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História O destino de Kelsey - Fanfic - Olhos dourados


Escrita por: RafaelaAzv

Notas do Autor


Boa leitura

Capítulo 4 - Olhos dourados


Fanfic / Fanfiction O destino de Kelsey - Fanfic - Olhos dourados

Vasculhei o rosto de Ren, Kishan e Nilima no tempo que se seguiu após eles terminarem de me contar a história que, aparentemente, era a história da minha vida.

Procurei um sinal em seus rostos para saber se estavam brincando comigo e nada daquilo que me contaram era verdade. Uma mera invenção ou pegadinha. Porque uma história tão incrível como aquela não poderia ser real. Estava mais para algo saído de um livro de contos de fadas, do que para algo que eu, Kelsey, realmente tivesse vivido.

Mas suas expressões permaneceram sérias e ao mesmo tempo ansiosas e esperançosas, enquanto aguardavam sob a luz do meu olhar cético.

- Oh. Então quer dizer que isso tudo aconteceu há dois anos atrás? - perguntei só para ter algo para quebrar o silêncio.

- Isso tudo começou há dois anos atrás. - Ren me corrigiu suavemente. - Estava acontecendo até ainda ontem.

- Eu devia ter 17 anos... - pensei por um momento. - E se for verdade mesmo, quer dizer que agora eu tenho 19?

Nilima assentiu.

- Sim, a senhorita tem 19 anos.

- A história é verdadeira, Kells. - disse Kishan, do outro lado da mesa. - Você não se lembrou de nada enquanto falávamos?

Senti hesitação na voz dele e me mexi desconfortável na cadeira. Não consegui mais parar de olhá-lo nos olhos enquanto ele me contava sobre nossa aventura fantástica em Shangri-la, incluindo animais selvagens, porém mansos como em A arca de Noé, fadas, sereias e pássaros de ferro que tivemos que ultrapassar para pegar o Lenço Divino. Perguntei à Kishan porque Ren não estava conosco e ele me respondeu que estávamos procuramos sozinhos a segunda oferenda de Durga, pois Ren havia sido capturado pelo tal Lokesh.

Depois disso, me senti muito mal quando soube que eu fui o motivo dele ter sido capturado.

Me virei para Ren, com uma súplica e um pedido de desculpas no olhar. Ele apenas me encarou e sorriu levemente.

- Você também perdeu a memória, não é? - perguntei com um fio de voz.

- Sim. Durga colocou um véu em mim que tirou todas as minhas memórias sobre você, para que Lokesh não pudesse arrancar informações no tempo em que fui prisioneiro dele. - seus olhos brilharam de um jeito sombrio e selvagem quando tocou no nome de Lokesh, e quase acreditei que poderia mesmo haver um tigre por trás daqueles olhos.

Fiquei feliz por saber que ao menos aquela ameaça tinha sido neutralizada. Por mim.

Ren não quis me contar o que Lokesh havia feito com ele por mais que eu insistisse em saber o que eu havia causado depois de ter fugido covardemente para salvar minha própria pele. Mas pela sua expressão sombria não deve ter sido um simples interrogatório o que ele sofreu.

- É tudo tão confuso. - reclamei, apertando minhas têmporas.

- Não se esforce demais, senhorita Kelsey. - disse Nilima, que esqueci que estava atrás de mim.

Ela ouviu junto comigo a parte final da história, sobre como os irmãos Rajaram e eu tivemos que entrar por um vulcão em busca de um Reino de Fogo, antes de viajarmos no tempo e voltar para casa. Eu observava o rosto de Nilima por um indício de surpresa enquanto ela ouvia aquilo tudo, mas ela apenas concordava serísssima e ficava desconcertada quando ouvia falar sobre os desafios que tivemos que completar para atravessar aquele Reino.

- Rakshasa? - disse ela, se virando para me encarar, sorrindo. - Você virou uma Rainha Rakshasa?

Abri a boca para responder que não me lembrava, mas Kishan respondeu por mim.

- Sim, e lutou contra uma outra Rainha para libertar a mim e a Ren, que havíamos sido presos em uma emboscada.

- Depois disso, ela usou a persuasão contra os demônios rakshasas para soltar os Quilin também. - completou Ren.

Nilima arregalou os olhos imperceptívelmente.

- Me parece que eu tive que libertar vocês muitas vezes. - soltei uma risadinha baixa.

Os irmãos sorriram.

