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História O Cheiro da Lua - Traição


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Desculpem pela demora

Ahh, obrigada pela apoio, meus leitores lindos

Boa leitura

Capítulo 24 - Traição



Foi a primeira vez que senti tanta dor na vida, a dor do tiro da bala de prata de cinco anos atrás não chegou nem perto dessa. Eu já havia perdido a conta de quantas vezes eu havia desmaiado.

Dessa vez, eu acordei sentada no chão, com as mãos amarradas há uma mesa de ferro, minha cabeça doía e eu sentia um pouco de sangue escorrer pela minha testa. 

Minha barriga ainda estava com a bala de prata alojada nela, ardia. Respirar estava complicado, eles haviam feito eu inalar algo parecido com prata em pó.

Nenhum dos dois havia percebido que eu havia acordado, Amy ainda estava inconsciente. Eu teria fugido se não estivesse amarrada por um fio de aço e se meu pé direito não estivesse torcido e praticamente quebrado.

- Ela acordou. - Leonor se aproxima.

Queria ter forças para mordê-lo, porém meu corpo está desistindo, só a minha mente que não se convenceu da derrota.

- Que bom. - Nelson também se aproxima. - Vamos testar aquilo?

Os dois de entreolharam e sorriram, sinto medo, então Leonor prende alguns fios nas correntes que estão na minha mão e acena para o pai. Escuto o barulho de um interruptor e, no mesmo instante, sou eletrocutada. 

Não consigo pensar nem me mexer, quando finalmente para, eu vomito sangue. Minha pulsação está muito acelerada, meu corpo está fraco e não responde aos meus comandos. 

- Pensei que ela fosse se transformar. - ouço a voz do Leonor.

- Ela vai.. Só precisa de mais um pouco de impulso. - Nelson ri e eu ouço o interruptor de novo.

Dói. Parece que meu corpo está queimando por dentro. Então, eu rosno e em segundos não sou mais humana, sou uma loba caída no chão. Tento me levantar, mas todo o meu corpo estremece. 

- Falei que ela ia se transformar. - Nelson desliga o aparelho e se aproxima de mim.

- Ela é linda! - Leonor ri. - Vamos conseguir muito dinheiro a vendendo!

- Muito dinheiro! 

Os dois comemoram e eu tento mais uma vez me levantar, meu extinto procura um jeito de escapar, minha barriga dói muito e meu cérebro está muito confuso. Todos os meus sentidos estão embaralhados.

Consigo me apoiar nas três patas e noto que minha pata traseira direita está se curando. Tenho que ganhar tempo.

- E quando ela voltar ao normal? - Leonor indaga.

- Estará pelada e fraca demais para se defender. - Nelson ri.

- Interessante. - Leonor se aproxima e se ajoelha a minha frente.

Permaneço quieta, então ele se aproxima mais.... Mais um pouco e conseguirei atacá-lo. 

- Cuidado. - Nelson o alerta.

- Ela não está conseguindo nem respirar direito. - Leonor debocha.

Assim que ele olha para o pai, eu uso o restante da minha força para morder seu braço, Leonor grita e antes que Nelson chegue para socorrê-lo, eu esmago os ossos do seu braço.

O ruído de ossos quebrando me dá arrepios, mas é uma questão de vida ou morte. Leonor dá um soco com a outra mão em minha cabeça, solto seu braço e com uma pata acerto sua cabeça e faço com que ele a bata na quina da mesa de ferro.

- Leonor! - Nelson se coloca ao lado do filho.

Respiro fundo e me seguro para não cair, a pancada na cabeça foi mais forte do que eu imaginava, estava zonza, porém consegui ver quando Amy acordou e nos viu.

- O que houve? - Amy gritou. - Essa vaca machucou o Leonor?!

Então ela se solta com a maior facilidade e se coloca ao lado de Leonor, não consigo reagir a isso. Meus olhos fecham e eu caio em uma completa escuridão.

