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História O Despertar do Tigre - Cara a Cara com o Tigre de Olhos Dourados


Escrita por: Carolina_M

Notas do Autor


Olá pessoinhas, sei que demorei para postar, mas até que eu mereço um credito, esse capitulo tá ENORME! Ok, mentira, nem é tanto assim, mas foi o maior até agora. Queria agradecer a quem já estava acompanhando e dar boas vindas as novas leitoras!
Espero que gostem e até depois!!

Capítulo 7 - Cara a Cara com o Tigre de Olhos Dourados


Dei uma olhada rápida no espelho, apenas para conferir se minha blusa não estava do avesso ou toda amassada, coisas que às vezes aconteciam comigo. Peguei a única bolsa que tinha levado na viagem, uma pequena na cor preta e coloquei dentro dela meu celular e minha carteira. Com tudo em mãos, sai do quarto e desci as escadas, apenas para encontrar minha tia na entrada da cozinha praticamente dando pulinhos de alegria. Sua expressão de felicidade sumiu assim que ela me viu.

-Você vai desse jeito? – ela perguntou, incrédula.

Olhei para baixo, observando as minhas roupas. Estava com uma calça jeans, uma blusa azul soltinha de mangas compridas, minhas botas pretas de cano alto e minha bolsa. Com certeza não iria ganhar nenhum concurso de Miss Mundo, mas estava perfeitamente normal para ir ao cinema.

Levantei o olhar, encarando minha tia, que ainda me olhava como se eu estivesse usando alguma roupa de penas de galinha.

-O que tem de errado com essa roupa? – perguntei enquanto abria a geladeira, pegando um morango e mergulhando numa lata de leite condensado.

-Me diz você, é com essa roupa que você pretende a ir ao seu encontro?

Terminei com o morango, jogando as folhinhas no lixo e peguei uma colherzinha na gaveta de talheres.

-Isso não é um encontro. – retruquei.

-E o que é, então? – ela perguntou com um sorriso zombeteiro no rosto.

Voltei à geladeira, agora pegando a lata de leite condensado e enfiando a colher lá dentro.

-Não sei. – admiti, enquanto levava a colher até boca. –Talvez isso fosse um encontro se eu gostasse dele, ou se eu o conhecesse mais, ou se não tivesse um dedo seu nisso tudo. –acusei apontando a colher para seu rosto.

Ela bufou, vindo na minha direção e pegando a colher e a lata da minha mão.

-Não sei da onde você tirou uma ideia dessas. – ela falou em um tom ofendido. –Se Max quis te convidar para sair o problema é dele, mas você bem que podia colocar um vestidinho ou algo menos... casual.

Olhei com tristeza para a lata que ela tinha acabado de guardar na geladeira, suspirando em seguida.

-Tia, está frio e é muito provável que chova mais tarde, ou seja, é o tempo perfeito para NÃO se usar um vestido. O que me faz lembrar uma coisa: levar uma jaqueta. Já volto.

Subi as escadas novamente, pegando minha jaqueta preta de cima da minha mala e voltando a descer.

Minha tia ia abrir a boca para falar alguma coisa, quando foi interrompida pela campainha.

-Até daqui a pouco, tia.

Abri a porta e dei de cara com Max. Ele sorriu.

-Você está bonita.

Balbuciei um obrigada, acenei para minha tia e sai. Queria que aquela noite acabasse o mais rápido possível.

                                                                       ***

-Você já chegou? – perguntou minha tia com uma ponta de surpresa e decepção na voz.

-Não foi um filme muito longo. – falei dando de ombros.

Sua expressão inicial deu lugar a um largo sorriso.

-E aí? O que achou? Como foi? O que vocês fizeram? – ela perguntou como uma adolescente louca para saber das fofocas sobre garotos.

Soltei um suspiro longo. Minha tia sempre foi assim, e agora que eu tinha crescido e já estava na idade de namorar (de acordo com ela), as coisas tinham ficado ainda mais embaraçosas do que antes.

-Não aconteceu nada do que você está imaginando, se é isso que você quer saber.

Ela fez uma careta e eu ergui uma sobrancelha diante de sua atitude.

