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História O Cativo das Sombras - Entre Reis e Deuses


Escrita por: Diego1406

Capítulo 14 - Entre Reis e Deuses


Uma das piores experiências da vida de Vecydes, sem sombra de dúvida, foi a travessia pelo Vale Morgul. Mesmo presenciando o ataque em Umbar, tendo visto o exército raivoso de orcs prontos para matar e destruir, nada se comparava a escuridão e ao frio das Montanhas da Sombra. Era uma estreita passagem que originava um pequeno rio que conduzia águas escuras e poluídas para o Anduin. Era um lugar estratégico, tático, um perfeito local para se construir uma fortaleza ou uma torre. Vecydes se questionou sobre isso em dado momento; enquanto observava a grandiosidade do vale, e como seria fácil repelir inimigos com uma defesa bem posicionada. Considerou, entretanto, que desde que se fixara em Mordor, Sauron nunca precisou defender seu território contra nenhum ataque. Aliás, lembrou que além das muralhas de Mordor, por centenas de quilômetros, os domínios do Senhor do Escuro se estendiam, inóspitos e sem proteção, simplesmente porque nenhum povo livre, seja de homens ou elfos, ousavam atacar qualquer território por ele anexado.

O vale era curto, com pouco mais de quatro quilômetros de comprimento, o que fez com que a travessia se desse em apenas uma noite. Uma noite, vale lembrar, que assombraria o coração de quase todos que participaram da campanha. Entre os braços sombrios da noite, e os véus da escuridão que as fendas e brechas das montanhas exalavam, muitos homens deliraram, enlouqueceram. Muitos disseram ouvir vozes, gritos, urros. Ninguém lembra de ter visto nada, de fato, mas muitos tiveram estranhas impressões, sensações, de um ser vazio e solitário, habitando as montanhas e lançando medo e sombras sobre seus corações; como um protesto contra a passagem dos homens.

Vacydes, andando na frente do exército, quase não ouviu nada, e teve suas sensações limitadas a um frio inexplicável, misturado a um forte desespero, como se toda sua felicidade e esperança estivessem sendo sugados, conforme véus de escuridão cruzavam seu caminho. Muitas confusões marcaram a travessia, e, pelo menos, vinte homens se perderam entre os pequenos vales e fendas que as montanhas ofereciam na estrada. Saifosy ficou atormentado com a escuridão do vale. Ele, assim como meia dúzia de outros alucinados, tiveram a forte impressão de ver uma grande massa escura, indorme e com inúmeras patas, correndo feito vento entre as montanhas e a estrada, tecendo véus escuros e soltando lamentos tenebrosos, forçando o medo e o desespero no coração de qualquer um que atravessava. O Rei, entretanto, não se abalou por um segundo. Seja por seu excesso de confiança, ou por uma falta de sensibilidade, ele não notou nenhuma diferença ou estranha sensação enquanto atravessavam o vale. Disse até, que tudo não passava de um truque de Sauron, e bastava força de vontade e bravura para resistir a ele. Estava ávido pela vitória. A cada passo que dava seu olhar ficava mais fixado, sua vontade mais se prevalecia, sua ambição mais se impunha. Em poucos dias teria a chance de se provar, e, se vitorioso, poderia declarar-se como o governante mais poderoso do mundo. Sua ambição e seu narcisismo era visível em sua expressão, de forma tão explícita que Vecydes e outros generais, incluindo Isilmë, temeram pelo julgamento das decisões do Rei. O mais impressionante, apesar do estado deplorável da mente de Ar-Pharazôn, era que Sayfosi, que sempre instigara sua ambição e sua cobiça por poder e status, não tinha nenhuma parte na piora de seu senhor. O chanceler, por sua vez, estava ocupado demais lidando com problemas existenciais e medos proféticos, dos quais não vale a pena citarmos aqui. Vecydes notou que algo o assombrava desde que chegaram em Umbar, e a cada quilômetro que se aproximavam de Mordor, sua loucura e perturbação era cada vez mais visível. Vecydes, assim como qualquer outro, não nutria nenhuma afeição pelo chanceler, e por isso evitava de se preocupar com seu estado; porém não conseguia deixar de notar o quanto a mente de Sayfosi parecia se perturbar, e, um estranho paralelo, entre a loucura do chanceler e a ambição cega do Rei, parecia se formar.

Além das montanhas, imediatamente após as cordilheiras, antes de se entrar em Gorgoroth, havia uma grande vala no terreno. Todos os homens atravessavam a vala, demorando, pelo menos, uma hora para descer e subir o terreno. Vecydes, acompanhado por Isilmë, Adryos, e toda a comitiva do Rei, chegaram ao topo da segunda inclinação, e se depararam com a desolação de Mordor. Devido a altura do terreno, podiam ver claramente a Montanha da Perdição, brilhando e explodindo ao leste, com a Torre Negra, sugando a luz, mais fundo no horizonte. Vecydes sentiu um tremor inexplicável ao encarar a paisagem. Nunca na vida vira tanto poder e maldade num só lugar. Temia o fogo e o clima de Mordor, mas absorvia a coragem de seus colegas, se inspirando principalmente, apesar de inusitado, na determinação do Rei.

