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História O Ceifador - É bom te ter aqui


Escrita por: amargo1918

Notas do Autor


Olá

Capítulo 4 - É bom te ter aqui


Fanfic / Fanfiction O Ceifador - É bom te ter aqui

Overdose? Meu irmão era um drogado agora? Perdi mais do que eu imaginei.

Depois que o papai teve certeza que Kiley tivesse o banho tomado, os lençois trocados e todos os sinais vitais conferidos, ele me chamou para conversarmos um pouco na cafeteria da clínica.

Sentei-me na frente dele e pedi um capuccino e meu pai um café forte. Ele olhava impassível, como se tentasse entender como tudo saiu do controle dele.

— Como foi a aula?

— Foi legal. Conheci algumas pessoas que foram bem simpática — sorri. E eu estraguei, para variar. — Inclusive uma menima chamada Spencer que parecia bem imteressada com a saúde de Kiley.

— Spencer é uma ótima garota. Ela e seu irmão namoram a um ano e meio, mais ou menos.

— Namorada?

— É, querida. Spencer é sua cunhada — eu nem sabia que ele namorava.

— Quer me explicar essa história de overdose? — Não dava pra adiar o tempo todo. Meu coração estava apertado e nem eu sabia que importava tanto.

— Eu nem sabia que ele usava essas coisas, pelo que o médico falou não havia resquicios antigos de nenhuma substância. Seu irmão era muito próximo de Ariana, querida. Mais próximos do que você pode imaginar... Eu e sua mãe falhamos em ajudá-lo, porque também estávamos presos em sentir nossas dores. Ele deve ter achado a droga como válvula de escape, mas deve ter abusado. O encontrei dentro da banheira, o corpo desfalecido e os pulmões cheios de água. Foi devastador. Eu me vi perdendo mais um filho.

— E porque ele tá tão longe de casa?

— Sua mãe — Ele não precisou mais falar, eu tinha entendido. Minha mãe queria evitar que as pessoas soubessem que meu irmão usava drogas. Era meio egoista, mas em compensação, tirava Kiley da exposição. — Deve ser por isso que Spencer está preucupada, eu a avisei por consideração mas sua mãe meio que me proibiu de falar onde ele está ou sobre o que aconteceu de verdade.

— Porque a mamãe está agindo daquele jeito comigo? Como se eu fosse culpada?

— Por que do jeito dela, ela sofreu com a sua ausência.

— Não fui embora por ser uma pessoa má — suspirei.

— Eu sei, meu amor. Só dá um tempo para a sua mãe, tudo vai ficar bem depois de um tempo.

— Tá — O olhei. Ele parecia tão cansado. Exausto de verdade. Muita coisa para tá segurando só. — Pode me contar como foi o acidente da Ariana? Não sei se é a hora certa para falar disso, mas não é como se fosse ficar mais fácil depois.

— Sua irmã estava indo para uma festa com um grupo de amigos — seus olhos se encheram de lágrimas mas mesmo assim, ele parecia disposto a me contar — , não sei bem o que houve com o carro mas capotou por diversas vezes e... e sua irmã estava sentanda atrás, tinha mais gente do que o permitido. Ela voou pela janela do carro e eu não queria me lembrar com tanta clareza — ele baixou um pouco a cabeça e quando levou para me olhar, uma lágrima escorreu pelo nariz. — Mas eu ficou feliz que esteja aqui, que esteja tentando. Mesmo que ache que não, eu tenho muito orgulho por ter você e você ter toda essa determinação, ser tão nova e já ter toda a vida que quer ter daqui para a frente. E eu sei que você tem aguentado uma pressão maior do que tem direito, mas se não for pedir muito... Eu preciso mesmo de você aqui.

— Eu vou ficar, papai. Pode ter certeza.

Meu telefone escolheu aquele momento para tocar, olhei no indetificador de chamadas e li o nome de Samuel. Que lindo. Quase cinco horas depois, ele leu minha mensagem.

— Preciso atender, papai — ele assentiu e eu levantei rápido, me afastando um pouco da mesa e atendi. — Alô?

— Ali? — a voz dele parecia animada por ouvir a minha.

— Oi, Samuel.

— Você está bem?

— Tô. E você?

— Com saudade — ele riu. — Mas eu quero que saiba que eu tô aqui.

— Fiquei chateada. Você não respondeu minha mensagem.

— Meu celular estava descarregado — ele pareceu sincero. — Liguei agora a pouco e achei melhor te ligar, senti saudade de ouvir sua voz.

