História O Cheiro da Lua - Fugitiva

Nenhuma das duas tinha coragem de responder.

- Foi ela quem começou! - Melissa ergueu a cabeça e me acusou.

Quase revirei os olhos, mas lembrei que o alfa estava de olho em cada movimento nosso.

- Eu estava quieta olhando a lua quando você surgiu de mansinho e rosnou. - afirmei.

Melissa negou e cruzou os braços, o cheiro do seu medo estava pela sala toda.

- Nós nunca iremos conseguir saber a verdade. - Dylan, um homem elegante de cabelo castanho curto e olhos castanhos, resmungou.

Bastou um olhar do Fernando para repreendê-lo.

- Você vai ter que punir as duas, Fernando. - Tyrone, um homem um pouco mais alto do que eu, de cabelo bem curto castanho claro e olhos azuis, falou com cuidado.

- Mas eu vou punir as duas, só quero saber quem vai sair pior dessa. - afirmou ainda sério.

Melissa engoliu em seco e até achei que ela fosse começar a chorar. Podia não gostar dela, mas vê-la com tanto pânico estava me enlouquecendo.

- A culpa foi minha. - disse sem pensar. - Ela me desafiou e eu aceitei, eu estava com raiva de muitas coisas e acabei descontando nela.

Lorena estava com os olhos arregalados e abriu a boca para falar, mas o alfa ergueu a mão, fazendo todos ficarem quietos.

- Viu só? - Melissa deu um sorriso. - Eu sou ino..

- Você está longe de ser inocente! - Fernando rosnou. - E pelo menos, ela teve coragem de falar a verdade... Melissa Miestrad, você sabe o quanto nós prezamos a sinceridade!

- Então... essa é a verdade, eu não fiz nada..

- Você a desafiou. - ele revirou os olhos. - Já é bem culpada.

- Por que você está do lado dela? - indagou com raiva, o medo havia desaparecido.

- Não é sua primeira vez aqui, por causa de brigas internas, estou certo? 

Melissa congelou, toda a confiança que ela tinha se quebrou, então Fernando respirou fundo e começou a me encarar.

- E como você mesma disse, Kristine Moore Cerutti, ao aceitar o desafio, você se tornou tão culpada quanto ela. - afirmou. - E eu não pretendo pegar leve com nenhuma de vocês... porque eu não admito brigas internas na alcateia!

Concordei com a cabeça enquanto meu corpo queria fugir.

- Ainda bem que temos o conselho para me ajudar a decidir. - comenta. - Vamos votar da seguinte maneira, Melissa teria uma pena mais leve do que a da Kristine, contudo como essa já é a terceira vez que ela causa uma briga interna, devemos fazer uma punição do mesmo nível do que a da Kristine.

O conselho se manteve em silêncio e isso parecia indicar que estavam todos de acordo.

- Então, o que será? - Jule indagou.

- Podem dar sugestões, eu apenas direi se o nível está aceitável. - Fernando se encostou melhor na cadeira.

Os cinco membros começaram a discutir, depois de trinta segundos eu já não conseguia mais acompanhar o que eles diziam. 

Melissa nem tentava acompanhar, ela estava presa em seu próprio mundo, até que ela me encarou, senti aquela vontade assassina nela.

Engoli em seco e notei que ninguém nos observava, Alice que estava mais perto de nós foi a única que notou algo diferente.

- Meninas? - perguntou suavemente.

- Eu não entendo porque o Triton escolheu você! - Melissa rosnou. - Eu juro que isso não vai ficar assim.

- Melissa! - Alice a repreendeu, mas foi ignorada.

Então, ignorando tudo e todos, Melissa se levantou e deu a volta na mesa, eu me levantei e me mantive de guarda. 

- Fique longe de mim. - falei.

Finalmente, eles notaram algo estranho, ouvi uma cadeira ranger com força para trás e logo o rosnado do alfa. Quase tremi, estava com medo de que ele achasse que eu estava causando de novo.

- Eu não entendo porque vocês todos estão do lado dela! - Melissa gritou. - Ela é só uma novata que não sabe fazer nada além de uma trepada sacana!

Ela não havia dito isso... Eu me forcei a fingir de surda. Contudo, Lorena não se fingiu de surda, ela se levantou e começou a vir até nós, mas eu me coloquei na sua frente.

- Não faça isso. - murmurei. - Não vale a pena.

Olhei para a sua barriga de grávida, que ainda não dava para notar, porém ela notou o que eu queria dizer. Lorena, então, respirou fundo e deu meia volta, voltando ao seu lugar. 

Uma cadeira foi quebrada, era o que meu ouvido comunicou, olhei para trás e vi um pedaço grande de madeira vir na minha direção, desviei por pouco, mas Tyrone acabou sendo atingido na cabeça e caiu desacordado no chão.

