História O Desejo do Tigre - Destinos

Acordei arfando. Estava caído em um piso liso e estava pingando de suor. Tentei olhar para o lado e vi meus companheiros caídos e se contorcendo. Estavam com inúmeros hematomas no corpo, e apenas uma coisa passava pela minha cabeça: aquilo era sonho, realidade ou uma ilusão? Um sonho ruim que poderá acontecer; uma realidade que aconteceu ou uma ilusão do que não aconteceu? Estava confuso e temia pelo pior.

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Tentava hidratar desesperadamente minha boca com saliva, mais parecia que toda e qualquer forma de agua no meu corpo havia se transformado em suor. Estava arfando, minha cabeça parecia que ia explodir, e o pior era que não sabia mais destituir a realidade de um sonho. Estavam com marcas pelo corpo, cortes de chicotes, arranhões no peito e um grande buraco no peito que cicatrizava lentamente. Virei minha cabeça para o lado, ofegante e toquei em uma mão. Abri os olhos novamente, era Kelsey. Ela arfava, assim como eu... Assim como todos. Seu rosto pingava e seus pulsos estavam marcados e cortados, como se uma corda fosse amarrada na mesma e puxada, queimando assim sua pele e ficando essa horrível marca.

Tentei afagar seu rosto, mais minhas mãos estavam ásperas, e duras. Ela olhou surpresa para mim.

–R-Ren... Você está... Vivo!- ela deu um sorriso

–Sim Kells – beijei sua mão, pude analisar mais de perto seus ferimentos – Como se sente?

–Dolorida- ela disse

Ouvimos um barulho de portas se arrastando e um vento forte soprou. Arrastando nos para trás. Abracei Kelsey de encontro ao meu corpo, e por sorte consegui proteger seu corpo do impacto contra a parede. Arfei de dor ao chocar minhas costas com a parede, e pude ouvir o barulho da minha costela quebrando. O vento era forte de mais e apenas nos dois estávamos acordados. Os outros ainda estavam nesse “sonho” profundo, parecia que nunca iriam acordar.

Uma aparência Masculina entrou no local, em passos largos. Usava uma espécie de Kimono branco, muito comum em japoneses, e junto com ele um ar muito frio vinha. Sua pele era bem pálida e aparentemente gelada. Cabelos brancos, e uma aparência jovem. Barba para fazer, assim como Kishan deixa a dele. Ele parou a cerca de dois metros de onde estávamos e nos saldou.

–Bem vindos à fortaleza do Céu – ele disse, e ergueu uma das mãos – Vejo que a sua amiga pegou o meu amuleto, o que forma tudo o que somos e temos. Perdoem a “recepção calorosa”. Mais esse é o preço que devem aturar por pegar nossa essência de vida.

–Sinto muito ter arrancado o seu bem precioso mais precisávamos dele. Estamos em uma viagem importante atrás dos pedaços do amuleto de Damon.

–Compreendo. Conte-me mais sobre isso rapaz – ele levantou-me com uma força feita de ar, peguei Kelsey nos meus braços. Ele olhou para os meus companheiros e fez o mesmo, levando-os deitados em espécies de nuvens- vou deixa-los em seus aposentos, enquanto isso. Podemos conversar?- ele retirou também Kelsey dos meus braços e ela foi flutuando como os outros para dentro de uma porta.

Andamos por um imenso corredor aceso por tochas, suas luzes eram o clarão de raios em espécies de luminárias.

–Com licença, não me contou o seu nome- ele deu uma risada, oque fez a sua voz grossa ecoar pelo ambiente.

–E nem você – ele fez uma pausa dramática e continuou – me chamo Corifeus, Deus dos céus. E você é?

–Alagan Dhiren – ele assentiu – Minha prima disse que o seu elemento é ar, certo.