- Você é a nossa salvadora, Kells. O que poderíamos fazer? - disse Kishan, entrelaçando os dedos. - Nos libertou da maldição e nos livrou de muitas outras coisas ao longo de nossa jornada juntos.

- Mas, devemos considerar também que houve momentos em que nós a salvamos. - Ren suspirou. - Principalmente durante nossa viajem com o iate para encontrar os irmãos dragões.

- Ah isso. - apoiei os antebraços na mesa e encarei os garotos. - Me contem mais sobre esses dragões. Eles me parecem realmente fantásticos.

- Sim, são fantásticos. - disse Ren, com desprezo e eu ri denovo. - O primeiro dragão que encontramos se chama Lógjun. Ele vive em um palácio de ouro e estrelas no céu.

- Joguei uma partida de xadrez contra ele em troca de informações sobre seus irmãos, mas acabei perdendo. - disse Kishan. - Achei que não iríamos conseguir uma passagem de volta para casa, mas aí você consertou a estrela de Lógjun e ele nos concedeu a viajem de volta.

Kishan sorriu diante da minha expressão perplexa.

- Como exatamente eu consertei uma estrela? - perguntei sem ar.

- Por meio da nossa conexão. - disse Ren, se inclinando para apoiar a mão no queixo. - Você possuia o poder dos raios quando usava o colar de Kishan, mas ele sozinho era fraco demais para reparar a estrela. Mas quando nos tocamos, a conexão ficou mais forte e poderosa, e conseguimos fazer a estrela brilhar novamente quando apontamos o poder para ela.

Abri a boca para responder, mas nada saiu.

- E usou esse poder para descongelar a sereia que guardava a chave dos portões do Sétimo Pagode. - disse Kishan.

Pigarreei e dirigi minha atenção para aqueles olhos dourados.

- Qual dos dragões eu mais gostei? - perguntei.

- Você pareceu gostar muito de Yïnbáilóng, o dragão do palácio de gelo. - respondeu Kishan. - Ele mora em um Reino subaquático no meio do oceano.

- Incrível. - pisquei. - É lá que vive o Kraken e aquele tubarão gigante?

- Sim, eles vivem lá também. - disse Kishan.

- Espero que eles continuem lá. - estremeci só de pensar em um tubarão do tamanho de uma baleia azul. - Principalmente o tubarão.

- Não se preocupe. Nós acabamos com ele.

- Como? - ergui as mãos. - Espere deixa eu adivinhar. Eu usei meu poder de raio nele? Diga que sim por favor.

- Usou. - Kishan me olhou de um jeito estranho. - E quase morreu no processo.

Franzi a testa, mas Ren explicou.

- O tubarão gigante mordeu sua perna e você estava perdendo muito sangue. Se não tivéssemos usado o kamandal...

Ele não terminou, mas eu tinha uma vaga idéia do que poderia ter acontecido.

- Esse Kamandal que pegamos com a sereia guardiã.. ele revive as pessoas ou só as fortalece?

Os irmãos trocaram um olhar.

- Não sabemos se ele revive pessoas. - disse Ren. - Usamos apenas em situações extremas, onde a vida já estava se esvaindo, mas não completamente.

- Você bebeu do elixir quando estava morrendo depois que a guerra contra Lokesh acabou. Tivemos que usar o amuleto de Damon e fazer uma oferta para trazê-lo devolta. - a voz de Kishan era baixa, e eu soube que ele deveria ter sacrificado algo para ter o irmão vivo novamente. - E também a chama dourada de Kelsey.

- Chama dourada? Não eram raios? - perguntei, confusa.

- É como Phet chamou a nossa conexão. - respondeu Ren. Aqueles olhos azul cobalto me olhando intensamente. Corei e perdi uma batida do coração.

- Ahn, essa foi a última parte. - perguntei baixinho. - Mas e quanto à primeira e a terceira?

- No começo estávamos apenas nós dois. - respondeu Ren, ainda me olhando daquele jeito que deixava meu rosto quente.

Kishan se recostou na cadeira e me observou, enquanto Ren me contava sobre a cidade abandonada de Kishkindha. Me encolhi quando ele me falou sobre os espíritos que se passaram por nós, tentando nos enganar para que pegássemos o caminho errado. Achei interessante a parte dos Kappas que viviam no rio protegendo jóias e pegavam todos aqueles que entrassem nele, mas logo mudei de idéia quando Ren disse que um deles me mordeu e quase morri denovo.