Engoli em seco quando Melissa ergueu um outro pedaço de madeira e começou a se aproximar de mim.

- Você está ficando louca! - Alice gritou e até tentou parar a Melissa, mas ela era pequena demais.

Melissa a jogou longe, ainda bem que Dylan a segurou antes de ela bater com a cabeça na parede. Eu não podia recuar, se não Lorena podia ser envolvida nisso.

- Melissa!!! 

Não precisava olhar para trás para saber o quanto o alfa estava nervoso. Melissa jogou a madeira na minha direção, se eu desviasse, seria Lorena quem se machucaria. 

Num reflexo louco, consegui segurar a madeira, mas acabei arrebentando a mão direita. Melissa riu alto e saiu correndo, Dylan e Jule já estavam indo atrás dela quando Fernando os parou.

- Deixem ela ir. - suspirou. - Ela já causou muitos problemas para nós... E sempre tentamos ajudá-la, mas ela nunca aprende.

Dylan e Jule se entreolharam e assentiram, parecia que Melissa tinha um passado mais sombrio do que eu podia imaginar. Olhei para a minha mão e notei que ela já não parecia muito uma mão. 

Três dedos estavam quebrados e a palma da mão estava aberta, estava sangrando bastante, mas só conseguia ficar olhando quando comecei a ficar tonta e quase caí. 

Porém alguém me segurou, vi com meu único olho que Fernando me observava enquanto estava apoiada em seus braços. Minhas pernas estavam moles, meus braços pesados e minha cabeça meio estranha.

- O que aconteceu? - Alice indagou. - Ela não pode ver sangue?

- Nada disso. - Lorena afirmou. - Foi muita coisa num dia só.

Realmente, havia acontecido muito encrenca em um dia só, fechei o olho e senti tudo ficar pesado, logo desmaiei.

*

Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi olhar em volta, por algum milagre, eu não estava na enfermaria, mas sim na minha cama. Depois fui tentar levantar, porém meu corpo estava se mostrando mais pesado do que eu me lembrava dele.

Parei de tentar e respirei fundo, a última coisa de que me lembrava, era de Melissa ter ficado completamente fora de si e ter tentado me atacar, depois que ela fugiu, lembro de ter sentido fraqueza.

Então, tentei me erguer mais uma vez, dessa vez com um pouco mais de persistência, consegui sentar na cama. Assim que terminei de me arrumar melhor na cama, a porta do quarto se abriu.

Triton parou e ficou me olhando, ele estava sério, mas não conseguiu esconder o alívio. Logo ele estava me abraçando com cuidado, retribui o abraço e me senti mais leve só por tocá-lo.

- Você está bem? - perguntou enquanto me soltava devagar. - Eu sinto muito.

- Estou. - respondi. - Mas por que está se desculpando?

Ficou quieto por um bom tempo, e até me perguntei se eu não havia pisado na bola ou se havia perdido alguma coisa enquanto estive dormindo.

- Que horas são? - tentei mudar de assunto.

- Três horas da manhã. 

- E você ficou acordado até agora? 

Devagar, ergui a mão que estava boa e toquei seu rosto, fechou os olhos e aproveite para beijar de leve seus lábios. Eu já ía nos separar quando ele começou a me beijar apaixonadamente, envolvi seu pescoço e aprofundei o beijo. 

Foi um dos beijos mais fofos e quentes que ele já me deu, e assim que nos separamos, um sorri brotou em meus lábios. Aquela esperança de que daríamos certo havia voltado.

- Eu sinto muito mesmo. - sua voz era bem calma. - São por tantas coisas... Eu fiz tantas cagadas...

Dessa vez, não consegui dizer um simples tudo bem ou um comum tudo vai dar certo no final. 

- Nem sei se você vai me perdoar, mas eu vou falar mesmo assim... - comentou. - Eu sinto por ter agido tão idiota, tratando você mal, esquecendo que tudo isso é tão novo pra você, como se unir é pra mim... Eu também acabei sendo um pouco machista.

Olhei-o com aquela cara de um pouco? e ele apenas suspirou, talvez admitir isso seria algo que ferisse demais o seu orgulho, por isso deixei passar, o mais importante ele havia feito - havia percebido onde errou.

- Mas é claro que as minhas cagadas não acabam por aí... Eu também não reparei que você estava se sentindo mal por causa da Melissa. - afirmou. - E eu sinto muito por ter saído aquela hora sem dizer nada, é que minha cabeça estava um caos e eu precisava descontar isso em alguém, mas não podia ser em você.

Concordei com a cabeça, deixando que ele continuasse, só esperando para a minha vez de me desculpar.

