História O Cheiro da Lua - Pesadelo

Mais um começo de semana, mas dessa vez, eu não iria passar a manhã de segunda-feira sozinha. Triton não estava muito feliz com o meu pequeno trabalho para a alcateia, porém consegui convencê-lo ao dizer como era importante conseguir um antídoto para aquela substância.

- Patrick já deve estar vindo. - comentei ao ver como Kaya estava ansiosa. - Você está bem?

Ela parecia mais nervosa do que o normal.

- Estou bem, na verdade, ando um pouco preocupado com a Des. - confessou.

- Por quê? - será que ela havia se machucado e eu não sabia disso?

- Ela anda mais estressada, e comendo muito... - comentou. - Às vezes penso que ela está grávida, mas não tenho coragem de dizer isso a ela.

- E por que não? - Destiny era tão assustadora assim? Não parecia.

- Sei lá... Vergonha... Ou tenha medo de deixá-la muito esperançosa e não ser nada.

- É... Acho que você está certa. - assenti.

A porta do laboratório foi aberta, Patrick sorria e piscou para mim.

- Bom dia! - ele se espreguiçou e veio me ver. - Como está a minha grávida favorita?

Enrubesci, Patrick sempre me deixava sem jeito na frente dos outros.

- Ela está ótima e pare de fazer isso com a coitada. - Kaya cruzou os braços. - Você não ía nos ajudar?

- Eu vou. - seu sorriso não havia sumido. - Me expliquem melhor o que devo fazer...

Explicamos detalhadamente como pretendíamos fazer um antídoto e como Patrick tinha um papel importante no processo. Sem demora, começamos a trabalhar, e a todo momento ou Kaya ou Patrick me paravam para perguntar se estava tudo bem e se eu não queria dar uma descansada.

Recusei todas às vezes, dando-nos mais tempo de pesquisa, coleta, avaliação e testes, e por sorte conseguímos, depois de inúmeros testes, fazer o antídoto corretamente.

- Nossa, já são duas horas da tarde! - Patrick levantou com tudo das cadeiras onde descansávamos. - Kristine, você vem comigo, precisa almoçar!

- Verdade! - Kaya também se levantou. - Onde já se viu uma grávida ficar todo esse tempo sem comer... Se o Triton descobre...

- Ele tira o meu couro. - Patrick engoliu em seco. - Vamos logo, safadinha.

- Não sou safada. - resmunguei e me levantei. - E ele não vai saber porque ele está trabalhando...

- Amaterasu é pai! - Patrick sorriu e pegou em minha mão. - Comer, agora!

- Tudo bem, já estou indo... Só não me faça correr. - choraminguei.

- Pare de maltratá-la, Patrick! - Kaya veio logo atrás de nós.

- Eu não a estou maltratando. - riu. - Só que esse loba aqui é tão teimosa que é preciso pulso firme!

- É, nisso você tem razão... - Kaya riu. - Ahh... Preciso ir, Oleif vai almoçar comigo hoje, cuidem-se! - ela acenou e partiu para o outro lado assim que saímos do local.

- Vamos até em casa, Alice quer muito te ver. - Patrick foi me guiando até a sua casa.

Não reclamei, apenas respirei fundo porque já sentia o corpo cansado. Continuamos andando até chegarmos a uma casa bem parecida com a minha, a diferença eram os tipos de flores que haviam no jardim da frente.

Alice veio nos atender, deu-me um grande abraço e me convidou para entrar, o cheiro do almoço fez meu corpo se arrepiar, por sorte, já estava na mesa e logo começamos a comer.

*

Sempre soube que Alice era uma pessoa maravilhosa, e hoje havia sido provado que ela era a loba mais bondosa que já havia conhecido. Depois de almoçarmos, Patrick voltou ao trabalho enquanto nós duas ficamos conversando no jardim da frente.

- Você cozinha muito bem. - sorri agradecendo-a mais uma vez.

- Obrigada. - ela corou.

Alice era da minha altura, parecia uma boneca com seu cabelo preto e olhos verdes, quem a via achava que tinha menos de trinta anos, porém ela é mais velha do que Triton, mais ou menos uns cento e vinte anos mais velha.

- Vai ser hoje à noite, certo? - perguntou olhando para frente. - O chá de bebê.

- Sim, por volta das sete e meia que já deu tempo do Triton chegar e se arrumar. - expliquei. - Você vai, não é?

- Mas é claro! - riu e me fitou. - E o Patrick disse que não perderia isso por nada, todos os dias ele fala sobre a sua gravidez...

