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História O Capítulo Final - A Última Fanfic - Parte 2: O Capítulo Final


Escrita por: LordeUnderworld

Capítulo 40 - A Última Fanfic - Parte 2: O Capítulo Final


Fanfic / Fanfiction O Capítulo Final - A Última Fanfic - Parte 2: O Capítulo Final

TRÊS ANOS DEPOIS

 

— Alguém por favor me diz onde está o maldito pote te geleia de pimenta com morango?

Nico bateu a porta do armário, indo para o próximo e não encontrando sinais nenhum da geleia. Justo agora que tinha esquecido de comprar pão e teria que se virar com pedaços secos! Precisava daquela geleia logo e começou a buscar como se sua vida dependesse disso. Tirou os outros potes do lugar, afastou as vasilhas, os copos e as taças até desistir e ir até as caixas de papelão sinalizadas como “cozinha”. A bagunça da mudança estava maior do que esperava, pulou mais algumas caixas e foi na ponta dos pés até uma caixa menor. Acabou tropeçando e quase caiu para trás.

— Ei, ei, calminha gatinho – disse Thomas, segurando Nicolau pela cintura antes dele desabar. – Nada de inaugurar a casa nova com um acidente, okay?

— Eu tava buscando a minha geleia.

— A bendita geleia de pimenta com aqueles pedaços nojentos de morango – e fez uma careta, mostrando o que estava escondendo. – Eu separei, coloquei na mala porque sabia que você ia surtar buscando por essa coisa.

Nico sorriu de orelha a orelha, beijou o pote de geleia e foi se servir.

— Sério que só a geleia ganha um beijo? – Thomas cruzou os braços. – Sinceramente não sei onde estava com a cabeça quando decidi vir morar com você.

Ouviram um grito agudo de criança vindo da sala e logo em seguida um garotinho de fraldas e com um pano azul que sempre carregava como se fosse um brinquedo, veio correndo até a cozinha, contornou a mesa e gritou enquanto fingia ser um super-herói. Thomas ficou parado rindo enquanto Nico olhou a criança dar a volta pela mesa três vezes sem acreditar no que estava vendo. Quando o menino saiu e foi correndo até os outros cômodos Nico se virou para Thomas com a geleia na ponta da faca.

— Amor, acho que adotamos uma criança meio bugada.

Thomas segurou uma gargalhada, deu um beijo no namorado e o pegou pela cintura pouco se importando da geleia nojenta cair na sua blusa.

— Falei para ficarmos com uma mais velha que nem o Bernardo, mas você não me ouviu...

— Seu bobo – e riram juntos, trocando mais um beijo. – Agora vai lá, é sua vez de impedir o pestinha de cair da sacada.

— Ele é meio hiperativo, né? Me lembra você.

— Acredite, quando eu era criança eu era muito pior do que isso – e melou o pão com a geleia, botando tudo na boca e tentando mastigar. – Você não ia aguentar dois minutos!

Thomas soltou o namorado, se alongou um pouco e foi atrás do filho.

— Jassssoooon! Papai já falou para não subir nos móveis! – gritou. Aquela casa pelo visto seria muito barulhenta. – Jason, não tira a fralda! Nem pense nisso.

Thomas pegou o garoto antes que ele corresse para debaixo da mesa, colocou ele no ar e começou a fazer cócegas. Jason ria desesperado tentando se soltar, sem medo nenhum da altura. O pai prendeu ele nos braços e foi mostrar para o Nico.  

— Agora é só esperar três horas para ele pegar no sono – Nico foi até eles, deu um selinho no marido e beijou a testa do filho. – Vou correr para a empresa. De lá encontro vocês no jantar do Bernardo, okay?

— Nheem! – disse o pequeno, rindo e tentando escapar dos braços do Thom.

— Eu sei querido, também acho o Bernardo assustador, mas você se acostuma depois de um tempinho. Tchau, família!

Thomas tentou dar tchau com uma das mãos, mas Jason era mais forte do que parecia e tentou meter a cara no chão. Nico ignorou a cena para não ficar preocupado em deixar aqueles dois maluquinhos sozinhos, seguiu em frente e foi atrás de um táxi para ir trabalhar. Estavam juntos a bastante tempo com vários altos e baixos ao longo da relação; nunca se casaram, mas decidiram adotar uma criança e morar juntos. Ambos continuavam a trabalhar para a Força-Tarefa, Thomas como segurança pessoal do Bernardo, e Nico com funções tecnológicas que só aumentavam.