*

Corpo e mente, os dois haviam desistido. Eu havia sido pega em uma armadilha na qual Amy Tohed ajudou a fazer. Raiva e mágoa. Agora eu estava amarrada numa cadeira e completamente nua, sentia-me exposta.

Na sala, agora, só havia Nelson e Amy, os dois discutiam, porém eu não conseguia escutá-los. Então, eu recebi um tapa, ergui a cabeça e vi Amy me fulminar com um olhar.

- Você é um monstro! - gritou.

Pensei que doeria, mas não doeu. Ela não era a mesma Amy, e eu odiava essa Amy.

- Você e o maldito que matou a minha mãe! - cerrou os punhos.

Nelson mantinha-se parado.

- Você sabe como ela morreu? - ela tinha muito ódio nos olhos. - Ela foi transformada em um monstro como você, mas ela não aguentou e morreu no processo.

- E o que eu tenho a ver com isso? - murmurei, minha boca estava meio mole.

- Vocês são criaturas que não deveriam existir. - ela bufa. - E por isso, nós, caçadores, iremos aniquilar a sua espécie.

- Passamos cinco anos nos preparando. - Nelson comenta, mas continua parado.

- E sabe por onde iremos começar? - ela sorri. - Pela alcateia de Luktend... Mais especificamente, na floresta Madoch.

- Você conhece? - Nelson ri.

Eu não respondo, mas eu tenho vontade de matá-los aqui e agora. Percebo que meu pé já está curado e talvez eu consiga romper essas cordas simples. Já não me sinto mais exposta.

Quero proteger a minha família... Sim, eles são a minha família agora. Amy e Nelson continuam rindo, então eu faço força e quebro as cordas, Amy cai de bunda no chão e Nelson corre para pegar uma arma, porém eu pego a cadeira e jogo em sua direção, acerto-o na cabeça.

Um a menos, minha parte loba rosna de excitação. Encaro Amy, a parte de ser medrosa continua a mesma.

- Você é patética. - afirmo.

Ela engole em seco e tenta se afastar de mim, continuo parado porque meu corpo gastou sua energia com a arremesso da cadeira. 

- Eu sou um monstro? - rio. - Você abandonou seu pai e sua melhor amiga! Você imagina o quanto eles estão sentindo a sua falta? E o quanto estão preocupados?

Foi só um instante, mas eu vi a velha Amy em seus olhos, porém ela logo foi substituída pela fria Amy.

- Meu pai escondeu de mim a verdade sobre a minha mãe. - resmungou. - E a Vivian está melhor com seus amiguinhos ricos.

Dei um passo para frente, agachei um pouco e lhe dei um tapa na cara, um bem forte, mas não era nem metade da raiva que eu estava dela.

- Vai me matar? 

- Não... Espero que você morra de um jeito pior. - resmungo. - Além de que já matei um por hoje.

Pelo cheiro, eu sabia que Nelson estava morto e não sinto arrependimento. Amy se prepara para gritar comigo, mas um estrondo na porta de madeira nos assusta. Silêncio e sinto o cheiro de manga.

Charlie?! 

Então, mais um estrondo e a porta se parte em duas, senti tanto alívio ao ver alguém da minha espécie que meu corpo pesa, e eu caio de joelhos. Pensei que fosse cair de cara no chão, mas Charlie me segura e me envolve em sua jaqueta - que consegue cobrir boa parte do meu corpo - e me pega no colo.

Fecho os olhos, eles estão pesados e a minha barriga dói cada vez mais. 

Será que eu vou morrer assim?

*

Acordo sentindo o corpo todo dolorido, estou com uma camisola gigante e sem roupas de baixo. Devagar, tudo o que aconteceu vem a minha mente. 

Abro os olhos, mas o lugar onde estou está escuro, então ouço um ruído e tento mexer o corpo. Nada responde. 

- Não se esforce. - ouço a voz de Charlie antes de ele entrar.

A porta se abre e ele entra com uma bandeja, há lanches e suco, minha barriga ronca e eu lembro da bala de prata.

- Eu não sou médico, então só consegui estancar o ferimento... 