Ao olhar para trás, observando a enormidade do exército que atravessava a vala, Vecydes se deu conta de quão grandioso era o exército de Ar-Pharazôn. Um vasto mar de armaduras prateadas, estândardes azuis e cinzas, capacetes com penas e penugens, dependendo da posição, cobriam o declive na terra, não deixando um único ponde de pedra ou rocha a vista; Númenor, sem dúvida, tinha o maior e mais poderoso exército de Arda, qualquer um que visse aquele contingente admitiria esse fato. Considerando que enviaram milhares de homens para o sul de homens, atravessando o deserto de Harad, ainda se surpreendia com as centenas de milhares que agora adentravam em Mordor, sem desafios, sem provocação. O plano tinha dado extremamente certo, ou estavam todos caindo numa grande armadilha.

Depois de atravessarem a vala, os numenorianos montaram um grande acampamento, na fronteira oeste de Gorgoroth. O Rei, confiante mas precavido, enviara centenas de batedores, para conseguirem notícias e informações de todos os cantos da Terra da Sombra. Muitos não voltaram, tendo se perdido nas sombras, no fogo, ou capturados pelas mais vis criaturas. Alguns poucos, entretanto, voltaram e contaram o pouco que conseguiram descobrir. O Rei ficou sabendo, no final do seu primeiro dia em Mordor, que era certeza que a maioria do exército de Sauron se movera para o sul, pronto para enfrentar a força numenoriana que jamais atacaria pelas montanhas. O planalto de Gorgoroth estava vazio, apesar das marcas permanentes de acampamentos e vestígios de vilas rudimentares aqui e ali. Descobriu que a maior parte dos orcs se encontrava em Barad-Dûr, onde o próprio Sauron se acuava e evitava enfrentá-lo.

Com cinco horas de descanso, Ar-Pharazôn, aconselhado por Isilmë e outros generais, resolveu partir, pretendendo chegar a Torre Negra o mais rápido possível, de preferência, na manha do dia seguinte. A grande massa prateada se moveu. Vecydes se impressionava com o clima e o ambiente de Mordor. Sentia-se deprimido por não ver o Sol, não saber diferenciar o dia e a noite, respirar um ar de enxofre e morte, tendo que vislumbrar tempestades e trovões constantes e sabendo que logo chegaria no destino de seu destino. Será que Elohas fora mandado para cá? Será que os homens permanecem os mesmos após sair dali? Tinha muitas dúvidas na cabeça, e não parecia que nenhuma seria respondida até que o destino daquele ataque fosse definido. Ele sabia, pelo simples fato de olhar para trás, que Sauron não teria uma força para enfrentar, com vantagem, o exército que marchava atrás do Rei. Os orcs estavam cansados (após centenas de anos em guerra), enquanto os numenorianos, por outro lado, estavam totalmente descansados. Quase nunca batalharam, quase nunca guerrearam, mas sempre se prepararam, sempre treinaram para a guerra. Neste momento, Númenor entraria para a história definitiva, onde seus exércitos, liderados por seu Rei e incentivados pelo ataque à Umbar, lutariam contra as forças do Senhor do Escuro em seu próprio reino.

A marcha por Gorgoroth foi mais tranquila do qualquer um achou que seria. Sobre o terreno rochoso, irregular e cheio de buracos e fendas com fogo e lava, eles caminharam por horas, sempre em frente, seguindo diretamente para a grande torre negra no horizonte. Com o tempo, a torre começou a aumentar de tamanho, a Montanha da Perdição ficara para trás, com um fogo diminuído e uma revolta contida. Passados os primeiros quilômetros, a ferocidade do Rei infectou muitos dos homens, de forma que poucos se intimidavam com o clima e a sombra. Agora, com o exército disposto sobre o planalto como um mar prateado, quase nenhum soldado sentia medo ou tremores, derivados pelos trovões e pela névoa fantasmagórica e vermelha do horizonte. No momento que qualquer pensamento covarde ou amedrontado surgisse na mente da maioria dos soldados, bastava que eles olhassem em volta, contemplasse as centenas de milhares de homens armados e preparados, que entendiam que eles, numenorianos, que tinham a vantagem ali. Ao ver que a torre se aproximava, o Rei, inspirado pela confiança que ele e seu exército exalavam, mandou que soassem as cornetas e as trombetas. Três vezes eles tocaram. O som límpido, claro, e ao mesmo tempo, poderoso, preencheu Gorgoroth e por alguns instantes, a camada de escuridão total se rompeu; as nuvens ficaram levemente mais claras, o vulcão praticamente cessou com suas tribulações e o ar ficou mais leve. O contraste era visível. Como quando os ventos da primavera chegam e atingem as regiões cobertas de neve, lentamente, mas, inevitavelmente, derretendo o gelo e mudando totalmente a paissagem.