–Sim- ele disse- como pode ver tudo aqui é feito de matérias feitas com o ar. Sim, as nuvens são feitas da evaporação da agua, mais ficam em meu domínio, pois, oxigênio que tem nelas é ar. Tudo meu caro, tudo que fica no céu é do meu domínio. Eu conheço cada canto de cada nuvem, tenho conhecimento e poder sobre tudo àquilo que voa, e tudo aquilo que permanece acima das nuvens, esse é o meu limite. Como percebeu o ar aqui é bem gelado e um pouco mais difícil de respirar, pois estamos acima de 12 km de altura do nível do mar. Como vocês chamam Troposfera. Mais não se preocupem, enquanto permanecerem no meu reino estará seguros.

–Incrível!- disse

–O ar é muito frio, assim como eu - entramos em uma sala, tinha uma espécie de vidro no meio da mesma, que dava apara ver a terra. Era rodeado por um sofá gigante e ele se sentou em uma parte e me convidou para sentar do outro lado – pode me contar oque desejam fazer com a minha parte do amuleto?

–Damon e Durga, criaram esses mundos para proteger cada parte do amuleto, a fim de, que nenhum ser com a perversidade do Lokesh pudesse pega-los - ele assentiu.

–Sim, Damon me entregou e pediu que protegesse, tanto é que eu escondi em uma nuvem profunda, ninguém conseguiria acha-la, a não ser eu mesmo.

–Acontece que Damon é meu irmão e Anamika... Quer dizer, Durga, é minha cuinhada. Há quase um mês minha esposa caiu na mesma maldição que eu e Kishan há 300 anos.

–é muita coisa para entender – ele fez uma pausa – quer dizer que você é irmão de Kishan, este é Damon, o tigre protetor de Durga, que é Anamika. Sua cunhada? – assenti- Isso é bem complicado – ele deu uma risada- Você e seu irmão foram amaldiçoados há 300 anos, e usaram essa parte do amuleto para reverter o processo certo. Kishan então foi mandado para o passado e desde então é Damon o tigre de Durga?- assenti novamente – Nossa, que historia. Enfim. Quem amaldiçoou vocês foi Lokesh, que precisa ficar longe do amuleto. E de uma hora para a outra sua esposa virou um tigre igual vocês. Para reverter o processo vocês precisariam da minha parte também. Certo?

–Certo.

–Ótimo. Ela pode ficar com vocês, já que todos sobreviveram ao teste.

–Teste?- perguntei

–Assim como no mundo de minha... Assim como no mundo de Frien, vocês foram testados, não é mesmo?- assenti – vocês pegaram o amuleto e alguma coisa aconteceu, provavelmente tiveram que usar o amuleto logo em seguida. O mesmo aconteceu aqui. Sua amiga pegou o amuleto e pode usa-lo, só que assim que ela passou pela ponte de minha fortaleza, vocês foram capturados pelos meus servos e caíram em um profundo sono.

–eu gostaria de entender esse sonho. Havia uma garota, e ela me torturava.

–ela torturava a todos- ele fez uma pausa cabisbaixa – essa garota, não é qualquer garota. Assim como Lokesh, vocês a enfrentarão. O nome dela é Arushi. E ela quer se vingar de vocês.

–Mas, se vingar do que? -perguntei

–Lamento mais não sou capas de responder- ele disse com um olhar serio- Essa garota é muito poderosa. Tão poderosa quanto o próprio lokesh. Ela conseguiu ultrapassar minha barreira das ilusões e criar um novo sonho dentro do de vocês. Um que ela, e apenas ela, pudesse controlar. Por isso ela esta em todos.

–Você não podia fazer nada para impedi-la?- ele negou

–Nada. Os poderes dela estão longe de min. Não consigo nem mesmo ficar próximo de seu campo magnético. Ela não é normal. E não digo isso como se fosse louca, mais sim como se ela não fosse um ser humano qualquer, como vocês  são. Ela não é.

–entendi- disse

–Desculpe mais eu tive que ver a mente de vocês – ele disse rindo – e há uma coisa que você precisa saber- Corifeus voltou a ficar serio e juntei às mãos abaixo do queixo – Eu pude ver o porquê esta assim com sua esposa.

