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História O Cheiro da Lua - As escolhidas


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Mil perdões pela demora, é que me mudei de casa e aí demorou para arrumar tudo, mas cá estou eu.


Boa leitura.

Capítulo 65 - As escolhidas



Eu corri, corri, pulei, comi, corri, mas nunca parei... Não podia correr o risco de ser achada por ele. A Lua já não conversava tanto comigo, na verdade, eu havia cortado um pouco a nossa conversa.

Porque estava totalmente confusa... Perdida. Não sabia se ainda tinha um caminho a seguir, eu apenas corria sem olhar para trás. O que me confortava e ao mesmo tempo me preocupava era o fato daquele lobo estar machucado... Nunca me alcançaria com aqueles ferimentos, mas também não tinha como se defender.

Mas ele não iria desistir tão fácil... Porque ele quer a Kristine de volta. Eu me repreendia, cada vez que lembrava do seu cheiro, do seu pelo e de suas palavras. Nossa última conversa havia mexido com a minha mente.

Algumas noites, eu acordava assustada, tentando entender quem era aquela mulher morena e baixa de olhos azuis, e mesmo que de algum modo eu soubesse que ela era a Kristine, minha cabeça refutava essa ideia.

Porque se ela era a Kristine, significava que eu era ela. Não! Posso não saber meu nome, mas não tenho nada a ver com aquele lobo... Não posso ter. Porque os destinos das lobas escolhidas pela lua é lutar pelos da nossa espécie, é fazer uma revolução nas florestas.

Grande parte de mim seguia essa filosófia fielmente, embora uma parcela bem pequena ainda se remoía de remorço por tê-lo abandonado.

Felizmente, toda a minha agonia estava para acabar, mais um dia e chegaria no local... Onde encontraria minhas semelhantes e iríamos colocar um fim na boa vida dos caçadores.

*

Era um local muito bem escondido, apenas nós conseguiríamos chegar até ali, e o lugar estava cheio de lobas, mas elas não interagiam entre si... Por quê?

Tentei várias vezes falar com elas, mas nenhuma conseguia me ouvir... Então por que ele conseguia? Por que podia entrar na minha mente do mesmo modo que eu entrava na dele?

Porque ele é o seu companheiro.

A luz da lua me fez erguer a cabeça e uivar, de algum modo, era desse jeito que as lobas se comunicavam com a Lua. E nós sabíamos que algo estava para ocorrer, logo entraríamos em ação, tínhamos uma espécie para salvar e proteger.

Mas eu o havia abandonado... Minhas garras fincaram no chão mantendo-me onde estava, já estava quase correndo dali quando uma mulher ruiva de olhos vermelhos como o sangue apareceu no topo de uma pequena pedra.

- Vocês são as escolhidas... As que farão justiça no nosso mundo! - ela era pequena, mas suas palavras tinham poder. - Amanhã começa nossa longa estrada da justiça!

Por que eu era a única que estava em dúvida? 

- Você! - seu dedo pequeno e gordo apontou na minha direção. - Venha aqui.

As lobas abriram passagem, um pouco desconfiada passei por elas, e quando cheguei a nossa líder, senti um calafrio. 

- Você não parece estar totalmente aqui. - afirmou observando-me. - Você está pensando nele...

Uma das minhas patas recuou, era estranho uma mulher poder saber o que se passava comigo apenas com um olhar. 

- Será nossa guerreira ou voltará correndo para ele? - assim que perguntou, as outras lobas se eriçaram, nervosas com a minha infidelidade.

Era como se eu tivesse traído a confiança delas... O que não ocorrerá, já que havia deixado aquele lobo para trás.

- Está em dúvida... Por quê, pequena loba? - sua voz de algum modo me fez lembrar de algo.


Você vai ser sempre pequena, Kristine, mas será para sempre a minha pequena loba. 


Era a voz dele, eu tinha certeza... O lobo das nozes, mas porque ele tanto clamava por essa Kristine? Por que eu seria ela?

- Você não está entre nós. - a mulher disse e foi a mesma coisa que ela mandasse as outras me atacarem. 

Eu era experiente e sabia que estava em desvantagem, e foi quando levei a primeira mordida que eu lembrei... "Kristine & Triton unidos em 05.01.13".

Eu o deixei para trás! Nunca poderia ser abatida aqui e agora, nunca! Não até ter certeza de que ele estava bem. Então eu revidei, havia uma loba em cima de mim, sua força muscular era incrível, mas suas posições eram péssimas, o que facilitou que eu a jogasse contra mais cinco outras lobas.

