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História O Cheiro da Lua - Fim do tormento


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Sinto muito pela demora, é que estou com alguns problemas familiares.

Boa leitura.

Capítulo 91 - Fim do tormento



Todos os dias eram iguais, eu e Lindsey ficávamos em casa... Cozinhávamos, plantávamos, víamos televisão, limpávamos, jogávamos, mas nunca saíamos da casa, e sempre tínhamos algum roxo pelo corpo.

E contávamos cada um dos dias, hoje, fariam exatamente cinquenta e dois dias que eu estava nesta alcateia e cinquenta e quatro que não sentia o toque do meu companheiro.

Havia descoberto que era uma distância de dois dias da minha alcateia até esta, e com a ajuda de Lindsey sabia que hoje era um domingo, dia dezesseis de fevereiro. Também sabia que havia alguma cerimônia muito importante neste dia, Daniel disse que nos buscaria às cinco horas da tarde.

Já havia passado o almoço e nós duas já tínhamos tomado banho, mas a ideia de sair da casa nos assustava, ver os outros lobos me fazia tremer, e Lindsey tinha pavor de andar por eles.

Entretanto, pensei que conseguiria ver as minhas amigas, as quais só sabia que estavam vivas por cartas, Lindsey também me ajudou nessa parte.

- Sua barriga cresceu muito. - a loira admirou-me. - Quando estava prevista para nascer?

- Final de fevereiro. - suspirei.

Triton tinha de me achar a tempo, cada dia que passava era crucial, sabia que logo April nasceria... Mesmo que não tivesse feito mais nenhum exame desde aquele dia.

- Que horas são? - indaguei. - Você não deveria ter tomado banho já?

Lindsey colocou a mão na cabeça, ser responsável não era uma das suas habilidades, tive de rir do seu completo esquecimento de algo tão básico.

- Ele vai me matar se chegar e souber que ainda não estou pronta! - ela corre para o banheiro do quarto de Daniel e bate a porta. - Foi mal! - grita se desculpando pelo barulho.

Eu era grata a essa garota, meus dias podiam ser uma merda, mas com a companhia de Lindsey, eles eram uma merda compartilhada... O que ajudava bastante.

E enquanto ela tomava banho, andei até um espelho que havia no quarto e me observei, estava mais magra deixando minha barriga de grávida ainda mais evidente, tinha olheiras profundas - e Daniel ordenou que nós duas tínhamos de parecer rainhas na cerimônia de hoje - agora como esconderia essas marcas?

Um lado do meu rosto ainda estava um pouco inchado do tapa que levara hoje cedo, meus braços e pernas continham alguns roxos, já Lindsey estava com dois dentes quebrados e mais algumas marcas de agressões.

Por ser bem jovem, a loira se recuperava em apenas dois dias, porém eu estava vivendo por dois e ficava mais fraca a cada dia. Aliás, foi por isso que não dormi noite passada, tive um dos meus piores pesadelos.


April estava nascendo, havia inúmeros lobos a minha volta, nenhum deles se mexia ou falava, reconheci os olhos escuros assustadores de Daniel. E quando ela, finalmente, nasceu... Meu corpo foi parando aos poucos, não tive nem força para segurá-la, para protegê-la quando eles a levaram de mim.


- Kristine? - a doce voz de Lindsey me ajudou a respirar de novo. - Você não anda nada bem... Estou preocupada.

- Não se preocupe comigo. - minto. - Bom, vamos nos maquiar, seu pai foi bem claro quando disse nada de marcas.

Ela concordou e me puxou até o seu quarto, que era onde guardávamos as coisas mais femininas e também onde ficavam nossos pequenos segredos que escondíamos do alfa.

*

A atmosfera estava sufocante, o jantar estava sendo em uma mansão que ficava ao lado da floresta, Daniel explicou a todos que os donos abandonaram a casa e ele a arrumou para esta ocasião.

Mas eu só queria saber das minhas amigas e demorei a encontrá-las, isso porque ambas estavam tão diferentes quanto eu. Destiny tinha perdido seu olhar de batalhadora, agora estava magra e seus olhos - mel e azul - perderam todo o brilho.