-Alice, vocês dois serão um dos casais que pretendem se unir no ano que vem? - indaguei observando sua reação.

Suas bochechas ficaram bem vermelhas e ela as cobriu com as mãos, depois ficou mexendo no cabelo e olhou para os próprios pés.

- Sim, nossa união será a primeira... - sorriu levemente.

- Que maravilhoso! - comecei a rir. - Posso te ajudar a escolher o vestido?

- C-Claro! - ela riu comigo. - Mas você não pode exagerar, hein?

Seus olhos passaram demoradamente pela minha barriga.

- Ainda não dá para saber que você está grávida, isso é bom. - afirmou. - Assim você não tem que aguentar perguntas de humanos estranhos...

- Nunca pensei por esse lado... - murmurei. - Mas é verdade... 

- Mas você já esta diferente, sabia? - declarou. - Seu sorriso, seus olhos e seu cheiro indicam que você amadureceu bastante e que essa criança vai ter uma ótima mãe.

- Obrigada. - corei levemente.

- E um pai bem protetor. - ela segurou o riso colocando a mão na frente da boca. - Triton também vem amadurecendo... Desde que você chegara com ele...

- Você acha? - fiquei pensando no que ela dissera.

- Sim, ele era muito diferente antes, só que uns meses antes de pegar aquela missão na sua cidade, ele já estava mudando, ficando mais responsável, sabe? - explicou. - E então, cinco anos se passaram e você surgiu com ele. Todos da alcateia notaram a mudança nele, por isso ficamos tão intrigados sobre você.

- Hmmm... Por isso na cerimônia de apresentação eu me senti muito observada. - comentei. 

- E deve ter sido por isso que a Me... Aquela mulher tentou te machucar. - sua voz era raivosa.

Era algo surpreendente ver Alice com raiva de ninguém, mas não era para menos, Melissa foi a loba mais biscate e nojenta que houve aqui.

- Desculpe. - ela respirou fundo. - Já melhorei.

- Nada. Tudo bem.

- É que sabe... - ela desabafou. - A Melissa sempre soube que eu gostava do Patrick, aliás, só ele não sabia! Mas voltando, ela ficava dando beijinhos nele sempre que eu estava por perto.

Conseguia imaginar a cara de safada que a Melissa devia fazer enquanto provocava a pobre da Alice.

- Então, um dia ela dormiu com ele! - rosnou. - Peguei os dois fazendo sexo no sofá da casa dele!

- Nossa... E o que você fez? - arregalei os olhos, eu teria arrancado o coração dela e castrado o infeliz.

- Bom... Eu não era namorada dele nem nada, então eu saí, mas Patrick veio se desculpar no dia seguinte e então eu falei o que sentia por ele...

- Espera aí... Vocês só ficaram juntos quando eu entrei aqui... - pensei. - A Melissa transou com ele enquanto eu era daqui?

- Ahan. - era nítido que ela ainda estava magoada com isso. - Mas então o Patrick me disse que não imaginava que eu o amasse e pediu perdão, e queria compensar... Eu disse que não precisava, mas ele me fez uma surpresa... Preparou um jantar na minha casa.

- E vocês começaram a se acertar... - sussurrei feliz por ela. - Que bom, certo?

- Mais do que isso, nesse dia ele disse que sentia algo por mim, mas que nunca achou que uma loba tão mais velha fosse dar uma chance pra um novinho como ele.

- Ele nem é tão novo assim. - protestei. - Homens!

- Não é? E aí eu o ataquei. - ela corou de novo. - E acabamos ficando juntos, e para provar que me amava ele sempre me abraçava quando a Melissa chegava e até chegou a brigar com ela... Para me proteger. - seus olhos brilharam.

- Vocês são um casal muito fofo. - fiz um biquinho.

- Fofo? Você já viu você e o Triton juntos? Ainda mais agora que vocês terão uma filha? - ela riu.

- Por quê? - fiquei meio sem jeito.

- Mais fofo que vocês, impossível. -continuou rindo.

Depois disso, comecei a rir com ela e Alice contou-me mais sobre as suas tentativas de fazer Patrick notá-la, realmente, ele era muito tapado.

*

Como esperado, Triton chegou em casa às seis horas e quarenta minutos, seu sorriso me aqueceu assim como seu carinhoso abraço.

- Estava morrendo de saudade! - sussurrou em meu ouvido. - Tudo certo?

- Também fiquei com saudade de você, minha noz gostosa. - fiz um bico e lhe dei um beijo rápido.

