesmo um grande achado, Lorde Underworld.

— Para você, meu nome é Michael.

Ele tentou se afastar e ir embora, mas ela puxou seu braço e Lorde sentiu uma força sobre-humana prendendo-o ali.

— Vim te dar um presente, “Lorde” – e sorriu. – Tenho uma história para você e se quiser ouvi-la, terá que me seguir.

A mulher largou o braço do garoto e lhe deu as costas, andando de uma forma que chamou a atenção de alguns homens à sua volta. Seu jeito sensual, o vestido mostrando parte das pernas e o modo refinado de se vestir, fazia dela uma sereia capaz de seduzir e atrair homens para uma morte eminente.

Por mais que o Lorde fosse imune aos encantos da sereia, ele não se segurou no lugar e percorreu o mesmo caminho que o dela, indo para um corredor mais afastado e seguindo o contorno vermelho até se embrenhar mais e mais entre corredores. Houve um momento em pareceu perdido, olhou para os lados enxergando apenas mais corredores e se perguntou se ainda estava no prédio onde a cerimônia de casamento havia acontecido. Enxergou uma porta aberta, viu a escuridão lá dentro e o fato do painel digital que deveria manter a porta trancada não ter feito o seu trabalho causou curiosidade. Quando entrou arriscou alguns passos pelo degrau e as luzes só foram se acender quando desceu o último.

Lorde arregalou os olhos ao se deparar com dezenas de celas feitas de vidro especial, as paredes brancas e luz fraca davam um tom mórbido ao ambiente. Todas as celas estavam vazias com exceção de uma, na qual a mulher ficou parada em frente e observando o que havia nela.

— O que significa isto? – perguntou o jovem, ficando ao lado dela. – O que ele faz aqui?

— Está onde o Bernardo o colocou... Trancafiado em um local onde nunca mais poderá fazer mal.

Chegou mais perto, encostando no vidro e enxergando Damon sentado em uma mesa com um tabuleiro de xadrez à frente. Nenhuma peça havia sido movida e os olhos escuros perdidos pareciam não entender qual a finalidade de todas aquelas peças espalhadas em quadrados brancos e pretos. Lorde lembrou de quando Damon entrava em sua mente e os dois jogavam aquele jogo durante horas, conversando e pensando no que seria no futuro, quando um deles estivesse morto.

— É horrível o que fez com ele.

— Não tive escolha – disse Lorde, fechando a mão e saindo de perto do vidro. – A culpa foi sua, você o tirou de mim.

— Ele mesmo escolheu seu destino, quando veio me procurar. Aquele garoto pobre, de rua jogou alto e perdeu.

— Então tudo isso não passa de um jogo para você? – explodiu. – Qual é o seu problema?

Ela sorriu, e seu sapato barulhento não fez som algum quando ela se aproximou e falou perto do ouvido do Lorde.

— Tudo é um jogo, querido – e gargalhou, se afastando em seguida e bebendo de uma taça de espumante que o Lorde não entendeu de onde veio. – Sabe, Kinoons são muito mais do que monstros, que o seu namoradinho criava. Se a gosma entra em contato com alguém forte o suficiente para sobreviver essa pessoa se torna um Kinight. No caso do Damon, ele só precisava te matar para se tornar isso. Bem, mais ou menos, já que ele também podia morrer no processo.

— Como? Quer dizer que mesmo se o Damon me matasse ele podia acabar morto?

— Suas visões não te contaram?  Damon sabia e ele fez a escolha dele. – ela respirou fundo antes de continuar falando. – Antigamente existia um jogo, pegavam doze almas e as colocavam numa arena. Onze tinham que morrer para que um se tornasse o mais poderoso, a gosma entrava nessa pessoa e se ela sobrevivesse se transformava no ser mais poderoso do universo.

— Você.

— Exatamente – ela sorriu. – Já fui humana, acredite ou não, mas lutei com todas as minhas forças e me tornei uma sobrevivente. Matei todos os que me levaram para aquela arena e acabei com os jogos. Infelizmente a gosma pede por novos Kinights, e o tédio fez com que eu criasse uma nova espécie de jogo. Você foi o primeiro êxito, não sabia que era um vidente quando lhe dei seus poderes, mas tudo o que foi capaz de fazer para escapar do Damon me deixou extasiada! As histórias que criou, a forma como encontrou aqueles jovens e como lutou para impedir que o Damon fosse vitorioso. Imagino como os leitores de suas fics se sentiriam se soubessem o quanto as coisas que você escreve são reais. É incrível como mudando alguns nomes e acontecimentos você foi capaz de passar ao mundo tudo o que a Força-Tarefa vivenciou.