— Eu também.

— Onde você está?

— No hospital. Visitando meu irmão, com meu pai.

— Sua mãe continua te ignorando?

— Pior que continua. Mas meu pai falou que é uma questão de tempo.

— O luto tá recente, meu amor. Tudo vai ficar bem, sim?

— Tomara — suspirei. — Preciso desligar, meu pai tá sozinho aqui e eu tô curtindo muito esse momento pai e filha que eu não tenho desde os meus 12 anos.

— Claro e me desculpe por ligar.

— Não incomodou, estava com saudades de você. Te amo. Beijo.

— Te amo — e desligou.

Voltei para a mesa e meu pai me olhava animado. Meu rosto enrubebeceu com seu olhar.

— Seu namorado? — perguntou interessado.

— Sim, Samuel. É um garoto bem legal, se permite o comentário.

— Namoram a quanto tempo? — era estranho esse tipo de conversa, eu era uma total estranha para o meu próprio pai.

— A quase dois anos. Ele é modelo também.

— E como ele é?

— Doce, simpático e sempre se preucupa comigo. Eu o amo de verdade, papai. Ele tem lindos olhos castanhos e um cabelo bem curto e bagunçado que me lembra o de Kiley.

— Eu fico feliz — ele sorriu alisando minha bochecha. — E como é a escola? Já passou em alguma faculdade? — eu o olhei pensativa e ele corou. — Eu devia saber disso, né? Devia ter corrido mais atrás de você.

— Eu também me afastei de vocês — entornei o capuccino. — Mas enfim, minha escola era uma das melhores do estado. Era bem maior do que a Saint Luce, mas nada que eu não possa viver sem. Lá era bem rígido. E faculdade, bem com as minhas atividades extra curriculares e uma carta de recomendação do meu sogro — eu ri com a palavra e ele deu uma risadinha pra mim também. — Consegui uma bolsa na universidade de Nova Iorque, você vai ter uma filha médica. Se Deus quiser.

— Medicina? — ele sorriu orgulhoso.

— É.

— E conseguiu só? Você é incrivel mesmo.

— Só não, papai — apertei a mão dele por cima da mesa —, vocês me trouxeram até aqui.

Voltamos para casa e quando estacionei, subi para o mesu quarto enquanto papai fechava o portão da garagem. Não encontrei mamãe na sala e nem na cozinha quando fui pegar um copo de água. Subi para o meu quarto e quando ia entrar no meu quarto, vi a porta do lado entreaberta. Não sei porque não tinha entrado ali ainda, não tinha batido vontade e pra ser sincera não me ocorreu nem remotamente.

Abri a porta por completo e vi que o quarto de Kiley era bem arrumado para um rapaz. Ou ele era organizado ou mamãe tinha mandado a Doroty, a nossa arrumadeira, dá um trato.

As paredes eram brancas, a cama tinha uma colcha de uma série famosa de zumbis e eu ri, imaginando meu irmão que sempre me pareceu sério demais perder o tempo na frente de uma televisão vendo uma série de ficção. Eu não conhecia meu irmão. Andei até a escrivaninha, na prateleira presa na parede, haviam vários livros e DVDs com mais ficção gravada. Cardenetas e canetas enchiam a escrivaninha. E aquela foto que eu nunca esperei encontrar ali.

Éramos eu, Ariana e Kiley. Eu e Ariana tinhamos em torno de uns cinco anos, Ki beirava os oito. Kiley com a cara emburrada para a câmera, eu espalhafatosa sorrindo para o fotógrafo e Ariana tinha o braço em torno do meu pescoço. O olhar dela brilhava. Como se a vida fosse bela, como se nada faltasse. E eu me perguntei se ela tinha mantinha aquele olhar ainda nos dias de hoje. Me doeu imaginar aquele olhar não existia mais.

Na parede, perto da prateleira, estavam maia fotos. Muitas fotos com Ariana, como sempre. Os olhos azuis pareciam sorrir junto com a boca dela. Spencer também estava lá. E papai e mamãe. Todas recentes, mas nenhuma delas tinha fotos minhas.

— Fiquei preucupada com você, não te vi chegar da escola — a voz doce da minha mãe soou na pprta do quarto. DOCE.

Virei-me para encara-la e seus olhos estavam calmos, meigos e descansados. Sua expressão era suave e pela primeira vez desde que cheguei, ela me olhou com ternura.

— Fui visitar Kiley com o papai.

— Porque não me avisaram? — ela se fingiu de ofendida. — Adoraria poder ter ir também.

