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História O crime perfeito - Capítulo único


Escrita por: ValotDeadly

Notas do Autor


Essa foi a minha Fic para o @Shineeficfest, espero que gostem 💖
Gostaria de agradecer aos organizadores do projeto e a Cora Lins por essa capa, tá linda aaaáa

Boa leitura

Capítulo 1 - Capítulo único


“Nós dois temos os mesmos defeitos,

sabemos tudo a nosso respeito.

Somos suspeitos de um crime perfeito,

mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.”


Pra ser sincero - Engenheiros do Havaí

 

Era a milésima vez que Kim Kibum escutava aquela introdução, para depois ouvir a música naquele linguajar estrangeiro que aprendeu a gostar. Transmitia-lhe paz e, mais que isso, um sentimento de tranquilidade e vitória, tudo com uma simples introdução no teclado – ele reconheceria se fosse um piano.

Vestiu as roupas que usava sempre para trabalhar. Ele mesmo as havia feito: eram de um linho especial, facilitavam-lhe os movimentos, além de conterem bolsos suficientes para tudo que levava sempre – o material indispensável para seu trabalho – e argolas de aço para que pudesse usar as cordas de seda feitas para serem fortes, seguras e de fácil manuseio.

Saiu então pela porta afora com as roupas tão escuras quanto a noite que reinava. Londres era sempre sombria.

Na sua mochila, guardava o restante do equipamento que havia planejado usar naquele dia, em sua maioria aparelhos eletrônicos. Estava como um civil comum, já que havia colocado roupas “normais” por cima de seu uniforme, e seguia de táxi até um ponto turístico.

Chegou, tirou algumas fotos e entrou em outro táxi, seguindo até um conjunto de prédios onde fingiu entrar na portaria, saindo assim que o veículo deu partida. Seguiu andando pelas calçadas molhadas pela garoa que caía, sabendo exatamente por qual calçada andar e quantos metros precisava seguir até precisar atravessar a rua. Continuou nesse zigue zague até o prédio que era seu destino final: um motel sujo e de identidade duvidosa no centro da cidade.

Escolheu o quarto, mas não entrou, seguiu pelo corredor barulhento e foi até o terraço daquele lugar podre. Pegou sua corda de seda e amarrou na grade do aquecedor, calculando o ângulo necessário para conseguir fazer aquilo que desejava.

Tirou as roupas comuns e amarrou outra corda de seda em seu corpo, deixando sobrar exatos quatro metros e trinta centímetros dela. Havia errado no cálculo no dia da medição, percebia agora.

Pegou o que aparentava ser uma arma de sua mochila e atirou contra a caixa de energia do prédio à frente, que era um museu. Então, esperou que a descarga de pulso eletromagnético da arma fizesse efeito para logo ver as luzes do museu se apagar. Vibrou internamente: ter estudado física nas horas vagas era-lhe útil, afinal.

Guardou a arma na mochila e tirou dela alguns pedaços daquilo que aparentava ser plástico – ele os havia feito com a nova impressora 3D. Montou uma espécie de arco e flecha, pegou mais quatro pedaços do material da sua mochila, montou-os e formou uma espécie de flecha dupla.

Amarrou a ponta livre da corda de seda que estava presa no aquecedor na flecha e atirou contra o prédio. Conseguiu que a corda ficasse presa no motel e fixada com a flecha de pressão, que havia calculado e montado, no museu.

Pegou a corda de seda que estava presa em sua roupa e passou pela outra corda de seda presa nos prédios. Então, pegou os ganchos de grafeno – tudo que parecia plástico em sua bolsa era de grafeno, no fim das contas –, prendeu-os na corda de seda que ligava os prédios e começou a escalar a corda, rumo ao museu.

Segundo suas contas, a energia seria restaurada em cerca de 40 minutos, assim que teria de ser rápido.

Chegou no museu contente, já que a flecha de grafeno havia aguentado seu peso. Sentia-se um gênio.