— Mudei apenas o suficiente para que meus amigos reconhecessem eles mesmos quando leram. Mas o que você quer de mim? Já não destruiu a minha vida o suficiente.

Lorde a interrompeu, não deixando de olhar de minuto em minuto para o Damon que fazia um esforço excruciante para que a saliva não escorresse para fora da boca.

— Acontece que reconheço um sobrevivente quando vejo um. Você é capaz de muito mais do que já fez até agora, foi o vencedor dessa rodada e caso aceite pode estar ao meu lado, como um Kinight. – e apontou para Damon. – Basta ser misericordioso e acabar com o sofrimento dele.

Na mente do Lorde aquilo não soou tão horrível quanto parecia.

Depois do que fez com o Damon, talvez fosse melhor acabar com aquele sofrimento, ele mesmo imaginou o que aconteceria se ficasse naquele estado catatônico. Na certa ia querer que alguém acabasse com aquilo do que continuar naquela espécie de morte cerebral.

Mas naquele momento ele entendeu que não estava ouvindo a proposta de alguém qualquer, mas do próprio diabo. E deve-se ser forte para recusar propostas que vinham com um acordo para entregar a própria alma ao inferno.

— Como você mesma disse, Damon fez a escolha dele. – e se virou para deixar de ver a cela. – O futuro dele não diz mais respeito a mim e se for para ele sofrer o resto da vida, que assim seja.

Ela não ficou satisfeita, mas mesmo assim sorriu. Qualquer que fosse o resultado daquilo, já havia ganhado.

— Se essa é sua escolha, não posso fazer mais nada – ela se virou. – Existem muitos outros escritores de fanfics por aí, e estou disposta a dar uma atenção especial a eles. Imagine, dezenas de fanfics se tornando reais. Acho que já passou da hora de buscar novas histórias e seguir com novos jogos. Adeus, Lorde Underworld. Foi um prazer conhece-lo.

— Até mais, Elizabeth – ela ia embora, mas Lorde pegou seu braço com força e a puxou. – Eu vi o seu futuro e ele é nebuloso. Pode não ser pelas minhas mãos, pode não ser pelas mãos dos meus amigos, mas você terá o que merece. Mais cedo. Ou mais tarde.

Elizabeth fez com que ele a soltasse num gesto defensivo. Se quisesse poderia esmagar o crânio do garoto com um simples gesto, mas ao invés disso apenas levou consigo a gosma que existia dentro do Lorde e do Damon, e foi embora para sempre. Ao seu redor a gosma recém obtida fez um redemoinho ao redor do seu corpo e fez com que ela desaparecesse.

Lorde ainda ficou um minuto parado ali naquele bloco de celas, observando hora o Damon e hora o local onde a vilã havia ido embora. Seus olhos meio avermelhados se fecharam e ele precisou acalmar seu íntimo antes de subir as escadas, fechar a porta e voltar para a festa.

 

UM ANO DEPOIS

 

Quando Bernardo fez a mansão se transformar em um orfanato ele já sabia que a Força-Tarefa precisaria de uma nova sede. No prédio do casamento de Liam e Felipe ele fez um novo ponto de encontro para todos os membros, no centro da cidade de Nova York. No térreo uma academia, na cobertura um escritório, no coração do local com a arquitetura inabalável uma rede de alta tecnologia que monitorava os principais bairros perigosos dos Estados Unidos da América. O objetivo era simples, agora a missão se concentrava em encontrar crianças em situação de rua e perigo iminente. Resgatavam cerca de vinte crianças por semana, as missões iam às comunidades carentes, centros ricos com contrabando de menores e ruas. Faziam uma limpa em todos os locais em que podiam atuar, raramente tinham problema com a polícia, mas com as taxas altas de suborno as empresas de tecnologia que Ben era presidente precisavam aumentar lucro.

Nico entrava nessa parte. Toda as funções orçamentárias passavam por ele e por Filipe, investiam nas ações certas graças à algoritmos que Nicolau criava. Ficaram assim durante meses até Bernardo conseguir apoiadores para o projeto e dar nome à fachada do prédio. A Instituição César de proteção à criança e ao adolescente atuava com hesito. Hugo era o responsável por conseguir novos investidores seus poderes de anjos atraíam os mais ricos e caridosos. De certa forma ele foi o que mais contribuiu, para a Instituição César se estabelecer e se tornar uma das ações mais importantes dos últimos tempos. Era até difícil manter todas as ações nas escuras, mesmo que a Força-Tarefa agora fosse mais organizada muitas das ações deles ainda iam contrárias à algumas leis. Matavam traficantes de crianças o tempo inteiro e o armamento pesado guardado junto da prisão fantasma no subsolo, fazia daquele lugar um ninho de ilegalidades.