Levantei e rosnei, as outras se mantiveram imóveis, e quando uma delas avançou para me ferir, uma sombra passou por cima de mim e jogou mais três lobas longes.

Uma grande loba branca de olhos azuis se colocou a minha frente, como se quisesse me proteger. Mas foi seu cheiro que me disse quem era... Minha mãe.

*

Stefany Moore... Minha mãe que havia sumido... E agora estava ali, protegendo-me. Mas ela não foi a única que veio ao meu socorro, tão logo avistei Elizabeth dando uma de loba assustadora. 

- Quantas infieis! - a mulher gritou. - Elas se aliaram aos caçadores! Matem-nas!

As lobas queriam nos atacar, mas o rosnado de minha mãe as assustava demais, algumas recuavam, outras mantinham-se paradas. E quando Eliza chegou até nós, foi fácil fugir dali, mesmo que eu estivesse um pouco dolorida na pata traseira. 

Acabamos conseguindo sair por um buraco pequeno demais para várias lobas desorganizadas passarem, e assim que achamos um caverna bem escondida, nós relaxamos.

Meu corpo pesou e quase tombou, mas fui amparada pelo corpo da Eliza que parecia sorrir para mim. De algum modo eu sabia o que dizia nossos meses de treinos duros não haviam sido em vão, porque havíamos conseguido sair do transe... Um pouco tarde.

Antes tarde do que nunca. Era  a voz da minha mãe... Tão doce e suave, e tão única. Ainda bem que laços familiares também podem ser compartilhados desse jeito.

Mãe...

Você cresceu bastante... Kristine.

Sim... Esse era o meu nome... 

Kristine Moore Cerutti, mãe. Lá dentro, eu sorria, e mesmo que meu corpo pedisse por descanço, eu me levantei e pulei nela, havia anos que não fazia isso e como sentia falta!

Eliza parecia confusa, embora não pudesse explicar nada a ela, sabia que teria paciência para poder compreender o ocorrido.

Pelo visto, a minha menininha continua igual... Carinhosa e forte. Seu pai ficará orgulhoso em te ver.

Papai? Onde ele está?

Provavelmente me procurando... Ele nunca desisti, você sabe como ele é teimoso.

Assim como o Triton...

Então senti aquela dor no peito, eu havia mesmo o deixado sozinho e indefeso?

Não se preocupe, Kristine... Se esse Triton é o lobo que você se uniu e o mesmo que a seguiu e que parece que você sente que decepcionou... Então ele não vai desistir tão fácil.

Por que as mães sempre tinham razão? E como eu podia achar que ele estaria indefeso? O meu Triton... Tão forte e gentil. E foi pensando nele que consegui dormir grudada em minha mãe.

*

Acordei com uma leve dor nas costas, abri os olhos e notei que o clima estava bem frio, sentei-me devagar tentando compreender onde doía mais. De certo modo, eu estava bem, os ferimentos que as lobas me fizeram já haviam cicatrizado.

Então, vi uma roupa jogada ao meu lado, voltei a forma humana e a vesti, era um vestido bem simples que parecia ser de uma criança.

- Parece que a pequena acordou. - a voz de Stefany fez-me sorrir bastante, não havia sonhado... Tudo foi real.

- Mãe! - pulei em seus braços e a amassei. - Eu senti tanta a falta de vocês!

Minha mãe nunca foi de muitas palavras, embora sempre soubesse como agir, e foi com um simples afago que me fez relaxar.

- Você ficou uma graça com esse vestido de criança! - ela afirmou com uma cara fofa.

Corei levemente e mostrei-lhe a língua, decididamente, havia puxado a estatura da minha mãe, que era bem baixinha.

- Você acordou! Que bom! - Eliza estava animada e trazia consigo duas bolsas. - Olhem, consegui algumas coisinhas para podermos continuar a nossa viagem.

- Continuar? - indaguei.

- Sim... Vou levar vocês até a sua alcateia e depois vou achar o seu pai. - Stefany comentou.

- Mas eu também queria ver o papai. - choramingo.

E como sempre, minha mãe era pega na armadilha.

- Tudo bem, eu dou um jeito de ele me encontrar na alcateia de vocês. - sorriu. - Satisfeita? - riu.

- Eu te amo demais, sabia? - confessei com um sorriso.

- Nós também te amamos muito. - ela afirmou com um pouco de tristeza como se ela se arrependesse de ter me abandonado.

Mas eu já não os culpava mais, talvez eles quisessem viver um pouco da vida sem ter que se preocupar com deveres. Eles eram assim, gostavam de viver livremente.

- Bom... Acho melhor a gente ir. - Eliza parecia temerosa. - Quem sabe se aquelas loucas não virão atrás de nós.