Pegou o estilete de diamante que trazia no bolso frontal de sua roupa e cortou o vidro (pasmem!) principal do museu. Prendeu a flecha reserva que ficava fixa com a principal, já que atirava duas por segurança, no terraço do prédio, amarrou a corda de seda de seu corpo – a havia soltado logo que chegou no prédio – e desceu até o interior daquele lugar. Desprendeu a corda de seda de seu corpo, deixando-a fixa apenas no terraço.

Caminhou dois metros e encontrou o que queria: a coroa do rei George.

Caminhou até a coroa, que era protegida por – pasmem novamente – vidro, e percebeu os sensores. Mesmo com a energia do prédio desligada, ainda mantinham sensores à bateria ali. Sorriu, tirou a sua mini arma de pulso eletromagnético, que aparentava um laser de brinquedo, e apontou para cada sensor. Os pulsos eletromagnéticos desligaram qualquer coisa que fosse elétrica.

Tirou de seus bolsos uma sacola do mesmo material das suas roupas, tirou o vidro que guardava a coroa, colocou-o no chão, pegou a coroa, colocou na sacola, fechou a sacola e a amarrou em um dos ganchos da roupa.

Deixou um presente no lugar da coroa.

Sorriu sozinho. Mesmo que fizesse isso há anos, nunca deixaria de ser divertido.

Colocou o vidro de volta e retornou para onde estava a corda de seda, pegando a sua ponta e amarrando-a no gancho da cintura. Pegou pinças para subir pela corda e escalou.

‘Deveria fazer pinças eletrônicas’, pensou enquanto se esforçava para chegar no terraço.

Soltou a flecha de pressão assim que chegou no terraço, juntando-a com a outra que estava fixa desde que a havia atirado, ligou o dispositivo de soltura das flechas e amarrou a corda de seda que estava solta em volta da outra corda nos ganchos de sua roupa.

Desceu para o motel tranquilamente enquanto via a energia do museu voltar.

No terraço do motel, pegou outro equipamento simples, desamarrou a corda do aquecedor, prendeu no equipamento, ligou-o e viu a corda de seda ser puxada. Era uma boa máquina.

As flechas eram soltas com a pressão exata de sucção que aquele equipamento fazia, e logo batiam na parede suja do motel. Era algo em que Kibum precisava melhorar nos seus equipamentos.

Assim que a corda de seda estava completamente enrolada no equipamento, desmontou as armas e as flechas, guardando tudo dentro da mochila junto com a coroa. Vestiu suas roupas comuns, desceu para seu quarto sujo e ligou para recepção pedindo o serviço especial. Afinal, seria estranho ficar sozinho em um motel.

Retirou sua roupa de trabalho e a colocou dentro da mochila, ficando apenas de boxer, à espera do serviço especial.

Logo ouviu as batidas na porta. Disse para quem quer que fosse entrar e sorriu ao ver um garoto com feições meigas abrir a porta timidamente.

Kibum aproveitou cada segundo naquele lugar asqueroso.

–X–

No dia seguinte, Kibum já estava em sua casa, em uma mansão afastada da sociedade. Havia deixado seu carro escondido no hotel de que saiu, a princípio, e estava lendo os jornais e se deleitando com as notícias e as fotos.

“A coroa do grande Rei George foi roubada essa noite. A polícia trabalha incansavelmente, mas até o momento não existem pistas, salvo um colar de prata no formato de uma chave.

Não há nenhuma impressão digital, ou qualquer testemunha. Nem mesmo as câmeras de segurança ao redor do museu e em seu quarteirão gravaram algo suspeito.

Os seguranças dizem ser um fantasma, o próprio George atrás de sua coroa, mas os policiais descartam tal hipótese, pelo vidro cortado. Contudo, não se sabe o motivo da pane elétrica do museu na noite do crime.”