- Temos que voltar pra Madoch. - murmuro.

Sinto-me fraca.

- Sim, e logo... Você precisa de um médico de lá. - ele toca minha testa. - Pelo menos sua febre sumiu.

- Quanto tempo eu dormi? - pergunto com a voz meio rouca.

- Um dia. - responde. - Mas não se preocupe, está tudo bem.

- Você avisou alguém? 

- Sim... Liguei para o Fernando e expliquei tudo... E os alertei sobre os caçadores.

Sinto um alívio, mas depois fico preocupada.

- Você tem que voltar. - afirmo e ergo um pouco o corpo. 

Consigo me sentar, Charlie me observa como se eu fosse quebrar.

- Nós temos que voltar.

- Não! - respiro fundo. - Você precisa ajudá-los... Eu vou ficar bem.

Charlie sorriu e colocou a bandeja no meu colo.

- Triton tinha razão, você é bem teimosa e durona. - sorri. - Meu parceiro escolheu bem.

- Parceiro? - pisco várias vezes... Será que ainda estou dormindo e isso é um sonho? - Então, por que você disse aquelas coisas pra mim?

- Te flertar? - ele ri. - Olha, você é linda e sensual, isso é verdade... Mas eu estava te testando pra ver se você merecia o meu quase irmão.

Eu sorrio e começo a comer o lanche. 

- Passei no teste? - tomo um gole de suco.

- Aprovada e ainda ganhou uma bolsa. - ele me observa de um jeito carinhoso, como um irmão mais velho.

- Obrigada por ter me salvado e por todo o resto. - sorrio e sinto um carinho por ele.

Fiquei muito animada ao saber que alguém se preocupa tanto assim com o Triton, ele merece isso... Todo essa atenção.

- Eu não podia deixar a companheira dele sofrer, muito menos morrer. - ele afirmou. - Ainda mais depois que ela teve a coragem de me dar um tapa.

Sinto minha bochecha esquentar, eu havia esquecido do tapa. Dou um sorriso sem graça e ele ri. Volto a comer enquanto ele me conta como foi quando Triton chegou na alcateia, Charlie disse que ele foi o primeiro macho a conversar com o Triton.

E me contou que ele era bem mais rebelde do que hoje em dia, e fiquei imaginando como Triton deveria ser diferente. E fiquei curiosa, quem o teria mudado?

*

Eu estava muito preocupada para descansar, Charlie até ameaçou me dar uma panelada, mas eu o ameacei dizendo que contaria para Triton depois. No final, ele revirou os olhos e cedeu.

- Só me deixe preparar um lanche para a viagem e as nossas malas. - disse já saindo do quarto.

Assim que ele fechou a porta, eu tentei me levantar, minha barriga queimava a cada movimento. Até tentei respirar fundo, mas meu pulmão ainda estava "machucado" por causa do pó de prata.

Meu corpo também doía, porém nada me faria desistir... Os caçadores queriam a minha alcateia - minha família. E o pior era que Amy havia se tornado, definitivamente, minha inimiga. 

Quando finalmente consegui levantar, tive de ficar quieta em pé até meu corpo voltar a responder. Nesse tempo, eu pude visualizar melhor o quarto, tinha duas janelas cobertas por cortinas azul-marinhas, uma cama de casal com um conjunto azul, e uma cadeira de madeira.

Parecia um quarto de um motel, rio ao pensar que eu só sei disso porque, enquanto Tia Ju era viva, eu e Bryan sempre tínhamos nossas noites mais quentes no motel. 

Meu corpo voltou a responder, caminho devagar até a cadeira e pego uma roupa de mulher que estava lá. Era uma calça e uma blusa de moleton, um pouco grande para mim, porém eu estava confortável.

Ainda bem que também havia uma calcinha e um sutiã, incrivelmente, os dois couberam muito bem. Depois de trocada, o que deve ter demorado meia hora, abro a porta e saio do quarto.