Elizabeth foi o mais horrível de se ver, seu longo cabelo loiro estava cortado, e suas mãos tremiam involuntariamente, também estava magra como Destiny.

Pensei que fosse chorar, mas Lindsey segurou em minha mão passando forças, quebrar na frente do alfa e de toda a alcateia me tornaria um alvo mais fácil do que já era.

- Obrigada. - murmurei.

Ela sorriu em resposta, e então Daniel estendeu a mão para nós, receosas, levantamos com cuidado.

- Hoje, nesta noite de lua crescente, devo apresentar formalmente a minha mulher, Kristine, e a minha filha, Lindsey! - os lobos aplaudiram enquanto as lobas permaceram sentadas. - E nesta cerimônia devemos fazer com que elas se sintam bem vindas!

Silêncio. Todos os lobos sorriam, as lobas antigas da alcateia tremeram chorando, eu e Lindsey nos entreolhamos, infelizmente, nenhuma de nós fazia ideia do que aconteceria.

- Você primeiro, alfa. - aquele chamado Kevin mostrou os caninos.

- Certamente. - Daniel me encarou e eu pensei em fugir, minhas pernas quase se viraram, mas sua mão segurou por de trás do meu pescoço. - Onde pensa que vai?

Sua outra mão tocou a minha barriga, de longe, senti a loba de Destiny acordando furiosa. Não podia deixar que ela atacasse, se não, eles também a matariam assim como fizeram com Jule.

- Sabe, ainda não pensamos no nome da nossa filha. - seus olhos estavam fixos nos meus.

Por isso tenho certeza que ele soube a íra que senti naquele momento, porém não tinha como fazer nada, e isso o divertia.

- Kristine, você é uma loba bem difícil de domar, mas depois de algumas lições você até que entendeu bem. - sorriu maliciosamente. - Mas o que foi mesmo que eu disse sobre o desrespeito em público?

Consegui colocar um braço na frente evitando o tapa que viria, Daniel rosnou e me jogou longe, por sorte bati com as costas em algo fofo... Era um sofá.

Uma dor aguda tomou o meu corpo, e eu sabia o que era, April estava se preparando para nascer.

Elizabeth foi a primeira a perceber, e sem demora, passou um rápido sinal a Destiny, a vitalidade das duas havia voltado. Lindsey não ficou para trás, e assim que a loba de Destiny despertou, sua mão arrancou o coração do homem chamado Brad.

Kevin foi o segundo a morrer, Elizabeth girou e quebrou seu pescoço sem pensar duas vezes.

- Não mecham com a nossa família! - rosnou e veio correndo até mim.

Entretanto havia mais cinco lobos sem contar o alfa, a loira teve de cuidar de outros dois enquanto Destiny era cercada por três. Tentei levantar, mas a dor estava ficando mais forte, com o meu corpo se contraindo.

- Sua cadela! - Daniel me levantou pelo cabelo. - Acha que pode fazer uma rebelião? Não na minha alcateia, sua vaca!

Em seus olhos eu vi uma vontade assassina de me punir, usei os braços para proteger April e fechei os olhos, porém nada aconteceu. Ao abrir os olhos senti meu cabelo ser solto e com dificuldade mantive-me em pé para ver Lindsey grudada as costas do pai.

Ele urrou de raiva e conseguiu agarrá-la pelos ombros jogando-a em baixo de si, chutou sua cara e o sangue espirrou em mim, queria ajudá-la... Mas meu corpo não tinha condição e minha mente estava sendo destruída aos poucos.

- Ela é sua filha! - gritei com as últimas forças. - Deixe-a em paz!

- Não preciso dela, agora terei uma nova filha! - rosnou em resposta.

Em um movimento rápido, Daniel se ajoelhou ao lado dela e lhe enfiou a mão no peito.

- PARE! - nunca havia gritado tão alto.

Mas ele não parou até arrancar o coração da jovem e jogá-lo em minha direção.

- Pense nisso como um presente para a nossa filha que logo nascerá. - deu as costas rindo e foi se encrencar com as minhas amigas.

Minha loba rosnou enquanto eu chorava, meu canino ficou a mostra enquanto ela se arrepiava, ela mostrou as garras enquanto eu levantava o rosto.