Havia conseguido mais uma vez, era brilhante.

Até deixou uma pista. Eles que eram burros em demasia, oras.

Cantarolava a música que amava e agora a introdução no teclado lhe dava o sentimento de glória. Kibum sempre deixava que aquela música lhe guiasse os sentimentos; era quase um escravo dela.

Foi até a sua cozinha, preparando para si um pouco de café, muito forte e sem açúcar. Enquanto bebia da bebida dos deuses, calculava o quanto ganharia pelo serviço da noite anterior.

Kibum sorria mesmo com a bebida extremamente quente a descer garganta abaixo: esse seria o roubo que o eternizaria como o melhor ladrão de todos os tempos. Era um fato. Mais que café, amava a si mesmo, de uma forma que chegava a ser egocêntrica e doentia, mas pouco se importava.

Pegou mais uma xícara da bebida e seguiu até seu notebook, ligando-o juntamente com o pequeno aparelho que ele havia feito, criptografando a sua rede de internet e seus dados.

O jovem de origem asiática havia aprendido de tudo um pouco nessa vida. Era um gênio e, justamente por isso, possuía tanto sucesso em seus trabalhos. No submundo dos colecionadores, era chamado de Key – mesmo que nunca ninguém tivesse visto sua face, ou soubesse da sua verdadeira identidade.

Para todo o resto do mundo, era Kibum, um jovem sul-coreano que havia acertado ao investir em empresas de entretenimento no seu país, tornando-se consideravelmente rico com isso. A rotatividade de empresas desse gênero dava-lhe certeza do disfarce certo, além do fato de poder usar isso como álibi de todos seus crimes.

Sabia que para não ser perfeito o segredo era se mesclar à multidão, ser mais um andando na rua, apenas mais um.

Entrou na página – que ficava na deep web – dos colecionadores e iniciou o leilão da coroa. Via os números subindo enquanto bebia do seu café já morno e sorria.

Key estava sendo aclamado: isso era tudo que Kibum sempre quis.

 

–X–

 

Era uma noite fria na capital sul-coreana. Jonghyun estava colocando seu moletom surrado enquanto torcia para que não nevasse. Olhou pela janela de seu apartamento no subúrbio da cidade e viu nas ruelas aquilo que já era comum: mulheres vendendo seus corpos, jovens vendendo drogas e as luzes do centro da cidade prometendo salvação.

Aplicou a insulina em si mesmo, desta vez na coxa esquerda. Não queria que sua saúde, ou a falta dela, o atrapalhasse naquela noite. Havia calculado tudo, cada ação que precisaria fazer. Sorriu ao pegar sua Smith & Welson e ao colocá-la nas costas, presa pela calça e escondida pelo moletom.

Viu o dia dar indícios no horizonte, clareando a escuridão remanescente.

Era o dia em que ficaria livre. Estava à espera dessa data há anos.

Caminhou lentamente até a garagem, subiu na moto e rumou até o seu destino.

Precisou esperar alguns minutos até que seu alvo chegasse para abrir o banco. Esperou até que esse funcionário chegasse – sempre às sextas feiras o gerente abria o banco e contabilizava os caixas – e o rendeu, colocando a arma em suas costas e sorrindo ao ver que esse não o reconheceria, pois estava com uma máscara de um membro qualquer de alguma boyband famosa que não fazia questão de conhecer.

O gerente fez tudo que Jonghyun pediu, esvaziando os caixas e colocando as notas na mochila daquele que ameaçava sua família.

Jonghyun riu da fraca segurança do banco: as pessoas costumam temer a noite e fazem de tudo para se proteger dela, mas de dia pouco se importam. Se fosse o banco nacional, talvez a segurança fosse melhor; contudo, aquele era o banco das minorias, o banco dos assalariados.

Ninguém se importava, o jovem com a máscara concluiu.

Pegou todo o dinheiro que coube em sua mochila e amarrou o gerente em sua cadeira, colocando uma rosa de plástico em suas mãos.