Isso é mesmo um motel, olho em volta e vejo uma "salinha" daqueles tipo de "Pra que quarto? Vamos fazer sexo aqui". Charlie aparece de uma outra porta, penso que deve ser a cozinha. Ele está com uma mochila nas costas e uma sacola plástica na mão.

- Nosso jantar. - ele sorri e me entrega a sacola.

- É normal os machos cozinharem? - sorrio. - Porque o Triton também cozinha, mas nenhum dos meus amigos humanos sabe cozinhar.

- Não é uma regra, mas como temos que aprender a viver sozinhos depois que nossos pais nos deixam... Muitos aprendem a cozinhar rapidinho. - ri e segue até a porta. - Pronta?

- Com certeza! - ando até a porta e saímos.

Eu ainda me sinto impotente e não vou sossegar até chegar a Madoch, meu corpo pode doer e posso até estar horrenda de tão acabada que estou, mas eu não vou ficar aqui sentada esperando.

Os caçadores já me tiraram o Felipe e, infelizmente, persuadiram uma das minhas amigas. Não vou deixar que eles ganhem essa, na verdade, eles nunca mais vão ganhar nada.

*

Viajar de noite não é uma das minhas preferências, mas quando se está com muita dor e louca para matar alguém... Passar seis horas e meia dentro de um trem sem muitos humanos é quase uma dádiva.

Assim que saímos do trem, Charlie parou e me observou.

- Você está bem? - Charlie tinha um olhar preocupado. - Acho que você não vai aguentar até Madoch.

- Ah, eu vou... E ainda mato alguns no caminho. - rosnei.

Charlie arregalou os olhos enquanto eu respirava fundo, continuamos nosso caminho em silêncio. Só o ouvi fazendo uma ligação, ele ligara para Elizabeth e comunicara que eu não estava muito bem e ainda disse no final que eu teria de ser atendida às pressas.

Infelizmente, eu não discordava dele, meu corpo parecia cada vez mais pesado, a bala de prata, que estava na minha barriga, estava se mostrando mais irritante ainda.

- Quer que eu te carregue? - ele perguntou.

- Não ouse dizer isso novamente!

Meu humor já estava sendo afetado pela prata.

- Foi mal. - afastou-se e continuamos o caminho.

Não sei quanto tempo levou, porém quando entramos na floresta, eu já me senti muito melhor. A dor ainda estava presente, mas a natureza conseguiu me manter mais um tempo consciente.

O que foi suficiente para quando, finalmente, senti o cheiro de abacate.

- Eliza. - murmurei e fechei os olhos. 

Meu corpo queria pesar e cair, porém Charlie me segurou a tempo. Elizabeth veio correndo em nossa direção. Não ouvi muita coisa, mas senti que alguém me carregava e que Eliza gritava algumas instrusões.

Senti o cheiro de nozes e eu me senti tão aliviada ao saber que meu amado Triton estava bem, que as forças que eu estava usando para me manterem acordadas falharam e eu acabei desmaiando.

*

Eu estava em um buraco e só conseguia enxergar partes do meu corpo, porque galhos de árvores tampavam a luz que tentava entrar. Farejei e senti várias cheiros, foi um pouco difícil identificá-los.

Melância, abacate, ambrósia, nozes, manga... Cheiros que eu já conhecia, aliviei-me até sentir alguns odores se aproximando. Arma, prata, caçadores e o cheiro de Amy Tohed. 

Era algo forte e parecia meio ácido, cocei o nariz, tudo isso estava me incomodando muito. Ouvi muitos barulhos, parecia que uma guerra estava começando. A guerra entre os caçadores e a minha alcateia, a guerra entre Amy Tohed e a minha família!

Tentei subir, mas estava escorregadio, minhas unhas se encheram de lama. Rosnei, mais para eu mesma. Tentei subir mais uma vez e foi em vão, acabei caindo de bunda em mais lama.

Então, eu ouvi um grito de mulher, levantei e tentei reconhecê-lo... logo notei que era o grito de dor da Eliza. 