De qualquer forma eles estavam fazendo o bem e alguns fins justificavam os meios.

Bernardo preparou a maleta, vestiu-se com seu melhor terno azul, colocando uma gravata vermelha e afastando os cabelos dos olhos para deixá-los bem à mostra durante a reunião. A arma dentro do paletó incomodava um pouco, mas se sentou e cruzou as pernas sem ligar que a ponta dela pudesse aparecer se ficasse naquela posição. Olhou de uma maneira firme para a porta e quando ela se abriu e Hugo apareceu esboçou um sorriso amarelo.

— Vejam só! Quem é vivo sempre aparece.

Tayrone Killian revirou os olhos assim que chegou depois de Hugo. Fechou a porta atrás de si e se perguntou se devia se aproximar ou não. Ele parecia um pouco sem jeito, usava um terno escuro com um lenço branco saindo do bolso, suas tatuagens estavam quase todas tampadas pela quantidade de pano e quando se sentou foi com as pernas abertas e os olhos fixos nos de Ben.

— Estou aqui para negociar pelo meu pai.

— Uau. Nunca pensei que ouviria isso, pensei que detestasse seu pai. Jessie é quem costumava ser o filhinho do papai enquanto você era o rebelde que estava sempre se metendo em confusões.

— Não estamos aqui para falar sobre o meu irmão – ele olhou para o Hugo. – O monte de penas falou que vocês estão buscando por fornecedores.

— Sem gírias de gangues por aqui. Somos mais diretos. Precisamos de armas, e meus contatos entre as gangues sempre costumam ser valiosos. Mas no momento o preço dos Dragões e dos Killians são altos demais, meu dinheiro está indo quase inteiro para outras atividades.

— É justamente por isso que estou aqui – ele olhou para o Hugo e o garoto entendeu que era o momento de sair dali. Bernardo permitiu e Hugo foi embora. – Tenho uma proposta, Bernardo. Você terá uma quantidade generosa de armamento e munição todos os meses e tudo por um preço razoável. A menor oferta do mercado, por assim dizer.

Bernardo pareceu interessado.

— Conheço as gangues muito bem para saber que uma proposta dessa sempre vem acompanhada de um porém. Qual seria a pegadinha nesse caso?

Ele tirou algo do bolso. Bernardo não temeu nem achou que fosse uma arma, apenas esperou o celular sair do bolso do Killian.

— Quero o assassino do meu irmão.

— Se está falando do Damon, isso está fora de cogitação. Prometi a um amigo que ele ficaria trancado. Nem morto e nem machucado, apenas em prisão perpétua. É um novo método que estou avaliando recentemente.

— Sei quem é Damon, e não é dele que estou falando.

TK abriu um vídeo no celular e o mostrou para o Ben. No vídeo havia o corredor do prédio em que a Força-Tarefa ficou quando se hospedou no Brasil. Nele Jessie entrava correndo dentro do quarto e trancava a porta. Depois um jovem vinha e batia freneticamente na porta pedindo para entrar. Aquela cena durava um tempo até TK passar a imagem para o momento em que o Lucas entrava.

— Esse jovem, ele não tem registros e isso me faz acreditar que trabalha para você.

— Sim... Esse é Lucas, trabalhava para mim na época do Brasil, foi um dos bruxos que nos ajudou, mas faz quase um ano que não o vejo. Ele namorava o seu irmão, mas não entendo o que ele tem a ver com o assassinato do Jessie.

— Acha mesmo que meu pai deixaria passar a morte de um filho sem investigar? Conseguimos recuperar algumas imagens daquele dia, essa indicou que Lucas e Jessie estiveram no mesmo quarto no mesmo horário. Depois disso apenas o Lucas saiu – a cena foi mais para frente. O rosto do Lucas quando saiu do quarto indicava pavor. – Não precisa ser nenhum gênio para saber o que aconteceu.

A mente do Bernardo começou a agir a mil por hora. Não esboçou nenhuma reação, ficou encarando o TK por algum tempo até deixar um sorriso calmo transparecer.