-Eu não imaginei nada. – ela disse, dando de ombros como se fosse a pessoa mais inocente do mundo.

Sorri vendo a culpa estampada em seu rosto e me encaminhei para as escadas, com o único objetivo de tomar um banho e cair na cama.

-Tá. Tudo bem, eu admito. – minha tia suspirou, com a voz assumindo um tom culpado, levantando-se da poltrona onde estava sentada. –Talvez eu tenha dado a entender que seria legal se Max te convidasse para sair hoje.

Foi a minha vez de suspirar.

-Eu já sabia que tinha um dedo seu nisso tudo.

Ela deu um meio sorriso e veio na minha direção.

-É que eu pensei que não faria mal passar um tempo ao lado de um cara que não fosse seu avô ou seus primos. Achei que talvez você acabasse gostando do Max. – ela disse se aproximando e apoiando as mãos nos meus ombros. Naquele momento, seus olhos cinza refletiam uma mulher adulta que realmente se preocupava comigo.

-Eu gosto do Max, mas não do jeito que você quer que eu goste. – falei sem conseguir encarar aqueles olhos por mais tempo e desviando o olhar para o chão.

Ela colocou uma mão em meu rosto, me fazendo encara-la.

-Eu me preocupo com você. – ela disse de uma forma tão sincera e direta que me fez sorrir. Tia Emma era o tipo de pessoa que conseguia expressar seus sentimentos em palavras simples, mas cheias de significado.

-Não precisa se preocupar comigo. – falei enquanto ela me envolvia em um abraço apertado. Tão esmagador que senti o ar ficar preso em meus pulmões.

-É claro que eu preciso. – ela disse. –Prometi pra sua mãe que cuidaria de você.

Fechei os olhos, por um momento me sentindo como a garotinha de oito anos novamente, louca para ser abraçada e consolada, tentando se livrar da dor que pesava sobre meu peito. Até que tia Emma me apertou mais e senti uma queimação repentina em meus pulmões.

-Não sei se ela acharia que está fazendo um bom trabalho. – falei com a voz estrangulada.

-Sei que ela nunca foi do tipo liberal, mas não acho que ela acharia tão ruim assim você arrumar um namorado ou ter um encontro ou outro uma vez na vida. – ela começou a falar, ainda me apertando contra si.

-Não é sobre isso que eu estou falando. Você está me esmagando.

Ela riu e finalmente me soltou.

-Nós duas sabemos que eu nunca fui muito responsável. Só que matar uma sobrinha com poucas semanas antes dela ir embora seria algum tipo de recorde.

Concordei, ainda puxando o ar para meus pulmões.

Ela ainda ria consigo mesma, então decidi aproveitar a oportunidade.

-Acho que vou tomar um banho. – falei colocando um pé no primeiro degrau da escada.

-Nem pense nisso. – minha tia gritou, pegando meu braço e me arrastando até o sofá, só depois que me sentei ela fez o mesmo. –Pode começar a me contar tudo.

E mais uma vez ela voltou a ser a tia maluca.

                                                                       ***

O dia seguinte passou sem contratempos, o que significava que minha tia não tentou mais me atormentar falando sobre a noite anterior.

Entrei no espaço que comecei a chamar de “toca do tigre”, encontrando-o novamente no seu canto no fundo da jaula. Ele levantou a cabeça assim que ouviu a porta da sala se abrir.

-E aí, Nick? – fui em direção ao freezer, já preparando o café da manhã dele.

Depois que abaixei a grade de segurança e antes mesmo que tivesse chegado até o painel que abria a porta da jaula, o tigre já tinha se aproximado e estava praticamente querendo se enfiar no meio das barras.

Estreitei os olhos, e fiquei observando-o.

-Calma, não precisa ficar desse jeito. Seu lanchinho já está a caminho. – ele me ignorou, e eu decidi ir mais depressa.

Quando já estava dentro da jaula e me inclinei para colocar a tigela com a comida no chão, notei que ele realmente tentava colocar a cabeça para fora da jaula. Há alguns dias atrás eu ficaria apavorada com essa possibilidade, mas agora apenas achei graça.