–assim como?- perguntei

–Yesubai e você. Bem, não precisa ser um especialista para dizer oque esta acontecendo com você- ele fez uma pausa- saiba que isso é uma das coisas de Arushi, ela tem certo comando por você. Lembrasse-se de como Kishan se sentia com Yesubai? Ele parecia um “louco apaixonado” ou ate mesmo alienado certo?- assenti- o mesmo esta acontecendo com você, muitas vezes mais forte com você. E isso vai causar um grande abalo no seu casamento, então cuidado. Quanto mais tempo você passar com Yesubai, mais você vai deseja-la, e isso de certa forma, vai fazer você e Kelsey se desentenderem, a ponto ate mesmo de uma possível separação – fiquei em choque, arregalei os olhos ao ouvir suas palavras- tome cuidado. Vai ser difícil se controlar meu caro.

–entendi – fitei por um momento a paisagem do chão – o mesmo acontece com Kelsey e Kishan?- perguntei

–não. Kishan está com um grande poder de sua esposa, oque faz dele submisso ao poder que Arushi jogou em Yesubai. Mais isso não significa que Yesubai não seja, ainda, apaixonada por ele. Você deve ter conhecimento de que ela prefere o seu irmão, e que ela optou por ele.

–Entendi.

–Acho bom você ir descansar. Um dos meus servos irá leva-lo ao seu quarto.

Como prometido, um de seus criados me acompanhou. Não era muito diferente dele, sua pele era mais azulada e ele não ousava levantar o rosto e olhar nos meus olhos. Senti-me pouco desconfortável. Abri a porta do quarto que Corifeus separou para min e senti falta de alguma coisa. Kelsey. Faltava Kelsey ali. Senti-me só por um momento. Deitei-me na cama e pensei em algumas coisas distantes, afim de, ocupar a minha mente.

Acordei na manha seguinte e fui procurar pelos outros, mais achei apenas Yesubai. Seus cabelos estavam soltos e ela usava um vestido cor de lavanda. Ela estava debruçada no parapeito olhando atentamente para uma flor de lótus, e presa em pensamentos. Me aproximei dela e a fitei, sem nem mesmo ter notado a minha presença.

–Bom dia – disse, e ela levou um pequeno susto, virou-se para mim e deu um sorriso simples- Desculpe mais você também teve aquela...

–Ilusão?- ela sorriu – felizmente não. Quando eu e Sunil achamos o castelo, os guardas passaram por mim direto, e quando reparei, Sunil estava caído no chão. Eles me perguntaram onde vocês estavam e eu contei. Um deles me acompanhou ate a entrada do castelo. Eu conversei com Corifeus. Ele disse que era como uma maldição, para mortais que passassem pela ponte. Sua vida não esta mais prorrogada então você também foi atingido. Kishan é um deus, mais apenas na forma de Damon. Kelsey é mortal e protegida de Durga, e Nilima mortal também... Eu também mais estou morta – ela disse seco o fato de estar morta. Respirou fundo e pude ver seus olhos molhados – enquanto estavam inconscientes conversei com Corifeus. Ele disse que sou muito impressionante para minha pouca idade, tenho alma de uma adulta muito mais velha que grande maioria – ela sorriu sarcástica- não que seja a primeira pessoa a dizer isso, e não que eu queira me gabar. Mais para alguém de dezesseis anos é um progresso – ela deu um lindo sorriso.

–Você é como Julieta – ela me olhou confusa- Kelsey lia para mim no circo – ela concordou para continuar – Mesmo sendo tão jovem, sua alma era experiente. E escolheu seu amor como tumulo – disse – é uma dramática historia, eles morrem, juntos, se amando. E gosto de pensar que depois da morte ainda ficaram juntos.