— Sabe o que essa imagem diz? – perguntou, com um pouco de ironia na voz. – Indica que Jessie e Lucas tinham um problema no relacionamento. Os dois terminaram naquele dia, Jessie não saiu do quarto e eu tinha câmeras escondidas dentro de todos os quartos e depois dessa briga deles pedi que o Lucas fosse até lá para conversarem.

— Lucas voltou ao quarto depois disso, e novamente saiu sozinho.

— Isso porque Damon estava a caminho e pedi que Lucas fosse lá para tentar convencer o Jessie a sair. Os dois brigaram novamente e Lucas saiu sozinho. Pode perguntar a qualquer um, todos que estavam lá dirão exatamente o mesmo.

­— Acho que seus soldadinhos diriam qualquer coisa que você quisesse.

Nisso ele tinha razão. Um telefone e antes que TK perguntasse a qualquer um, todos já saberiam o que tinham que falar. Bernardo acalmou a respiração e tentou passar confiança.

— Veja bem, TK. O que aconteceu com Jessie foi uma terrível fatalidade. Ele não conseguiu escapar a tempo, ainda tentamos. Os corredores estavam cheios de inimigos, o prédio explodiu e infelizmente ele foi uma baixa nisso tudo. Ele era amigo de todo mundo e acredite, se alguém além do Damon fosse culpado disso tudo, eu mesmo já o teria punido. Um crime como esse jamais passaria despercebido para mim.

TK semicerrou os olhos, não engolindo aquele discurso. Ficou em silêncio, se ajeitou na cadeira e revirou os olhos antes de guardar o celular.

— Sendo assim acho que não vai se preocupar se eu procurar esse Lucas e tirar a limpo essa história eu mesmo.

— Fique à vontade. Mas já vou avisando – ele pendeu o corpo mais para frente e fitou TK nos olhos. – Se fizer mal a alguém da minha Força-Tarefa, terá que se ver comigo.

Aquela ameaça direta fez com que TK lembrasse com quem estava lidando. Assentiu, ainda sem acreditar que Bernardo tinha decidido aquilo. Se levantou de supetão.

— Quando sair Hugo o acompanhará até a porta – disse Ben, já ligando o telefone para avisar Hugo. – Próxima vez que sua gangue ou a do Rey quiser negociar é bom lembrar que não sou um cliente fácil de se conquistar.

— Vou lembrar disso. Adeus, Bernardo.

— Adeus, TK. Mande um “oi” para a sua esposa. Espero que não a abandone igual abandonou o Thiago e o seu irmão.

TK levantou o dedo do meio antes de sair e foi embora.

Bernardo soltou todo o ar que prendeu em seus pulmões, esperou que Hugo atendesse a chamada.

— Acompanhe o senhor Killian até a saída, mas antes disso passe a ligação para o Nicolau.

— Sim, senhor.

Segundos depois ouviu-se na linha um bip, e Nico atendeu logo em seguida.

— Instituo César, setor de peças usadas.

— Não é hora para brincadeiras, Nico. O irmão do Jessie acaba de vir ao meu escritório. Me encontre no subsolo agora e é melhor ter uma boa explicação sobre como ele conseguiu as imagens de segurança que pedi que você EXCLUÍSSE!

Bateu o telefone com força para desligar, jogou ele longe e passou a mão pela testa para enxugar o suor. Tinha que pensar em qual seria seu próximo passo dali para frente. Ia se sentar um pouco, mas então a porta se abriu e um garotinho loiro com um caminhão de brinquedo na mão entrou correndo no escritório e foi para abraça-lo.

Christian já estava ficando pesado, mas quando pulou para os braços do Bernardo ele ainda o segurou. Viu o brinquedo novo do garoto e o desceu, sentindo dor nas costas.

— Olá, anjinho – ele disse, ficando de joelhos para ver a blusa suja de sorvete e o contorno nojento de chocolate na boca do menino. – Meu Deus, parece que acabou de voltar da guerra. Para onde seu avô te levou?

— Fomos ao parque! – disse Filipe, entrando no escritório sem pedir licença. – Quis aproveitar o dia de folga para levar meu neto para um passeio.

— Sorvete, pai? Sabe que ele é diabético, né?

— Tava uma delícia! – disse Chris, lambendo o beiço.

— Eu imagino, anjo. Agora vai lá se lavar que eu preciso ir trabalhar, tá bom?

Chris correu até o banheiro do escritório e Ben olhou para o pai com aquele leve olhar de julgamento.