-Ei! – falei me agachando na frente dele, a uma distância segura, claro, mesmo que tivesse perdido um pouco o medo dele, eu não era idiota ao ponto de ficar tão perto da jaula, principalmente agora que parecia que ele queria fugir dela.

-Ei! – chamei de novo, dessa vez atraindo sua atenção.

-Sei que quer sair, mas você nunca vai conseguir passar esse cabeção por um espaço tão pequeno. –comecei a falar de um jeito sério, mas comecei a rir em seguida, ele pareceu bufar e se afastou, indo para o fundo da jaula.

-Não precisa ficar bravo! Eu só estou dizendo a verdade. – ri mais um pouco, o tigre virou, ficando de costas para mim, fazendo birra.

-Nossa! Pra um tigre adulto você é bem birrento. – levantei e continuei a olha-lo.

Ele apenas ficou balançando a cabeça de um lado para outro, como se estivesse resmungando.

-Acho que você ofendeu ele.

Dei um pulo e me virei para a porta, vendo um Sr. Vincent, ou melhor, Vince, me encarando com um sorriso brincalhão nos olhos. Voltei a olhar para o tigre, que tinha virado a cabeça, como se estivesse muito interessado na nossa conversa.

-Talvez devesse tentar pedir desculpas. – sugeriu Vince, ainda com um sorriso nos lábios.

Agora Nick estava totalmente virado na nossa direção e eu pude jurar ter visto um reflexo do sorriso de Vince nos olhos dele.

-Não sei se adiantaria alguma coisa. – falei cruzando os braços.

-Só tem um jeito de saber. – ele retrucou.

Mordi o lábio inferior. Parecia um pouco infantil, mas eu odiava ser repreendida, desde que era uma criança. A questão era que eu sempre estava no meio das brigas e traquinagens de Austin, Luke e Charlie; eu era aquela que dizia pra eles pararem e os aconselhava a não fazer coisas idiotas, como jogar um balão cheio de água na professora da quinta série (sim, eles fizeram isso e levaram a maior bronca depois).

Sempre que eles faziam algo errado, eram severamente punidos pelo meu avô. Ele nunca chegou a bater em nenhum de nós, mas arranjava maneiras cruéis de punição, como tirar sobremesas, incluir brócolis e comidas nojentas em cada refeição, esconder o celular por uma semana ou proibir a TV e tira-las dos quartos. Quando eles eram pegos, eu costumava ficar de lado com os braços cruzados, observando-os de cabeça baixa e mãos nas costas enquanto vovô brigava com eles. Quando EU fazia algo errado, nada tão grave, como quebrar um vaso ou matar o peixinho dourado do Luke por dar comida demais; eles adoravam ficar rindo enquanto vovô escolhia o castigo, que nunca era tão severo ou longo quanto o deles (uma das vantagens de ser a segunda garotinha mais nova vivendo numa casa cheia de homens).

Finalmente soltei um suspiro e deixei meus braços caírem ao lado do meu corpo.

-Desculpe. – pedi, olhando nos olhos dourados do tigre, colocando toda a sinceridade na voz, embora ela tenha saído um pouco vacilante.

Ele se levantou e soltou um rugido baixo.

-Acho que isso quer dizer que está tudo bem agora. – Vince falou sorrindo.

Retribui seu sorriso e sai da jaula, fechando a porta e subindo a grade de segurança para que ele comesse.

-Já que ele está nesse desespero pra sair, o que acha de levarmos ele lá para fora? – ele me perguntou apontando para a grade que ficava dentro da jaula e levava até o espaço verde com o laguinho.

Assenti.

-É uma boa ideia.

-Tem coragem de entrar lá comigo? – ele perguntou repentinamente, arregalei os olhos e dei um passo instintivo para trás.

-O que? – balbuciei. –Você que dizer lá dentro? Dentro mesmo? Tipo, do ladinho do tigre gigante de dentes afiados? – perguntei esbaforida, com o medo voltando à tona tão rápido quanto tinha sumido.

Ele riu.

-Você não precisa se preocupar, vai usar a roupa de proteção e eu vou estar do seu lado.