Ela concordou e voltou a olhar para a linda paisagem a nossa frente. Pensei no que Corifeus disse, sobre ela nunca ter gostado realmente de mim, sabia que podia ser verdade mais eu... Eu sentia algo inexplicável por ela, parecia quando estava sem memoria, a minha cabeça pensava de um jeito e eu agia de outro, não conseguia mais me controlar perto de Yesubai, e esse sentimento começou a crescer e crescer. Como se me fizesse acreditar que o amor que ela sentia por Kishan, era um amor que ela sentia por mim.

Uma forte onda invadiu meu ser, e olhei nos olhos de Yesubai, eles estavam tão brilhantes. Antes que pudesse perceber ou fazer qualquer coisa, ela me apanhou em um beijo.

Não sei o exato de quanto tempo ficamos assim, nenhum ousava em se separar, estava tudo tão natural e tão sincrônico. Ela queira, e eu queria. Esqueci-me da existência de outras pessoas no mundo. Pensei apenas nela. Mesmo tendo total certeza de que ela não estava vendo a mim ali, beijando ela, eu ainda a queria e desejava. Sabia que ela via Kishan, o seu grande amor, e não a mim. Alguma coisa muito estranha acendeu a minha mente e recordei a consciência.

Me afastei dela, e segurei seus ombros, olhando fixamente para os seus olhos, que estavam fechados. Lentamente ela abriu os mesmos e deu um sorriso, que logo foi desfeito, para dar lugar a uma expressão de tristeza e remorso. Ela se afastou dois paços e olhou na direção da porta.

Segui o seu olhar e o meu coração gelou pela minha ousadia. Kelsey estava parada estática com as mãos na boca e um rio de lágrimas escorria dos seus olhos. Estavam vermelhos e escorriam muito. Suas sobrancelhas estavam retraídas e ela soluçava baixinho. Meu coração se partiu e eu sabia que o dela também. Olhei de canto para Yesubai e ela estava do mesmo jeito. Me arrependi de todas as formas possíveis, e eu não sabia oque fazer. Ela balançava a cabeça em negativo e saiu correndo.

Olhei para Yesubai tentando encontrar uma resposta mais ela fez que não com a cabeça e saiu em direção ao seu quarto. Tomei coragem e fui atrás de Kelsey. Não sabia exatamente oque eu poderia fazer para concertar as coisas mais eu iria tentar.

Sai em disparada no corredor, corri o mais rápido que pude e ela já estava fechando a porta quando a encontrei.

–Kelsey!- gritei – Por favor Strimani, me escute Priya. Deixe-me explicar

Lentamente ela abriu a porta, com a pior expressão possível. Sua sobrancelha estava franzida e ela olhava fixamente nos meus olhos. O ódio brotava de seu coração e não avia duvidas nenhuma de que ela não iria aceitar as minhas desculpas. Eu tentei aproximar as minhas mãos dela mais ela desviou, aquilo foi de partir o coração. Aquilo foi pior do que a tortura de Lokesh.

–Explique – ela disse seca.

–Eu...- ela me interrompeu

–Vejo que não tem nada para explicar. Agora me de licença – ela tentou fechar a porta mais segurei a mesma

–Espere Kelsey – ela abriu a porta relutante

–Esperar oque Dhiren?- ela me fuzilou com um olhar mortal, parecia ate mesmo que estava tentando me asfixiar com o pensamento – Para você pode ser um simples beijo, mais eu vi como você olhou para ela. Você nunca olhou assim para mim. Vocês pareciam estar apaixonados um pelo outro... coisa que eu não duvido. Ela é realmente uma garota impressionante e eu sou oque?

Fiquei em silencio, queria que ela desabafasse tudo antes de poder dizer alguma coisa. Meu pai me ensinou a ser um bom ouvinte, e eu queria saber oque passava no seu coração naquele momento.