- Aquela ali está quase morrendo! - a voz de Amy inundou o meu buraco. - Eu mesma irei matar essa monstra!

E eu quis gritar: "Pare! Não ouse tocar nela!"

Eu pulei com força e por pouco não consegui subir, porém assim que eu cai, ouvi um tiro e logo depois senti cheiro de nozes e ambrósia.

- Lorena! - Triton gritou e notei que ele estava desesperado. 

- Lorena... você é louca... poderia ter morrido... - Eliza tinha a voz fraca.

- Vocês já nos tiraram a Kristine e agora querem levar a Eliza também! - Lorena chorava. - Eu nunca irei perdoar vocês, NUNCA!

Então eu ouvi mais dois tiros e depois o barulho de um corpo caindo no chão. Mas o pior foi ouvir Triton gritar o nome de Lorena e Eliza entrar em prantos.

- Menos uma. - Amy afirmou rindo.

Eu não queria acreditar que a Lorena havia morrido. Não sabia se sentia raiva ou tristeza, porém a indecisão passou quando ouvi o barulho de um pescoço sendo quebrado.

- Você deveria ter me deixado matá-la. - Eliza choramingava.

- Desculpe.. não pude me conter. - Triton murmurou.

De repende, tudo mudou, eu estava no meio da Eliza e do Triton. Ela chorava e ele mantinha a cabeça abaixada. Olhei para frente e notei que estávamos em um enterro.

- O que houve? - dessa vez minha voz saiu, mas ninguém parecia me ouvir.

- Eu não consegui proteger você, Kristine... eu sinto muito. - Triton murmurou.

Fitei-o e percebi que ele queria chorar, mas estava tentando se manter firme diante de todos. Aliás, a alcateia inteira parecia péssima. E logo entendi o porquê, assim que Fernando se colocou na frente de todos e lamentou todas as perdas da guerra.

Quando ouvi meu nome, foi algo surreal. Eu tentei ir lá para frente e dizer que tudo isso era um engano... que eu estava viva!

- E sinto dizer que, provavelmente, nós teremos de nos mudar. - Fernando prosseguiu.

Mudar? Mas todos amam Madoch e Luktend!

Então a cena começou a passar muito rápida e logo todos já tinham ido embora, menos ele... menos o meu amado. Ele estava ainda no mesmo lugar, mas agora sua cabeça estava olhando em frente.

Eu quis abraçá-lo, porém meu corpo se recusou a me obedecer. Então, Triton começou a chorar e meu coração se apertou no peito.

- Não chore, por favor! - pedi. - Eu estou bem aqui!

Nada. E depois a cena começou a se afastar e logo eu estava sozinha no escuro... uma lágrima escorreu pela minha bochecha.



E eu acordei. A respiração estava irregular, meu coração doía e minhas bochechas estavam molhadas. Sentei-me na maca - era o que eu achava que era essa cama - e notei que estava em um dos quartos da enfermaria.

- Eu já disse que ela está bem... só precisa de descanço. - a voz de Eliza me encheu de alegria.

Tudo não tinha passado de um sonho ruim... apenas isso.

- Nós tiramos a bala e demos soro pra ela. - a voz de um homem afirmou. - E injetamos um remédio para ajudar a combater a prata.

- Mas por que ela não acorda? - a voz de Lorena estava aflita.

- O corpo dela está exausto... - Eliza suspirou. - Mas ela logo se recuperará.

- Só que temos um problema... - agora era a voz da Giulia. - Ela vai querer sair e entrar em combate assim que souber que os caçadores chegaram à cidade.

Meu coração dá um pulo no peito, eles estã aqui... Amy e Leonor, e mais um monte de outros caçadores. Por quanto tempo eu dormi? Ouço um barulho de passos se aproximando e deito-me de novo na maca.

- Não acho que ela vá acordar hoje, mas amanhã.. talvez. - a voz do mesmo homem comenta.

- Se ela acordar, vocês terão de sedá-la. - Giulia afirma em um tom de ordem.

- Por quê? - Lorena se contrapõe.

