História O clã - Interespecies - O humano

PASSARAM-SE QUINZE ANOS DESDE O meu primeiro assasinato quando, num fim de tarde quente de verão, no início de março de 1999, quando acordei encontrei um embrulho em cima da minha poltrona de leitura preta, de couro italiano. Junto com o embrulho, encontrei um bilhete:

         Trouxe um presente para você. Quando voltar, á noite ,quero ve-la vestindo isso. Tenho uma missão muito importante para lhe dar.

                                                                                        Com amor,

                                                                                               Adam

         Abri o embrulho. Se tratava de uma blusa preta justa, sem ombros, porém com mangas, um espartilho vermelho, rendado em preto, uma calça de cotton preta,um cuturno de cano médio preto. Mas, o que mais me surpreendeu, foi encontrar uma capa de caça preta, de couro, com o escudo do clã bordado nela.

         Me vesti. A ideia de sair daquele exílio, e de cumprir uma missão dada por Adam, me deixou bastante animada. Era uma roupa de caça, o que não queria dizer necessariamente que eu caçaria. Ou será que queria?

         Antes que a ansiedade me consumisse, o sol se pôs e Adam chegou.

         -Você está tão linda! - disse ele, com um olhar paternal.

         -Vamos deixar a converssa de lado? Não vejo a hora de sair daqui - eu disse, mais secamente do que pretendia.

         - Claro, deve estar ansiosa. - disse Adam, e quando já estávamos do lado de fora: -Vamos correndo, quero ver o que você consegue fazer.

         Corremos. Não foi dificil alcançar Adam. Sabia que ele estava facilitando para mim pois era muito mais veloz do que aquilo. Chegamos a uma casa grande, no topo de uma pequena colina. Em volta havia campos com gado e plantações, Era uma linda e calma morada de interior. Antes de mais nada, Adam olhou para mim, imprecionado e disse:

         -Você é bem veloz.

         Adam entrou na casa pela janela, e eu o segui. A janela deu em um quarto, onde dormiam duas crianças humanas recém-nascidas. Caminhou até o berço de uma delas. Quando o encarei, percebi que se tratava de um menino. Nunca tinha visto algo tão pequenino e frágil.Quando vi aquele menino, algo mudou em mim. Senti uma ternura enexplicável. Um tipo de amor que não sabia que existia. De repente, nada parecia ter importância diante daquele momento com aquela criança humana. Peguei o menino em meus braços.

         -Quero que cuide dele para mim. - disse Adam, enquanto eu embalava a criança humana, que dormia profundamente.

         -Claro! - eu disse, sem conseguir esconder o sorriso. - Ele está em perigo?

         -Não. Quero que cuide dele justamente para evitar qualquer situação perigosa.

         -Será que eu posso saber por quê?

         - Cristtie, compreenda que eu não posso te dizer nada agora. É para a segurança de vocês dois.

         -Ele tem nome?

         -Desculpe, ia me esquecendo. Se chama Roger.

         -É um belo nome.

         Adam me deixou ficar mais um tempo com Roger nos braços,mas depois do que me pareceram segundos,ele disse:

         -Está na hora de ir. Não é seguro para nós ficarmos aqui, os pais dele podem chegar a qualquer momento.

         -Posso vê-lo amanhã?

         -Claro! Poderá vê-lo todas as noites.Hora de ir.

         -Vou voltar para o exíio?

         -Não, você vai caçar comigo, depois vamos para casa.

                                                  ***

         A caçada foi produtiva. Adam continuou se surpreendendo com minha capacidade. A guerra de verdade havia acabado. Os humanos podem achar estranho o jeito como acontecem as guerras entre os clãs. Acontecem pelos motivos mais fúteis e acabam da maneira mais estranha possivel. Sempre quase sem ressentimentos. Quanto a mim, meu pai disse a Cesar que me escondeu pois eu era humana, mas que eu fui transformada depois por ele. Ele disse que me mandou para a Nova Zelândia, onde só existem vampiros do clã Hoff, para que eu fosse treinada.Mesmo assim, não permitiu que eu voltasse. O Cesar engoliu essa desculpa, apesar de permanecer desconfiado.

         Em tempos de paz, Adam sempre foi o principal treinador  dos dois clãs, por isso Cesar , mandou uma recém-criada nova para que Adam treinasse. Seu nome era Clarissa e fomos treinadas juntas. A desculpa dessa vez? Adam aproveitou que eu já possuia algumas habilidades, e disse que os vampiros da Nova Zelândia nunca haviam treinado ninguém, e por isso não tinham me treinado direito. Clarissa era muito simpática,sociável e sincera. Tinha lindos cabelos lisos e compridos,olhos castanhos,nariz e boca perfeitos e um corpo escultural. Viramos melhores amigas. Eu sempre me saía melhor que ela no treino, mas ela não se importava. Com o tempo, me tornei a melhor caçadora do clã. Sabia lutar e atirar muito bem. Eu e Clarissa sempre íamos caçar juntas, e ela foi a única pessoa para quem eu contei sobre Roger.

         Roger, aliás crescia rapidamente. Ele não tinha perigos reais, mas eu dava um jeito em qualquer amigo falso, ou qualquer um que se pusesse no caminho dele. Roupas danificadas, cadernos e trabalhos perdidos, defeitos nos carros, e mais alguns pequenos imprevistos, que se transformavam em grandes desgraças humanas eram minhas doces vinganças. Não vou negar que era divertido. Acompanhei sua transição de menino para homem. Era muito inteligente, e tinha um coração muito puro. Eu tinha verdadeiro facínio pelo seu cabelo liso com franja, que foi ficando mais curto e mais escuro ao longo do tempo. Quando ele completou quinze anos, me encantei pelo seu visual grunge, pelo cabelo estilo beattle e adorava os dias nublados ou chuvosos, quando eu podia vê-lo na escola, usando óculos. O jeito, a aparência, o caráter e a personaidade me atraíam e me encantavam . Ainda existia dentro de mim aquele sentimento maternal do início, porém, eu começara a sonhar com ele de jeitos diferentes. Clarissa sempre me dizia que isso era perigoso, mas me apoiava, pois sempre fora uma romântica incorrigível, vivia ás voltas com os vampiros mais cobiçados, e sempre acabava quebrando a cara.

         Um dia, durante o treinamento Adam propôs que lutássemos contra ele.

         -Tá falando sério? - Perguntou Clarissa, enquanto eu me posicionava.

         -Pronta? - perguntou Adam. Eu assenti. Corremos um para o outro, eu desviei do golpe dele com um salto.Corri para ele e saltei baixo. Ele segurou minha perna antes que eu pudesse fazer algo,e eu perdi o equilibrio e caí. Me levantei rapidamente, irritada pelo meu erro infantil. Corri para ele com a intenção de impurra-lo, mas ele neutralizou minha força.Dei um giro, me desvincilhando dele. Tomamos distância mais uma vez, corri em direção oposta , para uma árvore. Toquei a árvore com o pé, tomando impulso,Adam saltou e fui com tudo, com a perna esticada para cima dele, tão rápido que não teve tempo de se defender. Adam caiu e deslizou alguns metros, eu encontrei o solo com os joelhos dobrados, e a mão no chão. Adam levantou, fez sinal para que eu parasse e me disse:

         -Você está pronta para conhecer o humano.