- Vou tomar um banho e já podemos ir... - sorriu e me soltou devagar. - Ou você quer tomar banho comigo?

- Não podemos nos atrasar. - bufei. - Você sabe disso, Triton Cerutti!

Ele riu e me deu um beijo na bochecha antes de sair correndo para o nosso quarto, revirei os olhos e fui comer alguma coisa antes de sairmos.

Assim que entro na cozinha, sinto April se mexer, está agitada agora que o pai chegou.

- Calma, April, papai só foi tomar banho, ele já vem mimar você. - digo, mas isso não a acalma.

Dou uma risadinha e abro a geladeira, pego requeijão e vou até a mesa onde está o pão, enquanto como, April continua o seu "showzinho". Ao terminar de comer, faço uma vitamina e bebo quase que dois copos.

Ouço o barulho do chuveiro sendo desligado, limpo a louça suja e depois foi até a sala, sento no sofá e imagino que ele já deve estar quase pronto.

- Triton? - chamo-o normalmente.

- Sim? - ele surge terminando de colocar a camiseta, rio da cena. - O que houve?

- Sua filha quer a sua atenção. - comento.

Senta-se ao meu lado e toca o meu ventre, daquele jeito delicado e amoroso.

- Oi, meu anjo, papai estava com saudade. - inclinei o corpo para trás enquanto Triton conversava com a April.

- Papai é um bobo. - sussurrei. 

Triton me fitou e depois beijou os meus lábios.

- Sua mãe está com ciúmes. - retrucou e deu um beijo na minha barriga. - Sabia, meu anjo, que a sua mãe é a loba mais linda do mundo?

- Eu vou cair para segunda depois que a April nascer. - comuniquei.

- Não seja boba, vocês serão lindas igualmente. - ele riu. - Infelizmente, temos que ir... Mas de noite, o papai vai te dar bastante atenção, viu meu amor?

Ele fica tão lindo quando fala com a April.

- Eu te amo demais! - segurei seu rosto e amassei seus lábios. - Mas temos mesmo de ir.

- Eu amo mais com toda certeza. - sorriu e se levantou. 

Então, saímos de casa, Triton me contou alguns detalhes do seu trabalho hoje e quando dei por mim, já havíamos chegado ao salão de festas. O único casal que já havia chegado era Lorena e Eric, e o pequeno Jonny também.

- Primeiro, eu pensei que vocês estivessem tendo relações sexuais, mas aí lembrei que não pode durante a gravidez, então imaginei que o Triton estava dando uma de papai com a sua barriga, estou certa? - Lorena sorria triunfante.

Triton ergueu uma sobrancelha enquanto Eric se desculpava pelo comportamento da mulher, Jonny estava dormindo e fazia sons de nenêm, quase o roubei de seu pai.

- Já arrumei tudo! - Lorena abriu as portas para entrarmos. - Muitas pessoas vão vir, pelo menos quem me confirmou com total certeza foi...

Deixei ela falando com o Triton enquanto pegava um pouco o Jonny, Eric me agradedeu pois já estava ficando com os braços cansados. O bebê havia engordado e estava tão lindo, seu cabelo se destacava um pouco mais agora, realmente, era de um castanho escuro.

Triton me abraçou por trás e beijou minha bochecha.

- Você pode até gostar dele, mas ele não será nosso genro. - bufou.

- Triton, não caia nas provocações da Lorena. - comecei a rir. - Jonny é um lindo bebê, e não sabemos se ele um dia irá querer algo com a April.

- Mas você consideraria a possibilidade... - resmungou.

- Sim. - continuei balançando o bebê.

- Mas eu não. - afirmou e me soltou. - Ponto final. - e saiu.

- Triton... - chamei-o, mas fui ignorada.

- Ihhh... O que houve? - Destiny surgiu ao meu lado.

- Des? - ergui o olhar e vi Travis, Kaya e Oleif. - Err... Oi?

- Como está a grávida da titia Destiny? - sorria. - Me passe esse Jonny um pouquinho... - estendeu os braços.

Já ía passá-lo quando Lorena o pegou do meu colo.

- Nunca! - ela rosnou. - Você quer sabotar o pretendente da April, não é?

- Meninas. - parei-as antes que a situação piorasse. - Posso pedir um favor a vocês, não falem mais sobre isso na frente do Triton, por favor.

Elas ficaram me encarando e já íam protestar.

- Ele precisa de um tempo... - Giulia surgiu já explicando. - Aliás, como você está, Kristine? Sven está morrendo de saudades sua!