–Quando a gente começou a namorar – ela secou uma lagrima que escorria de seu rosto – Eu pedi pra você Dhiren! Eu pedi, não uma, não duas. Mais varias vezes, para que me deixasse ir, porque futuramente você iria me abandonar e ambos iriamos sofrer. Eu falei, eu tentei me afastar de você, mais você não se importou. Eu disse que você estava livre e que poderia ficar com quantas você quisesse, mais você não me deu ouvidos! E eu acreditei em você! Eu sofri quando tive que deixa-lo na índia, e foi sem duvidas a pior escolha que eu já fiz. Eu repetia a todo o momento você pedindo para eu ficar com você, e agora, eu me sinto tão vazia! Sinto-me uma completa idiota!

Meus olhos estavam ardendo, não sabia oque dizer, não sabia oque fazer.

–Mesmo depois de você recuperar a memoria, você ainda insistia e eu me deixei levar. Mais eu tenho certeza, agora, que isso nunca passou de uma ilusão. Eu me iludi, eu pensei que poderia ser diferente mais não foi. A gente se casou e foi fantástico. Eu sempre sonhei em ter um casamento lindo como o de Mick e Sarah... Ou o dos meus pais Ren... mais... Mais você simplesmente fez aquilo que eu mais temia – ela apertou o peito com as mãos e baixou a cabeça. Lagrimas pingavam dos seus olhos, outras escorriam pelo seu rosto.

Eu estava dilacerado. Não sabia oque fazer. Tentei me aproximar dela novamente mais ela recuou. Colocando uma parede invisível entre nos. Eu queria quebrar essa parede, correr e abraçar o meu amor... mais não conseguia.

–Kells...

–Eu acho melhor – ela secou uma lagrima dos olhos e olhou no fundo dos meus – Eu acho melhor a gente...

–Não! Kells! Por favor, não!

–Sim Ren, é o melhor ha ser feito – ela disse em tom alto e serio – A gente precisa de um tempo no nosso casamento... não é um divorcio que eu quero, mais eu preciso pensar na minha vida. Tenho certeza que você também, e isso será o melhor para nós dois- ela colocou as mãos na maçaneta da porta, ficando de costas para mim – Tenha um bom dia.

Kelsey fechou a porta lentamente, mais não conseguia me mover para impedi-la disso. Minhas mãos estavam caídas e fracas demais. Baixei o olhar para o chão e encostei a testa na porta, vendo as lagrimas caírem sem parar dos meus olhos. Com muita força apoiei as moas na porta e tentei criar coragem para ir embora dali. Mais algo me impedia. Meu corpo não me obedecia, estava vulnerável e me sentia muito mal.

Com muita dificuldade retirei as mãos da porta e sai na direção do meu quarto. Mais antes precisava me desculpar com Yesubai.

Sequei as lagrimas dos meus olhos e segui ainda cabisbaixo. Kishan passou por mim no corredor e me parou, mais não conseguia encara-lo, ele tentou me fazer olhar nos seus olhos mais era impossível. Kishan fez uma expressão de raiva e serrou os punhos. Saiu na direção dos aposentos de Kelsey e me deixou no corredor.

Continuei minha caminhada, bati na porta do quarto de Yesubai e ela não quis me atender. Segui novamente para o meu quarto e lá fiquei pelas próximas 24 horas na forma de tigre, jogado no chão e chorando. Tentei ate mesmo dormir mais só tinha pesadelos. Não tive vontade de comer nem nada. Queria apenas ficar ali, fingindo que não existia. 

 

oOo Kishan oOo

Estava indo ver como Kelsey estava depois de um sonho daqueles, e com os hematomas que ele nos causou, só iria descansar ate ver que ela estivesse a salvo. As minhas queimaduras já haviam sarado, e a pele queimada estava quase cicatrizando. Corifeus pediu que avisasse assim que estivéssemos prontos para partir, e então ele nos encontraria no seu grande salão.

Estava no corredor quando encontrei com Ren, ele andava tropeçando e cabisbaixo. Quando passei por ele pude ver seus olhos, estavam incrivelmente vermelhos e ele chorava.