Depois que o Instituto cresceu a Força-Tarefa se tornou global. Ao todo quatro países contavam com os serviços providos pelo Ben, os órfãos que eram resgatados e não encontravam uma família para adotá-los tinham trabalho garantido dentro da Força-Tarefa. A maioria ia para trabalhos administrativos, mas outros entravam em campo e o setor do Nico era o responsável por guiar essas pessoas. Quando entrava na sala Nico já se deparava com um andar inteiro de mesas e cadeiras, com telões e computadores de última geração. Diversos jovens, os mais inteligentes e focados, lideravam o combate tecnológico como apoio aos colocavam a vida em risco no trabalho em campo. Assim que entrava na sala, que Nicolau gostava de chamar de “setor de peças usadas” por conta de um trocadilho com os equipamentos velhos empilhado em um canto, ele já ia para o centro do local, ficava em pé, colocava o fone bluetooth e deixava no telão as principais atividades das unidades da Força-Tarefa.

— Bom dia pessoal! – gritou Nico, se posicionando e ouvindo a resposta do restante do setor. – Trouxe a minha geleia hoje e está separada no frigobar com meu nome escrito em letras maiúsculas. Próxima pessoa que ousar pôr as mãos nela vou localizar e chutar o traseiro eu mesmo, beleza?

Esperou a resposta.

— Ótimo! Então vamos lá. É hora de trabalhar.

Nico se formou em medicina como um hobbie, mas sua especialidade continuava sendo tecnologia, gostava de ser o chefe e ajudar aqueles jovens a buscar novas possibilidades para o  futuro. A Força-Tarefa tinha feito um bem enorme a ele e retribuía o favor ajudando a salvar outros jovens todos os dias. Alguns dias eram melhores do que outros, já tinha visto horrores terríveis. Tanto que quando Thomas se apegou a uma das crianças do orfanato ele pensou muito se deveria ou não participar da adoção, Thomas chegou a falar que adotaria sozinho para que não estivessem ligados a um compromisso tão grande, mas Nico conhecia bem o tramite para se adotar uma criança e a renda salarial de Thom mal daria para sustentar nem ele mesmo. Resolveu embarcar naquela aventura e estava amando cada segundo. Mesmo os horrores que via em seu dia a dia naqueles monitores não o impedia de acreditar que o mundo ainda podia ser um lugar melhor.

Nico e Thom se tornaram um casal forte e unido, bem diferente de Symon e James que se separaram e reataram algumas vezes ao longo dos anos. Nicolau sequer sabia qual era o status atual daqueles dois, tudo o que tinha conhecimento é que ambos eram professores em uma das unidades da Força-Tarefa e ensinavam crianças com poderes especiais. Quando algumas crianças com poderes foram encontradas em missões Bernardo viu que era importante que elas tivessem um lugar para controlar suas habilidades,  por isso uma escola de magia (nada no estilo Hogwarts, apenas uma salinha em um dos orfanatos) foi criada. Chris participava das aulas para aprender a controlar seus poderes e era o mais velho da turma. James era responsável pelas aulas teóricas enquanto Symon ajudava nas demonstrações e ensinava como cada feitiço devia ser feito e os perigos de certos tipos de magia. Todos adoravam os professores, mesmo quando algumas aulas acabavam sendo interrompidas para que discutissem a intimidade. James namorou o Hugo uma época, antes do Hugo sumir para a Europa e conhecer um tal de Brandon. Foi quase nesse período que Symon entrou em depressão. Ele se culpava muito pelo desaparecimento do Lucas e tentou se matar com comprimidos. Parecia até piada, um homem musculoso, que já foi um adolescente turrão que bancava o mais forte... Tentar se matar não parecia muito seu estilo. Foi por isso que Nico pela primeira vez quebrou uma promessa que havia feito ao Ben e levou Symon para visitar o Lucas, apenas para os dois conversarem.