-Já estou até me sentindo melhor. – respondi, soando mais seca do que gostaria. Ele riu.

-Vai ficar tudo bem. Acho que avançaríamos mais com a sua ajuda, já que parece que ele se apegou a você.

-Eu já disse, ele não se apegou a mim, aposto que só está esperando uma oportunidade de me devorar. – Vince ergueu uma sobrancelha e o tigre me encarou com olhar espantado, dei de ombros. –Eu sei que devo ser deliciosa.

Vince deu uma grande gargalhada, mas não prestei atenção ao seu rosto, eu encarava o Nick, que tinha colocado a cabeça entre as patas e parecia cogitar se minha afirmação era verdadeira.

-O que acha? – Vince perguntou me estendendo uma pilha de roupas, era um daqueles uniformes enormes que os treinadores usavam.

Encarei o uniforme como se fosse minha sentença de morte. Uma parte de mim, a maior parte, queria ficar e recusar o pedido do Sr. Vincent; só que uma vozinha no fundo da minha cabeça, e infelizmente eu costumava ouvir mais essa voz do que realmente deveria, gritava para que eu fizesse isso.

Um pouco a contragosto peguei as roupas que ele estendeu na minha direção, em seguida ele me indicou o caminho dos vestiários e me disse que esperaria já dentro da jaula.

Apenas assenti e me dirigi até as escadas.

Fui até o vestiário feminino e troquei minha roupa pelo uniforme que Vince me dera, odiando ele no mesmo instante em que o coloquei, parecia um pouco com as roupas que eu colocava para surfar, e embora essa não fosse tão colada era três vezas mais apertada, o que desacelerava meus movimentos, já que tinha um tipo de enchimento dentro de toda a roupa. Para proteger de mordidas, pensei e tremi com o pensamento.

Pareceu se passar uma eternidade até eu finalmente conseguir voltar à sala. Max estava apoiado na porta da jaula e tinha uma expressão debochada no rosto.

Ele soltou um assobio.

-Quem diria, hein? Merliah entrando na jaula do tigre. Nem eu tenho essa coragem toda. – ele falou com toda a pose, como se fosse o cara mais corajoso do mundo.

Revirei os olhos.

-Disso eu não tenho dúvida, ou você acha que eu já esqueci que você ficou se tremendo todo, com o filme de ontem?

Ele me lançou um olhar ofendido.

-Eu só estava fingindo! Não queria que você se sentisse mal por ser a única com medo. – retrucou.

-Mas eu não estava com medo! Na verdade, eu achei o filme bem ruinzinho. – falei fazendo uma careta.

Ele soltou um suspiro.

-Não era ruim, era assustador. – ele me corrigiu e dei de ombros.

Decidi ficar quieta porque não queria discutir. O filme que fomos assistir era um novo de terror que de acordo com Max, tinha recebido diversas criticas positivas e  parecia ser muito bom. Na verdade o filme não era ruim, ele era bem pior que horrível.

-Como eu entro lá?- perguntei, tentando mudar de assunto.

Max abriu a porta da jaula e fez sinal para que eu entrasse, obedeci. Depois de apertar o botão, fechando-a novamente, ele caminhou até o frezzer e levantou a proteção que envolvia um botão vermelho piscante, que eu sempre pensei ser um alarme de incêndio.

-Ainda dá tempo de desistir. – ele disse, com a mão a poucos centímetro do botão.

Apenas balancei a cabeça em negativa, já tinha aceitado aquele desafio e iria até o fim.

-Pode apertar.

Assim que sua mão pressionou o botão, a grade que me separava do espaço lá fora começou a subir. Respirei longamente, me preparando para finalmente ficar cara a cara com o tigre.

 Senti uma brisa morna no meu rosto. Hoje o dia estava realmente muito bonito, fazia calor, mas não a ponto de ser sufocante, apenas agradável. O sol brilhava no céu, a grama era de um verde vivo e o laguinho parecia reluzir com a luz.

Demorei algum tempo para me localizar, parecia que a qualquer momento alguém iria aparecer com uma cesta de piquenique.

