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História O Cheiro da Lua - Família


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Esse capítulo é cheio de emoção.

Boa leitura.

Capítulo 45 - Família



No fim, Courtney me tachou de infantil, até tentei me defender, mas eu estava sem paciência para isso. Já o Max ficou muito animado, seus olhos até brilharam. E Amanda não disse nada, porém consegui sentir a sua curiosidade. 

A comida havia acabado de chegar, e estávamos comendo enquanto assistíamos a televisão. Mas agora estava na propaganda, por isso nem estava prestando atenção. Além de que minha mente estava em outro lugar.

Surpreendentemente, estava imaginando o que Melissa poderia estar fazendo agora. E me pergunto se ela fugiu por minha causa, ou era algo inevitável e um dia ela encrencaria com alguma loba, resultando no que aconteceu.

- Você tem estado muito no mundo da lua. - Triton comenta.

- Ah... foi mal. - sorrio e volto a comer.

- Você está se sentindo bem mesmo? - pergunta com receio.

- Estou. - assinto.

Noto que Max está prestando atenção na gente, ele ruboriza e volta a olhar a TV, rio baixinho. Logo depois, Max - que parece ter criado coragem - vira-se para nós dois e pergunta:

- Como você se machucou? 

Triton faz uma cara de poucos amigos, mas eu lhe dou um olhar de calma para que ele seja gentil. Mas como sei que Triton não quer ser gentil com esse garoto, respondo antes dele.

- Digamos que eu me meti em encrenca. - rio. - Na verdade, tenho me metido em muitas encrencas ultimamente.

- Ah... Mas você está bem mesmo? - Amanda de repente entra na conversa com uma voz mais leve. - Você não deveria estar descansando?

E era o que Triton queria que alguém falasse.

- Viu só, Kristine? - revira os olhos. - Descançar... Essa palavra existe no seu dicionário?

Mostro-lhe a língua e depois o ignoro.

- Não tenho culpa se sou hiperativa. - brinco.

Triton não gostou de ser ignorado e morde de leve a minha bochecha, depois sussurra um não me ignore, estou começando a ficar com ciúmes. Respiro fundo e penso em algum assunto para conversar com essas crianças.

- Ei, vocês ainda não disseram como ficaram sabendo da alcateia. - Triton rapidamente comenta.

- Ah... Sobre isso.. - Max coça a cabeça. 

- Resumo... Eu e Max estávamos procurando uma alcateia, e trombamos com a Amanda... aí viemos parar aqui. - Courtney respondeu com total frieza.

- Isso foi mesmo um resumo. - Amanda resmunga.

- Que seja. - Courtney bufa e volta a se concentrar na TV.

Dou de ombros e vejo que Max se prepara para contar a história de verdade.

- Bom... Como ela disse, estávamos procurando uma alcateia... - ele pensa um pouco e depois continua. - Eu não lembro ao certo como ficamos sabendo que nesta cidade havia uma, mas eu sei que eu sabia... Sinistro, não?

- Totalmente. - Amanda afirma.

- Era uma pergunta retórica. - Max bufa. - Continuando... Eu e a Courtney morávamos juntos em um orfanato, até que completamos a maioridade e decidimos ficar por conta.

Algo me diz que essa história será mais interessante do que aparenta.

- Então, comecei a ter alguns sonhos sobre a localização da alcateia e nós pensamos em procurá-la. - Max afirma. - No caminho, achamos a Amanda e contamos tudo a ela...

- E mesmo depois dessa história maluca, você foi com eles? - Triton ergue uma sobrancelha.

- Melhor com eles do que sozinha... - Amanda dá de ombros. - Mas depois eu descobri que eles são boas pessoas.

- Max, esses sonhos continuam? - indago muito curiosa.

- Não, eles pararam assim que chegamos a cidade. - explica. 

- Faz sentido... Assim que você achou o que o sonho te mostrava, ele parou de aparecer. - afirmo com um sorriso.

- É. - Max dá um grande sorriso. - E fico feliz que eles estavam certos se não a Courtney teria me matado!

- E eu teria desistido de alcateias. - Amanda rosna baixinho.

Uma forte onde de raiva e mágoa parece envolvê-la, devido a isso, sinto que não devo perguntar o porquê.

- Um  curiosidade... Vocês já tem filhos? - Max pergunta e sou pega de surpresa.

