História O Cheiro da Lua - Lobo Vs Caçadores

Felipe devia estar dormindo ou não estava em casa, não me importei em verificar, a animação da festa ainda corria em minhas veias, mesmo em casa eu ainda podia sentir a batida da música e a ansiedade da minha surpresa que se aproximava mais e mais.

Triton também parecia bem contente e ansioso, tanto que só tive tempo de fechar a porta antes de ele me jogar em seu ombro e me carregar até meu o quarto. 

Nós riamos baixinho, até que ele me jogou na cama e me calou com um beijo faminto, enquanto nossas línguas disputavam espaço, aproveitamos para nos despir, logo estávamos só de roupas íntimas.

- Então... Qual a minha surpresa? - mordi o lábio e observei os músculos de seu braço.

- Eu quero fazer algo muito intenso com você hoje. - sorriu maliciosamente e seus olhos arderam em chamas.

- Conte-me mais. - sorri.

- Só o que você tem que fazer é o que eu mandar. - afirmou.

Empurrei-o de leve para o lado da cama e me sentei.

- Você já deve saber que não gosto muito de obedecer. - fitei-o.

- Eu sei, por isso vai ser tão intenso. 

Nunca havia me imaginado obedecendo alguém, ainda mais se tratando de sexo.

- Você confia em mim? - indagou. - Eu não vou te machucar, nem te magoar.

- Confio. - dei-lhe um beijo suave nos lábios.

- Então não vamos precisar de nenhuma peça de roupa. - riu.

Logo estávamos nus e Triton estava em cima de mim, nossas pernas entrelaçadas e sua boca colada a minha. Uma de minhas mãos enrolava-se em seu cabelo e a outra arranhava suas costas, eu podia sentir a sua ereção bem perto da minha intimidade. 

Mordeu meu lábio quando sua mão acariciou meu mamilo, então beijou meu pescoço e desceu até sua língua encontrar meu seio, gemi quando ele o chupou, mexi o quadril e notei que isso o deixou mais excitado. 

- Pronta? - ergueu a cabeça e sorriu, eu assenti. - Então coloque seus braços atrás da cabeça.

Foi estranho, mas eu obedeci, corei um pouco ao notar como meus seios ficaram empinados, porém Triton não me deixou pensar muito e logo estava se divertindo com meu pescoço, senti seus dedos habilidosos puxarem e soltarem os bicos dos meus seios, deixando-os enrijecidos. 

Então sua boca acariciou meu seio direito enquanto sua mão ia direto para o meu clitóris, tentei abaixar os braços, mas ele me deteve com a mão livre, facilmente segurando meus pulsos.

- Nada de desobedecer. - lambeu os próprios lábios.

Não contive um gemido quando ele introduziu dois dedos em mim e seu polegar massageou meu clitóris, meu quadril se contorcia, meus olhos se fecharam com força, eu me sentia domada e até que não era uma sensação ruim. 

- Abra os olhos. - sussurrou. - Quero ver você.

Abri-os e deslumbrei o caramelo dos seus olhos, mas não me concentrei neles... Eram as suas mãos que me distraiam, porém eu achava que ele não poderia me provocar mais até que seus dedos investiram em um ritmo firme e em movimentos variados, forcei a cabeça para trás e os braços para frente, mas Triton mantinha meus pulsos presos.

- Abra mais as pernas. - rosnou.

Mais uma vez obedeci, loucamente controlado por esse homem que pretende nos satisfazer. 

- Me diga, Kristine, o que você quer? - mordiscou meu lábio.

- Você. - minha voz saiu entrecortada.

- Eu já estou aqui. - sorriu. - Tem que ser mais específica.

Eu não iria falar, não teria coragem, porém eu o queria, e muito. Ele não teria como me fazer pedir por isso, pois já usara todos os seus poderes sexuais. 

- Ah, Kristine... - lambeu meu pescoço. - Parece que eu vou ter que apelar.