Em dado momento, após subir uma leve inclinação na rocha negra, Vecydes, que estava praticamente na frente do grupo principal, teve a visão mais inesperada. Ele acenou para os soldados atrás. Os guardas reais, altos e vultosos, cercaram o Rei e boa parte de sua comitiva, protegendo-os enquanto se aproximavam do topo da inclinação. Vecydes voltou seu olhar para o leste, em direção a torre. Esta, se erguia bem a sua frente, não mais do que dois quilômetros a frente. Um filamento de lava, que vinha do vulcão atrás e ao sul, desaguava num grande fosso vermelho e iluminado, que cercava e protegia a colossal fortaleza. Barad-Dûs estava ali, bem a frente do exército. Mas, por mais que esta visão fosse aterradora e inusitada para Vecydes, outro fator o deixou ainda mais surpreso, a ponto de quase gritar para o Rei e para os generais que mandassem o exército parar.

No terreno em frente a torre, perto do portão que conduzia para a ponte que cruzava o fosso, um grande grupo de pessoas esperavam, paradas. Eram os escravos de Barad-Dûr, amontoados do lado de fora de seu cativeiro. Deviam haver umas três ou quatro mil, no total. Entre eles, homens, mulheres e jovens. Alguns tinham roupas brancas, sujas, trapos que apanharam em algum canto, enquanto outros ainda estavam com as roupas de quando foram capturados. Um pequeno exército de orcs, no máximo de dois mil, cercavam os prisioneiros, mantendo uma linha que, no fundo, nem era necessária, tamanho o medo no rosto dos cativos. Vecydes olhou com terror, petrificado com o número de pessoas que estavam sendo abusadas, torturadas, exploradas, a serviço do Senhor do escuro; agora, para sua surpresa, estavam todas ali, na sua frente, com uma linha de orcs e quase dois quilômetros separando os prisioneiros de seus libertadores.

O Rei, surpreso, ponderou perante a imagem. Consultou seus generais (não pediu o conselho de Sayfosi) e decidiu avançar com sua guarda e todo o exército atrás dele. Vecydes estava apreensivo. Enquanto caminhava para o grupo em frente a torre, ele olhou para Adryos ao seu lado, e este parecia confuso. Olhou para Isilmë, a poucos passos de distância, e notou uma expressão estranha no rosto do general.

– O que acha que isso significa? – disse Vecydes, sem conseguir esconder a apreensão em sua voz. – Acha que pode ser uma armadilha?

– Eu não sei – disse Isilmë, pensativo. – Mas isso não era nem um pouco esperado. Sauron está nos entregando aquilo que viemos buscar, o principal motivo deste ataque.

– Acha que o grupo que capturaram em Umbar pode estar no meio deles?

– Depende. Mas pelo tempo que se passou, é possível. – Isilmë se calou por alguns segundos. Um estranho silêncio, reflexivo e duvidoso, enchia o ar. – Não estou seguro quanto a nossa aproximação. Desde que entramos em Mordor não encontramos nenhum obstáculo. É quase como se Ele quisesse que chegássemos assim.

– Talvez Ele tenha aceitado que não pode derrotar nossa força. Pense, mesmo que todo seu exército estivesse aqui, ainda sim a chance dele perder é grande, devido ao nosso número e a técnica de nossos soldados. Se Ele realmente caiu em nosso truque, e enviaram seu maior efetivo para o sul, não lhe resta nada mais do que aceitar a derrota.

– Sim, pode ser. Mas é raro que um plano desesperado e complexo dê certo em todos os seus objetivos. O acaso sempre nos reserva as supressas mais inesperadas. Espero que isso não seja uma delas – disse Isilmë, ainda preocupado.

Juntos, eles desceram a inclinação. Chegando a base, estavam a quinhentos metros do grupo de prisioneiros. O rio de lava estava a sua direita, e, apesar de estar distante, seu calor chegava com força nos rostos dos soldados. O Rei, seguido por dois de seus maiores guardas, andou e ficou a frente de todo seu exército. Pouco atrás dele, a comitiva real esperava, tensa. Vecydes estava a direita, perto de Adryos e Isilmë, e tinha um panorama completo do cenário. Ele olhou para a torre a frente. Seu olhar subiu, até o ponto em que o negro da torre e das nuvens se misturavam, de forma que era impossível de se ver o topo. Encarou novamente as pessoas e os orcs na entrada da torre. Agora, mais perto, conseguia analisar seus rostos, seus semblantes. Todos estavam abatidos, quebrados, exaustos. Alguns nem deviam entender o que estava acontecendo, deviam apenas achar que aquilo era outra provação, mais um truque sádico para que sofressem. Por um segundo, Vecydes se aliviou ao pensar que a possibilidade do irmão ter morrido em Umbar era melhor do que imaginar que tenha sofrido nas mãos dos orcs como um cativo.