— Nem vem, sorvete de vez em quando não vai fazer mal.

— Se fosse só sorvete... Acha que não senti o bafo de refrigerante?

— Você é super protetor – Filipe sorriu, mostrando estar feliz com aquilo. – Vá lá, adiante o trabalho porque daqui Chris e eu vamos direto para uma pizzaria!

— Você mima demais esse menino.

— É para isso que avôs servem – e piscou, indo atrás do Chris antes que ele fizesse bagunça.

Bernardo olhou de relance para a família que tinha formado naquele ano e se orgulhou de si mesmo. No começou não sabia se conseguiria, mas com a ajuda de Filipe e da nova namorada dele, a Amélia, tudo parecia estar indo bem. Rey concedeu a guarda da criança para ele. Lutava para compensar tudo de mal que o Chris tinha passado desde que nasceu e agora era feliz com aquele garotinho. Ainda detestava outras crianças, o choro e a sujeira eram nojentos, mas tudo no Chris vinha acompanhado de uma fofura sem igual. O menino podia riscar todas as paredes da mansão, quebrar todos os vidros com aquela besteira de jogo de baiseball e chorar durante horas para ter um cachorrinho, mas tudo  isso compensava.

Por isso quando desceu pelo elevador Bernardo já estava mais calmo. Sua mente começava a trabalhar menos agitada e quando chegou ao andar da prisão e encontrou o Nico ele não estava mais com vontade de gritar com o amigo.

— Parece que os Killians conseguiram as imagens com os administradores da segurança do hotel em que nos hospedamos, eles tinham a própria segurança e quando nos venderam os prédios não deu tempo de desativá-los – Nico mexia no tablet enquanto andava ao lado do Ben. – Eu tinha hackeado eles ano passado, excluí o que havia nos servidores, mas pelo visto eles deviam ter algum backup off-line.

— Não tem importância, acho que consegui despistar o TK. Ele vai buscar pelo Lucas, mas nunca o encontrará.

Bernardo parou em frente a uma das celas. Ao lado dela estava Damon, sentado olhando para um tabuleiro em que apenas uma peça estava fora do lugar. Ignoraram a presença do Damon e focaram a atenção no garoto de cabelo escuro, tatuagem de árvore no braço e uma fúria assassina no olhar. Assim que viu os visitantes Lucas partiu para cima do vidro, batendo nele com força e gritando.

— CADÊ O MEU FILHO? – berrou. – ME TIREM DAQUI! Vocês não têm o direito de me manterem aqui! Eu quero o meu filho! QUERO O MEU FILHO! QUERO O MEU FILHO!

— Tire o som dessa cela, por favor.

Nico obedeceu, clicou em um canto do tablet e então todo o som vindo de dentro da cena do Lucas foi abafado.

Bernardo se aproximou, ficando a centímetros no vídeo enquanto Lucas atacava freneticamente.

— Ninguém além de nós sabe que ele está aqui – disse Nico. – A identidade continua nula no sistema, então nem mesmo ligar o Lucas à gente o TK conseguirá.

— Se as gangues descobrirem o que o Lucas fez, eles vão querer mata-lo. Vão invadir esse lugar, puxá-lo da cela e disparar contra a cabeça dele, matando ele e todos os outros três cuja vida estão ligadas. Isso inclui o Chris  - Bernardo respirou fundo antes de continuar. – Coloque-o para dormir, chame a psiquiatra para avaliar a situação mental dele e depois devolva-o à cela.

Nico assentiu, ficando mexendo no tablet e organizando todas as pontas soltas.

— Infelizmente não conseguimos ajudar o Jessie, mas uma coisa eu posso afirmar. Lucas nunca será livre – Ben voltou a olhar para o Damon e depois novamente para o Lucas. – Sabe, acho que estou começando a gostar dessa coisa de prisão perpétua.

Ele se virou e quis ir embora. Nico clicou no tablet, e gás rosa começou a preencher a cela do Lucas. Ele tossiu freneticamente e foi caindo no chão com a garganta queimando e as lágrimas escapando dos seus olhos em abundância.

Bernardo deixou Nico para trás e foi refazendo o trajeto para ir embora. Ao lado dele outras celas com homens e mulheres presos. Dezenas deles gritando e batendo no vidro implorando para sair. Ben ignorou todos eles, passou pelo corredor que dava para ainda mais celas, centenas delas com várias já preenchidas por criminosos.

Ben sorriu para eles, abriu a porta do elevador, e foi embora.



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