História O Cheiro da Lua - Rotina

- Oh... Então você está gostando dele! - falei num tom que só Amanda podia ouvir.

- Não! - ficou mais vermelha. - Eu só fiquei interessada... Curiosa... Só isso!

Soltei uma leve risada e depois me aproximei da mesma, seus olhos ainda estavam observando o garoto, que parecia estar se alongando.

- Por que não fala com ele? - pergunto.

- Claro que não! - encarou-me. - Ele vai achar que sou louca... - comentou tristemente.

- Não vai não. - afaguei sua cabeça. - Confia em mim?

Demorou, mas Amanda assentiu, podia sentir o medo, mas ao mesmo tempo a curiosidade em seu cheiro. Então fiz o que ela não tinha coragem.

- Ei, Natan! - acenei.

O loiro olhou com uma cara divertida e veio até nós, aproveitei e os apresentei, e quando a conversa já estava fluindo melhor, despedi-me. Mas pude jurar que senti a Amanda me amaldiçoar, se bem que um dia ela me agradeceria.

*

O trabalho foi ótimo, conheci Alan e John um pouco melhor, e hoje nós conseguimos terminar uma das verificações de uma matéria-prima que começará a ser utilizada na empresa.

E claro que liguei para o Triton todas às vezes que ele me pedira, agora ele já estava se preparando para dar mais um treinamento. Enquanto eu estava indo para o meu segundo treino.

Novamente, nos encontramos na frente da enfermaria, mas dessa vez, Eliza já estava lá. Evanie estava até com os olhos cheios de orgulho.

- Hoje nosso treino será mais light. - Evanie comenta. - Iremos ver o treino dos novatos!

Ergui uma sobrancelha, imaginando o que iríamos ver ao certo. 

- Desculpe perguntar... Mas para que isso exatamente? - Eliza pergunta suavemente.

- Para vocês terem uns dias de folga. - responde. - O corpo de vocês precisa de um descanso... Vocês podem até não estar sentindo, mas eu sei o que estou falando.

- Eu entendo perfeitamente. - Eliza murmurou.

Notei que ela parecia bem dolorida, andava devagar e às vezes fechava os olhos demonstrando dores. 

- Estamos quase chegando! - Evanie estava mesmo bem animada. 

Então ela apontou e logo vi várias pessoas treinando em duplas, e três outras pessoas apenas observando. Assim que me viu, Triton piscou e me mandou um beijo, corei e sorri.

Evanie nos mostrou um grande tronco que havia na floresta e pediu que nos sentassemos.

- E temos que observar alguma coisa? - perguntei baixinho.

- Hoje não, mas amanhã iremos ver o treino dos experientes, aí vou querer muito atenção. - Evanie comentou.

- Está bem. - Eliza se sentou e sorriu aliviada.

Fiquei olhando atentamente os alunos lutarem em duplas, e noto quando Evanie se aproxima dos "professores". Acho que ela deve ter contado uma piada porque todos riram.

Depois, ela puxa Triton e Marcos para conversar, agora deve estar contando sobre o nosso treino de ontem. Já que Triton é meu companheiro e Marcos é o companheiro da Eliza.

- Jura mesmo que você não está com dores? - Eliza me faz virar para ela.

- Não... - penso um pouco. - Não mesmo, ontem à noite até estava meio dolorida, mas hoje acordei bem.

- Nossa... Eu acordei morrendo de dor. - suspira. - Melhorei um pouco agora.

Olho para frente, imaginando porque houve essa diferença.

- Acho que o fato de você ter terminado mais cedo influenciou bastante. - dá uma risadinha. - Nunca fui muito boa em me auto-controlar. - admite.

- Muito menos eu. - suspiro.

- Que nada. - ela sorri. - Na primeira vez que fizeram um treino desse tipo comigo, fiquei três dias sem voltar a ser eu mesma.

Arregalo os olhos, talvez eu não fosse tão descontrolada como pensava.

- Juro que não parece. - murmuro.

- Lorena dizia a mesma coisa. - ri. - Até que ela mesma presenciou um ataque meu.

Eu já ia perguntar o que houve, mas um barulho de alguém caindo me chamou a atenção. Courtney havia acabado de derrubar o Max, e quando se levantou, logo seu olho começou a inchar.

Triton bufou sabendo que Courtney tinha alguns ataques de loucura, não ouvi o que eles falavam, mas ela estava corada e apontava para o Max como se o acusasse. Enquanto Max se levantava e fazia um "joinha" com o polegar.

*

Assim como Evanie nos avisou, não houve muita informação retirada do treino dos novatos, na verdade, até me fez lembrar do dia em que minha mãe me ensinou a lutar. Minha mãe tomou a liderança daquela vez, porque depois da tentativa de caça do meu pai...