Por alguns minutos, nada aconteceu. De um lado, o Rei, confiante e ponderado, estava a frente de seu imenso exército, esperando algum sinal que definisse se deveria atacar ou não. Vecydes, confuso, e esperando que nenhuma luta ocorresse, temendo pela vida dos prisioneiros. Adryos e Isilmë, ao lado de Vecydes, não diziam nada, aguardando que algo acontecesse para que pudessem descobrir o desfecho da situação. E centenas de milhares de soldados, parados, em formação, com a mão nas espadas e os dedos acariciando as penas das flechas. O terreno rochoso, negro, cheio de poeira e cinzas, a sua frente. A Montanha da Perdição em silêncio, como se esperasse uma resolução para continuar sua tempestade. O rio de fogo ao lado direito deles, correndo e exalando fumaça e calor. Do outro lado, milhares de prisioneiros, entre eles, numenorianos e homens dos povos livres. Estavam divididos entre desesperados, otimistas, covardes e inertes. Uma tropa de orcs em silêncio, impassíveis, cercando os prisioneiros. Pelos seus rostos, não entendiam o propósito de sua posição e não compreendiam os planos de seu Senhor. Nada mais. Apenas isso para definir o futuro da Terra Média.

Então, como se esperado por muitos de ambos os lados, o portão começou a abrir. Os homens estreitaram seus olhos e aguçaram sua visão. Os orcs tremeram e os prisioneiros olharam para baixo, imaginando o pior. O portão se abriu rangendo, e o silêncio no campo rochoso era tamanho que até o soldado da última linha ouviu o som de pedra raspando, conforme as pesadas portas se abriam. Uma onda de ar atingiu a todos. O clima mudou levemente. Por um segundo, todo o calor do rio de lava, o desconforto causado pelo ar seco, as dores nos olhos causadas pela escuridão, passou. Entre os soldados, todos se sentiram renovados, rejuvenescidos. Vecydes pôde claramente sentir que seu corpo mudara, como se tivesse despertado de um sono longo e bem aproveitado. Uma leve brisa, fresca e úmida, atingiu o campo. Ele notou que até os prisioneiros sentiram a mudança no ar. Seus semblantes se aliviaram, e eles olhavam para cima e em volta, tentando entender o que mudara seu estado de espírito tão repentinamente.

Saindo do portão, andando calmamente, uma figura inusitada aparece. Parecia um homem, mas sua áurea e o esplendor em seu semblante denunciavam que ele era mais do que isso. Um ser alto e belo, com uma luxuosa armadura negra e prateada, com um formato suave e detalhes maravilhosos, pequenos e bem-feitos, numa escrita élfica. Uma magnífica coroa jazia em sua testa, e emoldurava um rosto angelical e sábio. Um anjo caído. Um deus entre os mortais. Qualquer um percebia que o espírito naquele ser era superior e eterno.

Vecydes virou-se para o Rei. Este olhava com um misto de assombro e admiração. Como se temesse a poderosa figura que caminhava em sua direção mas, ao mesmo tempo, invejasse seu poder e longevidade. Sayfosi, ao lado de se Senhor, entrou em pânico; seus olhos arregalados e sua boca torta mostravam o terror que sentia perante aquela presença. Entre os soldados a sua volta, os que estavam perto de Vecydes, os olhares se alternavam entre encanto e assombro, como se a áurea de Sauron conseguisse enfeitiçar cada mente naquele campo. O próprio Vecydes estava em conflito. Uma parte dele sabia que aquela figura não condizia com o que acontecia em Mordor, entre os orcs e os escravos. Não era possível que o Senhor daquele exército sádico e maligno tivesse algum traço de bondade ou pureza. Por outro lado, era impossível olhar para aquele rosto e não se admirar. Era jovial, belo, não tinha uma ruga ou sinal de idade. Tinha, entretanto, um ar de sabedoria e erudição que nenhum ancião, humano ou elfo, jamais teria. Seus olhos eram de um cinza claro, e exalavam paciência e compreensão, era praticamente impossível imaginar que qualquer traço de maldade jamais fora contemplado por eles; inclusive, o brilho em seus olhos diziam, na mente daqueles que os encaravam, que qualquer maldade cairia, ou se faria pó, pela simples contemplação de seu olhar. Por muitos momentos, Vecydes se surpreendeu, percebendo que ele próprio estava caindo naquele feitiço tão bem elaborado.

A figura caminhou para perto do exército numenoriano. Parou a vinte metros, bem em frente ao Rei, com uma expressão tranquila e receptiva. Ar-Pharazôn permanecia impassível, com um olhar ponderado. Sayfosi, que não conseguia esconder seu olhar aterrorizado, tocou o braço do Rei.

– Meu Senhor, é Ele! O Enganador, Senhor da Mentira. Temos que atacá-lo, agora!

