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História O Ceifador - Eu sou gêmea malvada


Escrita por: amargo1918

Capítulo 2 - Eu sou gêmea malvada


Fanfic / Fanfiction O Ceifador - Eu sou gêmea malvada

Eu havia voltado para a casa a quase uma semana. Minha mãe ainda parecia pesar cada palavra que trocava comigo, como se fosse uma traição se envolver tanto.

Retornei ao meu antigo quarto, mesmo que a maioria daquelas coisas tivessem ficado infantil demais para mim. De fato, que ainda dormia na cama com cabeceira de borboleta e dorcel de coroa. Mas era o meu traço de normalidade. Como se de alguma forma, aquele quarto me teletransportasse para um mundo em que as coisas ainda pareciam funcionar do jeito certo. Eu ainda morava em Saint Luce, minha irmã ainda estava viva e meu irmão mais velho, Kiley não tinha virado um suicida em potencial.

A propósito, Kiley era um assunto considerado tabu, meu pai nunca falava dele e minha mãe ainda se mantinha pisando em ovos comigo.

Eu havia conversado com Samuel e ele decidiu por nós dois, que seria prudente e bem bonito da minha parte permanecer o restante do ano em Saint Luce. Tentar volta a minha antiga rotina, minha antiga escola, minhas antigas amizades... Talvez, fosse mais fácil para a minha mãe não ter que lidar com a perda simultânea de três dos três filhos. E foi isso que eu fiz. Na manhã seguinte ao meu retorno, meu pai havia me matriculado no último ano do ensino médio, na única escola de ensino médio da cidade e as aulas recomeçariam em menos de uma semana.

Era setembro. Bem no começo do ano.

Acordei no outro dia um pouco mais cedo do que seria preciso. Era costume acordar mais cedo. Em Nova Iorque, não tinha ninguém para me acordar e fazer meu café depois de um bom dia carinhoso. Eu já não via motivos para não manter esse costume aqui. Sai do meu quarto e fui a cozinha. A casa silenciosa parecia aumentar o vazio que as vezes eu sentia. Coloquei a chaleira no fogo e enquanto a água para o chá fervia, prendi meu olhar no quintal de casa. O sol se refletia na água da piscina, e alguns passarinhos acostumados com a bagunça urbana, arrulhavam animados.

Quando a chaleira apitou para alertar da fervura da água, eu coloquei na garrafa térmica e levei até o balcão. Sentei-me em uma cadeira alta e servi-me com a água, preparando o chá em seguida. Peguei alguns cookies no pote de biscoitos e os coloquei para dentro em companhia do chá quente.

Passos nas minhas costas, me alertaram da presença de alguém. Virei-me e deparei com a minha mãe. Seus olhos já não estavam tão cansados, mas sua expressão cansada refletia muita coisa.

- Bom dia - ela falou seca.

- Bom dia - respondi quase em um sussurro.

- Acordou cedo porque?

- As aulas começam hoje.

- Ainda esta firme na idéia de ficar aqui?

- Mamãe, eu sei que não fui a filha dos sonhos de vocês. Que abandonei minha irmã, meu irmão, vocês e a minha vida. Mas era o meu sonho que estava em jogo e acho que você deveria ficar feliz pela minha determinação em correr atrás.

- Sua irmã morreu - ela falou trêmula como se quissesse subir o tom de voz, mas não conseguisse.

- E sou que tenho de lidar como fato de encontrá-la me encarando sempre que olho no espelho - levantei-me e coloquei a xícara na pia. Subindo as escadas em seguida.

Coloquei uma calça jeans apertada, uma blusa de manga curta bem frouxa e um adidas. Armei o cabelo em um rabo de cavalo e depois de ajeitar na mochila, algumas coisas que eu tinha comprado durante a semana, desci para a entrada.

Meu pai tinha me dado a chave do carro de Kiley e Ariana, a SUV utilitária que eles dividiam. Ao entrar, me sentir meio que como uma intrusa. Eu nem sabia que eles eram unidos o suficiente pra dividirem o carro.

Na infância e por parte da adolescência que se sucedeu antes da minha partida, eu e Ariana conseguiamos conciliar as brigas e o companheirismo. Brigávamos, mas sempre voltavamos a fazer as pazes, não havia segredos mesmo que meu jeito explosivo sempre colocasse fim em qualquer desenvolvimento da nossa amizade. E bem, Kiley sempre esteve impassível. Nunca se importou muito comigo ou com Ariana, sempre esteve a uma distância segura. Nunca quis fazer amizade, parecer um bom moço ou fazer o papel de irmão mais velho perfeito. Além de quase nunca está aberto para o diálogo.

Eu dirigi até a Saint Luce High School. Era bem menor em comparação a minha ex-escola, tinha um conjunto de casas vermelhas que definitivamente não parecia uma escola. Se eu não conhecesse a cidade ou não tivesse uma placa enorme com o nome da escola, eu teria passado direto.