E antes que eu pudesse entender ou me defender, ele me lambeu lá em baixo enquanto seus dedos continuavam a habilidosa tarefa. Agora com os braços livres, agarrei o lençol que estava ao meu lado e arqueei as costas, Triton mantinha as minhas pernas abertas. 

Eu sabia que não aguentaria essa tortura por muito mais tempo, porém eu não iria pedir que ele me penetrasse, só que aí ele chupou a minha parte mais delicada, eu gritei e ele continuou.

- Triton...

- Quer me dizer alguma coisa, Kristine? - seus olhos brilhavam.

Eu estava ofegante e aproveitei, que sua boca estava ocupada falando comigo, para reunir coragem e restabelecer um pouco de auto-controle.

- Faça amor comigo. 

- Estava esperando a sua permissão. - riu.

Na mesma velocidade que ele tirou os dedos de mim, ele se colocou dentro de mim, foi uma penetração tão desejada que senti todos os meus músculos se contraírem de prazer. 

Forçou seu corpo contra o meu e voltou a segurar meus pulsos acima da cabeça, iniciou com um movimento profundo e devagar, minhas pernas continuavam bem abertas e ele usava suas coxas para que eu não as fechasse. 

- Sei que você pode me dar mais prazer do que isso. - mordi seu lábio.

- Seu desejo é uma ordem. - beijou-me com ferocidade.

Senti de leve seus caninos afiados enquanto ele aumentava o ritmo das estocadas, eu queria arranhá-lo, porém minhas mãos continuavam inúteis. Só o que eu podia fazer era comandar o beijo, rosnei e tomei conta da sua boca, ele não se afastou e deixou que eu o devorasse. 

Então aquele calor começou a cobrir meu corpo inteiro e de repente se acumulou no meu sexo, Triton diminuiu o ritmo, mas aumento a profundidade, indo com vontade. Soltei sua boca e gritei seu nome quando explodimos em um orgasmo, os dois ao mesmo tempo. 

Esperou um pouco para então se jogar ao meu lado e puxar um cobertor para nos cobrir, minha respiração estava irregular e meu coração batia com força, Triton tinha um lindo sorriso no rosto e seu peito subia e descia rapidamente, virei de lado e deitei a cabeça em seu peito, ele beijou meu cabelo e ficou fazendo carinho em minhas costas. 

- Adorei a surpresa. - ri baixinho.

- Foi melhor do que eu esperava. 

Ergui a cabeça e fitei seus olhos, o caramelo estava mais suave e ainda sim continuava lindo, dei-lhe um beijo carinhoso nos lábios, depois deixei minha cabeça descansar em seu peito, estava exausta. 

- O meu desejo ainda é uma ordem? - brinquei.

- Sempre. - deu-me outro beijo no cabelo. - Diga-me o que você quer? 

- Eu quero dormir de conchinha. - falei baixinho.

Por um instante, eu achei que ele não havia ouvido e até fiquei grata por isso, foi embaraçoso ter feito esse pedido, ainda mais a ele, que nunca sentiu amor por nenhuma mulher. 

De repente ele se virou ficando de frente para mim e me deu um beijo suave, não ouvi sua voz, mas vi seus lábios me dizendo vire-se. Sorri e me virei, sentindo logo em seguida ele me abraçar, encostar seu peito nas minhas costas, seu nariz no meu cabelo e sua boca no meu pescoço. 

- Eu te amo. - sussurrou em meu ouvido.

- Eu também te amo. - aconcheguei-me em seus braços e dormi.

*

Acordei com Triton mordiscando minha orelha e sua ereção roçando atrás de mim.

- Bom dia. - murmurei e virei ficando de frente para ele.

- Bom dia. - murmurou e me beijou carinhosamente. - Dormiu bem?

- Muito e você? - beijei seu pescoço.

- Sim e acordei muito melhor. 