- Ele ou você? - comecei a rir. 

- Os dois. - confessou. - Fernando o esta segurando e ele parece um retardado às vezes, sabia?

- Ahh, dando uma de pai que vai ensinar tudo e que o filho vai saber pegar muitas lobas? - Lorena revirou os olhos.

- Isso mesmo! - Giulia riu. - O Eric ficou assim também?

- Ficou...

- Vou te salvar... - Destiny me tirou dali.

- Obrigada. - olhei em volta, também haviam chegado o Patrick e a Alice, que me mandou um beijo.

- Nossa que fome! - Destiny parou ao lado da mesa de frios e fez dois lanches, achei que um era para o seu companheiro, mas me enganei, ela terminou um em dois minutos e o outro em mais dois. - Está delicioso, quer um? Vou fazer outro para mim...

- N-Não... Eu vou ver se peço para o... - achei o Charlie e a Hena. - Charlie falar com o Triton.

- Beleza! - ela voltou a comer.

Antes de passar pelo Charlie, puxei a Kaya e a cumprimentei.

- Errr... Eu acho que você deveria dar uma olhadinha e controlada na Des... - apontei.

- Puxa vida! - Kaya sorriu. - Estou indo lá agora, obrigada. - e correu ajudar a amiga.

Relaxei os ombros e achei Charlie tomando cerveja, cutuquei-o e primeiramente o agradeci por ter vindo no chá de bebê ao invés de já ter saído em sua lua de mel.

- Ei, Triton é meu chapa! - ele riu, parecia já estar meio bêbado. - Mas diga, você está com uma cara preocupada...

- Bom... Você pode ir conversar com o Triton um pouco, eu acho que ele está muito tenso ultimamente e acho que ele só irá conversar melhor contigo. - pedi.

- Opa, pode deixar que eu cuido daquele lobo mal-criado. - ele riu.

- Obrigada... Eu acho... - Charlie já havia ido atrás do Triton.

Virei-me e tomei um susto ao ver Patrick atrás de mim, ele sorria muito.

- Patrick, você está bem? - perguntei.

- Claro que estou. - seu tom era sério agora. - Só que preciso saber como você está se sentindo, porque se me lembro bem... Você ficou várias horas sem comer...

- Ah... Estou bem, de verdade. - afirmei. - Eu juro.

- Vou confiar em você. - ele acenou e foi em direção ao banheiro.

As pessoas estão enlouquecendo ou sou eu ficando mais normal? Respirei fundo e procurei por Lorena, ao invés disso, avistei um grupo conversando e sem querer querendo escutei a conversa.

Eram eles Elizabeth, Fernando(sem o Sven) e Gabriel, pareciam bem sérios e isso me deixou curiosa.

- Ele continua dizendo coisas sem sentido... - Eliza disse. - E eu ainda acho suspeito os seus ferimentos... 

- Eles foram causados por um alfa, certo? - Gabriel pensava. - E se ele tiver traído a sua alcateia ao invés de ter sido traído como ele nos contou?

- É uma boa suposição, mas isso nos deixa em apuros... - Fernando comentou. - Mas não podemos simplesmente largá-lo... Ele mal consegue andar ainda...

- Vamos esperar ele se recuperar, até lá o manteremos na enfermaria. - Gabriel explicou. - Não deixe que outros médicos lidem com ele, ouviu?

- Pode deixar... - Eliza assentiu. - Mas e quando a Lenalee?

- Temos que manté-la sobre controle. - Gabriel suspirou.

- Os dois, ela e o Rae. - Fernando bufou. - Sei que ela ainda está magoado com o que Will fez com ela, mas não quero deixar que ela se vingue...

- Vingança é um sentimento sujo... - Eliza concordou. - Lenalee não deve fazer isso...

De repente alguém toca em meu ombro e senti como se tivesse sido pega no flagra, mas me enganei.

- Pessoal, vejam quem eu achei! - Lorena estava definitivamente bêbada. - A grávida mais linda de todas!

Todos, sem exceção, olharam para nós, Eric juntou as mãos e me pedia perdão, Destiny, Giulia e Kaya caíram na gargalhada. Por sorte, a guangue das quarentonas ainda não havia chegado.

- Cadê a grávida? - ouvi a voz da Helena, ela estava abrindo a porta.

- Quero ser a titia dessa menina que vai ser linda! - Anne sorriu.

- Quem serão os padrinhos do bebê? - Angie gritou.