Estacionei em uma vaga qualquer e me olhei no retrovisor. Suspirei. Eu passaria o dia inteiro tendo de aguentar as pessoas me olhando, procurando em mim semelhanças com a minha irmã morta que não fossem apenas a aparência. Mas era uma busca tola e sem resultados. Porque bem... Eu era a gêmea malvada.

Desci do carro e pude sentir o olhar das pessoas em um raio de 100 Quilômetros se virarem pra mim. Ignorei ao máximo. Coloquei a mochila nas costas e caminhei para a casinha vermelha que tinha uma plaquinha, a identificando como Secretária.

Abri a porta e a mulher na mesa me olhou quase surpresa. Mas pareceu se lembrar de quem eu devia ser e seu olhar se suavizou. Abriu um sorriso para mim e eu fui até mais perto da mesa dela.

- Oi, eu sou Alison - entreguei a confirmação da matrícula para ela.

- Ah, olá - ela sorriu. - Aqui está seu horário... Alison Butler.

- Obrigada - peguei os papéis, dando uma breve olhada.

- Eu sinto muito pela sua irmã - ela me olhou pesarosa. - Era uma menina adorável, deve sentir falta dela...

- Não falava com Ariana a dois anos, é provável que a você a conheça melhor do que eu - arrumei melhor a mochila no ombro e fui para a casinha de número três. Minha primeira aula seria Educação física, e eu não tinha como praticar. Não tinha as roupas necessárias.

Abri a porta do local, e um corredor enorme se divida em várias portas. No final, havia um conjunto de portas duplas com a indicação de que o ginásio ficava lá. Fui até lá e quando abri a porta, os alunos de roupa colada que estavam lá, se viraram pra me olhar.

A quadra parecia um enorme galpão adaptado, tinha algumas portas nas laterais que deviam ser os banheiros, mais adiante uma enorme parede de vidro fosco que levavam para fora. Pela imagem turva, parecia uma enorme piscina coberta.

Os alunos continuavam a me olhar e eu senti o rosto esquentar. O homem alto com um apito que parecia ser o professor correu rápido até mim.

O professor devia ter uma sério problema de calvisse, parecia proativo e rígido. Usava um short de tecido fino que ia até pouco mais da batata da perna. A blusa era frouxa e tinha uma marca de suor enorme embaixo do braço. O cheiro de desodorante passado ao extremo, chegou em mim antes dele.

- Alison, né? - ele questionou-me.

- Sim, senhor.

- Está atrasada - ele sorriu. - Mas como é seu primeiro dia, vou relevar - Ou será porque eu acabei de perder uma irmã?

- Ahn, me desculpe. Meio que me perdi. E além disso, não vim preparada para a Educação Física.

- Não me resta nada a não ser te deixar ficar apenas observando, mas senhorita Butler... Não costumo relevar muito.

- Não vai acontecer de novo.

- Eu sei que não - ele sorriu e fechou os olhos como se esperasse que uma força divina descesse do céu e o presenteasse com um pouco mais de paciência. - E você, senhor Clark, venha aqui imediantamente.

Um garoto havia entrado pela as portas atrás de mim, querendo passar despercebido mas os olhos de águia do treinador o captaram. Um cheiro de grama cortada, erva doce e perfume masculino dos bons acompanhou um rapaz com uns cinco centímetros maior que eu.

- Bom dia, treinador Clapp - a voz rouca do menino vinha carregada de sarcasmo.

- Atrasado?

- Pois é... Eu perdi o horário.

- Você anda com meu filho, acha mesmo que eu não sei que isso se deve ao fato da noitada de ontem? Logan chegou quase na hora em que me levantei para fazer a corrida matinal.

- Por isso perdi o horário, cheguei tarde - Pela primeira vez, ergui o olhar para olhar o menino.

Estava certa, ele devia ter uns cinco centimetros a mais que eu. Seus olhos eram de um azul tão claro que semelhavam o branco, os cabelos pretos estavam arrumados em um topete ousado e propositalmente bagunçada. A barba por fazer revelava um desleixo bem sexy, principalmente em contraste com a cicatriz no queixo. Ele me olhou surpreso e semicerrou os olhos, assentiu rápido e eu tenho quase certeza de que um sorriso brincou nos lábios finos e recheados.

- Para compensar, vai ter de mostrar a escola a senhorita Butler. Me agradeça - ele falou para extinguir qualquer protesto. - E espero que os dois pontuais, cheguem cedo a aula de história. Não querem levar notificação no primeiro dia de aula, né? - ele voltou-se para os alunos que estavam brincando com a bola de basquete.

- Treinador... - o menino tentou.

- Você não está mais aqui, Clark. Pelo menos, não para mim.


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