Pegou sua moto e voltou para casa.

Quando chegou, guardou a mochila com o dinheiro e queimou a placa da moto, que era falsa, e a máscara que usou.

Sorriu ao ver os noticiários.

Se sentia um gênio, um gênio agora em liberdade.

Preparou um café fraco e doce – já que não fazia a dieta correta para sua doença – e se deliciou com o líquido enquanto ligava para Lee, pois precisava pagar logo sua dívida e voltar a viver.

Ouviu os elogios do outro. Sabia que era bom naquilo que fazia, era óbvio que era, porém queria liberdade. Estava naquela vida de crimes desde a morte de seus pais, já que foi o único modo que encontrou para sobreviver, e devia uma alta quantia para Onew. Por isso armou o roubo ao banco: não queria mais trabalhar como um gângster; queria ir para o interior e tentar viver decentemente.

Contudo, era bom demais naquilo que fazia. Começou roubando lojas de conveniências e pequenos comércios… Sempre foram crimes perfeitos, nunca ninguém havia desconfiado de si.

O ego lhe subiu à cabeça quando se aliou ao mais velho, mas agora estava livre. A sua dívida estava paga com todos os juros, e finalmente poderia seguir para uma vida de verdade.

Porém, Lee lhe pediu um último favor: um roubo a uma casa de um milionário que morava fora do país. Segundo o mais velho, a casa era repleta de itens colecionáveis que valiam uma fortuna.

Era um trabalho simples, Jonghyun pensou consigo mesmo. Depois do roubo ao banco, nada seria complexo para si.

Aceitou. Adiaria a sua liberdade e, com isso, teria mais dinheiro para usufruir dela.

 

–X–

 

Kibum estava no aeroporto depois de terminar as negociações da coroa e a carregava consigo em uma bolsa preta. Colocou-a exatamente onde havia combinado – dentro do armário dos funcionários – e esperou até que visualizou um homem de estatura média engravatado e nada discreto pegá-la. Então, mandou uma mensagem para seu comprador, que confirmou estar com o “pacote em mãos”.

Tranquilo, despachou suas malas, ouvindo mais uma vez aquela música de que gostava tanto. Sabia o significado dela, havia aprendido o básico de português e sentia que aquilo era quase sua autobiografia, mas ainda não havia conseguido fazer o crime perfeito.

Segundo a música, crimes perfeitos não deixam suspeitos, e mesmo que nunca tenha sido pego ou que nunca tenham suspeitado de Kibum, os crimes ainda possuíam um suspeito. Ainda tentavam encontrá-lo.

O crime perfeito seria aquele que não aparentava ser um crime de fato, concluiu, colocando a sua mala de mão no bagageiro do avião.

Essa era sua nova meta.

O crime perfeito.

 

–X–

 

Jonghyun estudava a planta da casa que havia conseguido com Onew – fazer parte de uma organização possuía suas vantagens – e calculava tudo que necessitaria fazer para entrar naquela mansão, mesmo que não fosse simples como imaginava.

Algo realmente valioso deveria estar guardado ali, porque havia centenas de partes elétricas e alarmes. Jonghyun não entendia muito disso; era mais adepto da ação, do chegar e fazer, mas sabia que, para conseguir sair impune, precisava pensar, calcular, analisar.

Estava a dias estudando aquela planta e, por mais que tivesse tentado aprender algo útil de arquitetura na internet, estava fracassando. Os corredores, as salas, as portas não faziam sentido; nada fazia naquela planta.

Milionários não fazem sentido, Jonghyun pensava enquanto tentava achar algo na internet sobre alarmes. Pelo menos esse milionário em questão não fazia.