- April nunca será a sua filha, porque o pai dela é Triton Cerutti! - gritei uma última vez, deixando as lágrimas tomarem meu rosto...

- O que disse? - Daniel voltou a me encarar, pois percebeu que o fato de eu confrontá-lo estava diminuindo a sua autoridade na alcateia. - Sua cadela vababunda!

Seus pés se viraram, Destiny enfiou um pedaço de madeira no homem mais próximo, Eliza limpava o sangue que havia espirrado em seu rosto. E eu... Preparei-me para proteger a minha filha até o último segundo de vida.

*

Havia sido apenas uma piscada e tudo ocorreu, de repente, a porta havia sido arremesada até o outro lado da casa. Meu olfato estava péssimo e mesmo assim eu o senti, o cheiro de nozes.

Foram dois lupinos que estavam parados na porta, seus olhos eram brilhantes como lobos caçando, seus caninos brilhavam com a claridade da lua, e ambos emanavam uma aura de violência.

Travis e Triton. Os dois fizeram todos os lobos restantes recuarem, amedrontados, apenas o alfa se manteve parado, mas sua respiração havia mudado, poderia estar petrificado de medo.

- Quem os matar ganha o direito de ter a próxima cria da alcateia! - Daniel bravejou.

E os lobos ganharam coragem de novo, mas nenhum dos dois se assustou, Travis foi o primeiro a atacar, matou dois deles com frieza, Destiny gritou seu nome e correu ao seu encontro.

Elizabeth queria vir me ajudar, sabendo da dor que ía e voltava no meu corpo, porém Daniel estava no caminho e ela, com certeza, não tinha chance contra o alfa.

Ouvi três gritos, Triton havia destroçado-os sem demora, ele sabia que eu estava ali, na verdade, seu olhar estava em mim neste momento e eu pude ver como seu lobo estava fora de controle.

Daniel partiu para cima de Triton, que rosnou fazendo o movimento do alfa perder a velocidade, segurou seu punho e o quebrou com facilidade.

- Eu o mataria bem devagar e do modo mais cruel do mundo. - Triton o alertou.

Meu corpo estremeceu, acabei caindo de joelhos ao lado do corpo de Lindsey, meus olhos se encheram de lágrimas e desatei a chorar. Não pude assistir ao resto da batalha, meu instinto sabia que Triton e Travis estavam sobre o controle selvagem de proteger a sua fêmea.

Não havia como eles perderem, e mesmo assim mantive meu olfato e audição centrados na batalha. Perdi a conta de quantos ossos de Daniel foram quebrados pelo Triton, também senti o cheiro do seu sangue, e ouvi os seus urros de dor.

Os rosnados de Triton e gritos de raiva faziam meu coração doer, odiava pensar que ele estava tão descontrolado, e pior ainda imaginar como havia sofrido todos esses dias. Por fim, o som do corpo do alfa caindo ao chão me fez abrir os olhos, e uma nova pontada me fez perder o ar.

Foi quando ele me abraçou, cheio de cuidado e amor, minhas mãos se fecharam em seu peito e só não chorei, pois havia acabado com as minhas lágrimas.

- Meu amor. - sua voz fez tudo parecer bem. - Fiquei tão preocupado com vocês duas.

Não conseguia falar, só me manteve grudada a ele, aproveitando do seu calor, então suas mãos ergueram a minha cabeça e deparei-me com os seus antigos olhos.

Os caramelos mais intensos do mundo, o lobo dele havia se acalmado razoavelmente, e seus lábios tocaram os meus suavemente. Como era bom ser beijada por ele, um beijo delicado e carinhoso.

- Está muito machucada? - sentia a raiva e a preocupação em sua voz.

Neguei, pois nenhum dos meus machucados eram permanentes, apenas talvez alguns pesadelos que teria futuramente, mas sabia que meu lobo estaria lá para me proteger.

- Kristine! - Eliza se colocou ao meu lado, Triton a encarou por um segundo e só depois a reconheceu.

- Elizabeth? - arregalou os olhos, mas isso não a abalou.

- O que você está sentindo? - perguntou a mim.