O Rei não lhe deu ouvidos. Com um leve aceno pediu para que os guardas contivessem Sayfosi. Ele andou alguns passos. Os guardas o seguiram, tremendo. Ele encarou O Senhor do Escuro. Ele esperava, era a vez de Sauron fazer algum movimento. Por fim, a começou a erguer o braço. Sua armadura luxuosa, com diversas facetas, placas e ligações, emolduravam de seu ombro até os dedos de sua mão. Fios de prata corriam pelo ferro negro e brilhante, e inscrições cobriam as arestas. Ele ergueu sua mão até a altura da cabeça. Sua expressão não mudou. Todos se perguntaram o que faria. Convocaria algum poder, alguma magia? Mataria todos ali, naquele instante? Executaria os prisioneiros? Por um segundo centenas de milhares de pulmões pararam, tensos, temendo o pior.

A mão se abaixou. O ar gelou por um segundo. Os orcs que continham os prisioneiros ergueram suas lâminas.

 

 

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O sono e o cansaço nunca foram tão grandes. Elohas sentia em cada osso uma dor, em cada músculo uma câimbra, e sabia que todos ao seu lado sentiam o mesmo; especialmente Razos e Ehador, que, com ele, desceram sem parar toda as escadas da Torre Negra, e não conseguiram descansar um minuto desde então. Assim que tinham chegado ao saguão principal, se depararam com grandes grupos de escravos, vindos de várias partes da fortaleza, que se reuniam e formavam diversas filas. Aproveitando a confusão e a desordem do momento, eles rapidamente se anexaram na fila mais próxima. Tiveram que esperar, em pé, por mais uma hora, até que todos os escravos se reunissem no setor. Ao longo da espera, ouviram a trombeta de Númenor mais duas vezes.

Agora, depois de conduzidos pelos orcs até a saída, esperavam, do lado de fora da Torre, enquanto Sauron estava a frente de Ar-Pharazôn. Elohas não sabia o que pensar. Durante a descida da escadaria, e a condução para o lado de fora, não tivera tempo de trocar seus pensamentos com seus amigos sobre o que presenciara la em cima. Sua mente, tanto quanto seu corpo, estava esgotada. Não dormia ha uma eternidade, acabara de presenciar uma reunião sombria, onde a voz e a risada de seu maior terror ainda ecoava em seus ouvidos. Sabia que Sauron descobrira naquele momento, quando os orcs trouxeram a notícia, de que Númenor estava em sua porta. Mas Elohas não conseguia digerir os sinais. Não entendia por que o Senhor do Escuro recebera aquela notícia com alegria. Aparentemente, pelo que Elohas conseguiu deduzir, Númenor enviou uma pequena força pelo sul, para distrair os orcs, enquanto enviava seu maior exército para seguir pelo oeste e encontrá-los em Gorgoroth, neste momento. O plano dera certo. Sauron estava perdendo, por que estava satisfeito.

Sua confusão aumentou quando, instantes antes, o portão se abrira e Sauron apareceu diante de todos. Ele olhou para Razos e Ehados, e todos estavam surpresos com a mudança em sua aparência e na áurea que seus espírito exalava. Agora um anjo, quase um ser divino, estava diante do Rei de Númenor, e todos em volta, inclusive muitos escravos, o olhavam com admiração e respeito, se esquecendo que ele é o principal carrasco e executor de todo o sofrimento impingido sobre mundo na última era. Se não fosse as insuportáveis dores no corpo, e a delirante dor de cabeça, ele mesmo teria caído naquele truque, e estaria, em sua mente, torcendo para que o Rei impiedoso mostrasse clemência sobre aquele ser puro e mal interpretado.

Elohas estava na borda do círculo cheio, formado pela multidão de escravos. Os orcs, os cercavam e seguravam correntes que impediam que os prisioneiros escapassem. No meio do silêncio torturante Sauron ergueu a mão, e todos se silenciaram. Ao abaixá-la, os orcs se mexeram. Ergueram suas espadas e cimitarras, e começaram a serrar as correntes. Elohas, que tinha fechado os olhos imaginando que seria um dos primeiros mortos, olhou em volta surpreso. Ao longo do perímetro formado pelo orcs, as correntes eram cortadas. Entretanto, apesar da surpresa, ninguém se mexeu. Era visível nos rostos dos orcs, o desgosto e o ódio por fazer aquilo. Os escravos estavam com medo, um temor angustiante de que tudo não passasse de uma armadilha. Então, tão repentina quanto a destruição das correntes, uma voz ecoou, vinda da figura angelical.

– Vão.

Os escravos se entreolharam. Os mais corajosos começaram a andar. Passaram pelos orcs e então, correram, em direção aos numenorianos. Então, todos começaram a correr, como se a qualquer momento os orcs pudessem capturá-los de novo. Elohas puxou Ehador e Razos, e todos correram sem parar. Suas pernas doíam, e seus joelhos faziam barulhos de desgaste enquanto se atiravam na massa de soldados prateados. Estes, abriram espaços por onde os prisioneiros pudesse entrar em sua formação e se proteger. Elohas corria sem olhar para trás. Num dado momento, olhou para o lado, e viu que estava paralelo ao ponto em que o Rei e Sauron ainda se encaravam. Observou, por alguns segundos a expressão só Senhor do Escuro. Estava impassível, com um olhar frio e benevolente. A sua volta, milhares de escravos corriam, quase aos tropeços, procurando se abrigar nas aberturas do exército de Númenor.