- É óbvio que ela vai atrapalhar e colocar em risco a nossa alcateia. - Giulia responde.

Noto, claramente, que ela ainda não me aceitou. 

- Isso é loucura.. ela vai entender se pedirmos pra ela ficar aqui e descansar! - Lorena começa a cheirar mais forte.

É a primeira vez que sinto uma disputa de fêmeas e devo dizer que chega a ser mais intensa do que a de machos. 

- Lorena. - Eliza a chama. - Não se preocupe, nós não a sedaremos, mas faremos de tudo para mantê-la aqui... 

- Vocês irão me desobedecer? - Giulia confronta as duas.

- Não temos de obedecer cegamente as ordens de ninguém, nem mesmo do Fernando. - o homem entra na conversa. - Nossa alcateia não é regida de forma ditatorial. 

- Está bem... façam como quiserem. - Giulia começa a se distanciar. - Mas se ela atrapalhar, Fernando, o alfa de vocês, saberá da negligência de vocês três!

Depois que escuto uma porta batendo - não a do meu quarto - ouço Lorena chorar.

- Sinto muito ter envolvido vocês nisso. 

- Mas você estava completamente certa... é desumano sedar uma das nossas. - o homem a conforta com uma voz gentil. 

- Lorena, eu e o Patrick cuidaremos de tudo por aqui. - a voz suave de Eliza parece dissolver a tensão no ar.

De repente, todos ficam em silêncio e eu tenho medo de que eles descobriram que estou consciente. Entretanto, logo a porta se fecha de leve e escuto eles murmurarem algo e depois suas vozes sumirem.

Abro os olhos e levanto devagar, todo meu corpo doi, mas não como antes. E algo está me mantendo em pé. O desejo de confrontar Amy Tohed e acabar com essa história de uma vez por todas.

*

Pode ter sido entediante esperar para poder fugir, difícil pular a janela do quarto, doído ir até a minha casa com um vento frio congelando o meu corpo, e triste chegar em casa e ver que não havia ninguém. 

Mas o pior de tudo foi imaginar que todos estão lá fora, prontos para dar a vida por essa alcateia. E eu não pretendo deixar a minha família na mão!

Eu não corria, mas andava depressa... eu estava de calça, blusa de frio e tênis. A floresta parecia agitada, ela sabia assim como eu, que algo grande estava para acontecer. 

A cada passo, sentia que estava me aproximando dos demais, porém eu não queria ser vista, muito menos atrapalhar. E eu sabia que se Triton me visse, ele ficaria desatento e poderia perder a vida.

Então optei por seguir por um caminho mais baixo, seguindo um córrego de um rio. O vento estava mais forte e ainda não havia cheiros estranho nem sinais de uma possível luta.

Foi então que meu celular apitou, uma mensagem havia chegado. Ri de deboche, era o Leonor - filho do Nelson - tentando me ameaçar. Eu não o temia, mas temia o que eu poderia fazer com ele.

- Escondeu até que bem o seu cheiro. - ergui a cabeça e olhei para a minha esquerda.

Leonor saiu de trás de uma árvore, seus olhos estavam escuros e seus músculos tensos. 

- Eu nunca vou te perdoar. - falou um pouco baixo. - Nunca vou perdoar nenhum de vocês!

- Pensei que vocês, caçadores, atacassem juntos. - comentei.

- Primeiro, eu preciso me vingar.

Vingança. Uma palavra que pode mudar as pessoas e até fazer uma mulher calma e contra lutas, como eu, querer torturar e matar os causadores da morte do Felipe.

- É, acho que posso começar por você. - afirmo, virando-me na direção dele.

Enquanto Leonor me olha com uma cara confusa, eu sorrio e deixo, pela primeira vez na minha vida, que a loba em mim tome o controle.
 


Notas Finais


Então... semana que vem, provável, que não tenha capítulo, tudo depende da faculdade.

Ah.. o que acharam?? Eu nunca tinha escrito algo assim

Obrigada, Minna!


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