- Mal chegaram e já estão causando. - a voz do meu lobo surgiu atrás de mim. - Bom, é o seguinte... - gritou para todos ouvirem. - A Kristine é minha, e a April não vai namorar nenhum desses marmanjos aí!

- Triton! - belisquei-o. - Acalme-se.

- Só estou brincando, meu amor. - beijou-me na frente de todos.

Ai meu Amaterasu, ele também estava bêbado? Por quê? Então vi Charlie fazendo um sinal de positivo e dando uma piscadela.

- E então... Quem serão os padrinhos? - Hena pulava de ansiedade.

- Bom... Nós conversamos bastante e decidimos que os padrinhos da April serão... - falava.

- Giulia e Fernando! - Triton ergueu seu copo de ceveja.

- Viram só? - Giulia mostrou a língua para a Destiny e para a Lorena. - Sven está em primeiro lugar!

- Ora, sua... - Lorena já ía pular na loira quando Eric a segurou.

- Querida, controle-se. - Eric conseguiu acalmá-la enquanto Destiny segurava o Jonny.

A brincadeira continuava e eu comecei a rir sem parar, Triton colocou o copo em cima de uma mesa e me beijou mais uma vez, não era muito fã do gosto de cerveja, porém aquele beijo seria inesquecível.

*

Não consegui dormir, rolava na cama, aquela conversa estava na minha mente, instigando-me a investigar, mas eu não podia... Tinha que me preocupar com a filha que estava para chegar.

Depois de muito tempo, a mente perdeu para o cansaço e acabei adormecendo.


Estava de olhos abertos, mas não enxergava nada, ouvi sons bem longe dali, respirei fundo, tentei tocar em algo, achei paredes a minha volta. Tem de haver um final.

Levantei e caminhei, usando os lados como referência, cheguei a uma bifurcação, da direita ouvia gemidos e sentia o nojento cheiro de lobos dominantes famintos por sexo. 

Da esquerda, ouvi gritos apavorados e o cheiro de ar fresco, só havia uma escolha, atravessar tudo isso sem ser vista e sair daqui. Mas antes tinha de conferir algo, tateei minha barriga e senti April se mexer.

Graças a Amaterasu. Mas onde Triton estaria? Onde todos da alcateia estariam? Balancei a cabeça, tinha de sair dali primeiro.

Fui pela esquerda, os gritos ficavam mais altos e então o corredor começou a se iluminar, e ao invés de paredes de pedra, agora eram de vidro. Tremi, minha respiração parou e sufoquei um grito na garganta.

Eram as lobas da alcateia sendo torturadas, espancadas, estupradas... Então, alguns homens surgiram logo no começo do corredor.

- Peguem-na! - gritou o do meio, e os outros começaram a andar em minha direção.

- Esperem! - uma porta se abriu e um homem de cabelo negro que me era familiar saiu dela, um corpo de mulher caiu aos seus pés.

Não poderia ser... Minhas pernas falharam e quase arquejaram.

- Fuja, Kristine! - era a voz da Lenalee, mas seu corpo estava todo desconfigurado e uma poça de sangua começava a se formar em volta de seu corpo.

- Cale a boca, cadela! - ela a chutou, deixando-a muda.

- Por quê? - minha boca tremia.

- Nada pessoal, Kristine... - ele riu, e sua risada me fez correr para longe dali. - Não se preocupe, nós só queremos a sua filha! - gritou e comecei a correr mais rápido ainda.

Infelizmente, eu fui parada por três brutamontes, eles me arrastaram até uma sala de cirurgia. Prenderam a uma mesa e o homem de cabelo negro entrou na sala, acompanhado de algum homem mais alto do que ele.

- Ela é toda sua. - sorriu maleficamente.

O homem tinha o rosto borrado, mas eu conseguia ver seu olhos sedentos por morte. Pegou uma bisturi e começou a rasgar a minha barriga, a dor era insuportável, gritei com todas as forças, chorei pedindo que deixasse minha filha em paz.

Só ouvia a risada do outro, que tinha prazer em me ver sofrer... Senti mãos dentro de mim e logo vi April pré-matura em suas mãos. Esperneei, tentei me soltar, mas já havia perdido sangue demais, usei toda a minha força.

O homem de cabelo negro pegou April no colo e acenou me dando tchau.


Acordei gritando e chorando, completamente histérica, minhas mãos trêmulas apalparam o meu ventre, April ainda estava ali. Só então notei que Triton estava ao meu lado, eu estava em transe, não conseguia nem ouvir a sua voz... Até mesmo seu toque, eu não reconheci.