— Não estava programado — sorri envergonhada. — Kiley teve uma overdose?

— Spencer nos contou que ele só começou a usar agora — minha mãe baixou a cabeça, talvez constrangida demais para lidar com o que estava acontecendo. — Ele se sentia culpado pelo o que aconteceu com Ariana e nós estávamos lidando com a nossa própria dor para pastorear Kiley.

E eu tava longe demais para me preucupar.

— E porque você não nos colocou em um hospital perto da gente?

— Porque eu estou cogitando a idéia de deixa-lo um pouco lá — ela assumiu envergonhada.

— Mamãe, Kiley não é um viciado - suspirei.

— Você acha que sabe de alguma coisa Alison? — seu tom de voz se alterou. — Você passou um ano sem vir em casa, três anos sem falar com Kiley e eu nem tô te culpando. Você tava se tornando famosa por lá, enquanto nós é que lidávamos com uma mentirosa e um futuro suicida.

— Eu não quis dizer isso — a olhei embasbacada. O silêncio se instalou no quarto e ela parecia tentar se acalmar.

— Mas foi divertido?

— Foi — a olhei sem entender.

— Seu pai me falou sobre a faculdade, fiquei bastante orgulhosa.

Dessa vez a suspresa foi maior. A encarei abobada, sem acreditar.

— Ficou?

— Acho que tenho aido bem rude com você — Acha? —, mas sei que você sente falta da sua irmã. Errei em abandonar Kiley e não quero que o mesmo aconteça com você. Você chegou mais longe do que qualquer um dos seus irmãos, ou mais longe do que eu ou seu pai. E fez isso só. Eu só te julguei, não perguntei se precisava de algo ou se precisava se mim. Fui egoísta demais. Tenho a mania de achar que... que a minha dor é maior do que a dos outros, apenas porque não estou sentindo. Mas eu não sou ninguém para julgar a dor outros, muito menos a sua, minha menina.

— Dói em mim também, mamãe.

Ela me acalentou em um abraço e eu senti que tinha chegado em casa. Finalmente. Depois de uma semana, senti que tinha chegado em algum lugar. Aspirei o cheiro bom do perfume feminimo e caro dela. Minha mãe.

— Estava olhando as coisas do seu irmão? — ela me perguntou carinhosa.

— Tentando entende-lo — eu ri. — Uma completa icógnita.

— Quer ajuda? — eu assenti esperando ela recomeçar a falar. — Seu irmão é bem doce, preucupado, família, centrado. Gostava de filmes de ficção, de ficar deitado no sofá de casa com sua irmã no encalço para assistirem maratona de séries na MTV. Ele e Ariana desenvolveram uma amizade, ou união quase inquebrável. E só fortaleceu quando ele começou a namorar Spencer, a garota da foto — ela apontou para os retratos.

— Eu a conheci — suspirei. — E em relação a mim?

— Por mais que me doesse, toda a falta de interesse que você demonstrava com eles, era recíproca. Ariana nem dizia que era gêmea.

— Era uma das coisas que ela mais se gabava quando éramos crianças — eu ri lembrando.

— A culpa não é sua, tomaram decisões diferentes que os levaram a caminhos diferentes.

— E aquela nossa foto? — a olhei com um resto de esperança.

— Ele nunca deixou de amá-la — ela alisou meus cabelos.

Eu enxuguei algumas lágrimas e minha mãe me olhava com ternura. Sua mão passeava no meu cabelo, fazendo carinho e foi quase como se eu pudesse imaginar Ariana entrando no quarto e estragando nosso momento mãe e filha.

— Mamãe?

— Hm? — ela me olhou.

— Kiley fez uma tatuagem?

— Nem me lembre — ela levantou debochada e quase correu até a escrivaninha da cama.

Abriu a gaveta e pegou o que parecia ser uma foto, estendeu ela pra mim e eu recebi sem entender bem do que se tratava.

A inscrição das costelas do meu irmão também estava nas costela da minha irmã gêmea. Eles riam animados mostrando o dedo do meio para a foto. As letras ainda vermelhas mostravam que aquela foto fora tirada minutos depois da tatuagem ser feita.

Ri amargurada. Meus olhos arderam com as lágrimas e eu nunca achei que uma tatuagem pudesse ser tão irônica e verdadeira quanto a deles.

Nada descreveria melhor a situação. Ambos carregavam na pele a mesma inscrição.

"O nosso amor não morre, muda de atmosfera."



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