Elohas voltou-se para frente. Estava quase chegando quando parou de correr. Ehador e Razos pararam, um pouco a frente, estranhando a súbita pausa do amigo. Ao olhar para frente, Elohas via ele, Vecydes, o irmão que quase lhe escapara da memória após tanta tortura e sofrimentos. Ele coçou os olhos e passou a mão na testa. Deu alguns passos, ficando a poucos metros da imagem que não conseguia acreditar.

– Vecydes?

O irmão olhava, com uma cara de preocupação, para o Rei e sua companha, e só então coltou-se para frente e percebeu que chamara seu nome. Suas sobrancelhas se ergueram, seus olhos se abriram de surpresa, e sua boca se abriu em espanto e comoção. Elohas começou a correr, e o irmão abriu os braços, ainda se forçando a acreditar no que via. Ele o alcançou e, num só pulo, no qual usou praticamente todas as suas forças, saltou nos braços do irmão. Vecydes o pegou, e retribuiu o abraço com força. Sentia a fraqueza nos braços do irmão. Ao sentir o sofrimento que ele passou, ao imaginar as tristezas que ele teve de reprimir, e, principalmente, ao entender que apesar de tudo que ele viu e imaginou, Elohas estava ali, na sua frente, Vecydes chorou, enquanto o irmão caia sobre seus braços. Elohas chorava, parte feliz por rever o irmão, parte por que não conseguia acreditar que o sofrimento parecia ter acabado. Por uns dois minutos eles permaneceram abraçados. Não disseram nada, pois a própria força com que eles mantinham o gesto fraternal era mais forte e mais reveladora do que qualquer palavra.

Razos e Ehador pararam ao lado, Isilmë tamém estava próximo. Todos se admiravam com o reencontro. Elohas se separou do irmão, em lágrimas, e viu ao lado Adryos, esperando para dá-lo boas vindas.

– Até que enfim garoto – disse o capitão, enquanto abraçava o jovem com força.

Elohas se voltou para o irmão novamente. Seus olhos ainda estavam pesados. Vecydes olhava para o irmão fraco, magro, sofrido.

– Não se preocupe irmão – disse Elohas. – Apesar de tudo, estou aqui.

– Achávamos que nunca mais o veríamos. – disse Vecydes – Nunca fiquei tão feliz por estar tão errado.

Vecydes ia continuar, pois queria que o irmão fosse para atrás da formação, e descansar em algum alojamento. Mas mal teve esse pensamento, e foi interrompido pelo iminente silêncio que procedeu a libertação dos prisioneiros. Assim que todos se anexaram aos exécitos de Númenor, a tensão aumentou entre Ar-Pharazôn e Sauron. Ambos continuavam a se encarar, mas nenhuma palavra foi dita até agora. Um vento cortou o campo, dando um frio na espinha de todos os homens. Isilmë se voltou para Vecydes.

– Não estou gostando disso. O que ele planeja? – disse inquietamente.

Elohas olhou para Vecydes, deduziu sua importância e seu cargo. Entendeu que os numenorianos desconheciam as intenções de Sauron quanto ele e os colegas. Ele olhou para o encontro no meio do campo. Todos estavam tensos novamente. Elohas, Vecydes, Adryos, Ehador, Razos e Isilmë, formavam quase uma linha, olhando seriamente para o centro do campo.

Então Sauron se moveu. Deu alguns passos em direção ao Rei. Poder e graça acompanhavam seus passos. Nada podia se deduzir em sua expressão. Então, numa ação que surpreendeu a todos, inclusive os orcs, Sauron se ajoelha. O Rei, surpreso, infla. Sua confiança e seu ego, antes diminuídos pela expectativa do que seu inimigo faria, agora alcançam níveis jamais atingidos. Ele empina a cabeça e olha, ligeiramente, para trás, garantindo que todo seu exército estivesse assistindo. Sauron, ajoelhado, mirando o chão, começa a falar. Todos ouvem como se alguma magia amplificasse o som, de forma que este chegava ao ouvido do mais distante soldado como se estivessem presenciando a cena a poucos metros de distância.

– Ar-Pharazôn, Rei de Númenor. Eu proclamo aqui, sua superioridade. Admito que tentei, em vão, conquistar o que achava que deveria ser meu. Isto, porque, nunca vi um opositor a altura. Sempre acreditei que o mais forte devesse governar, e garantir a segurança e a ordem do resto. Agora, mais do que nunca, vejo que não sou Eu que devo realizar esse papel. Vejo agora, e não escondo o que esta diante de mim, pois reconheço quando sou mais forte, e quando encontro alguém ainda mais. Suas hostes são numerosas, peritas, bem armadas, tudo que falta nas minhas nesse momento. E mesmo que eu estivesse abastecido dos meus maiores e melhores números, ainda assim não teria muitas chances de derrotar o que se estende diante de mim. – Ele levantou a cabeça. Seu olhar era pesado e arrependido, como um jovem que cometeu um ato imprudente e agora suplicava aos mais sábios que compreendessem e perdoassem o delito. Ele olhou nos olhos do Rei. – Reconheço a sua vitória sobre mim.