- Acho difícil... Como aquela mulher disse, elas estavam se preparando para o ataque aos caçadores. - minha mãe disse.

- Mas... Espera... Nós vamos simplesmente voltar e fingir que nada aconteceu? - espantei-me. - Tem uma louca comandando um exército de lobas hipnotizadas, que podem acabar com o segredo da nossa espécie e ainda morrer ao tentar enfrentar a tropa dos caçadores!

As duas de entreolharam e suspiraram.

- Kristine, filha, nós sabemos disso... Mas três lobas não podem fazer muito coisa...

- Não sozinhas... Por isso estamos voltando. - Eliza afirmou. - Precisamos que o Fernando avisa as outras alcateias, assim poderemos tirar as fêmeas do transe.

Respirei fundo e assenti, elas tinham toda a razão, precisávamos de ajuda, além de que eu estava morrendo de saudades da minha família.

- Aliás... - lembrei-me. - Como vocês duas saíram do transe?

- Bom... Eu ouvi uns barulhos de luta e em seguida acabei lembrando do dia em que o Eric brigou por mim. - Eliza começou a ficar vermelha. - E quando reparei que era você, não tive dúvidas... Fui te defender.

Minha mãe fingiu não ter ouvido a pergunta... Típico dela, nunca foi de se expressar com facilidade.

- Mãe? - pressionei-a.

- Ah.. Eu? - deu um sorrisinho. - Bem... Para resumir... Eu senti que você estava sendo machucada e quando eu vi, já estava destruindo aquelas lobas mal amadas que ousaram tocar na minha filha!

Podia jurar que os olhos azuis dela estavam pegando fogo. E eu só podia agradecê-las por me ajudarem naquele momento, e ainda por cuidarem de mim agora.

- Podemos ir? - perguntei já com uma das mochilas nas costas.

- Claro. - Stefany concordou com a cabeça.

- Err... Só uma perguntinha... - Eliza começou a andar, mas mantinha passos pequenos. - Quanto tempo ficamos transformadas?

Pega de surpresa, olhei para minha mãe que manteve uma cara séria, percebi que nem mesmo ela sabia.

- Eu diria que algumas semanas... - deu seu palpite.

- Hmm... Eu sei que nos transformamos no dia vinte e três de maio... - comentei.

- Verdade... - Eliza parecia estar completando um quebra-cabeças. - Ai meu Amaterasu! Os presságios!

Foi quando tudo fez sentido, nossa alcateia podia estar em perigo, ou pior, poderia nem existir mais.

*

Não adiantava correr, além de que nossos corpos não estavam permitindo muito esforço, parece que ficar muitas semanas transformada nos desgastou mais do que imaginávamos.
      
- Você acha que vamos demorar demais a chegar? - Eliza parecia bem nervosa.

- Não se preocupe, eu tenho dinheiro para pagar uma passagem só de ida para nós três. - minha mãe declarou.

Isso fez tudo mudar, Eliza agora tinha um sorriso na face, e eu podia até sentir o cheiro do meu companheiro. Agora tínhamos, pelo menos, esperança de ajudar a nossa família, já que quando fomos na cidade, descobrimos que estavámos no hemisfério norte, e Luktend ficava no sul do hemisfério sul.

Foi tão surpreendente saber disso que nem tentamos estimar quanto tempo havíamos ficado como lobas. Entretando, acabamos por ver a data do dia - domingo, 28 de julho de 2013 - o que significava que havíamos ficados mais de dois meses fora.

Parei de pensar nesse longo tempo, porque estava me desesperando, queria ansiosamente revê-lo, além de que estava preocupada se ele havia me perdoado por largá-lo daquele jeito naquele dia.

O mais estranho dessa nossa "aventura" foi que me lembro, agora, perfeitamente de tudo que vivenciei. Por que eu me sentia tão vaca depois de tudo?

- Vamos Kristine! - Eliza me puxou, tínhamos que comer antes de irmos para o aeroporto.

Era isso que havíamos combinado, mas me sentia desconfortável... Não sei se por ter traído a pessoa que mais amo no mundo, ou por ter encontrado a minha mãe depois de tantos anos, ou pensar que enquanto estamos comendo, a alcateia pode estar em perigo.

Quando dei por mim, as duas já haviam me arrastado até uma lanchonete, o lugar cheirava a um suculento hamburguer, fiquei morrendo de fome e consegui deixar o extresse um pouco de lado.