- Isso tudo parece muito perigoso. - comentei depois que ele descreveu a floresta de árvores espinhosas que se moviam para atacar e perfurar.

- E são, mas você passou por isso tudo sem hesitar ou reclamar.

Ele ergueu a cabeça e fingiu pensar por um momento, antes de dizer maliciosamente:

- Oh não, agora que me lembrei. Você reclamou sim, mas por outro motivo que não tinha nada a ver com os Kappas e nem com os macacos.

- Do que eu reclamei, então? - perguntei hesitante.

Ren sorriu torto e uma faísca de diversão brilhou em seus olhos.

- Reclamou de mim.

- De você? Por que eu reclamaria de você?

Ele deu de ombros, inocentemente.

- Eu não poderia lhe dizer mesmo que soubesse. Você era muito teimosa na época e não me disse nada que fizesse sentido.

Semicerrei os olhos para ele e cruzei os braços.

- Então está dizendo que agora eu sou mais fácil? - perguntei com petulância.

- Eu nunca disse isso. - disse Ren, erguendo as mãos sorrindo. - Estou apenas informando como você era no começo disso tudo, nada mais.

- Se eu me lembrar de algo eu mesma te digo. - empinei o queixo e o olhei fixamente.

De repente sua diversão foi embora.

- Vamos torcer para que volte.

Nós nos olhamos por um momento, até Kishan pigarrear.

- O que você gostaria de perguntar sobre a última oferenda? - Kishan perguntou suavemente e eu sorri para ele. Parecia prestativo.

Eles estavam sendo tão pacientes comigo, respondendo à todas as minhas perguntas e me dando detalhes sobre tudo, que senti um aperto no coração. Essa poderia ser mesmo a minha família. Pensei com carinho.

- Me contem sobre os Rakshasas e os lordes da chama. - falei, piscando com olhos marejados.

Os garotos estavam animados pela parte em que eu usei o poder do Colar de Durga para conjurar água e derrotar os lordes. Me falaram sobre o palácio e o que os gêmeos faziam com as garotas Bodha para encontrar a sua amada morta em meio a tantas outras vivas. Eles acreditavam em um ritual que aparentemente dizia que sua amada vivia no corpo de outra garota, e que eles apenas precisavam liberta-lá e fazer com que ela relembrasse deles.

Achei a história parecida com a minha situação presente e não pude deixar de comparar a descrição dos lordes gêmeos com os irmãos Rajaram sentados na minha frente.

Eu tentei a todo custo me lembrar para poder compartilhar daquela excitação, mas havia apenas um branco em minha cabeça. Um som parecido com estática ressoava por dentro dos meus ouvidos, e eu bem que poderia ser uma televisão sem sinal.

- E a Fênix? - perguntei quando minha cabeça começou a doer. - Ela me matou queimada quando não pude responder à uma pergunta e depois me reviveu neste corpo. Isso é muito estranho, vocês não acham?

Toquei meu braço e ri quando os dois irmãos franziram a testa.

- Essa foi uma das coisas mais difíceis que tivemos que ver você fazer. - disse Kishan, tristemente.

- E quando você dormiu no túnel da Cova do Sono e Morte.

- O que é esse túnel? - perguntei impressionada com tal nome.

- Uma surpresa desagradável que não estava mencionada na profecia de Kadam. - respondeu Ren. - Por sorte a Fênix nos deu a Fruta de Fogo para fortalecer nossas energias.

- Cova do Sono e Morte... - ponderei, sentindo um arrepio gelado subir pela minha espinha. - Pelo que ouvi até agora, a nossa sobrevivência sempre permaneceu por um tris. Poderíamos ter morrido a qualquer momento se por algum acaso do destino, algo milagroso não tivesse aparecido para nos salvar... - sorri para eles. - Parece que eu realmente sou a protegida de Durga.

Eles concordaram com a cabeça, esperando. Esperando que eu me lembrasse. Mas desviei o olhar deles, pois nada vinha à minha cabeça. Havia simplesmente um vazio dentro de mim. Algo quebrado. Uma peça que faltava para completar o quebra cabeça.

Enquanto pensava nisso, um dos pesadelos assustadores que tive durante a noite me atingiu como um relâmpago e com a força de um tijolo atirado em minha cabeça. Vi um clarão e fechei os olhos.