Foi quando, ao analisar com mais calma, se deparou com uma espécie de cômodo sem saída de ar, janelas ou portas. Era cômico – a mansão aparentava ter um labirinto de cômodos e corredores sem funções algumas –, mas ao mesmo tempo era extremamente chamativo; seria talvez um cofre para as obras clandestinas do colecionador – era toda a informação que possuía sobre o dono da mansão. Usando tudo que sabia das aulas de eletrônica que tentou frequentar, traçou o caminho que precisaria fazer para desligar as partes elétricas com um curto e concluiu que aquele cômodo fechado era o seu objetivo.

Calculou muito mal e porcamente o que deveria fazer. Era um cara mais de ação e, por isso, havia tatuado em dragão vermelho nas costas. Se tudo desse errado, era só explodir os planos e fingir que nada nunca aconteceu.

Após uma semana de planos desgastantes e, ao seu ver, sem sentido, ele decidiu agir: pegou sua amada Smith & Welson, como segurança, alguns equipamentos eletrônicos para dar curto no alarme, e saiu em sua moto, mesmo que alguns flocos de neve insistissem em cair e atrapalhar a direção.

 

–X–

 

Kibum finalmente estava em sua residência, na terra de seus pais.

Ele nunca fora de origem humilde e havia decidido entrar no mundo dos crimes como uma forma de desafiar a própria mente e seus extintos, concluindo a cada novo roubo que era perfeito, mas estava longe disso.

Podia não cometer erros, ou enganar os policiais dos diversos países em que esteve; contudo, jamais conseguiu cometer um crime perfeito.

Havia traçado esse objetivo para si e continuava a ouvir aquela introdução, como se isso lhe ajudasse a pensar em algo, como se a música pudesse clarear sua mente e lhe dissesse o caminho correto para ser mais que perfeito: um fantasma que não deixaria pistas, ou suspeitas, um fantasma que cometeria um crime e nunca ninguém desconfiaria sobre.

Guardou suas malas enquanto andava na escuridão da mansão. Mesmo que pagasse relativamente bem para cuidarem dela, sentia que havia algo fora do lugar, algo que não estava certo.

Por instinto, ou talvez experiência, conseguiu perceber que alguém estava presente ali, sem nenhuma boa intenção. Afinal, quem daria curto em alarmes para uma visitinha?

Achou o método grotesco e até mesmo inocente. Riu baixinho enquanto seguia o caminho de rastros que o ladrãozinho de quinta deixava. Key podia ver claramente cada passo, através dos métodos, conseguia até mesmo traçar um perfil para aquele que estava tentando – possuía a certeza de que ainda não havia conseguido – assaltar sua casa.

Seguiu pelo labirinto de corredores que havia planejado e calculado, chegando a sua sala de prêmios; guardava ali algumas lembranças das missões que fazia e não as venderia por nada no mundo – eram a sua história contada por objetos. Sentou-se na sua cadeira favorita, da era vitoriana; roubá-la havia sido um sacrifício: precisou desmontar parte a parte para remontar depois, e isso fez com que não conseguisse vendê-la.

Contou até dez e a porta, que possuía alarmes e senhas seguras, foi aberta por um curto circuito. Concluiu que deveria melhorar seu sistema de segurança. Sorriu sádico e acendeu o seu abajur, também vitoriano, que era alimentado com óleo.

Jonghyun pulou assustado e Kibum gargalhou. O outro parecia um gatinho assustado; de certa forma, gostou desta reação.

– Vejo que quer assaltar minha residência – pegou o abajur e aproximou do rosto. – Não terá sucesso nisso, garoto.

– Quem é você? – Gaguejou nas palavras, falando quase tudo silabicamente e fazendo o outro rir ainda mais.

– O dono de tudo isso. Eu que deveria perguntar quem é você, garoto.

Kibum se aproximou do outro, que suava frio e tremia. Algo estava errado.

– Você está bem? – Começou a rir ainda mais da cara de dor do outro. – Não me diga que um ladrãozinho está em pânico.