- Preste atenção, minha flor, como você é pequena e ágil tem que usar isso ao seu favor. - minha mãe explicava. - E a floresta sempre é o melhor lugar para um lupino lutar.

- Isso mesmo! - meu pai sorria, estava encostado em uma árvore. - E não se esqueça... Às vezes, é melhor um ataque como defesa do que ficar na defensiva!

- Como assim, papai? - aquelas palavras eram um quebra-cabeças para uma criança de oito anos.

- O que seu pai quis dizer é que muitas vezes nossa melhor defesa pode ser um ataque rápido e direto. - minha mãe comentou.

- Ah... Entendi. - sorri e pulei em seu colo. - Quando vamos começar?

Ela me colocou no chão e chamou meu pai.

- Primeiro, você precisa ver... Depois treinamos contigo. - afirma me dando um beijo na testa. - Mamãe vai te ensinar que força não é tudo em uma luta.

Meu pai revirou os olhos resmungando, porque seria ele (força) e ela (agilidade) lutando.

Primeiro mamãe partiu para um ataque, mas papai o recebeu bem e não se moveu com o chute dela. Então, ela usou o apoio das mãos dele e pulou, e enquanto meu pai tentava entender onde ela iria cair, mamãe deu um chute em uma árvore mudando sua rota no ar.

Logo caiu atrás do papai antes que ele pudesse perceber, e quando ele virou ao sentir a presença dela, acabou sendo tarde demais. Mamãe lhe passou uma rápida e eficaz rasteira, papai caiu com tudo no chão.

Achei que tinha acabado, porém minha mãe sentou em cima do peito do meu pai e lhe deu um olhar de vitória. Depois acenou para que eu me aproximasse.

- Viu só? Nem tudo é força. - ela riu.

- É que a sua mãe é muito boa de lutas. - meu pai se defendeu. - Mas eu já ganhei dela!

- Só duas vezes. - mamãe ergueu uma sobrancelha.

- Mas já conta... Não é, meu amor? - estendeu a mão para mim.

- É. - respondi com um sorriso, pulando em seu peito assim que minha mãe o soltou.


Estava sonhando acordada quando Triton me puxou daquele tronco, dei um grito assustada, mas logo tapei a boca.

- Quer me matar? - bravejei.

- Nunca! - beija meu pescoço. - Só estava morrendo de saudade.

Ele suaviza o abraço e aproveito para girar ficando de frente para o mesmo, beijo seus lábios e enlaço seu pescoço.

- Como foi seu dia? - perguntei manhosa.

- Foi bom... E agora está melhor ainda. - comenta com um sorriso. - E o seu?

- Foi ótimo e só tende a melhorar. - olhei em seus olhos.

Eram de um caramelo tão intenso e confortável, sentia-me sempre segura só de olhar para eles. Foi quando ouvi a voz fina e firme de Lyra, e quando me virei, notei que a mesma vinha em nossa direção junto de Max.

- Triton Cerutti!!! Que tipo de treinamento vocês andam fazendo? - Lyra parou a nossa frente e colocou as mãos na cintura.

- Posso saber o porquê da íra? - Triton me solta devagar, colocando-me ao seu lado.

- Olha o olho dele!!! - ela mostra o olho do Max, que já estava começando a ficar roxo.

- Não foi culpa deles... - Max acena para mim como se pedisse desculpas.

- Não foi culpa do treino... Foi o próprio Max que provocou a Courtney. - Triton afirmou ao cruzar os braços.

- Eu não sabia que ela estava na TPM! - Max se defende.

Olho para ele e vejo, mais uma vez, o Felipe... Os dois são tão parecidos, tanto de físico como de psicológico.

- E, aliás, por que se importa, Lyra? - Triton sorriu maliciosamente.

Pobre da mulher, ficou tão corada que achei que ela havia perdido os sentidos. Até que ela recobrou a postura e fez uma pose de orgulho.

- S-Só estou me preocupando com a saúde dos novatos! Só isso! - virou o rosto. - Vamos, Max, vou te levar pra enfermaria.

Lyra saiu puxando o ruivo, que sorria enquanto acenava nos dizendo tchau.

- Ela gosta dele... Tenho certeza. - Triton comentou e segurou a minha mão assim que viramos para ir embora.

- Não a conheço, mas posso concordar com você. - rio e encosto mais em seu braço.

- Mas então... O que quer fazer hoje à noite? - indaga me fitando.

- Hmmm.... Não sei... O que acha de irmos fazer uma visita para a Lorena? - comento. - Ela estava bem louca na última vez que me ligou.

- É uma boa... Eu vou ligar para ela e avisar que vamos levar algo para comer lá, o que acha? - seu olhar é pensativo e em seu rosto há um leve sorriso.

- Acho uma ótima ideia! - sorrio e continuamos nosso caminho para casa.

