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História O Colecionador de Romances - A garota do parque


Escrita por: Gaby-07

Notas do Autor


Escrevi essa história para o meu amigo que foi quem inspirou o personagem principal. Rs.

Capítulo 1 - A garota do parque


Fanfic / Fanfiction O Colecionador de Romances - A garota do parque

No dia em que meus pais se conheceram houve uma tempestade e perdida nela havia um homem, cheio de alegria e desejo de felicidade, e havia também uma mulher, forte, determinada e cheia de uma teimosia indomável. Mas ela se deixou dominar por ele, porque o amor é assim, ele te faz exigências e lhe pede escolhas e quase sempre é teimoso o suficiente para te convencer.

Cada momento da vida é fundamental, importante e decisivo. Cada escolha determina o futuro e nos faz responsáveis pelo lugar onde vamos parar depois. Quando minha mãe aceitou compartilhar sua vida com meu pai, ela não só permitiu minha existência e a de meus irmãos como também nos proporcionou uma família que apesar das diferenças sempre foi amorosa.

Minha vida nunca foi um conto de fadas, mas posso dizer que ela foi satisfatória para mim. Sempre fui considerado um nerd e isso até me orgulha, sou perfeccionista e estou sempre procurando melhorar e há tanta coisa no mundo que ainda quero experimentar. Meus irmãos e eu temos nossas diferenças, cada um com sua excentricidade e para minha mãe isso nos torna mais do que especiais. Sua fé em nós me comove e um de meus desejos mais profundos é dar a ela motivos para se orgulhar e mais do que isso, quero recompensá-la por seu investimento em mim e por sempre acreditar que sou capaz. Com a partida de meu pai, o amor de minha mãe por nós e por si mesma é o que tem a feito seguir adiante apesar de isso tê-la feito perder um pouco o brilho em seus olhos.

Sonho com o dia em que terei um amor como o deles. Um dia encontrarei alguém como eu, alguém que aceite cada mania estranha que tenho e que me ame com todo o coração. Sei que pareço meio desesperado e até um pouco antiquado, mas é assim que eu penso. Será que é um pecado tão grande ainda acreditar no amor?

Às vezes eu acredito que pertenço à outra época, uma onde o amor ainda tinha importância. Hoje as pessoas deixaram isso se tornar irrelevante. Agora mesmo, observando o vai-e-vem de casais no túnel do amor, posso ver que poucos durarão para sempre ( esse é o tipo de amor que eu idealizo). Não que eu seja algum tipo de vidente ou especialista, eu, com certeza, não sou o tipo experiente no amor, mas posso notar que muitos vêem o amor como algo temporário e poucos dão o devido valor a quem está ao seu lado.

Um dia, creio eu, esse sentimento virá para mim também e que essa pessoa será tudo aquilo que eu preciso e não tudo que eu quero. Não existe aquela frase “cuidado com o que você deseja?”. Muitas vezes o que você deseja não é aquilo de que você precisa. Eu pude ver isso no último relacionamento de minha irmã, afinal, seu namorado era tudo que ela queria, mas ele não foi capaz de fazê-la feliz e eles brigavam tanto que não houve amor que resistisse.

E agora, estou aqui, tendo de consolá-la. Como se lida com um coração partido? Como se junta os pedaços que sobraram? Há um meio de seguir em frente, retomar a vida sem se sentir tão dependente do amor que se foi? Não há maneira de se levantar rápido quando o amor foi real e intenso. Isso eu posso perceber, as lágrimas que caem dos olhos de minha irmã como se fossem cachoeiras confirmam meu pensamento.

Quando Sophia chegou em casa sem seu sorriso habitual, eu estranhei. Mas quando ela se encaminhou diretamente para seu quarto ignorando sua bola de pelos em forma de gato, eu soube que havia algo errado. Sophia poderia ignorar a todos na casa, mas jamais deixaria de sucumbir aos olhos pedintes de seu bichano. Ouvi a porta sendo fechada bruscamente e isso me deixou preocupado.

Curioso, bati em sua porta com receio de ser mandado embora. Ela podia ser bem cruel quando queria e eu era geralmente alvo de seus ataques. No entanto, para minha surpresa, ela atendeu-me prontamente, com a cabeça baixa, possivelmente para esconder as lágrimas que escorriam por seu rosto, e puxando-me para dentro, apertou-me em um abraço angustiado.

Quando suas palavras se tornaram compreensíveis, eu pude ouvir o motivo de seu pranto, porém, não havia nada que eu pudesse fazer a não ser permanecer firme em seus braços.

Às vezes, quando há muita tristeza em você é consolador e reconfortante receber um abraço e apenas sentir que tem alguém com você, alguém que talvez possa compreender sua dor. Senti minha irmã desvencilhar-se de mim, observando-me com seus olhos avermelhados devido ao choro e com a voz ainda chorosa, perguntou-me:

_ Você vai me achar louca, mas se eu pedir, você iria ao parque comigo?

E eu realmente pensei que ela era louca, mas não querendo aborrecê-la, apenas respondi que não havia problema algum em acompanhá-la.