–Ren? Está tudo bem?- perguntei segurando em seu ombro. Ele não disse nada, olhava fixamente para o chão e sua expressão era a pior- aconteceu alguma coisa?- já estava ficando preocupado

–K-Ke..Kells...eu...- ele não dizia coisa com coisa, parecia ate mesmo que estava bêbado.

–Oque tem a kelsey?- perguntei. ele olhou nos meus olhos mais não disse nada

O medo tomou conta do meu ser, mais me lembrei de ter visto Yesubai correndo mais cedo, por algum motivo assimilei que uma coisa ligava outra. Serrei os punhos

–Oque você fez com a Kelsey?- ele desviou o olhar e mais lagrimas caiam de seus olhos azuis. Ren estava com uma cara de cão arrependido... ou nesse caso, tigre arrependido – Ren! Não me diga que...

Ele olhou novamente nos meus olhos e só aquilo bastou. Ele tinha magoado ela de alguma maneira, e dependendo da idiotice que ele tivesse feito, ele ia levar uma boa surra.

Serrei os punhos e sai na direção do quarto de Kelsey. Estava nervoso e não sabia oque havia acontecido. Precisava de uma explicação.

Bati na porta do quarto dela mais não obtive nem uma resposta. Bati novamente e novamente. Conseguia ouvir que ela estava chorando, mais não me respondia. Estava inquieto e sentia a necessidade de saber oque estava acontecendo com ela. Bati mais uma vez.

A porta se abriu de uma vez, tão rápido que nem percebi quando me choquei contra a parede. Meu maxilar estava dormente e as minhas costas doíam. Olhei para frente e vi Kelsey com a cabeça abaixada e em posição de ataque. Consegui me soltar da parede e cai de encontro ao chão. Kelsey elevou o rosto e olhou para min. Sua expressão de fúria foi imediatamente para preocupação. Ela colocou as mãos na boca e saiu correndo na minha direção.

–Kishan!- ela colocou a mão no meu rosto examinando o ferimento – Me perdoe, por favor? Eu... eu não sabia que era você – seus olhos começaram a lacrimejar novamente e ela me abraçou fortemente. Nem liguei para a dor que sentia na costela.

–Tudo bem, bilauta - dei um sorriso torto - não precisa se desculpar – ela se afastou- foi o Ren?

Ela assentiu. Puxei-a novamente para os meus braços, aninhando ela ao meu corpo e tentando consolar ela. Ficamos assim por um bom tempo, tempo o suficiente para me recuperar dos ferimentos.

–Kells, pode me contar oque aconteceu?- perguntei

–Eu acho... - ela olhou para mim - que o meu casamento acabou.

Estava estático. Foi como um choque, aquilo de repente. Kelsey amava Ren mais do que a qualquer coisa, e isso certamente estava acabando com ela.

Não falou mais nada, nos levantamos e levei-a para o banheiro, ajudando-a lavar o rosto. Os olhos inchados denunciavam o seu sofrimento, e aquilo era sem duvida a pior coisa que eu já havia visto.

Depois que ela se recompôs, fomos procurar Corifeus. Dissemos a ele que amanhã iriamos embora, e ele concordou. Não perguntou o porquê do sofrimento de Kelsey. Mais se juntou a nos. Eu, Nilima, Sunil, Kelsey e Corifeus ficaram na grande sala conversando e comendo alguns doces que pedimos para o fruto dourado.

Nilima e corifeus nos divertiram demonstrando seus poderes. Ela pedia agua para o colar de perolas negras e corifeus as fazia evaporar, então ela as organizava como nuvens e desenhava coisas nela. Escreveu seu nome mais o de Sunil, o meu e o de Anamika. Mais quando chegou à vez de Kelsey, Kelsey pediu para que apagasse e saiu da sala lentamente. Tentei ir atrás dela mais Nilima me impediu, dizendo que ela precisava de espaço. Então contei para eles oque havia acontecido. Corifeus se retirou e continuamos conversando.