A conversa entre eles durou horas e depois disso Symon ia pelo menos duas vezes ao mês ver como o Lucas estava. Ele entendia que o amigo havia feito algo cruel demais e que ele merecia aquele destino, mas mesmo assim não se pode abandonar alguém com que se divide uma alma. A ligação era para a vida inteira – literalmente – e um se sentia melhor conversando com o outro. Foi assim que Symon conseguiu reconstruir a sua vida, voltava com o James, terminava, voltava de novo, mas não sofria por amor. Apenas seguia a onda de um jeito sereno. Depois de um tempo lecionando precisou usar óculos, corrigir provas todas as noites fez mal à sua visão. Symon não era a pessoa mais feliz do mundo, mas estava longe de uma vida triste. Acabou virando um grande amigo do Liam, que o ajudou a superar seus problemas psicológicos.

Claro que os problemas do Liam não sumiram completamente para ele já ir dando uma de terapeuta por aí. Ainda estava longe disso. Os pesadelos, a insônia, a confusão mental, a falta de saber quem de fato ele era e as alucinações com o Matador aparecendo e esfaqueando seu marido fez com que fosse internado duas vezes ao longo dos anos. Na primeira foi quando teve um surto e atacou uma senhora na porta da sua casa dizendo que ela tinha a gosma dentro do corpo. Felipe precisou segurá-lo no chão até que os paramédicos chegassem, todos os vizinhos saíram para ver o que estava acontecendo e Liam não parava de chorar e pedir desculpas quando foi levado. Felipe decidiu entrar na Força-Tarefa como um dos soldados que iam à campo depois disso. Seu objetivo era ajudar outros jovens para que ninguém tivesse que passar pelo que o Liam passou. Acabou se dando bem na área, se tornou o chefe das doze unidades nos Estados Unidos e suas habilidades em luta e tiro aumentaram bastante. Para trabalhar tinha que se passar como policial e isso incluía distintivos falsos, cartões de acessos clonados e extrema cautela. Quando Liam voltou do hospital ele escondeu tudo isso por um tempo, mas teve que contar a verdade. Liam até queria participar junto do marido, mas todos sabiam que seria barrado logo nos testes psicológicos. Por isso se contentou em atender telefonemas. Sempre que alguém precisava de reforço ou quando órgãos públicos precisavam confirmar se os falsos agentes em campo eram reais, as ligações eram encaminhadas para o celular do Liam e ele se passava por um agente. Mesmo que impedido de lutar ele mantinha um estúdio para malhar em casa, treinava com facas e fazia uma faxina todos os sábados enquanto ouvia música sertaneja. Não era bem a vida que ele queria, mas era melhor do que muito o que já teve. Só o fato de estar perto do Felipe já era um alívio, os dois eram felizes. Os beijos nunca cansaram, o sexo sempre vinha com paixão e aquela chama que jamais se apagava junto das risadas, carícias conversas... Liam ouviu certa vez do Lorde que milhões de pessoas passam a vida sem encontrar uma alma gêmea, mas lá estavam Felipe e ele para confirmarem que o universo insistia em nos deixar perto de quem amávamos.

— Acho que a gente deveria ter feito tudo uma travessa maior – disse Liam, meio tímido, andando atrás de Felipe pelo jardim e equilibrando o bolo que ele mesmo havia preparado.

Felipe se virou, vendo que o Liam estava nervoso. Não entendeu bem o porquê, apenas tirou a travessa das mãos do marido e viu que as mãos dele tremiam.

— Liam, são nossos amigos. Não tem nada com o que se preocupar, é apenas um reencontro.

— É um reencontro incompleto já que o Lorde não vai estar. E se o Lorde não vai estar não vejo motivo nenhum para nós sermos obrigados a ir.

 Liam tremeu um pouco, olhou para os lados e se perguntou se não havia falado alto demais, seus olhos iam de um lado para o outro freneticamente e não parecia bem mentalmente. Felipe ficou triste, pegou uma das mãos dele e o olhou nos olhos.

— Calma, tente ficar calmo, sabe que os remédios te fazem ficar confuso às vezes.

— NÃO SÃO OS REMÉDIOS – e limpou o rosto, com vontade de chorar. – Eu tô bem, eu só... É que... Acontece que ninguém foi me visitar quando eu fui internado na segunda vez. Eles pensam que sou maluco, sei disso e não adianta dizer que não. Ficam me observando, sentindo pena de mim. Se eu chego perto das crianças todo mundo fica me observando com medo que eu surte e machuque elas. Mas eles estão certos. É por isso que a gente nunca adotou, porque eu sou maluco demais para...