_ Foi onde eu o conheci. – explicou-me. – Pode parecer meio masoquista, mas eu quero ver o lugar, reviver as minhas lembranças, sei lá, não sei te explicar. Acho que só não quero ficar em casa chorando feito uma bobona. – disse ela, forçando uma risada.

_Tem certeza? Talvez não seja uma boa ideia. – disse, preocupado.

_ Tenho. Eu quero ir, de verdade.

_ Tudo bem. Como você quiser.

E foi assim que vim parar no parque de diversões, observando casais que provavelmente não darão certo, mas os invejando internamente por saber que ao menos eles têm com quem compartilhar momentos, mesmo que seja temporário. Invejando o fato de eles terem alguém para amar enquanto eu continuo a ser uma alma solitária.

Sophia cansou de chorar perto de mim e foi afogar sua mágoa em um algodão doce; acho que ele sabe consolar melhor do que eu. Eu não sei dizer palavras bonitas e encorajadoras. Pessoas tristes me deixam constrangido, não sei como lidar com suas tristezas e nunca acho a coisa certa a se dizer.

Fiquei sentado em um balanço, parecendo muito patético, esperando que minha irmã voltasse. A noite estava muito bonita, com a lua se erguendo alto no céu brilhando majestosa e cercada de estrelas, pouco se importando com os corações partidos aqui em embaixo.

_ A noite está incrível, você não acha?

            A voz surgiu tão repentinamente próxima que levei o maior susto e acabei estatelado no chão ao cair do balanço. Olhei ao redor, procurando a voz misteriosa e deparei-me com grandes e brilhantes olhos castanhos olhando-me com curiosidade e diversão.

_ Desculpe-me! Não era para assustar você. Sinto muito. – disse.

A garota era estranha, tinha cabelos longos e ondulados e uma franja de lado, meio maluca. Vestia um short não muito curto preto e uma blusa branca sem mangas com a frase “NÃO ENTRE EM PÂNICO”, estampada em letras garrafais. Fitava-me de um jeito brincalhão e parecia estar segurando uma risada.

_ Você está bem? Consegue levantar? Bateu a cabeça? – perguntou, parecendo preocupada, de repente.

Estava fitando-a tão curioso que não havia percebido que ainda estava jogado no chão, ergui-me rapidamente e tornei a sentar no balanço.

_ Ah! Não, não bati a cabeça. – respondi me sentindo um bobo.

_ Oh! Que bom! Você estava parecendo um doente mental. Ficou me olhando como se eu fosse uma alienígena.

Não sabia o que dizer. Ela estava me deixando meio nervoso. Seus olhos me analisavam profundamente, como se ela pudesse ler minha alma. Ela riu de forma engraçada, soando de maneira quase infantil, meio travessa.

_ Meu nome é Rose, e o seu?

_ Eu sou Isaac.

_ Hm, legal. Eu estava dando uma volta pelo parque e vi você e sua namorada. Ela parecia estar chorando muito, você terminou com ela? Mas você parece triste também, se arrependeu?

Ela disparou as perguntas sobre mim. Eu quis rir. Fiquei surpreso com suas perguntas. Ela achava que Sophia era minha namorada. Olhei-a atentamente. Ela era bonita, não era linda, mas, com certeza, havia certa beleza nela. E havia também uma aura, algo que prendia a atenção.

_ Eu não terminei com ela. ­– disse, rindo. – Ela é minha irmã.

Rose olhou-me surpresa, abriu a boca várias vezes como se estivesse prestes a falar algo e suas bochechas adquiriram um tom avermelhado. Por fim, talvez encontrando as palavras que lhe fugiam, disse:

_ Sério? Nossa, desculpe! Bom, vocês não se parecem muito. – concluiu ela, franzindo a testa.

Era verdade. Sophia, com seus cabelos castanhos claros, rosto redondo e pele mais bronzeada, era quase a cópia exata de nossa mãe, enquanto eu, com minha pele clara quase sem cor nenhuma e meu cabelo escuro, parecia mais com nosso pai e não havia quase semelhança alguma entre nós dois.

_ Não somos muito parecidos mesmo, mas nós somos irmãos. Eu estava tentando consolá-la pelo término do seu namoro.

_ Bom, pelo menos eu estava certa sobre isso. Mas, acho que você não é muito em bom consolar as pessoas, não é? Eu a vi se entupindo de sorvete ali atrás. – disse ela, apontando para as várias barracas às nossas costas. – Desculpe ter pensado isso, acho que te assustei com minha intromissão.

_ Tudo bem. Na verdade, você me assustou quando surgiu. Eu estava distraído e não te vi se aproximar.

Ela sorriu constrangida.

_ Eu nunca tinha te visto por aqui e eu venho aqui quase todos os dias. Gosto de observar as pessoas, ficar imaginando o que elas estão pensando, o que fazem e o tipo de vida que levam. É bom pra esquecer os problemas e relaxar.

_ Parece bastante divertido. – disse sorrindo.  – Quanto à minha irmã, acho que ela percebeu minha deficiência em consolar pessoas. Nunca sei o que falar. Dizer “eu sinto muito” me parece tão vago.