Parecia falar e a dor voltar, acabei mordendo a língua e cravando as unhas nas próprias mãos.

- O que aconteceu? - Triton me observou com medo. - Não me diga que... Agora?!

- Exatamente. Sua filha vai nascer agora! - Eliza respirou fundo. - Coloque-a deitada naquele sofá-cama, e tire a calcinha dela, por favor.

Por sorte eu estava de vestido, e agora a dor não parava, como se meu corpo fosse explodir. Triton segurava a minha mão e me mantinha respirando, já suava bastante quando Eliza chegou com toalhas, uma bacia com água e mais outras coisas.

Fechei os olhos sentindo que estava na hora, Eliza e Triton falavam comigo e não conseguia entendê-los muito bem, na minha cabeça pairavam as frases: força, não desista; você vai conseguir; só mais um pouco.

Quando abri os olhos de novo, a dor havia passado e um alívio enorme fez o mundo voltar a girar. Olhei para o lado, Triton estava segurando enrolado em uma toalha, um pequeno e delicado bebê.

- April... - consegui murmurar com um sorriso.

Meu companheiro estava querendo chorar, e com cautela, colocou a pequena em meu peito, ela se remexeu com os olhinhos fechados. E enquanto a admirava, senti meu corpo enfraquecer com o meu coração batendo cada vez mais devagar.

- Me prometa... - olhei dentro de seus olhos.

- Kristine, o que você... - ele já havia entendido tanto quanto eu que meu corpo havia sofrido demais para aguentar tudo isso.

- Que irá cuidar dela... Da nossa filha... - tentei tocá-lo, mas meus braços não me respondiam.

- Não faça isso! - as lágrimas que ele havia segurado, agora caíam sem parar. - Você não pode nos deixar!

- Eu sinto muito... - tentei não chorar. - Não queria que vocês sofressem... 

- Elizabeth! - Triton a chamou, mas mantinha os olhos em mim. - Não se desculpe, Kristine, viva!

- Eu queria tanto vê-la crescer... - uma lágrima me escapou. - Seria tão gostoso ter a nossa família...

Senti a presença da Eliza, porém não sentia suas mãos em meu corpo checando meu coração, e quando tentaram tirar a April de mim, Triton não os deixou.

- Não posso separá-las. - ele estava sendo forte por mim.

Eliza suspirou e se afastou, não havia nada que ela pudesse fazer por mim, não tínhamos nenhum equipamento, e eu havia perdido sangue demais.

- Por favor... Não me abandone. - implorou. - Posso estar sendo egoísta, mas não posso viver sem você... April não vai ser feliz sem você! - tocou a minha bochecha. - Não posso suportar perder mais ninguém... Eu te amo tanto, meu amor. - senti um leve roçar dos seus lábios na minha testa.

- Eu amo muito vocês dois. - foi a última frase que me lembro de proferir.

- Onde ela está?! - e foi a voz do meu médico a última coisa que ouvi.

*

Meus olhos se abriram devagar, uma fraca luz branca iluminava o lugar onde estava. Meu corpo ainda estava dormente, senti os lábios secos, impedindo-me de falar.

Consegui mover os dedos da mão, pelo menos não sentia dor alguma, então ouvi o choro de um bebê... E eu sabia de que bebê vinha. A porta se abriu e Triton entrou com April no colo, ela chorava manhosamente.

- Calma, meu amor. - a voz dele estava mansa. - Já vou te deixar perto da mamãe.

Quando sentou ao meu lado, Triton notou meus olhos abertos e ficou sem saber o que dizer, não resisti e comecei a rir de tanta felicidade. 

- Não fique com essa cara. - consegui dizer ao parar de rir, sentindo meus lábios doloridos.

Triton sorriu daquele jeito encantador e me ajudou a ergueu um pouco o corpo, depois colocou a pequena April em meus braços, os quais, fiz um esforço para mexer.

Era tão graciosa e pequena, e tinha alguns fios perdidos de cor castanha bem clara. E havia parado de chorar, seus olhos estavam fechados e sua boca fazia um biquinho... Era a nossa filha.

- Ela é linda. - ele disse sem jeito. - E não parou de chorar até agora...