Por muitos segundos o rei ficou em silêncio. Elohas via, apesar de estar de costas, que, por trás da camada de confiança e narcisismo, um grande conflito tomava a mente de Ar-Pharazôn. Todos os soldados, ex-escravos e orcs esperavam com impaciência. Muitos se perguntavam se o Rei seria capaz de ser impiedoso diante de tamanho reconhecimento de derrota. Ainda mais considerando que aquele que se humilhava perante ele não era um rei qualquer. O Rei permanecia impassível, olhando seu inimigo por cima e com os olhos atentos. Então, um leve sorriso se esboçou no lado direito de seu lábio, seus olhos se estreitaram, e era visível que seu orgulho havia vencido qualquer outro sentimento.

– Sim, eu venci – disse o Rei calmamente. Ele levantou o olhar, contemplando a grande Torre a sua frente. – E o que acha que eu devo fazer com você?

Sauron refletiu por alguns segundos. Seu olhar era perspicaz. Via-se em seu rosto uma dose ainda maior de arrependimento e auto-piedade.

– O que a sua lei disser. Ou melhor, o que Vossa Majestade quiser. Alguém como você não deve se curvar a nenhuma lei, nenhum governante, nenhum deus. Se disser que eu deva ser executado, que assim seja. Eu perdi, calculei mal minhas chances, falhei em reconhecer seu poder e sua grandeza. Na verdade, não existe perdão para o que eu fiz. Se posso pedir algo em minha posição, é que seja você mesmo que me execute.

O Rei soltou mais um sorriso orgulhoso. Virou-se novamente, para garantir que todos estivessem ouvindo isso. Elohas imediatamente desprezou Ar-Pharazôn. Via nele a representação de todo o narcisismo e pedantismo dos homens. Sua inveja pela imortalidade, e a necessidade irracional de se provar superior. Via que nunca, em toda a vida do Rei, ninguém tão poderoso já se curvara para ele, e isso o agradava infinitamente. Elohas começava a entender que era exatamente isso que Sauron pretendia. Todo aquele clima, o terror amenizado, a misericórdia com os prisioneiros, a humilhação perante Númenor. Tudo fazia parte de uma encenação para ludibriar o coração pretensioso de Ar-Pharazôn.

– Posso, entretanto, meu senhor, fazer um pedido? – disse Sauron. – Uma, pequena súplica… Que não afetará em nada o reconhecimento da sua vitória, e poderia, de fato, até aumentá-la,

Os olhos de Sauron brilharam. Ar-Pharazôn falhou em ver, pois seu olhar se dirigia para o horizonte. Queria parecer distante, superior. Ele baixou o olhar e sorriu por dentro, vendo um ser imortal e imaterial lhe fazendo uma súplica.

– Estou ouvindo.

– Peço que possa me conceder um último pedido, em reconhecimento a libertação de todos os prisioneiros. Vossa Majestade sabe, como qualquer um, que eu, sendo um ser originado antes do mundo, tenho como dádiva a imortalidade. Sei que independente da graça que isso pode me conceder, nada impediu que uma grandeza tão avassaladora como a sua pudesse me derrotar de forma tão definitiva. Mas penso, ao reconhecê-lo como superior, no quanto isso poderia beneficiá-lo.

Sauron fez uma pausa. Queria confirmar se Ar-Pharazôn acompanhava sua lógica. O Rei ouvia atentamente, pois sabia que apesar de ter humilhado o Senhor do Escuro, tinha muito que aprender com ele.

– Qual é o seu pedido?

– Peço que me leve com você. Me faça um conselheiro. Deixe-me ganhar sua confiança e seu respeito. – Por um segundo os olhos do Senhor do Escuro brilharam, e um leve sorriso se formou em seus lábios. O Rei, absorto em seu orgulho e afetado pela bajulação, mal notou o leve sinal de malícia na voz de Sauron. – Saiba que eu fiz o que fiz, para provar aos Senhores do Oeste que eles não me dominam, que eles não me controlam. Bem, eu falhei, mas você, com seu poder, pode contestá-los. Posso te ajudar a passar por cima da única coisa que te impede de chegar à glória total: a mortalidade.

Para ouvidos treinados, sábios e desprendidos de orgulho e ambição, essas palavras se mostram carregadas de malícia e manipulação. Mas é importante lembrar que, cada mortal naquele campo, principalmente o Rei, com sua sede de poder e reconhecimento, estava sujeito ao imenso poder de persuasão de Sauron. Não eram as palavras em si, que faziam a mente se perder e considerar cada frase como incontestável, mas a voz, o clima, as sutis nuances entre um grave poderoso e um agudo angelical, eram os fatores determinantes para que o discurso infectasse a mente dos homens mais bravos e determinados. Elohas lutou, e por muitos minutos caiu no feitiço, esquecendo-se do seu sofrimento nas mãos dos orcs e do que viu em Barad-Dûr. Depois confirmou-se que ninguém na Terra Média, nem os mais sábios e poderosos elfos, jamais possuíram um poder de persuasão tão forte quanto o de Sauron.