_ Isso acontece quando não se consegue compreender a dor do outro. Às vezes, não são necessárias palavras bonitas ou elaboradas. Às vezes palavras simples como “eu sinto muito” ou “estou ao seu lado” ou “tudo ficará bem” servem se ditas de todo coração. Mas, quando não há esse tipo de compreensão, as palavras se tornam vagas.

Ele ouviu suas palavras meio como um sermão. Apesar de ter sido surpreendido com tal opinião, soube que ela as dissera, não como uma reprimenda, mas para que ele compreendesse.

Era estranho como se sentia confortável conversando com essa exótica garota. Observou ela atentamente e percebeu que ela emanava confiança e talvez fosse isso que o deixava tão à vontade com ela.  Pensou por um momento em suas palavras e concluiu que ela havia sido sábia com o que foi dito.

_ É! Acho que você tem razão. Não há como eu compreender minha irmã dado que eu nunca me apaixonei. Então, não conheço esse tipo de dor.

Ele imaginou que ela fosse se surpreender com sua revelação, achar estranho e até vergonhoso que um cara de 20 anos nunca amara alguém. No entanto, houve compreensão e sabedoria em sua resposta.

­            _ Acontece. – disse ela. – Talvez você não esteja pronto. Tudo tem seu momento certo e o seu ainda não chegou. Não devemos apressar as coisas que provavelmente virão a acontecer algum dia, senão elas perdem sua perfeição. É como uma lagarta que se fecha numa crisálida para então tornasse bela e voar. O que seria da beleza dessa transformação se a lagarta já nascesse bela? Não haveria brilho, não haveria expectativa ou esperança. Somente a beleza fria e sem vida porque não houve glória nisso. Você entende?

_ Você acha isso? – perguntei achando engraçado a profundidade que ela parecia dar a tudo.

_ Sim, eu acho. E acho também que você não devia envergonhar-se por isso.

Essa garota era intensa, tinha opiniões fortes e meio filosóficas. Tinha alma de poeta pelo que podia perceber. E um poeta é sempre apaixonado. Ri comigo mesmo com tal pensamento.

­            _ E você? Já se apaixonou? – perguntei curioso.

E me arrependi no segundo seguinte de ter feito isso. Assim que assimilou minha pergunta, a dor transpassou seus olhos. O efeito foi rápido e quase pareceu irreal. Mas esperei por uma resposta, que demorou a ser dada. Quando quase desisti e buscava na mente um novo assunto qualquer, sua voz surgiu inicialmente baixa, mas ainda assim, firme.

­            _ Sim. Eu já me apaixonei. Mas ele morreu. Acidente de carro. – disse ela. – É estranho, não é? Como a vida é frágil? Em um momento você está ali, cheio de planos e de repente não há mais nada, há apenas uma sensação de vazio.

E vendo meu desconforto com tal revelação, acrescentou.

_ Não serei mórbida com você, não se preocupe. É um erro muito grande se lamentar por coisas que não podem ser evitadas ou corrigidas. Voltando a falar de coisas felizes, se apaixonar é realmente bom. Deixa você leve, otimista, você acha que nada poderia dar errado, não há temor. Pelo menos, foi assim para mim. Acho que é diferente para cada pessoa. Seria interessante conseguir compreender as várias formas de amar das pessoas. Devia existir um livro sobre isso, apesar de imaginar que nem todas as experiências devam ser boas, mas creio que todas devem valer à pena serem conhecidas. Seria interessante, não acha?

Achei a ideia magnífica. Entretanto, antes que pudesse responder, minha irmã surgiu à minha frente, com rosto vermelho e os olhos inchados.

_ Acho que você tinha razão. Eu não devia ter vindo. Foi um erro. – disse ela com a voz chorosa.

_ Não acho que tenha sido um erro.

Sophia olhou para Rose, percebendo apenas agora sua presença. Seus olhos cintilaram, eu não soube dizer se de raiva pela intromissão ou de discordância pela opinião contrária. Antes que ela se prontificasse a falar, Rose continuou.

_ Você está triste, não há porque se envergonhar. Chorar faz bem à alma e alivia o que está pesando. – concluiu ela.

_ Ah! Obrigada por sua opinião. – disse Sophia, na certa desconcertada demais para dizer algo mais profundo. – Podemos ir James? – perguntou ela, dirigindo-se a mim.

_ Claro! Vamos.

_ Seu nome não é Isaac? – perguntou Rose, com curiosidade no olhar.

Sorri. James era meu nome do meio. Sophia costumava me chamar assim porque sabia que eu preferia Isaac, ela fazia isso desde que éramos crianças, só de birra.

_ Meu nome é Isaac James. Isaac James Price. – respondi.

_ Verdade? É um nome bonito. Você sabia que no Japão há uma crença de que se você diz, de bom grado, seu nome completo para alguém, você está dando a essa pessoa o poder de mudar sua vida?

_ É mesmo? – ri, sem saber o que dizer após isso.

_ É sim. Bom, até mais Isaac James Price. Foi um prazer te conhecer. O meu nome é Rose Hyacintho.


Notas Finais


Espero que gostem!


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