— Liam, para – Felipe resolveu deixar a travessa de bolo no chão e abraçá-lo.

Liam começou a chorar assim que se viu envolvido pelos braços do marido. Seu corpo tremia um pouco, efeito colateral dos remédios. Além disso ele sempre estava cansado, dormia durante horas e certa vez quase perdeu um dos telefonemas por conta disso.

— Desculpa por te dar tanto trabalho –pediu, grudado no ombro de Felipe. – Desculpe fazer da sua vida esse inferno todo. Eu nem mesmo sabia quem eu era, eu não conseguia me encontrar lá dentro. Eu tinha morrido e todas as minhas personalidades... Eu não consigo sem elas, Felipe.

— Você se subestima demais, amor – ele ergueu o queixo do Liam com a ponta do dedo. – Olhe tudo o que você criou, veja como a sua mente foi capaz de formar um mundo inteiro, diversas personalidades com diferentes caráteres. Você e a sua mente são maravilhosos. Desculpa te dizer tão pouco o quanto você é importante para mim, mas eu te amo. Você é o que faz da minha vida feliz. Na época em que estávamos longe eu morria todos os dias um pouquinho e só fui reencontrar a mim mesmo quando eu te reencontrei. Então não importa se não quer ter filhos, não importa o que os outros pensam de você ou se eu tiver que todos os dias ir te visitar naquele hospital psiquiátrico. Eu moro lá com você se for preciso. Mas te juro que nós dois ficaremos bem. Que você vai se recuperar e que sempre estarei bem aqui ao seu lado. Me entendeu?

Liam assentiu, sentindo os tremores passarem e aos poucos o corpo relaxar.

Felipe conseguia ter esse efeito sobre ele. Era como se pudesse enfrentar qualquer coisa que viesse graças a ele. Se beijaram de um modo demorado, com os lábios rachados pelo frio se tocando e espalhando calor pelo rosto de ambos. A respiração de Liam fez Felipe parar o beijo apenas quando seus corpos penderam para trás e o dois arriscaram tirar as roupas ali mesmo. O lado Faz-Tudo do Liam aflorava muito rápido nessas horas.

— Não vou deixar você me levar para trás dos arbustos de novo – disse Felipe, já sentindo a mão do Liam ir para onde não devia.

— Tudo bem, mas tenta disfarçar o volume quando batermos na porta.

Liam pegou a travessa e foi andando para porta enquanto Felipe ficava para trás para ajeitar as calças. Ele prendeu a ereção na cueca e correu na direção do marido, agarrando-o por trás e o beijando no pescoço, quando a porta se abriu.

Logo deram de cara com um Chris, agora na estatura deles, de cabelo pintado de branco, fone de ouvido contornando o pescoço e roupas caras cortesias do pai adotivo e do biológico. Ser herdeiro de duas fortunas, uma tecnológica e outra baseada num império de contrabandos, não alterou nem um pouco a personalidade do Chris. Ele cresceu um garoto bondoso, tinha um sorriso no rosto e quando viu os tios chegou para abraça-los.

— Podem entrar, já está todo mundo em volta da mesa – avisou. – É bom demais que você veio, tio Liam, papai falou que você ainda estava em repouso.

— Obrigado, Chris. É bom te ver! Você cresceu desde a última vez que te vi.

— Sim, e agora tenho uma namorada – sussurrou. – Mas não conte para o meu pai, ele surtaria e ia começar a colocar camisinhas na minha gaveta de meias. O vovô já faz isso o suficiente.

Liam riu, prometeu guardar segredo e foi sentar junto dos outros.

A maioria havia acabado de chegar, Thomas segurava Jason na mesa e tentava fazer com que ele comesse alguma fruta, Nico estava com o braço ao redor do namorado e conversava animado com Symon sobre os novos métodos de ensino que seriam testados no próximo semestre. Bernardo falava sobre o tempo com o James e hora ou outro os dois ficavam sem assuntos e olhavam para as mãos.

Liam e Felipe sentaram juntos, cumprimentaram todo mundo e arrumaram lugares perto do Chris.

— Acho que estão todos aqui – avisou Chris.