Um homem gravemente ferido sangrava lentamente numa sela escura e úmida. Ele ofegava de dor enquanto outro homem com o rosto obscurecido pelas sombras martelava seus dedos das mãos algemadas um por um, esmagando seus ossos e rindo muito durante a tortura. Ele gritava e gritava e gritava, mas o outro não parava, e ria ainda mais. Na escuridão da cela, olhos azuis profundamente tristes brilharam na minha direção e eu senti algo despertar no meu peito. Algo pequeno, mas mesmo assim, algo.

Aquela visão desapareceu tão rápido quanto veio e dessa vez fui eu quem ofeguei quando sofri uma pontada dolorosa na cabeça. Fiz uma careta de dor e fechei os olhos, apertando a cabeça com as mãos.

- Tudo bem senhorita Kelsey?

Senti uma mão tocar minhas costas. Balançei a cabeça.

- Me dê só um minuto.

Abri os olhos quando, por fim, a dor diminuiu para um latejar insistente. Todos estavam me olhando preocupados e eu tentei sorrir para apagar o que havia acontecido.

- Tudo bem, não se preocupem. Foi só uma dorzinha de cabeça. É muita coisa para processar sabe.

Nilima me ofereceu um copo de água gelada, que bebi com gratidão.

- Eu sei que é difícil, senhorita Kelsey. Vá com calma. - Me sobressaltei quando Nilima pousou a mão em meu ombro. Ela percebeu e sorriu, me acalmando.

Arrisquei um olhar para Ren. Ele estava me observando atentamente e parecia saber de alguma coisa.

- Bem. - fixei o olhar em minhas mãos e percebi que estavam trêmulas. Abaixei-as sobre a mesa. - Como é que você recuperou suas memórias, então?

Houve um minuto de silêncio até ele responder

- Havia um gatilho. - disse Ren, devagar. - Quando o gatilho foi acionado as minhas memórias voltaram rapidamente, e eu ainda me lembrava de tudo que tinha acontecido.

Me aprumei na cadeira, afastando os pratos de perto.

- E qual era o gatilho? Talvez... - hesitei por um momento. - Talvez a gente possa acioná-lo novamente e minha cabeça volte ao normal.

Kishan lançou um olhar para o irmão.

- O gatilho era você beijar Kishan na minha frente. - Ren parecia constrangido. - E quando fez isso, minha mente voltou a ser como era, sem o véu. Mas nada mais foi como era antes.

Olhei entre Ren e Kishan, franzindo a testa.

- Como assim, nada voltou a ser como era antes? - perguntei.

- Primeiramente, você ficou furiosa comigo. - Ren sorriu tristemente e seus olhos brilhavam com a lembrança. - E eu meio que te provocava as vezes, o que te deixava com ainda mais raiva de mim.

Me virei para Kishan, quando senti seu olhar em mim.

- Nós estávamos namorando enquanto isso. - ele disse.

Fiquei olhando para ele e pensando em qual momento ele teria me pedido em casamento. Mas não tive coragem de perguntar, e ele também não havia me perguntado sobre o anel que eu havia deixado no quarto essa manhã.

- Isso quer dizer que eu tenho que beijar Kishan para recuperar a memória? - perguntei baixinho e corando.

Kishan se levantou e veio novamente para a cadeira ao meu lado.

- Você não precisa fazer nada que não queira, Kells. - hesitante, Kishan esticou sua mão e tocou a minha. - E também nós não sabemos se o gatilho é isso realmente. Poderia ser qualquer coisa, então não se preocupe com isso agora.

- Phet disse que não haveria um gatilho. - disse Ren, baixinho. - Mas vamos tentar assim mesmo.

Os dedos de Kishan e os meus se entrelaçaram automaticamente, como se houvéssemos feito isso milhares de vezes. Era familiar. Parecia certo. Senti o calor de sua mão grande contra a minha pequena e fria e corei mais ainda quando ele começou a acariciar minha palma com o dedo.

- Eu acho que não quero tentar isso ainda. - gaguejei, observando seus olhos dourados cheios de ternura. - Sei que você me conhece, mas... eu realmente não me lembro de você, e não acho que sair por aí beijando estranhos vai me ajudar a recuperar a memória.

Kishan sorriu lentamente e eu prendi a respiração, olhando para aquele sorriso deslumbrante tão perto de mim.

- Eu entendo, bilauta. - sua outra mão pegou meu maxilar e o ergueu para que eu o olhasse nos olhos. - Agora, você ainda quer ficar aqui até termos resolvido isso? Vamos ajudá-la em qualquer pergunta que tenha.