– Eu não estou em pânico, cacete – Jonghyun gritou enquanto Kibun acendia as luzes de sua sala especial, fazendo o garoto se assustar com a quantidade de objetos raros ali. – Eu estou tendo uma crise de hipoglicemia. Tenho diabetes, mas o açúcar do meu sangue deve ter caído demais com o susto que você me deu – parou de falar ao ver o outro de braços cruzados, analisando-o. – Nem sei por que eu estou falando sobre isso – pegou um sachê com glicose dos bolsos, aquilo sempre o ajudava.

– Você está falando pois está assustado – Kibum concluiu e sorriu. A chance do crime perfeito veio até ele, podia sentir o destino sendo traçado e essa sensação era extasiante. – Eu não poderia deixá-lo livre depois de ver tudo isso – passou por trás dele, tirou a arma que Jonghyun carregava presa às costas e a desarmou. – Consigo te ler claramente, e sei que você pode ter algumas ideias que me deixariam em maus lençóis. Meu nome é Key – esticou seus braços para o outro, que tentava sentir o efeito da glicose que havia tomado.

– Jonghyun – apertou a mão do outro e sorriu. – Não é um colecionador, certo? – Kibum sorriu. – É um ladrão, temos os mesmos defeitos.

Kibum riu audivelmente, enquanto seguia pelos corredores, de uma forma que dizia claramente para que o jovem o seguisse pelo labirinto escuro de cômodos.

– Nem todos os defeitos, garoto – acendeu todas as luzes e Jonghyun admirou-se com tamanha beleza da mansão. – Eu nunca fui pego.

– Mas pode ser, se eu sair daqui e for até a polícia – sentou-se em uma poltrona confortável, no que aparentava ser uma sala de estar.

– Você estaria tão fodido quanto eu, garoto – Kibum se sentou à frente dele, com seu sorriso nos lábios, cantarolando mentalmente a música que lhe dizia tudo que precisava saber. – Está com problemas com o Lee? Foi ele quem te mandou? Deve quanto a esse bastardo?

Jonghyun congelou.

– Não vai falar, garoto? – Kibum sorriu. – Pois bem, ninguém conhece a minha identidade, exceto você. Isso porque eu tenho a sua Smith & Welson com uma bala ainda – girou a arma na mão e apontou para a face do outro. – Seria simples te eliminar, mas, veja bem, eu não quero problemas com o Lee, tampouco quero que ele saiba que sou mais que um mero colecionador, certo? – Começou a estalar a língua no céu da boca, enquanto mantinha a arma apontada para o outro.

Jonghyun apenas concordou com um menear de cabeça.

– Muito bem! – Sorriu ao ver o outro entregando os pontos a si. – Pois bem, eu vim para Seul para uma missão e preciso de ajuda.

O jovem não conseguiu controlar sua face surpresa com as palavras daquele que sorria com sua arma em mãos.

– Vim para pegar alguns artigos da Princesa Deogon; o mercado negro está pirando com esses itens. A exposição está aberta no Museu Nacional de Seul, mas é preciso mais que isso… Eu quero cometer o crime perfeito.

– Crime perfeito?

– É, garoto, aquele que não deixa suspeitos.

– E como vai fazer isso?

– Vou falsificar item por item e substitui-los. Sozinho eu não conseguiria, já que o meu equipamento garante 40 minutos para agir, então precisarei de ajuda.

– E por que a minha ajuda?

– Bom, você veio assaltar a minha casa. Eu posso muito bem atirar em você agora; as minhas impressões digitais não estão na arma de qualquer modo. – Jonghyun percebeu que o outro usava luvas. – E finjo que achei teu corpo depois de uns dias. Entenda, eu consigo calcular mil planos e em todos eles, você morre, exceto no que aceita me ajudar.

– Isso é tudo que vou ganhar?

– Direito de viver já é bastante coisa, não? – Sorriu, colocando a arma no colo. – Eu vou te treinar, garoto – você não pode fazer o que quero com esse seu modo de operação de um ladrãozinho de quinta –, e você fica com 30% de tudo que eu conseguir.