Pelo menos eu acreditei nisso, até a Eliza ir ao banheiro, deixando eu e minha mãe a sós. Primeiro, fiquei calada enquanto minhas pernas batucavam por de baixo da mesa, como sempre, Stefany - observadora demais - percebeu.

- Kristine, você está bem? - indagou com sua voz doce.

- Estou... Só um pouco preocupada. - respondi com um rápido sorriso.

Então, ela se levantou e veio se sentar ao meu lado, e com um sorriso sincero forçou-me a contar a verdade. Detalhe que Stefany nem precisou abrir a boca, realmente, ela só podia ser a minha mãe.

- Eu devo tê-lo machucado, além de que não sei se ele me perdoará pelo o que fiz. - meus olhos se encheram de lágrimas. - E a alcateia é minha família agora... E eu não posso perdê-los assim como eu perdi você, o papai e a Tia Ju...

Comecei a chorar, algumas pessoas me olhavam espantados e outras fingiam que nada estava acontecendo. Minha mãe me abraçou devagar fazendo eu me encostar em seu peito enquanto afagava o meu cabelo... Tudo igual de quando eu era pequena.

O passado só me fazia chorar mais, parte de mim queria nunca ter me separado deles, mas uma outra compreendia e agradecia por eu ter conseguido chegar onde estou hoje. E no fim, eu só esperava conseguir sair dessa encruzilhada.

- Desabafar é sempre bom... Você não se lembra que seu pai vivia dizendo isso? - ela deu aquela risadinha de quem estava com saudades.

- Você também está preocupada com ele, não é? - enxuguei as lágrimas ao mesmo tempo em que parava de chorar.

- Eu sempre estou... Você sabe como seu pai é. - revirou os olhos e depois me fitou com um sorriso. - Mas não importa como eles sejam ou com quem estejam, um lobo unido é um lobo apaixonado... É muito difícil você conseguir "laçar" um lobo, na nossa espécie não existe esse negócio de forçar um macho a casar.

No começo, não entendia aonde ela queria chegar, por isso deixei que ela prosseguisse.

- O que estou tentando dizer, Kristine, é que se ele se uniu com você é porque te ama de verdade, e tenho certeza que assim como eu, você escolheu um macho fiel e que você ama do mesmo jeito que ele te ama. - minha mãe comentou me deixando sem palavras. - Além de que, pelo que vocês me contaram, eles sabiam que isso ocorreria, portanto ele nunca iria te julgar.

- Você fala como se estivesse falando do papai. - murmurei.

- Mas isso vale para seu pai também. - ela riu. - Eu sempre fui muito instável... Acho que você se lembra, não?

Sim, eu me lembrava, de todas as suas crises, e de como meu pai nunca desistia dela, não importava o que ela fazia, nós dois sempre a recebiamos de braços abertos.

Foi quando finalmente entendi o que ela me dizia.

- Obrigada, mãe. - abracei-a com força. - Você é a melhor.

- Pensei que nunca mais fosse escutar você me chamar de mãe. - havia mágoa em sua voz.

- Mãe, por que você e o pai foram embora? - talvez não fosse a hora certa de perguntar, mas estávamos nos abrindo uma para a outra, e eu sempre quis saber a verdade da boca dela e dele.

Ela mordeu o lábio inferior enquanto eu me afastava de seus braços para ver melhor a sua expressão, era uma mistura de arrependimento e medo. Eu já ía falar para ela esquecer sobre a minha pergunta, contudo, Eliza chegou apressada com uma cara de louca.

- Kristine, Kristine! - ela pulava em pé.

- Calma, Eliza. - esperei que ela se sentasse e ficasse parada na cadeira. - Pode falar... O que foi?

Enquanto Eliza respirava para me contar algo, minha mãe aproveitou para ter um tempo só dela. Eu era mesmo a sua filha, nós duas tínhamos o nosso mundo da lua.

- Só me toquei agora, como pude não perceber?! - ela mexia no cabelo, despenteando-se.

- O que você não percebeu? - indaguei já contagiada pela sua angústia.

- Se nós ficamos dois meses fora, o filho da Lorena já deve ter nascido! 

Amaterasu do Céu! Elizabeth estava completamente certa, o bebê da Lorena estava "programado" para o final de junho e nós já estávamos no final de julho.

Agora, tínhamos mais preocupações do que antes, mas de algum modo, eu sabia, na verdade, eu acreditava que a nossa alcateia jamais seria destruída. Porém, não foi essa confiança que me deixou comer, e sim o pensamento de que eu deveria estar bem para poder ajudá-los.


Notas Finais


E então? Alguém imaginava que isso ocorreria? haha!

Espero que estejam gostando e ainda teremos muitas surpresas!


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