- Ainda não. - Triton responde com um pouco de desconfiança. - Por quê?

- N-Nada não. - Max se encolhe e toma um gole da sua bebida.

- Já disse pra você parar com essa ideia estúpida, Max! - Courtney rosna. - Já disse que ninguém vai adotar um garoto da sua idade...

- Não estou falando para eles me adotarem... E no mundo humano é difícil, mas no nosso nem tanto! - Max contrapõe.

- Cresça, Max Vinello! - Courtney rosna mais alto. - Se continuar assim, esse mundo vai engolir você.

Ele se levanta e trinca os dentes, ergue a cabeça e corre em direção a saída. Triton também se levanta para ir atrás dele, respiro fundo e observo Courtney voltar a sua forma fria, como se nada tivesse acontecido.

- Você não precisava ter falado com ele daquele jeito. - digo, porque não aguento ficar com isso entalado na garganta.

- Olha, estamos muito agradecidos pelo que vocês estão fazendo pela gente, mas não se mete nos nossos problemas. - Courtney fala enquanto me encara.

Pode até achar que me intimida, porém já enfrentei olhares mil vezes piores do que esse. 

- Ela está certa, Courtney... Você exagerou. - Amanda se pronuncia. - Você sabe como ele sonha em ter uma família.

- Ele vai acabar morrendo por causa desse sonho idiota! - cruza os braços.

- Não é um sonho idiota. - Amanda responde.

- Ah, não? Me surpreende você dizer isso... - Courtney começa a encarar a pequena. - Não foi você que fugiu da sua antiga alcateia? Você tinha uma família, e a abandonou... Então acho que família não é tudo de bom, estou errada? 

Amanda se encolhe, mas logo se recompõe.

- Por isso mesmo não é um sonho idiota... Já me peguei algumas vezes querendo ter uma nova família. - comenta com firmeza. - Uma que goste de mim do jeito que eu sou e que me trate bem.

Estou sem fala, literalmente, porque não faço ideia do que posso dizer diante desta discussão.

- Você, eu ainda posso dar uma relevada, por causa da sua idade e do seu passado. - Courtney abaixo um pouco a íra. - Mas não posso deixar ele ser ingênuo para sempre. 

- Como se você, assim como ele, não quisesse uma família. - Amanda murmura.

Courtney parece não ter ouvido, ou apenas a ignora. Pelo menos, elas se acalmaram; agora, Courtney encarava a TV e Amanda olhava para o próprio prato.

Percebi que era hora de dizer algo, mas me faltavam palavras. E eu poderia dizer o quê? Olha, se vocês quiserem eu adoto vocês três, porque eu estou com muita vontade de ser mãe; penso e logo chacoalho a cabeça.

- Err... Meninas, acho que deveríamos ir embora... - digo calmamente. - Ou alguém quer comer mais alguma coisa?

As duas negam e se levantam, rapidamente eu as guio até a porta, tínhamos sorte que o dono do restaurante era um lupino, assim Triton já havia falado para Miguel colocar tudo na sua conta.

O problema agora era chegar em casa podendo enfrentar duas possibilidades: os dois já terem voltado ou nenhum deles ter voltado. Nas duas opções, sei que terei um pouco de ansiedade. 

- Nós precisamos mesmo dormir na casa de vocês? - Courtney indaga bem mais calma.

- Sim.

Continuamos o caminho em silêncio, a noite está gelada, mas meu corpo está bem aquecido. Observo que as duas estão bem agasalhados e sinto um certo alívio. 

Depois, olho para o céu e fico com saudade de ir para a floresta, infelizmente, ainda estou de "descanso". Deve ser psicológico, porque só de me lembrar que deveria estar deitada quieta em casa, sinto meu corpo começar a pesar.

Meus passos começam a ficar mais lentos e minha respiração um pouco chata, ainda não entendo essas mudanças físicas que me ocorrem de repente.

- Kristine? - Amanda me chama. - Você está bem? 

Assinto, entretanto minha cara deve estar relatando o contrário, pois as duas estão me observando.

- Eu estou bem... Só um pouco cansada. - murmuro.

- Você não vai desmaiar de novo, certo? - Courtney tem uma mistura de preocupação e impaciência.

- Não. - reviro os olhos. - Sou bem mais durona do que você pensa.