Bernardo assentiu, esperou que os empregados enchessem as taças dos convidados e se levantou para fazer o brinde. Acabou voltando mentalmente para alguns anos atrás, quando venceram o confronto com Damon e foram comemorar em um bar qualquer. Tudo aquilo parecia ter acontecido em outra vida, mas era muito bom saber que mesmo após tanto tempo ainda podiam fazer uma reunião daquelas e ficarem juntos para comemorar o fim de mais um ano.

— Feliz natal, pessoal – começou. – Não sabem o quanto estou feliz por ter meus melhores amigos aqui para comemorar mais um ano em que a Força-Tarefa cresce, um ano de muitos desafios em que temos nos transformado e enfrentado inimigos variados e sempre vencendo. Sei que quando fui buscar a ajuda de vocês nós não éramos lá a definição perfeita de grupo. Pelo menos não um grupo que fosse se dar bem em suas missões.

Alguns riram, era bom poder lembrar do começo conturbado que aquela Força-Tarefa teve. Desde o momento em que Bernardo decidiu juntá-los até descobrirem que o Lorde não era o verdadeiro inimigo que teriam de enfrentar. Descobriram a existência da gosma, descobriram que magia era real, descobriram que bruxos viviam entre as pessoas comuns, que perdas às vezes eram inevitáveis, que por mais que as coisas estejam ruins ainda há um pingo de esperança na qual podemos nos agarrar. E, mais do que tudo, descobriram que valia à pena seguir em frente. Que seu passado não define quem você será no futuro.

Liam, aquele garoto franzino e triste do ensino médio se transformou em um homem que lutava para enfrentar seus monstros internos todos os dias. Uns dias seriam piores do que outros, ele sabia disso, mas continuaria em frente junto de Felipe. Seu marido todos os dias que colocasse um colete à prova de balas para partir em uma missão de resgate pensaria nele e como queria ter entrado em sua vida antes para impedir que as personalidades do Liam o consumissem. Os dois viveriam bem juntos, e seriam daquele tipo de casal que quando um morre de velhice, pouco tempo depois o outro percebe que também é a sua hora e recebe a morte de bom grado.

Já Symon e James, os dois eram orgulhosos demais para dizerem que se amavam e ficarem realmente juntos, mas a troca de olhares enquanto estavam em extremos opostos da mesa indicava que ainda havia esperança. Mesmo James saindo vez ou outra com garotos mais novos, sempre que chegava no fim da noite acabava pensando em Symon e naquilo que tiveram juntos. Eles se dedicariam mais à Força-Tarefa, e consequentemente isso os uniria e aos pouquinhos pensariam mais um no outro.

Bernardo não ficaria sozinho para sempre, depois do casamento do pai encontraria o amor novamente, mas não seria o tipo de pessoa que viveria para sempre com alguém ao seu lado. Sua dedicação seria com a Força-Tarefa, ensinaria o Hugo a liderar novas unidades, e fora isso sua única prioridade seria com o Chris. Mesmo tendo de ser rígido com ele às vezes, queria que o garoto tivesse uma vida normal como poucos ali conseguiram ter. Quando decidiu adotar foi porque sabia do passado do menino e queria consertar todo o desastre pelos quais ele passou. Foi Chris quem acabou colocando nele a ideia do Instituto César e com isso agora haviam centenas de unidades do orfanato acolhendo os resgatados jovens pelo mundo.

Lucas e Damon ficariam trancados por muito tempo. Lucas morreria dentro de uma cela, e todos os três ligados a ele morreriam em seguida. O motivo da morte apenas o futuro seria capaz de dizer.

Quanto ao Nico e o Thomas. Eles não ligariam muito em formalizar a união com um casamento, Jason já era o laço que precisavam para seguirem juntos e crescerem. Seriam um casal unido, mesmo com as brigas e carrancas jamais passariam uma noite longe um do outro. E quando Jason crescesse e se tornasse o primeiro da turma em ciências robóticas comemorariam e adotariam mais um filho só para o ninho não ficar vazio.

A história do Chris seria um pouco mais longa. O excesso de poder e dinheiro faria com que ele se perdesse algumas vezes, mas jamais deixaria de ser uma boa pessoa ou de contribuir em algo para o mundo. Seria um galinha, isso é verdade, mas encontraria a mulher perfeita ainda novo. Teria duas filhas, Natalie e Yuki. Abriria mão de liderar as gangues e deixaria isso para seu irmão mais novo que ainda estava para nascer. Não seguiria os passos do Ben com as empresas, mas aquela seria uma herança que levaria com carinho enquanto seguia seu verdadeiro sonho: escrever.