Ergui a cabeça e vi seu lindo sorriso, aquele que me fazia ficar com as pernas moles, e agora eu me sentia muito sortuda por ter um homem desse só pra mim.

- Acho que eu tenho como fazer a sua manhã ser ainda melhor. - apertei meu quadril contra ele.

- Ah... Ótima escolha. - sorriu.

- Mas eu tenho algo divertido para nós dois. - sorri e ergui o corpo.

Joguei o cobertor para fora da cama e Triton ergueu o corpo, admirando-me, eu já não sentia mais vergonha dele e ele parecia bem confortável a minha frente. 

Às vezes, meus olhos paravam em sua ereção, mas me concentrei em seu rosto: olhos caramelos intensos, um nariz perfeito e lábios csrnudos. 

- Então me diga o que está planejando? - puxou-me para seu colo.

Abri as pernas e me concentrei ao máximo para não me encaixar em seu pênis ereto, mordisquei seu pescoço, ele jogou a cabeça para trás e deixou seu pescoço exposto para mim, eu realmente adorava ter ele sobre controle.

- Acho que nós podíamos tentar uma posição diferente hoje. - comentei enquanto beijava seu pescoço.
- E o que você tem em mente? - suas mãos apertavam minha bunda.

- É isso o que eu tenho em mente.
Forcei sua cabeça para trás e lhe dei uma mordida no pescoço antes de empurrá-lo de costas na cama, fiquei de joelhos e me virei, rapidamente enfiei seu pênis na boca, Triton gemeu e agarrou minha bunda, forçando-me contra si enquanto sua língua trabalhava em meu clitóris. 

Tirei-o da boca e lambi a ponta, fazendo movimentos circulares, senti seus dedos facilitarem a entrada de sua língua em mim, gemi antes de chupá-lo de novo, dessa vez mais fundo, senti chegar bem perto da minha garganta. 

Sua língua ia fundo em mim e seus lábios tocavam no meu clitóris, meu corpo já estava começando a queimar. Fiquei apoiada em apenas uma mão, a outra me ajudava a acariciá-lo enquanto minha boca o devorava, ouvi Triton gemer mais uma vez e aumentei o ritmo. 

Então ele gritou meu nome e gozou, tirei a boca um pouco antes disso, mas eu não tive tempo de respirar, pois Triton chupou minha vagina com tanta força que gozei fortemente. 

- Você é deliciosa. - disse enquanto enfiava um dedo em mim.

Em instantes, Triton já não estava mais de baixo de mim, ele estava atrás de mim e uma de suas mãos me puxou pelo cabelo.

- Vou te mostrar como eu posso ser selvagem. - riu e me penetrou com força.

Continuou segurando meu cabelo enquanto suas estocadas eram firmes, uma de suas mãos apertava a minha nádega, eu nunca havia sentido algo assim antes, aquilo era fantástico, eu sentia meu corpo queimar mais e mais. 

Então ele soltou meu cabelo e sua mão percorreu minhas costas, para depois descer e massagear meu seio enquanto ele deitava um pouco sobre mim.

- Ah.. Triton... - era a única coisa que eu conseguia dizer enquanto eu sentia a minha vagina esquentar.

- Eu adoro ouvir você. - rosnou.

Suas estocadas eram fortes, sua mão em minha bunda era provocante e a outra em meu seio era torturante, não demorou muito e tive um orgasmo, logo em seguida Triton chegou ao ápice com uma estocada profunda. 

Senti meu corpo pesado, e eu teria deitada com a cara aos pés da cama se Triton não tivesse me segurado - o que eu ainda não sabia como - e me colocado ao seu lado. 

Meus olhos estavam fechados, ele nos cobriu e colocou uma mão gentilmente nas minhas costas, dei um sorriso satisfeito e adormeci.

*

Triton não estava no quarto quando acordei, rolei da cama e caminhei até o banheiro, achava que estaria acabada, totalmente sem forças, mas lá estava eu: meus lábios estavam inchados, meu cabelo todo bagunçado, porém cheio de brilho e o azul dos meus olhos parecia mais intenso. 