- Que seja. - Courtney volta a caminhar.

Bufo e continuo indo, tenho que aguentar até em casa, e sei que consigo, ainda mais depois do desaforo dessa loira.

*

Felizmente, os dois já estavam em casa quando chegamos, e a noite poderia ter acabado muito bem se uma certa pessoa não contasse ao senhor protetor que a companheira dele ficou mal no caminho de volta.

- Você disse que estava bem! - Triton cruza os braços. - Sério, amanhã você vai descansar o dia todo!

Como não quero discutir na frente de todo mundo, e também estou querendo a minha cama, apenas concordo e murmuro um sinto muito. Em seguida, ele suspira e pede desculpas por ter sido tão grosseiro.

- Conversaremos sobre isso amanhã. - sorrio. - Eu vou indo dormir. - afirmo enquanto vou até o nosso quarto.

Ninguém me segue, ainda bem. Minha cabeça está para explodir e meu corpo começou a pesar mais ainda, até meus olhos estão meio inchados. Rapidamente, coloco meu pijama e me jogo na cama, enrolo-me no cobertor e deixo que o sono me pegue por completo.


Andávamos a mais de três horas, meu pai nunca foi muito habilidoso em buscas... Na verdade, nada estava ajudando. Ele nunca teve um bom faro, ou uma boa base sobre essas coisas de rastreamente lupino, e minha mãe era uma ótima loba ao estilo selvagem.

Sempre que ela perdia o controle era assim, demorávamos dias para encontrá-la... E às vezes não conseguíamos fazê-la voltar ao normal e tínhamos que procurar por mais dias ainda.

Meu pai... Ele nunca desistia, muito menos eu. Ela era tudo para nós, gentil, esperta e batalhadora. 

- Pai... Acho melhor descansarmos por hoje, já está ficando escuro. - agarrei em seu casaco ao ouvir o urro de um urso.

- Fique calma, papai vai te proteger. - pegou-me no colo e encostou minha cabeça em seu peito.

Eu sabia o que ele não queria que eu visse, meus ouvidos me alertaram da criatura gigante que estava logo a nossa frente. Estremeço e tento lembrar de algo que minha mãe tenha me ensinado.

- Não se preocupe... - sinto que ele está recuando.

A criatura permaneça quieta, sinto um alívio, mas então ouço um rosnado. Não aguento e olho, um urso se coloca em pé e mostra as garras e os dentes.

Não teria chorado se ele não tivesse vindo para cima de nós... Para me proteger, meu pai me jogou em alguns arbustos. Ouvi barulhos de roupas rasgadas e me arrumei no arbusto de um jeito que pudesse observar a batalha.

Meu pai era um lobo grande e castanho bem escuro, seus caninos eram bem maiores dos que os meus. Senti meu corpo se eriçar quando ele pulou nas costas do grande urso, cravou seus dentes no pescoço do mesmo enquanto o peludo se debatia.

Meus olhos estavam arregalados, não perdiam nenhum movimento, e até pressenti o que aconteceria quando meu pai baixou a guarda, o urso o arremessou longe, jogando-o contra uma árvore que se quebrou.

Levantei, porque o lobo ficou desacordado, corri e me coloquei no meio dos dois, o urso erguei a pata, fechei os olhos. O urso urrou e caiu ao meu lado, algo estava dilacerando seu pescoço.

Era um lobo sujo e cheio de sangue, teria me assustado se já não soubesse que essa era minha mãe lupina selvagem. Sai do transe e chacoalhei o meu pai, logo ele abriu os olhos.

- A mamãe está aqui. - murmuro pois não sei se ela pode nos entender.

Então ele se ergue e nos deparamos com uma loba em cima de um urso semi-morto, sua boca está cheia de sangue e seu pelo também. Ela rosna, mas eu me aproximo mesmo assim.

Papai vem ao meu lado, ergo a mão e toco no focinha dela... Abaixa as orelhas e pula ao meu lado, dando-me uma lambida na bochecha.

- Ela voltou. - digo a mim mesma e ao lobos que estão a minha volta. - Somos uma família de novo!


Está escuro.

Mesmo de olhos abertos, não consigo ver luz alguma. Sinto a lua me chamar, levanto e caminho para onde acredito ser o certo. Uma faixa de luz... Descubro que estava em uma caverna. 