Jonghyun sabia que não teria como discutir com aquele sádico, então apenas concordou, balançando a cabeça.

Kibum saiu da sala de chá, deixando-o sozinho e voltou com uma sacola de linho especial cheio de itens simples – e que valiam o suficiente para um assaltante de quinta. Entregou-a a Jonghyun.

– Leve isto ao Lee e finja que tudo correu como planejado – sorriu ao entregar o saco negro e viu o olhar de gato perdido do outro. Kibum havia ganho na loteria. – Volte aqui amanhã de manhã para seu treinamento.

O garoto saiu, sem sua arma, e com o medo estampado na face.

Kibum sorriu, colocando aquela velha música para tocar.

O crime perfeito havia vindo até ele.

 

–X–

 

Os dias na mansão passavam depressa. Key, como Jonghyun o chamava, era doce e lhe ensinava muitas coisas, de filosofia a ciência, de interpretação de textos a contas matemáticas complexas. Segundo o mais velho, tudo aquilo o ajudaria a se tornar um ladrão de elite, um que não deixava rastros, um que chegaria próximo a perfeição.

Jonghyun estava encantado pela forma com que o outro falava do mundo, pela forma com que o outro falava sobre tudo, como se todo o conhecimento existente no universo estivesse preso dentro da mente daquele que se chamava de “chave”.

Jonghyun nunca teve amigos ou colegas, a relação mais próxima de amizade que teve com alguém foi com Onew, que o usava para a organização que tentou fugir por toda a vida.

Ele havia sido o pagamento da dívida dos pais e foi isso que tentou fazer a vida toda: pagar dívidas. Contudo, com Key isso era diferente. O mais velho não parecia esperar nada dele, muito pelo contrário, já havia deixado claro que, após o assalto ao museu, Jonghyun estaria livre, pois ele voltaria a Europa – já possuía planos por lá.

Jonghyun pensava sozinho se seria loucura querer seguir o mais velho, mas, quando este lhe trazia café doce e lhe lembrava de tomar a sua insulina, chegava a conclusão de que não, não era loucura. Certo, Key o havia ameaçado, mas Jonghyun conseguiria fugir se quisesse; o outro nunca o manteve preso ou o ameaçou caso tentasse fugir.

Kibum apenas seguia o fluxo, ensinando o necessário para que pudessem agir. Tudo corria de acordo com o seu plano; cada pequeno olhar atravessado do garoto e cada sorriso tímido.

Kibum era um gênio, afinal.

 

–X–

 

A melodia era tranquila, fazia com que Jonghyun se sentisse acolhido sempre que entrava na mansão. Key possuía a mania de tocar aquela mesma música sempre, e isso lhe dava um sentimento de familiaridade.

– O que a música diz, hyung? – Perguntou, sentando-se ao lado do outro no piano.

– Fala sobre crimes perfeitos.

– Crimes perfeitos? – Jonghyun sorriu audível e Key o repreendeu.

– “Nós dois temos os mesmos defeitos, sabemos tudo a nosso respeito, somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos” – cantarolou, tocando o piano, mesmo que em coreano a música ficasse fora das notas.

– Por isso vamos substituir as coisas no museu? Para que não tenham suspeitos?

Kibum riu irônico e concordou. O garoto podia ser inteligente, mas não via aquilo que estava diante de si. Saiu do piano e trouxe mais uma xícara de café extremamente doce para aquele que ignorava a sua dieta para diabetes e sorriu ao vê-lo beber com gosto.

 

–X–

 

O grande dia havia chegado. Jonghyun estava animado, cantarolando junto ao seu hyung aquela introdução que havia aprendido a gostar. Colocava a roupa que aprendeu a fazer para a melhoria de seus movimentos, deixando seu dragão à mostra por mais tempo que o necessário, fazendo Key sorrir.