O restante ficaria para uma nova história. Afinal nada acaba de verdade, apenas segue novos rumos e ganha novos personagens.

Aquela seria a última vez em que todos estariam reunidos.

Ninguém sabia disso a não ser um jovem bem agasalhado que bateria na porta enquanto Bernardo fazia o brinde.

Lorde Underworld olhou para o céu. As nuvens estavam escuras, mas nenhuma delas parecia querer esconder a lua em seu brilho mais pleno. Era como se o cosmos estivesse colaborando para a obra de arte mais bela do mundo. Era raro que ele não enxergasse a beleza em tudo ao seu redor, as visões aos poucos iam se tornando menos constantes, mas uma coisa ele sabia; as coisas boas que acontecem na nossa vida e na dos outros às vezes precisa e uma mãozinha para acontecer. Nenhum futuro é feito sozinho.

Por isso quando a porta se abriu Lorde tirou do bolso o envelope.

— Lorde? – disse Chris, sem acreditar. Era a primeira vez que ficava cara a cara com o famoso escritor que seu pai tanto falava.

— Olá – e piscou quando os demais se aproximaram. – Tenho um presente de natal para vocês.

Dentro do envelope havia uma nova história.

 

15 ANOS DEPOIS

 

Diego se levantou da cama assim que terminou a leitura, ficou alguns segundos sem acreditar no que tinha acabado de ler. Quer dizer... Era só isso? Assim que ia ser o final?

Oito fanfics, horas trancado no quarto acompanhando capítulo após capítulo do Lorde Underworld, para no final ele acabar assim????

— Como assim o Liam ficou entrando e saindo de clínicas psiquiátricas? Achava que o Felipe e ele ficariam felizes no final, mas nem um filho eles tiveram! – e depois correu até a sala para encontrar a irmã. – Por que você não me falou que isso terminava de um jeito tão triste???

Ele ficou olhando para ela que estava deitada no sofá com o cabelo para traz, lendo um gibi enquanto o irmão ainda estava com o celular na mão com a fanfic aberta, pondo as mãos na cintura e reclamando.

— Juliana, me diz que essa porcaria não acaba assim. O que diabos tinha naquele envelope??? Isso não fez sentido NENHUM! Era alguma fanfic em que a Elizabeth morria? É isso? Por que ela estava atrás de uma fanfic para tornar real. Pelo menos foi isso o que entende do capítulo 39. E como assim ela ficou impune????

— Calma, rapaz. Eu li isso faz anos, não lembro nem mais quem é Elizabeth.

— Mas que raios o Lorde tinha na cabeça para fuder com os personagens desse jeito?

— Ah, o final foi bonitinho. Não foi aquela coisa “perfeita”, mas...

— O Nico ficou com o Thomas! Isso é horrível! É óbvio que o Nico deveria ter ficado com o Bernardo, os dois já tiveram um passado juntos, bastava eles voltarem e pronto! E do nada o Chris ficou com o Bernardo. Não faz sentido nenhum! O Bernardo nem gostava do garoto antes, não teve um capítulo em que ele conversou com o Chris. Faria mais sentido se o Thomas tivesse ficado com o Chris.

— Foi só uma fanfic, Diego. Não precisa ficar assim.

— Pois eu detestei! Nunca mais aceito uma indicação sua.

— Mentira. Daqui a pouco tá indo lá ler Good Boy.

— Good Boy foi a ÚNICA fanfic boa do Lorde.

— Eiii, O Aprendiz era a minha favorita.

— O Aprendiz é supervalorizada.

— \O/ VOCÊ NÃO DISSE ISSO!

— Disse sim!

— É melhor correr porque vou enfiar esse seu celular no seu...

A parede da sala foi destruída no instante em que ela foi se levantar para correr atrás do irmão. Destroços caíram em cima do Diego e a sua cabeça quase foi esmagada por uma tora de madeira, felizmente um homem de colete e roupas escuras apareceu e o agarrou levando o garoto para um canto do cômodo enquanto duas criaturas gosmentas saíam do buraco da parede para atacar a garota.