Mantive-a bem perto de mim e sorri, as últimas semanas haviam sido difíceis, mas agora com a minha filha no colo, parecia que nada havia ocorrido.

- Quanto tempo fiquei desacordada? - perguntei sem tirar os olhos dela.

- Cerca de seis horas, seu corpo precisava de repouso e Patrick lhe deu uns dois litros de soro, eu acho. - explicou, tocando em minha bochecha.

- Acho que ela dormiu. - murmurei com medo de acordá-la.

- Você é mesmo mágica. - riu baixinho. - April não dormiu nem parou de chorar desde a hora que chegamos a alcateia. 

- Estamos em Madoch? - fitei-o surpresa. - Mas como? Em apenas seis horas?

- Viemos de helicóptero, Fernando que providenciou. - comentou me admirando.

- O que foi? - corei de leve.

- No dia em que levaram vocês, eu entrei em pânico, Travis e eu tentamos achar qualquer pista ou cheiro, mas eles haviam encoberto bem os rastros. - ficou cabisbaixo. - E quando fui notar, já não era mais eu mesmo e eu achei que nunca mais fosse voltar ao normal.

- Mas você voltou... Aqui ao meu lado, é o lobo por quem me apaixonei, o homem a quem confiei a minha vida, e o lupino que é pai da minha filha. - afirmei fazendo-o erguer a cabeça.

- Voltei por você... Quando ouvi você dizer meu nome e depois senti seu cheiro, pareceu que a minha humanidade havia voltado. - declarou. - E te tocar foi tão bom... - seus lábios tocaram levemente os meus.

Mesmo ressecados, pude sentir a delicadeza de seu toque, sorri e April se remexeu, mas ainda dormia.

- Ela já se alimentou? - ergui meu olhar e Triton negou com uma cara preocupada.

- Ela é teimosa igualzinho a você. - fingiu resmungar. 

Então ela choramingou e algo me disse que a pequena estava com fome, sem pensar duas vezes, eu a aproximei de meu peito e rapidamente, April entendeu que era dali que seu alimento saía.

- Nisso, tenho certeza que ela me puxou. - ele brincou e beijou a minha testa.

Os pequenos olhos de April se abriram e seus dedos envolveram o meu polegar, segurei-me para não chorar, ela era tão pequena e delicada.

- Ela ganhou os seus olhos. - sussurrou.

April tinha lindos olhos azuis iguais aos meus, sorri de leve e observei a pequena, senti os olhos caramelos de Triton me encarando.

- Como está se sentindo? - sua voz continuava bem doce.

- Bem... Nenhuma dor, só o corpo meio mole... - deu de ombros. - Mas e você? A quanto tempo não dorme? 

- Eu não sei. - admitiu. - Sabe, aquele dia que você foi resgatar a sua "amiga" já foi muito difícil, mas você logo estava de volta... Depois quando você sumiu por causa da bruxa, tínhamos feito uma promessa então isso meio que acalmou as coisas... Mas dessa vez, você tinha sido levada, sabíamos disso...

- Eu estou aqui agora, meu amor. - murmurei. - Nós duas estamos.

- E nunca mais vou deixar vocês serem levadas de mim. - ele estava sofrendo, mas se mantinha forte.

- Guardar toda essa dor não vai ajudar em nada, Triton. - avisei-o. 

Foi tudo o que ele precisava para chorar, sua mão segurou a minha mão livre e suas lágrimas não paravam de cair. Não disse nada, só deixei que ele colocasse tudo para fora.

*

Depois de uma bateria de exames de sangue, Patrick me liberou, deixando-nos ir para casa. Triton já estava mais calmo e levava a sonolenta April, enquanto eu andava ao seu lado.

Incrivelmente, meu corpo voltou a me obedecer logo depois que April terminou de mamar, porém Patrick ordenou que ficasse em repouso por pelo menos uma semana. 

E mesmo sabendo que muitas pessoas queriam ver eu e a April, pedi a Triton que nos desse um tempo para respirar, queria deitar na minha cama, cozinhar na minha cozinha, dormir com o meu lobo e ver televisão com a minha filha no colo.

Entretanto seria impossível não aceitar a visita da Lorena e da Giulia que vieram com seus lobos e filhos. 