Ao sair, farejo o ar e sinto que lobos passaram por aqui, uso as orelhas e vejo que não há sinal de inimigos. 

A luz da lua parece me aquecer, olho em volta e começa a subir uma montanha, e quando chego ao topo, deparo-me com um lobo. Ele é maior do que eu, tem pelo castanho claro e parece surpreso em me ver. 

Ele se aproxima, e eu rosno tentando mantê-lo afastado. Posso sentir um cheiro forte de nozes vindo dele.

- Kristine.. - sua voz entra na minha cabeça.

Rosno mais forte, e a lua me encoraja.

- Sou eu, Kristine... - ele se mantém onde está, mas continua me chamando desse nome. - Você tem que recuperar o controle.

Sinto minhas garras cravarem no chão, coloco-me em posição de defesa e mostro os caninos.

- Você tem que se lembrar. - força imagens em minha mente.

Balanço a cabeça e as repilo, dessa vez, ele rosna.

- Não me faça ter que levá-la a força. - alerta-me.

Rosno de volta e continuo com a guarda alta, então um lobo pula atrás de mim, desvio e observo. Esse lobo é maior do que o outro, seu pelo preto me intimida, mas seu cheiro de mangá me faz relaxar.

Ouço um outro barulho, e em seguida um novo lobo surge e mantém os olhos fixos em mim. Ele também é preto, mas não tão grande... Tem um leve cheiro de melância.

Mas há algo de diferente nele... Assim que chegou, os outros dois se puseram em uma posição mais submissa.

Ah... O alfa.

Sinto que devo fugir, mas eles estão em todas as rotas de fuga.

- Kristine, nós vamos ajudar você.... Me escute. - o primeiro lobo fica tentando me distrair.

Ele me irrita! Sufoca-me!

Rosno e pulo em cima dele, rolamos até uma árvore, com facilidade, ele me tira de cima e se ergue, porém não faz menção de que pretende me atacar.

Seu olhar é receoso e parece que está com medo, mas não serei enganada. Todos eles querem me prender, querem tirar a minha liberdade!

Os outros lobos se aproximam, olho para o lado e vejo que há uma árvore do lado da montanha. É  loucura, mas melhor do que ser presa.

Olho uma última vez para aqueles olhos... caramelos tão bonitos. Eles vão trair você... a voz da Lua me alerta. Viro e corro, uso o máximo de impulso que consigo nas patas traseiras e pulo, caio em cima de um galho que quebra com o impacto.

- Kristine! - o lobo grita em desespero.

- Me deixe em paz! - consigo gritar de volta e pulo no tronco da árvore, uso minhas garras para descer mais devagar.

Quando caio no chão, sinto as patas doloridas, tremo. Vejo três cabeças me olharem lá de cima, respiro fundo, meu peito dói. 

Você é uma vitoriosa, a Lua me enche de empolgação. Então eu uivo, depois volto a correr...



Acordo no meio da noite, meu coração está acelerado, minha respiração é forte e sem ritmo. Olho ao meu lado, Triton continua dormindo tranquilamente, levanto-me e olho pela janela. 

A lua está forte e ainda não é lua cheia, tremo... Nunca pensei que um dia poderia perder o controle. Será que era assim que minha mãe se sentia naquela época?

- Kristine? 

Pulo com o susto, viro-me e vejo Triton com um olho aberto e outro fechado, sua voz é sonolenta.

- Desculpe... Te acordei? - volto a me sentar na cama e toco sua bochecha.

Como poderia me esquecer dele? Oras, minha mãe esquecia eu e meu pai.

- Você não vai dormir mais? - ele pergunta todo manhoso. - Está se sentindo mal? - sua voz fica alarmada.

- Não, eu estou bem. - dou um sorriso para tranquilizá-lo e deito ao seu lado. 

Encosto as costas em seu peito enquanto ele me abraça, sinto-me segura e fecho os olhos.

- Eu te amo. - sussurro.

- Eu também te amo. - dá um beijo no meu cabelo e rapidamente pega no sono.

Não acho que dormirei tão fácilmente, também não imagino que irei contar esse pesadelo para alguém... E espero, de verdade, que ele não se torne realidade.


Notas Finais


E lá vem os sonhos de novo, ou seria presságios?

Espero que estejam gostando e acompanhando a fic.

Obrigada.


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