O Rei ficou paralisado. Lutava contra seus instintos e tentava equilibrar seu bom senso com seu ego inflado. Por toda sua vida buscou seu o governante mais notório de Númenor, e já tinha, de fato, deixado para trás diversos antecessores, que nunca fizeram metade do que ele já realizou. Mas uma coisa sempre o incomodara, sempre o cutucava, como um pequeno inseto que morde o pescoço de um homem e este, mesmo que incomodado, continua com sua vida, sendo ocasionalmente lembrado de seu encosto. Nunca, em toda a sua vida, Ar-Pharazôn havia se acomodado com sua mortalidade. Ele sabia, é claro, que tal momento chegaria, mas tentava sempre imaginar que estava distante, longínquo, e sempre evitava ter de pensar nisso. No fundo de sua alma, escondido por baixo de camadas de orgulho e engessadas por seu ego, uma forte inveja latejava. Sentia inveja dos elfos, dos Valar, de todos os seres que não precisavam se preocupar com a morte, com seus legados, com seus projetos, pois o infinito era o horizonte para quaisquer realizações. E Ar-Pharazôn ainda queria realizar muita coisa. Ainda queria ter a Terra Média sob seu trono, e desejava curvar até o Oeste sob sua vontade. Ele sonhava e se divertia em sonhos e planos em que era reverenciado e louvado por tudo e todos. Entretanto, como o inseto no pescoço do homem, nestes momentos um desgosto preenchia sua mente, pois sabia que tais projetos e tais ambições requereriam a eternidade para serem realizados. Ele, por mais poderoso e majestoso que fosse, ainda era apenas um homem, fadado a desaparecer do mundo e ser esquecido enquanto um elfo que nasceu milhares de anos antes dele, ainda viverá para ver o mundo esquecer que ele e seu povo existiram. Essa chama, essa inveja, essa coceira no pescoço, nunca fora tão atiçada quanto agora nas palavras maliciosas de Sauron.

Elohas estava inquieto. Seu inconsciente estava caindo no feitiço do Senhor do Escuro. Outro lado seu, entretanto, suspeitava de cada palavra dita, e temia que Sauron não estivesse apenas manipulando o Rei para seguir com algum plano profano Queria falar com os amigos, gritar, chamar atenção, mas nada adiantava. Seu corpo permanecia parado, assistindo ao diálogo sombrio incapaz de tomar nenhuma ação.

Por fim o Rei suspirou. Ninguém ali saberia dizer por quanto tempo ele divagou em sua mente, mas todos tremeram, tensos, quanto ele balançou a capa, como se quisesse afastar alguma coisa de perto. Por fim falou. Sua voz era segura e confiante, mas era impossível não notar uma ansiedade oculta.

– Acha mesmo que seus truques funcionariam comigo? Eu não esqueço o que você fez, e nada que disser me fará acreditar que qualquer objetivo que não fosse maligno jamais motivou suas ações. Saiba agora, que além de sofrer a derrota, condeno você a humilhação perpétua. – A voz do Rei subiu de tom. – Você irá para Númenor, sim, mas será como um prisioneiro, um cativo, como aqueles do meu povo que você trouxe para cá. Condeno você ao cativeiro em meu reino, onde nunca esquecerá sua derrota e quem foi o responsável por sua ruína.

Sauron baixou a cabeça, derrotado. Todos os homens suspiraram. Um grande peso caiu de seus ombros, e a influência maligna os abandonou de imediato. Todos gritaram, em sinal de vitória. Centenas de milhares de soldados, entre eles milhares de ex-escravos, clamavam perante a vitória dos homens sobre a sombra. A cena parecia uma pintura. Com o Rei, altivo e imponente, a frente do Senhor do Escuro, derrotado e curvado. Em volta, homens comemorando e os orcs fugindo para o interior da Torre. Sayfosi, num ataque de terror e desespero, caiu no chão, e começou a soltar espuma pela boca. Alguns homens o socorreram e o levaram para o fundo da formação.

Elohas se sentiu mais solto, e agora julgava a situação com sua própria consciência. Não se aliviou, entretanto. Sabia que algo estranho estava ocorrendo, e que os eventos, apesar da aparente vitória dos Numenorianos. Ele olhou para Ehador, Razos, para o irmão e para Isilmë. Todos tinham um estranho olhar. Todos se sentiam desconfiados do que acabara de acontecer. Um vento cortou o campo. Entre os gritos e clamores, uma fraca garoa começou a cair. Ninguém notou, entretanto, que no rosto de Sauron, abaixado e humilhado, um sorriso malicioso tomava forma.



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