Já passava da meia noite quando Yesubai entrou na sala, ela estava com uma aparência triste, mais assim que nos viu, desfez, brotando assim um sorriso amarelo nos lábios. Todos sabiam que ela estava arrasada e que não era sua intenção mais. Ela não conseguia se perdoar.

–Eu não sei oque deu em mim, eu... - ela olhou para mim- quando eu olhei para Ren, eu via você Kishan. Não sei o porquê mais, aquilo... Foi mais forte do que a minha vontade.

Corei. Que ela ainda me amava eu sabia, mais queria entender oque estava acontecendo como ela e Ren. Não que eu não a amasse, mais agora eu era casado com Anamika.

Continuamos a conversar e a encorajar ela a ir falar com Kelsey, mais alertei a tomar cuidado com lima possível surra. Yesubai sorriu e disse que tentaria usar seus poderes se algo desse errado. Por segurança a acompanhei ate a porta do quarto de kelsey e bati na mesma. Não demorou muito para ela a abrir.

–Kishan, desculpe, mas, não estou a fim de conversar – Ela foi tentar fechar a porta mais a impedi.

–Tem alguém que precisa falar com você Kells, e você precisa escutar – Puxei Yesubai, que veio relutante e parou na frente de Kelsey. Kelsey deu um sorriso de canto e olhou fixamente nos olhos de Yesubai.

–O-Oi, Kelsey- Yesubai disse cabisbaixa, mais logo levantou o olhar para Kelsey.

–Oi- disse ela seca. Pigarreei e ela olhou seria para mim, dei um sorriso e apontei para Yesubai - Oque quer me falar? – ela perguntou cruzando os braços.

–Eu... Kelsey, não sei se mudará alguma coisa, mas, você precisa saber oque realmente aconteceu. Ren não me agarrou como você deve estar pensando, eu... Fui eu... Fui eu que o beijei – Kelsey estreitou os olhos e Yesubai desviava dos seus – Não sei oque aconteceu mais, naquele momento que estávamos conversando eu não via Dhiren, mais sim Kishan. E todos os sentimentos que eu cultivava por ele desabrocharam. Eu via Kishan e simplesmente o beijei. Ren se afastou de mim e então percebi que - ela começou a gaguejar e a tremer- percebi que não era Kishan que eu beijava. Eu queria, e queria muito que fosse mais não era. Foi uma ilusão, uma peça criada pela minha cabeça... Kishan me contou sobre a sua conversa com Ren, e eu sinto muito. Não queria ter causado nada disso Kelsey. Por favor, não se aborreça com Ren, ele não teve culpa. Fui eu. Se tiver que culpar alguém, culpe-me. Se tiver que odiar alguém, odeie-me, mais não a ele.

–Yesubai... - Kelsey passou as mãos pelos cabelos – Eu perdoo você, mas... Olhe, eu acho que esse tempo que pedi para Ren será o melhor para nos dois, assim eu vou evitar me magoar, e talvez ele ate volte a ser ele mesmo nesse tempo – Kelsey escorou as costas na parede e secou uma lagrima que escorreu pelo seu rosto – Quero ficar um tempo sozinho, ainda sinto muita dor no meu corpo e preciso relaxar um pouco. Outra hora, conversamos.

–Claro- beijei sua testa- se precisar de alguma coisa, pode bater na minha porta a qualquer hora. E se estiver no chuveiro, pode invadir o meu banheiro – dei uma piscada e ela sorriu.

–Boa noite Kelsey - Yesubai deu um abraço em Kelsey que retribuiu o gesto da amiga.

Boa noite- Kelsey sorriu e fechou a porta.

Acompanhei Yesubai ate o seu quarto. Ela ficou parada na sua porta olhando para mim, só percebi que estava corado, pois ela sorriu envergonhada. Ficamos nessa troca de olhares ate ela se pronunciar.

–Você sentiu muito a minha falta?

Ela perguntou. Acabando com o sorriso que estava a pouco nos seus lábios. Senti-me triste também, foi difícil para eu perdê-la uma vez, e estava ciente de que iria ter que me despedir novamente. Um aperto em meu peito me fez olhar nos seus olhos violetas, e ela esperava atentamente a minha resposta.