-Não se mexa! – uma voz me tirou do meu estado de torpor e eu paralisei.

Nick corria na minha direção. Fechei os olhos e esperei pela morte que eu esperava ser rápida, quando os abri novamente vi que ele tinha desviado de mim, mas começou a rodar a minha volta, me deixando zonza. Ri enquanto ele corria ao meu redor, como se fosse um cachorrinho brincalhão de 300 kg. Quando ele finalmente parou, percebi que seus olhos dourados brilhavam mais do que em qualquer outro dia.

Ele se aproximou de mim lentamente e numa atitude totalmente inesperada começou a esfregar a cabeça nas minhas pernas como um gato manhoso. Vince se aproximou e sorriu com a cena.

-Viu como eu disse que ele gosta de você?

Apenas dei de ombros com o comentário, talvez ele estivesse certo.

Meus braços pendiam ao lado do corpo e eu me sentia um pouco sem reação com tudo aquilo. Senti algo áspero e molhado tocar minha mão e dei um grito, dando um pulo para trás. Fiz uma careta ao notar que ele tinha me babado.

-Eca! – exclamei limpando a mão na roupa.

Arregalei os olhos ao ver que Nick tinha a língua pra fora e se aproximava novamente de mim.

-Na-na-ni-na-não! – falei colocando a mão em sua cabeça para afasta-lo. –Sem baba de tigre, por favor.

Ele ficou imóvel no mesmo instante e seus olhos subiram pro meu rosto. Foi então que percebi que tinha tocado nele. Mexi os dedos suavemente, sentindo o pelo macio sob meus dedos. Eu nunca tive nenhum bicho de estimação e Jane, que era minha melhor amiga, também não tinha nenhum, então eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Tracei as linhas pretas no corpo do tigre e me agachei, ainda acariciando-o. Foi quando senti a língua áspera novamente, dessa vez ele conseguiu babar no vão minúsculo que existia entre minha pele e a manga direita do uniforme.

-Que nojooooo. – gritei enquanto me afastava e sacudia os braços.

Ouvi uma risada suave ao longe e me virei, vendo tia Emma apoiada na grade de proteção, ela tinha um sorriso divertido no rosto. Quando notou que eu a olhava, ela acenou e eu retribui.

O dia se seguiu sem muitas interrupções da minha parte. Vince treinou com Nick e eu fiquei apenas observando, ajudando em uma hora ou outra e fazendo carinho atrás da orelha do tigre quando ele parecia se cansar do treino.

De tardezinha, quando já estava começando a escurecer, Vince disse que ia colocar o tigre pra dentro e me mandou sair primeiro. Max já tinha sido avisado e já tinha a grade aberta, passei por ele e lhe dirigi um sorriso cansado, ele piscou na minha direção e me encaminhei para o vestiário. Infelizmente ali não tinha chuveiros, apenas no vestiário que ficava na parte dos animais aquáticos, o que era um pouco irônico, então apenas vesti minha roupa, desejando chegar logo em casa para poder tomar um bom banho e dormir feito uma pedra.

Voltei para a jaula do tigre e encontrei Vince e Max saindo de lá.

-Tudo bem, Merliah? – perguntou Vince confuso com minha presença ali, talvez pensando que a esta altura eu já teria ido embora.

-Sim. Só vim dar a comida dele antes de ir embora. – falei me dirigindo até o frezeer e preparando tudo.

-Tudo bem, até mais tarde. – Vince falou, acenando e subindo as escadas, sendo seguido por Max.

Depois de colocar a comida e garantir que tinha trancado tudo fiquei parada olhando Nick comer silenciosamente.

-Sabe, às vezes fico pensando se você pudesse sair daqui. – falei, ainda olhando-o e ele encarou de volta, já estava acostumada com isso. –Quero dizer, não solto pelo zoológico – me corrigi, imaginando que não seria uma boa ideia – Livre na natureza, correndo. Talvez até conhecesse uma tigresa e tivesse uns filhotinhos.

Ele soltou um rugido.

-Tá bom. Já entendi. Sem filhotinhos. – revirei os olhos.

Ele continuou comendo.

-Mas você tem que admitir que são bem fofos.