*

Nós levamos refrigerante e uma grande lasanha, ainda bem que havíamos exagerado nela, pois Lorena acabou convidando Charlie e Hena. Admito que fiquei surpresa, mas então me lembrei que foi o próprio que a achou na floresta.

- Então vocês estão juntos? - Eric, que eu já havia notado que não sabia ser discreto, perguntou ao nos acomodar no sofá da sala.

- Sim! - Charlie respondeu com um grande sorriso.

Em seguida, lançou um olhar de agora não sou mais solteiro para o Triton, que revirou os olhos e me puxou para mais perto.

Tão logo Lorena chegou, aliás, não faço ideia de onde ela estava. Sentou-se conosco e começou a contar histórias, Eric sentou ao lado da mesma e sorria como um bobo.

Eles eram um casal muito lindo!

- Mas sério! Vocês tinham que ter visto ontem... Quando eu fingi que tinha desmaiado! - Lorena ria. - Esse aqui quase teve um infarto! - apontava para o companheiro.

Eric ruborizou e deu uma risadinha de ela me pegou de jeito. E enquanto ríamos das travessuras de grávida da Lorena, notei que Hena se sentia um pouco deslocada.

- Hena... você não quer ir comigo até a cozinha? - levanto-me. - Quero dar uma olhada no frango.

- Claro! - levantou-se, soltando-se das mãos do namorado.

- Que maldade, Kristine. - Charlie choramingou.

- Eu? Maldosa? - sorri. - Você ainda não viu nada.

Então me virei e ouvi Hena me acompanhar, também ouvi a risada alta do meu companheiro.

*

A cozinha da Lorena estava impecável, e não sei o porquê, porém parecia que era assim por causa do Eric. Já que ele tem todo um jeito caprichoso enquanto ela é meio desajeitada.

- Obrigada. - Hena murmurou.

- Ah... Não foi nada. - dou de ombros e abro o forno. 

Hena suspira e volta a falar.

- Sabe... Me falaram que você passou por isso que estou passando. - comenta.

- Prossiga. - termino de olhar o frango e viro-me para fitá-la.

Hena era mesmo muito graciosa, hoje seu cabelo ruivo estava fabuloso, e sua roupa era um lindo vestido verde.

- É que falaram que você se sentia um pouco deslocada quando veio para cá... Sabe?

- Ah... sim. - sorrio lembrando de tudo. - Eu me sentia muito deslocada.

- E como você passou por isso? - dava para perceber como ela estava nervosa.

- Bom... A companhia do Triton foi muito importante para mim. - afirmo. - E também tive que repensar algumas ações minhas, porque querendo ou não, agora faço parte de uma grande família... Que possui regras.

Hena me observou, tentei entender o que se passava em sua cabeça, mas antes que isso acontecesse, ela sorriu e declarou que eu tinha razão. Depois, voltamos para a sala, Charlie foi o primeiro a se levantar quando eu disse que a comida já estava pronta.

E o que achei mais fofo, foi como seus olhos não saíam da Hena. Lorena foi a segunda a levantar e estava com tanta fome que correu para a cozinha, mesmo com Eric a alertando para ter cuidado.

Triton demorou mais que todos, porém eu sabia porque. Safado como era, ele me puxou para um beijo assim que todos saíram da sala.

Um beijo que esquentou todo o meu corpo, fazendo com que esqueçamos o jantar, apenas o grito da Lorena para nos "acordar". E assim que entramos na cozinha, fomos recebidos por um comentário um tanto depravado.

- Se forem fazer sexo, por favor, na minha sala não! - Lorena gesticulava com as mãos. - Mas tem o quarto de hóspedes, se quiserem.

Eu não sabia onde enfiar a cara, porém Triton sempre tem uma resposta para sua amiga baixinha e louca.

- Então a gente pode transar no banheiro ao lado do quarto? - sorriu maliciosamente.

Lorena ficou pensando, mas no fim desistiu, e eu agradeci por isso. Hena estava bem corada, acho que ela ainda era virgem. Não... Lobas com mais de vinte anos, dificilmente, são virgens.

*

Depois do jantar, que estava maravilhoso, lasanho com frango à passarinho. Fomos até a sala para conversar mais um pouco, no começo o alvo era o relacionamento de Hena e Charlie, que ainda não estavam morando juntos, pois Hena não havia se adaptado a tudo.

Contudo, Lorena conseguiu fazer com que ela admitisse que estava gostando bastante do tempo que passava com o Charlie. Logo depois, Hena virou uma pimenta e Charlie tinha um sorriso bobo de alegria na cara.

A noite estava uma delícia, até que a própria Lorena tocou em um assunto bem delicado... Até diria tenso.

- Queria poder estar ajudando vocês com a preparação para a guerra! - ela comentou com um biquinho.

- Só o seu apoio já ajuda, amor. - Eric lhe deu um beijo na bochecha.