Sorri para o meu reflexo no espelho antes de entrar no box e ligar o chuveiro, a água me fez lembrar o toque de Triton, ri e comecei a me ensaboar, queria terminar logo o banho para poder vê-lo. 

Assim que desliguei o chuveiro, senti o vapor por todo o banheiro, coloquei uma toalha enrolada no cabelo antes de sair do box, o espelho estava todo embaçado, reparei que fazia tempo que eu não me importava tanto com a minha vaidade. 

Sequei o corpo e coloquei minha lingerie, um conjunto verde claro que até me dava a aparência de uma garota santa, dei uma risada antes de sair do banheiro, comecei a vasculhar meu guarda roupa, eu precisava de uma roupa confortável e quente, lembrei-me que hoje iríamos para Trevarch treinar mais um pouco com Felipe. 

Escolhi uma legging preta grossa, uma blusa de frio e tênis, penteei o cabelo e deixei-o livre. Dei uma última olhada no espelho de corpo que havia no meu quarto e fiquei feliz comigo mesma, agora que havia aceitado o fato de ser uma loba, minha vida parecia muito melhor.

É claro que eu sabia que um dia eu teria de dizer adeus aos meus amigos, mas eu ainda tinha tempo, faltavam dois anos para minha maturidade e ainda mais alguns anos até que eles começassem a desconfiar de que eu não envelhecia mais.

Balancei a cabeça e prometi a mim mesma que me concentraria no presente, porém eu nunca esqueceria Tia Ju e tudo o que ela havia me ensinado, saí do quarto com a imagem dela e seu lindo sorriso em minha mente.

Você será uma ótima loba... Assim que acreditar em você mesma e aceitar ser quem você é. E nunca se esqueça, Kristine, estou muito orgulhosa porque você sempre se mostrou forte e fiel!

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, limpei-a antes de entrar na cozinha, Triton e Felipe estavam conversando, mas conversando mesmo, como amigos e não como dois machos prestes a aniquilar um ao outro.

- Bom dia! - dei um largo sorriso.

- Bom dia! - os dois acabaram falando juntos.

- Quem fez o café? - parei atrás da cadeira onde Triton estava sentado.

Felipe estava sentada a nossa frente e parecia meio sem jeito, dei um beijo no cabelo de Triton, ele ergueu a cabeça e sorriu, segurei seu rosto e beijei seus lábios. 

Soltei-o assim que senti o cheiro de desconforto do Felipe, às vezes, eu esquecia que ele estava ali, na verdade, eu esquecia de que não estávamos sozinhos.

- Fui eu. - Felipe corou.

- Hmm... Estou morrendo de fome. - murmurei e me sentei na cadeira que havia no meio dos dois.

Por incrível que pareça, enquanto eu comia, os dois voltaram a conversar e logo descobri porque estavam se dando tão bem. 

Triton estava contando a Felipe sobre algumas tarefas dos lobos da alcateia, e claro, ele lembrou de mencionar algumas vantagens que os machos têm sobre as fêmeas, revirei os olhos, essas vantagens eram uma das razões pelas quais eu ainda não me sentia pronta para entrar na alcateia, claro que minha faculdade também tinha um grande peso nessa decisão.

Entretanto, Triton sempre dizia que não era tão ruim assim e que ele nunca seria um lobo machista, o que eu duvidava um pouco devido ao acontecimento que envolveu a minha participação na perseguição de Gregory, o lobo assassino.

Triton brigou comigo até que desisti de ajudá-lo, ele foi bem rude naquele dia, porém se desculpou depois e explicou que isso foi uma auto-defesa dele para que eu não me ferisse. 

Bom, de qualquer maneira, se ele tentar dar uma de machão pra cima de mim, eu vou me certificar de colocá-lo devidamente em seu lugar.