–todos os dias- ela suspirou – Eu me arrependi por não poder ter feito nada para salvar a sua vida. E saiba que, se eu pudesse eu faria de tudo, de tudo mesmo, para salvar você.

–Eu nunca amei ninguém como eu amei você Kishan - Yesubai se aproximou de mim e pousou suas mãos no meu peito– Culpo o destino por não ficarmos juntos

Yesubai me abraçou e grudou seu rosto no meu peitoral. A envolta com os meus braços fortes e segurei com ambos a sua cintura. Ela alisou os meus cabelos e me permiti desfrutar daquele momento com ela, eu a devia isso.

–Eu amei muito você Yesubai, mais não posso fazer isso com Anamika- beijei dolorosamente sua testa.

–Kishan eu estou morta – ela riu com deboche – não vai fazer diferença, conceda-me esse desejo? Por favor?- seus olhos marejavam e ela se aproximou do meu rosto – faça um capricho meu e me beije por uma ultima vez.

Aproximei-me de seus lábios e os rocei levemente contra os meus. Não queria aprofundar um beijo e me arrepender depois, mais queria satisfazer uma vontade minha também. Ter aos meus braços por uma ultima vez o meu primeiro amor. Relutante, Yesubai se desvencilhou do meu beijo, porem, continuou abraçada a mim.  Permiti-me ficar naquela posição por um bom tempo, e não sei exatamente por quanto tempo foi. Mais logo ela me soltou quebrando assim a nossa conexão.

–Obrigado Kishan - ela deu o sorriso mais lindo que já dera antes

–não fui por você – beijei sua testa- eu que digo. Obrigado, Yesubai

Afastei-me dela e tomei o caminho de volta para o meu quarto, com o pensamento em Anamika, e a saudade que estava sentindo dela naquele momento. Quando nos despedimos, ela disse que estariam todas as noites nos meus sonhos, e que quando me sentisse só, que se lembrasse dela.

Na manha seguinte, nós nos reunimos na sala de Corifeus, ele conversou umas coisas com a gente, e foi nos posicionando para abrir o portal para o próximo mundo, assim como Phet e Frien, ele desenhou um circulo vermelho no pescoço e outro no chão. Demos as mãos aos nossos parceiros e aguardamos. Kelsey evitava olhar para Ren, e Ren, olhava fixamente para Yesubai.

 –Peço que Tenham cuidado nesse mundo. Yesubai será muito útil assim como a inteligência de Nilima. Kelsey tenha cuidado com as suas emoções, e o mesmo para Dhiren quando sair de lá.

–Entendemos – dissemos juntos.

–Kelsey, por favor – Kelsey colocou sua mão na marca e ela brilhou, seguindo por um estalo e um buraco foi surgindo no chão.

–Nilima – Ele a chamou – Essa parte do amuleto governará o ar. Ela ficará no seu domínio a partir de agora, faça bom uso de seu poder – Corifeus entregou o amuleto para Nilima e colocou no pescoço. – Me despeço de vocês meus amigos. Vou encontrar meu grande amor agora.

–Frien?- perguntou Sunil

Ele apenas sorriu e apontou para o buraco no chão. Kelsey e Ren pularam primeiro, seguidos por Nilima e Sunil, e eu e Yesubai.

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–Querido, acorde

Uma voz doce me chamou. Cocei os olhos e respirei fundo. Minha mão estava segurando a de alguém. Abri os olhos devagar e vi uma figura estranha em cima de mim. Ela sorria tão radiante e tão linda, seus lábios bem preenchidos e seu sorriso perfeito eram bem notáveis na sua pele bronzeada dourada. Suas vestes vermelhas e muitas joias nos braços. Parecia ate a ultima vez que a vira. E não acreditava no que via, Não acreditava que ela estava na minha frente.  

–Deschen.

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