- Não é o suficiente! - ela parecia magoada. - Minhas melhores amigas estão numa situação muito difícil e não posso ajudá-las!

Então, ela olhou para mim e começou a chorar. 

- Ah... Lorena... Não fique assim, por favor. - queria abraçá-la, mas Triton me segurou.

Eu o observei e seus olhos me pediram para ficar ali, acho que ele já havia passado por isso antes.

- Lorena, você está sempre ajudando... - Charlie comentou. - Então, o que você pode fazer nessa situação é ficar em casa segura e saudável. - sorri.

Ela começou a parar de chorar quando Eric a envolveu em um abraço.

- Vocês têm razão. - enxugou as próprias lágrimas. - Então, vamos fazer um acordo!

Todos se entreolharam, era mesmo incrível como ela estava tendo alterações emocionais tão rápidas.

- Eu tenho uma gravidez saudável e segura, e vocês protejam e cuidem uns dos outros! - deu um grande sorriso.

Eric suspirou aliviado enquanto todos nós concordávamos com o acordo.

*

- A comida estava ótima, não é mesmo? - Triton nos mantinha juntos, suas mãos entrelaçadas as minhas.

- Estava uma delícia. - beijo seu rosto, seu queixo sem barba, por fim seus lábios.

Ele me puxa mais, fazendo-me grudar em seu peito, solta minhas mãos para segurar meu rosto, aproveito e o abraço pela cintura. Estamos bem à frente do salão onde foi nossa festa de união.

Quando paramos de nos beijar, viro-me para que ele me abrace por trás, mesmo não sendo muito alto, Triton consegue me cobrir... Protegendo-me. Meus olhos percorrem as portas do salão, lembrando-me do dia mais emocionante da minha vida.


Havíamos acabado de nos entregar um para o outro, a alcateia estava toda animada, Lorena e Eliza afirmaram que beberiam bastante. Foi o dia que mais sorri na vida.

Triton estava dando atenção a alguns homens quando Alice veio conversar comigo.

- Você está linda de morrer! - elogiou-me ao pegar as minhas mãos. - Triton é um lobo de sorte.

- Obrigada. - corei de leve, ainda não acostumada a toda essa atenção. - Mas o Patrick também será.

Foi a vez dela de ficar vermelha como um tomate, ri disfarçadamente enquanto ela tentava se explicar.

- É que você ainda não o conhece direito, mas o cara é muito lerdo! - resmunga. - Já tentei de tudo, mas ele nunca nota.

- Já tentou dizer a verdade a ele? - indaguei como se aquilo fosse fácil de se fazer.

- Você ficou louca?! - Alice arregala os olhos. - E se ele me der um fora? Além de que ainda não é muito aceita essa ideia de namorar.

- Mas acho que isso irá mudar um pouco. - comento meio receosa.

- Espero que Amaterasu te ouça. - ela ergue as mãos para cima.

- Que isso? Tá fazendo a dança da chuva? - Eliza, que estava estranha, apareceu ao nosso lado.

- Quem está fazendo dança da chuva? Quem é o estrago prazeres? - Lorena surge ao lado de Eliza e estava, definitivamente, bêbada.

- A Alice! Só porque ela quer mostrar que o vestido branco da noiva não vai ficar transparente. - foi então que Eliza percebeu que eu estava ali. - Oh! Olha a noiva linda aqui!

Logo, notei que Eliza também estava embriagada.

- Vocês duas são bem fracas, hein? - Alice riu da situação.


Triton me apertou um pouco mais, senti seu hálito quente em meu pescoço seguido de um suave beijo. Joguei a cabeça para trás, encaixando minha cabeça logo acima do seu ombro.

Agora conseguia olhá-lo e vi seu sorriso antes do mesmo me beijar, seus lábios eram carinhosos e quentes, tão logo suas mãos, que me envolvem, viram-me para ele.

- Meu amor, minha vida. - sussurrou com nossos lábios colados. - Eu te amo.

- Meu caramelo divino. - encostei nossos narizes. - Eu te amo tanto.

Encostei a cabeça em seu peito, podia ouvir sua respiração leve e o palpitar do seu coração. 


A varanda de trás do salão estava quieta, só nós dois estávamos ali, Triton me colocara sentada na mureta enquanto me abraçava. Sua cabeça estava enterrada no meu peito e seus braços me seguravam pelas costas, já eu mantinha as mãos no seu cabelo, acariciando-o.

Beijei o topo de sua cabeça e ele levantou a mesma, seu sorriso era tão sincero e brilhante, fechei os olhos e beijei seu nariz. Triton levantou um pouco o corpo e beijou meus lábios, puxando-os para ele.

- Agora você é só minha. - afirmou com um sorriso malicioso.

- Só sua... E você é só meu. - sorrio e beijo sua testa. - Para sempre.

- Always and forever.