*

Hoje estava mais frio do que ontem, mas eu continuava feliz, tinha esperanças de que esse ano houvesse neve, Triton não se incomodava com o frio, sua mão quente e forte apertava a minha enquanto eu me deliciava com os cheiros da natureza no inverno. 

Já estávamos chegando ao lago - onde havíamos treinado ontem - quando Felipe pigarreou sobre como o frio era cortante e maldoso.

- Você mora nessa cidade há mais tempo do que eu e ainda não se acostumou com o inverno daqui? - não contive um riso.

- Mas você também não se acostumou com o calor. - sorriu triunfante.

- Bom argumento. - comentei. - Se ele fosse verdadeiro.

Dei-lhe um peteleco no nariz e corri na direção do lago, se houvesse neve, talvez a água se congelasse e eu poderia patinar.

- Acho que devíamos dar um nome a esse lago. - afirmei quando ouvi eles parando atrás de mim.

- É uma boa ideia. - Felipe debochou. - Que tal: modelo Triton de tortura para iniciantes!

Triton revirou os olhos.

- Pare de ser tão imaturo! - bufou. - Você conseguiu se controlar não foi?

- Veremos isso hoje.. Se o seu treinamento foi...

- Shhhhh... - um barulho vindo do outro lado do lago me incomodou.

Obedientes, eles fizeram silêncio, então ouvi mais uma vez barulhos de folhas e gravetos sendo pisoteados acompanhados de vozes. 

- Estão ouvindo? - indaguei baixinho.

Triton se pôs ao meu lado e assentiu, não estava com medo, porém minha loba interior estava incomodada, então um homem alto e magricelo surgiu das árvores, ele tinha uma arma na mão e seus olhos estavam fixos em mim. 

Logo, o cheiro de suor e pólvora inundou minhas narinas, esfreguei o nariz e olhei para trás, Felipe estava agachado e se contorcia, essa seria uma péssima hora para ele se transformar.

- Triton.. - cutuquei-o. - Acho que temos que sair daqui.

Ele olhou para trás, trincou os dentes e voltou a olhar o homem, na verdade, agora eram cinco deles, todos armados e fedendo a caçadores.

- Eles não vão nos deixar sair sem explicarmos porquê estamos aqui. - comentou. - Você conhece algum deles?

Olhei os rosto e apenas me familiarizei com um.

- Sim. - engoli em seco. - Carlos Tohed, o pai da Amy.

- Kristine? - a voz grossa do pai da Amy me pegou de surpresa. - O que está fazendo aqui?

- Bem... Oi, Sr. Tohed... - acenei. - Viemos ver o lago... 

- Ah, sim. - ele coçou a cabeça. - Eu sempre me esqueço de como você ama essa floresta.

- Pois é. - dei uma risadinha nervosa.

Triton e eu usávamos nossos corpos para esconder o Felipe, não queríamos que eles o vissem se contorcendo no chão. 

Por sorte, não precisamos disfarçar por muito mais tempo, o homem alto e magricelo virou-se e chamou seus companheiros de caça, soltei um suspiro aliviado quando Sr. Tohed acenou e entrou na floresta, porém me arrepiei quando ouvi um dos homens gritar.

- Eu tenho certeza de que aquele lobo está aqui! Ele passou pela meu quintal na noite em que acharam aquele assassino desgraçado! - deu um tiro. - Ele quase matou minha namorada de susto! E agora eu irei matá-lo!

Então um outro homem riu.

- Por isso que você me contratou! Vamos exterminar essa praga!

Os homens gritaram alguma coisa, mas eu não consegui ouvir, minhas pernas falharam e eu fui de joelhos pro chão, eu estava tremendo, o que eu e minha tia mais temíamos estava acontecendo... Caçadores estavam invadindo a floresta e caçavam um lobo. 

Só voltei a realidade quando Triton me balançou com força, ele estava agachado a minha frente, as mãos em meus ombros e suspirou aliviado quando olhei em seus olhos.