- Ai meu Amaterasu! - Giulia sentou ao meu lado no sofá. - Ela é linda demais!

- Claro que ela é linda, é minha filha. - Triton parecia um macho que havia vencido uma batalha.

- Menos, Cerutti. - Lorena revirou os olhos e sentou ao meu lado também. - Então essa coisa gostosa será minha nora?

- Nem nos seus sonhos. - Triton expremeu os olhos e achei que ele fosse tirá-la de mim, mas se conteve.

- Meninas, parem de provocá-lo. - ri e segurei a minha pequena mais firmemente.

- Calada, Lorena. - Giulia sorriu. - Kris, posso pegar um pouco a minha afilhada?

- Claro. - deixei que ela pegasse a April.

Jonny e Sven estavam nos colos de seus pais, Triton parecia impaciente, mas respirou fundo e levou seus amigos para a cozinha. E enquanto Giulia estava realizada, Lorena morria de ciúmes.

- Também quero segurá-la. - fez um bico.

- Já chega a sua vez. - Giulia riu e mostrou a língua para a morena.

Lorena se levantou e rosnou, mas eu a encarei e isso a fez se acalmar.

- Não é justo. - cruzou os braços se sentando.

- Calma, Lo, você já vai segurá-la. - suspirei.

Depois de alguns minutos, Giulia passou cuidadosamente a minha filha para a Lorena, seus olhos brilhavam assim que April abriu os lindos olhos azuis.

- Meu Amaterasu! Ela tem os seus olhos. - afirmou animada. - E me parece que ela tem o cabelo do Triton.

Era verdade... O tom castanho bem claro era semelhante ao de seu pai.

- Lorena do céu! - Giulia apontou para o braço dela. - O que houve?

Havia um roxo enorme em seu antebraço, e de repente, minha mente não estava mais ali.


Estava na cozinha, lavando os pratos que haviam restado, o cheiro de sangue ainda estava fresco, minhas mãos doíam, mas continuei trabalhando.

Lindsey veio me ajudar, um dos seus braços quebrados e outro com inúmeros roxos.

Tudo isso por causa de uma simples discussão.



Eu estava tremendo e não conseguia falar, Lorena e Giulia tentaram me ajudar, mas não conseguiram. Tiveram de chamar o Triton que imediatamente me abraçou.

Encolhi-me em seu peito tentando me esquentar, ele dizia algo, mas estava apavorada demais para entender. Só conseguia pensar em Lindsey e como havia visto a sua morte sem poder fazer nada.

- O que foi, meu amor? - ele notou que eu chorava. 

- N-Nada. - menti.

Então sem eu notar, só havia ficado na casa, eu, Triton e April em seu berço azul. 

- Olhe para mim. - pediu. - Kristine, olhe para mim.

Devagar, ergui o rosto, seus olhos me deram a força para falar a verdade.

- Ela morreu na minha frente... Tentando me salvar. - mais lágrimas chegaram. - Não pude fazer nada por ela, Triton.

- Ei, o que aconteceu foi horrível... Eu não posso imaginar pelo que você passou... Mas é passado, meu amor... - acariciou o meu rosto. - E nós a enterramos apropriadamente.

- Obrigada... - foi tudo que pude dizer naquele momento.

Triton sorriu, como sempre me compreendendo e me ajudou a levantar, devagar fomos até o nosso quarto, ele quem foi empurrando o berço de April que se mexia sem parar.

- Acho que ela quer o colo da mãe. - sussurrou em meu ouvido.

Deitei e Triton colocou April no meio de nós dois, e ele me assegurou que depois que eu dormisse, ele a colocaria de volta no berço... Era perigoso que a esmagássemos.

- Triton. - chamei-o assim que a pequena parou de chorar. - Você vai ficar bravo se eu conversar com você agora sobre tudo?

- Não. - fitou-me sério. - Pode falar... Como você mesma disse, não pode guardar tudo sozinha.

- Obrigada. - respirei fundo e lhe contei tudo, cada detalhe, cada sentimento, cada dor e cada vontade.


Notas Finais


E aí? Finalmente acabou, hein?

Gostaram da pequena April?


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