Ele rugiu mais alto que antes e eu soltei uma gargalhada.

-Tudo bem. – falei indo na direção da porta. –Até amanhã, Nick.

                                                                       ***

Desci as escadas correndo.

-Bom dia, tigre resmungão. –falei com um sorriso enquanto entrava no aposento.

Hoje eu estava de bom humor, o dia estava lindo e vovô não tinha ficado uma fera ao saber de toda a história do meu trabalho com o tigre no zoológico (talvez ele tivesse ficado um pouco nervoso na hora, mas agora já estava tudo bem).

Apenas depois de entrar foi que percebi uma figura abaixada na frente da jaula, o tigre estava bem próximo dela, mas não dei muita atenção, Vince sabia o que fazia.

-Oh, olá pro senhor também, Sr. Vince.

Observei ele se levantar pelo canto do olho. E foi só ai que percebi que aquele homem definitivamente não era o Sr. Vincent. Ele era mais alto, tinha os cabelos negros e usava uma roupa sofisticada, com uma calça e blusa social.

Ele ainda estava de costas, então não pode ver o pânico em meu rosto. Eu já tinha conhecido todas as pessoas que tinham autorização ou motivos para estar naquele lugar e tinha certeza que aquele homem não entrava nessa lista. Nunca ninguém tinha entrado ali do nada, eu não sabia o que fazer nessa situação. Nick me encarava com seus olhos dourados, talvez percebendo a tensão se instalando no ambiente.

O homem começou a se virar e eu imediatamente adotei uma postura ereta e uma expressão calma, porém firme. Ele tinha a pele morena e dava para perceber, mesmo com a blusa social, que era forte. Cerrei os punhos, para tentar fazê-los pararem de tremer, isso às vezes acontecia quando eu ficava nervosa ou era pega de surpresa.

Respirei fundo.

-O senhor não pode entrar aqui, é só para o pessoal autorizado. – falei, me lembrando do que Max me dissera no primeiro dia em Seattle.

O homem deu um sorriso amigável, mostrando dentes brancos e reluzentes.

-Mil desculpas. Não queria invadir o lugar, apenas vim até aqui para ver o tigre. – ele falou em tom culpado, notei que sua voz tinha um pouco de sotaque.

Estreitei os olhos, sem entender o porquê dele querer ver o tigre.

Talvez ele seja algum tipo de maluco que quer soltar o tigre nas ruas de Seattle, pensei.

Depois de um momento em silêncio, o encarei, notando que seus olhos tinham um tom de azul muito diferente. Ele continuava parado perto da jaula.

-É sério, lamento muito, mas o senhor não pode ficar por aqui. – falei, dessa vez mais firme.

-É claro, me desculpe mais uma vez. – ele disse com tanta delicadeza que me senti uma idiota por ser tão mal educada.

Ele se dirigiu até a beira da escada.

-Espere! – chamei, ele se virou um pouco atônito. –Não queria ser rude, é que sou nova aqui e... – não sabia como continuar.

-Não se preocupe, eu compreendo. Eu é que estou errado. – ele deu mais uma vez aquele sorriso amigável.

Ele começou a subir os degraus, até que pareceu mudar de ideia e se virou novamente para mim.

–Será que você poderia me dizer onde eu encontro o responsável pelo zoológico?

Fui pega de surpresa com a pergunta, mas assenti.

-No escritório. É só virar à direita e ir seguindo as placas, não tem como errar. O nome dela é ti... Emma. – falei, me enrolando um pouco. Eu não tinha o costume de chama-la pelo primeiro nome.

-Muito obrigado. – ele agradeceu e partiu.

Fechei a porta depois que ele saiu e respirei fundo novamente.

Olhei para o tigre que ainda me olhava.

-Fala sério, tem como essas férias ficarem mais malucas que isso? – perguntei e ele apenas deitou a cabeça entre as patas, talvez eu estivesse enganada, mas podia jurar que tinha visto um sorriso em seu rosto.


Notas Finais


Vamos aquela famosa frase: "Sabe de nada inocente!".
Beijinhos de luz e até a próxima, pessoal!


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