- Você está bem? - perguntou enquanto me observava com cautela.

- Estou. - menti. - S-Só foi um calafrio.

Mas eu ainda tremia e Triton esfregou meus braços tentando me aquecer, eu teria me jogado em seus braços se não tivesse escutado o grunhido de dor do Felipe. 

Levantei num pulo e corri até ele, que fazia o máximo para manter a forma humana. Triton me puxou para trás e pediu que eu ficasse atenta a qualquer sinal de humanos, assenti e permiti que meus sentidos se apurassem.

- Felipe, me escute.. - Triton tinha uma voz firme. - Você precisa lembrar de algo que o liga a forma humana.

Felipe gritou e pude ouvir o barulho de ossos se quebrando, transformar-se para novatos já era doloroso, no frio, isso era ainda pior.

- Eu não sei no que pensar. - sua voz saiu fraca. 

- Pense no bar do seu pai. - Triton sugeriu. 

Mas não estava dando certo, até que a respiração de Felipe começou a se normalizar e ele parou de se contorcer, Triton suspirou aliviado e se levantou, Felipe respirou fundo e com dificuldade sentou-se na grama. 

Aproximei-me deles e vi que Triton tinha um sorriso no rosto, ele estava contente por Felipe ter conseguido manter o lobo preso por tanto tempo e depois ter conseguido reprimi-lo.

- Você está bem? - murmurei.

Não sabia se minha voz estava estranha por causa da noticia dos caçadores ou por tê-lo visto sofrer tanto.. Infelizmente, a primeira opção me parecia a certa.

- Estou. - ele sorriu e encarou Triton. - Talvez o seu treinamento tenha surtido efeito.

- Eu sei o que eu faço. - Triton assentiu.

Fiquei agradecida que eles estavam se dando bem, e eu não queria saber como que de repente os dois haviam começado essa amizade, acredito que existam coisas que a gente não deva saber.

- Então qual é a próxima parte do treinamento? - indagou Felipe enquanto se levantava.

Ele já estava bem melhor, era só eu que continuava nervosa, Triton pareceu notar e me deu um beijo na testa, acalmando-me. 

- Vai ficar tudo bem. - afirmou. - Eles logo desistirão dessa busca, pois não há nenhum lobo aqui... Você sabe disso melhor do que eu.

Era verdade, a única vez que eu vira um lobo em Trevarch foi quando eu tinha cinco anos, depois nunca mais. Entretanto, existiam três da nossa espécie nessa cidade e a floresta era nosso “esconderijo”, senti um calafrio e me abracei.

- Ela está bem? - Felipe perguntou.

- Eu estou bem. - forcei um sorriso e respirei fundo. - Bom.. O que vamos fazer agora?

- Não podemos fazer nada... apenas aproveitar a floresta na forma humana. - Triton comentou tristemente.

- Sério? - Felipe revirou os olhos. - Vocês estão com medo de cinco caçadores?

- Felipe.. - tentei avisá-lo que era muito mais que isso.

- Ei, Felipe! - Triton o encarou. - Em primeiro lugar, quem você acha que foi visto na forma de lobo?

Felipe não respondeu, mas todos sabíamos a resposta, só podia ter sido ele.

- Eu estava vagando depois de ter me transformado, senti um cheiro de carne assada e entrei no quintal... Não queria causar problemas. - resmungou.

Triton respirou fundo e coçou o cabelo.

- Não estou te culpando... Apenas tenha um pouco de calma, está bem? - sua voz era mais calma. - Podemos vir aqui amanhã e...

Felipe rosnou e eu senti seu corpo pulsando de adrenalina.

- Eu vim até aqui nesse frio e se vocês não quiserem ir comigo, sem problemas... Eu vou sozinho!

- Felipe! - gritei.

Em um instante eu estava segurando sua blusa e no outro segurava apenas um pedaço dela, olhei para frente e só consegui ver um vulto de um lobo entrando na floresta.