- Mas o que eu mais me arrependo mesmo... foi de ter feito você chorar. - seus olhos me mostravam como ele estava se sentindo mal com isso.

Dei um pequeno sorriso e respirei fundo, era agora ou nunca.

- Você não é o único culpado.. Eu também errei feio. - afirmei. - Primeiro, porque eu não contei a você como estava me sentindo... e quase sempre, eu acabava fugindo, achando algum jeito de adiar as coisas, porque eu tinha medo que uma bobagem minha estragasse com tudo.

Agora era ele que estava em silêncio e me observava com cautela.

- Eu só não sei como me ajeitar a tudo isso... Não sei como ser a companheira ideal... E toda aquela história da Amy e da Vivian me deixou... mal...

- Você não precisa ser a companheira ideal, Kristine, porque você é a companheira que eu vou amar pra sempre. - deu-me um beijo na testa. - Eu te amo.

Ele conseguiu falar tantas frases lindas e ainda com esse olhar tão sincero. Acho que não tem como eu me apaixonar mais, ou será que tem?

- Triton Cerutti, você não tem noção do quanto eu te amo. - sorri e beijei sua bochecha.

Triton deu um sorriso fofo e me beijou devagar, depois nós nos deitamos e aproveitamos o calor um do outro para dormir. Em minutos, ele havia adormecido, mas eu fiquei um tempo acordada, admirando-o.

Sua expressão era suave e me dava vontade de beijá-lo, sorri e me aconcheguei mais em seu peito, seu cheiro ainda era um vício para mim. Fechei os olhos e senti o sono vindo, logo adormeci.

*

Nunca imaginei que Triton podia ser tão carinhoso nem que um dia eu seria tão mimada assim.

- Assim você vai me estragar. - brinco enquanto arrumo melhor a cabeça em seu colo.

- E o que seria estragar você? - brinca e beija de leve meus lábios.

- Hmm.. me deixar manhosa. - rio e fecho os olhos, mas logo abro-os novamente.

Sinto ainda aquele desconforto por ter que ficar com esse tapa-olho, mas tanto Patrick como Triton me proibiram de tocar no olho, quanto menos tirar esse troço irritante.

- Nem pense nisso. - Triton segura minha mão esquerda, que é a que está "inteira".

- Eu não ia fazer nada. - minto. - Só ia dar uma coçadinha...

- Nem isso você pode. - revira os olhos.

Mostro-lhe a língua, ele dá aquele sorriso sexy e me mostra a língua, rimos e depois ele me beija de novo. Um beijo calmo e suave, sinto sua barba - que ainda está pequena - roçar meu queixo e, às vezes, a minha bochecha.

Quando seus lábios me soltaram, Triton depositou um beijo em minha testa e depois voltou a se encostar no sofá, dei um sorriso bobo e me aconcheguei mais ainda em seu colo.

Devia estar passando algum filme de série policial, porque do nada começou uma música de suspense e logo depois, ouvi barulhos de tiros. E não sei bem o porquê, mas isso me lembrou que Triton ainda não havia me contado o que aconteceu depois que desmaiei.

- Triton... - chamei-o ao abrir os olhos. 

Pela sua cara, ele já sabia o que eu queria saber.

- Vai me contar agora? - indaguei.

- Por que você quer tanto saber? - seus olhos estavam se desviando para a televisão, propositalmente.

- Porque eu não faço ideia do que houve, não lembro de nadinha mesmo... e também... - ergui o corpo, ficando sentada no sofá. - Não sei o quanto de cagada eu fiz... 

Traduzindo, eu não fazia ideia da minha punição, e Triton teimava eu não querer me contar.

- Você quer mesmo saber? - resmungou, agora sim ele estava me observando.

- Quero saber o que vou ter que fazer para consertar as coisas. - afirmo. - Sabe, todas as merdas que eu fiz.

- Você não precisa consertar nada... Já disse. - suspirou. - E eu ainda acho que você só estava se defendendo.

Não estava afim de admitir que eu não havia me arrependido de dar uma surra naquela garota, mesmo que isso tenha me custado um pouco caro, se bem que, agora consegui arrumar a minha relação com o Triton.

- Kristine? Está nesse mundo ainda? - sua mão toca a minha bochecha.

- Agora estou. - sorrio e pego sua mão, colocando-a no meu colo. - Você vai me contar tudo, não é? - fito-o com uma cara fofa.

Ele fica me observando por um tempo, até que faço um biquinho e ele respira fundo, acomodo-me melhor no sofa pois sei que agora ele vai me dizer tudo. O problema é que não sei se estou pronta para ouvir o que vou ter que fazer para recompensar a minha cagada.