– Tome. – O mais velho entregou um colar de prata em formato de chave para o garoto que cantava animado. – Esse é meu último presente; depois disso, cada um por si.

– Eu, eu, não posso ir com você? – Gaguejou em cada sílaba, recebendo um abraço do mais velho, que limpou as lágrimas que o garoto deixou cair.

– Talvez...

Jonghyun sorriu apenas com essa possibilidade. Um talvez era muita coisa, certo?

Seguiram como haviam ensaiado diversas vezes, fingindo serem turistas em alguns pontos, e em outros fingindo serem namorados. Estavam forçando a mente das pessoas a se lembrar deles, estavam colocando álibis em massa.

Desviaram de todas as câmeras das ruas, seguindo pela penumbra, e subiram no prédio que estava fechado, burlando algumas regras.

Key desligava todas as câmeras com a arma de pulso eletromagnético e Jonghyun o seguia, feliz por fazer parte do plano.

Quando chegaram ao topo do prédio que ficava à frente do museu, Key fez um sinal para que Jonghyun atirasse com a arma de dardos com tranquilizantes nos guardas e esse o fez. Usaram a corda de seda para passar de um prédio para o outro: primeiro foi Jonghyun; Key ficou para trás.

O garoto perdia o equilíbrio facilmente. Fazia algum tempo que notava que seu corpo andava estranho, mesmo que sempre culpasse a diabete por isso.

Quando – finalmente – chegou no museu com sua mochila e os itens para serem trocados, olhou para trás e viu Key com a arma de dardos, apontando para si. Um dardo o atingiu, mas ele não desmaiou como os guardas, mesmo que sentisse o líquido percorrer pela extensão de seu corpo, através do pescoço.

Viu Key lhe acenar e descer do outro prédio. Sentia sua visão ir ficando turva aos poucos, não tinha força nas pernas.

Não demorou e recebeu uma mensagem criptografada de Key no aparelho que apenas os dois tinham.


“Era você, sempre foi você.

Você veio até mim, como obra do destino… Era a minha chance de ter o crime perfeito, veja só. Nunca vão desconfiar disso, não haverá suspeitas. Você achou mesmo que eu te ensinaria meus segredos e que tudo ficaria por isso mesmo?

Tolo.

Todos os dias colocava insulina em seu café, naqueles doces que você adorava comer… Acha mesmo que eu gostava de você?!

Você foi apenas um objeto para que eu pudesse concluir meu objetivo: ter um crime perfeito.”

 

Junto da mensagem, Jonghyun podia ouvir aquela maldita melodia. Tirou o colar de seu pescoço e o segurou na mão, enquanto tentava passar pela corda de seda sem nenhuma segurança.

As lágrimas encharcaram seu rosto e tudo que pôde fazer quando perdeu o equilíbrio foi apertar aquele maldito colar em forma de chave nas mãos.


Notas Finais


Pelo amor de deus, o que o Jonghyun sentia era um misto de confusão já que foi criado nas ruas, e Key aparentemente lhe dava atenção, não é amor ou nada parecido, okay? okay!

Eu sei que esperam algo como um casal brigando e nunca mais voltando pela música, mas o plot era o trecho que usei no início, então tentei algo diferente.

Não sei se foi angst suficiente, ou se ficou corrido, me perdoem qualquer coisa.

Pra quem não entendeu, Key envenena o Jong aos poucos colocando insulina em tudo que o outro come, e para que haja uma overdose atira nele uma dose extremamente alta, foi tudo planejado desde que ele viu o outro usando glicose em uma crise de hipoglicemia - na primeira vez que se viram.

Foi tudo armado, tudo.

Agora a pergunta que não que calar: foi ou não um crime perfeito?

Em memória a TG…



Plot enviado: #13 - “Nós dois temos os mesmos defeitos, sabemos tudo a nosso respeito. Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.”



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