O homem de colete era alto, cabelos loiros e musculoso. Sacou a arma da cintura e atirou na cabeça dos dois monstros. Depois se levantou, com um pouco de dificuldade.

— Puta merda, acho que estou ficando velho para isso – ele disse, estalando a coluna quando se alongou.

Juliana ficou com os olhos arregalados e a boca aberta. Olhou para a gosma que se dissolvia no chão da sua sala e quase soltou um novo grito quando o homem se aproximou.

— Não se preocupem, estou aqui para ajudar – ele disse. – Quem é o escritor aqui?

Juliana e Diego se entreolharam, assustador.

— Tá bom, vamos direto ao assunto – ele tirou algo do bolso, um verme de cor branca que aumentou de tamanho e quis atacar o rosto de quem o segurava. - Essa coisa aqui quase matou meu namorado, então, quero que quem inventou isso aqui me diga como matá-lo. Sei que um de vocês escreveu uma fanfic sobre isso. Quero saber quem foi.

Juliana gaguejou, mas decidiu falar.

— F-fui eu. Digo... Escrevi algo parecido. Mas não pode ser real... Era só...

— Só uma fanfic. Sei bem, tô cansado de ouvir isso, mas digamos que várias fanfics vem se tornando reais e eu e meus amigos estamos aqui para impedir que esse tipo de monstro ataque. Pode me ajudar?

Juliana ficou pensando se estava em um pesadelo.

Se beliscou, mas como nada aconteceu e não acordou magicamente, decidiu falar.

— Fogo.

— Hummm, muito criativo. Não tinha pensando nisso – ele tirou um isqueiro do bolso e o acendeu, colocando o verme sobre a chama.

A criatura começou a gritar fazendo Ju e Diego taparem os ouvidos quando o som agudo veio forte. O homem pareceu se divertir com aquilo, só soltou o verme quando ele já estava em cinzas e jogou no chão, esmagando.

— Agora sim – ele tirou um envelope que estava preso por baixo do colete.

Diego arregalou os olhos, porque parecia muito com o envelope que ele tinha imaginado quando... Quando leu a fanfic do Lorde.

— É o pior presente de natal de todos os tempos – disse o homem, riscando um item da lista que puxou do envelope. – Agora só falta uma casa com sete lobos e seis vampiros. Ainda bem que eu não fiquei com os lobos humanos que não envelhecem depois dos 30 anos.

— EU POSSO SABER O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – gritou Juliana, olhando para a parede completamente destruída.

O homem limpou o uniforme que tinha escrito Forças Especiais nas costas. Ignorou completamente os dois garotos e atendeu a chamada no celular, saindo calmamente do lugar e descendo os destroços para ir embora.

— Prontinho, amor. Verme do mal mortinho! Como foram as coisas no México com o tal do Mattewz?... Ah, sim... Entendo. Vou para aí te ajudar. Pego o primeiro vôo. Só não se esqueça que se essa professora zumbi se aproximar é melhor atirar na cabeça!

Juliana ficou vendo ele ir embora, completamente atônita.

— Eiii! – ela gritou alto antes que ele se perdesse de vista. – Me diz pelo menos quem é você.

O cara se virou, afastou um pouco o celular do ouvido e piscou.

— Meu nome é Thomas... Mas não se preocupem. Se tiverem sorte não vão me ver de novo.

Ele sorriu de um jeito que fazia os outros também sorrirem.

 

Uma van preta se aproximou em seguida e sem parar abriu a porta para que ele entrasse. Thomas pulou para dentro dela e desapareceu. Estava na hora de ir atrás de novas histórias. 


Notas Finais


Eis o nosso final.

Posso falar que foi um prazer estar aqui com vocês, não sabem o quanto!

Lá embaixo nos comentários deixei uma playlist do Spotfy com as músicas que marcaram a fanfic, que foram temas de algum capítulo ou que eu só ouvia sem parar enquanto escrevia.

Espero que tenham gostado de tudo que encontraram por aqui, e quem sabe as histórias de vocês também não se tornam reais? Nesse caso é só me gritar que ainda tenho uns contatinhos na Força-Tarefa.

Um bj! E como já sabemos: uma história nunca termina, apenas ganha novos rumos e novos personagens.
#ÚltimoKissussss #VouSentirSaudades #AdíosAmigos


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