- Mas se você preferir ir para casa... levaremos você até lá. - disse Ren, olhando para mim e Kishan.

Me afastei lentamente das mãos de Kishan e me levantei da cadeira. A cozinha pareceu diminuir e eu caminhei com os joelhos trêmulos até a entrada.

- Não posso prometer que vou ficar. - falei olhando para frente. - Estou muito confusa então não decidirei nada no momento.

Virei para olhá-los e sorri para suavizar minhas palavras.
- Mas sim. Vou ficar por enquanto.

Os três sorriram e Nilima veio até mim.

- O que a senhorita precisar, é só me chamar.

- Se não for pedir muito eu gostaria de um tour para conhecer a casa. - parei. - Ou para reconhecer no caso.

- Oh sim vamos, vou lhe mostrar tudo. - Nilima pegou meu braço, animada. Acenei para os meninos e nós saímos juntas pela porta. Senti seus olhares intensos em minhas costas até depois de virar no corredor.

Andei pela casa com Nilima a tarde toda, visitamos a biblioteca, a sala de música, o espaço para treino físico e lutas, a lavanderia e os quartos. Me senti constrangida por invadir o quarto dos irmãos assim, mas Nilima me tranquilizou dizendo que eu poderia andar por onde quisesse ali, pois os irmãos não se importariam. Mas mesmo assim, eu não atormentaria a privacidade deles. Saímos para fora e ela me mostrou o jardim e a piscina que eu tinha visto da minha varanda na noite passada. Uma floresta linda protegia a casa de olhares indesejados e eu respirei o ar puro que ela proporcionava.
- Aqui é um belo lugar para dois tigres morarem. - ri para Nilima.

- Oh sim, o vovô tinha um bom olho para essas coisas. - disse Nilima, e seu belo rosto se entristeceu.

- Eu sinto muito pelo seu avô, Nilima. - eu falei.

- Obrigada. Eu também sinto, senhorita Kelsey. - ela sorriu levemente. - Ele gostava muito de você, sabia. Você o chamava de pai quando ele confessou que a considerava como uma filha.

Senti meus olhos arderem, quando lembrei dos meus pais mortos há... cinco anos. Pensei alarmada.

- Eu gostaria de poder me lembrar dele. - eu disse, com a voz embargada. - Eu não sei porque, mas sinto como se eu o conhecesse mesmo que nunca o tenha visto, apenas ouvido o seu nome.

- Eu compreendo. - os olhos de Nilima estavam cheios de lágrimas.

O céu estava escurecendo e caminhamos devolta para a casa.

- Eu lembro dos meus pais... - sussurrei.

- Pelo o que os meninos disseram, suas memórias estão intactas, apenas a parte que convém à maldição foi retirada.

- É confuso. - essa parecia ser a minha palavra do dia.

Balancei a cabeça e de repente me senti muito cansada.

- Acho que vou voltar para o quarto. - eu disse, desviando minhas pernas para as escadas.

- Não vai jantar? - Nilima perguntou, me olhando preocupada.

- Não, obrigada. Estou me sentindo mal. - passei a mão pela nuca, e massageei a tensão ali.

- Gostaria de algumas aspirinas? - a voz de Nilima se erguia ansiosa conforme eu me afastava escada acima.

- Não se preocupe, eu vi algumas no meu quarto. Vou só tomar um banho e dormir. - gritei lá de cima. Meus pés fazendo barulho no chão. - Boa noite.

Bati a porta do quarto e fui tomar um banho quente demorado e revigorante. Quando sai, vesti novamente aquele pijama de seda, tomei duas aspirinas e me joguei na cama. Senti minha cabeça doer novamente e apertei os olhos. As revelações de hoje me atingiram com força total no estômago, e quase vomitei no chão.

- O que está acontecendo comigo? - murmurei contra os travesseiros macios. - Isso é loucura. Eu não posso ter feito todas aquelas coisas.

Me levantei rapidamente e abri a gaveta da cômoda ao lado de minha cama, com força. Peguei o anel de noivado que eu havia guardado ali dentro e o girei nos dedos analisando cada detalhe ricamente entalhado no anel. As pedras preciosas de rubis e diamante refletiram as luzes coloridas que brilhavam em meu rosto pálido. Passei o dedo por ele e as luzes sumiram e apareciam novamente quando eu tirava. Fiquei hipnotizada por um tempo enquanto brincava com a sensação do anel na minha mão.

- Kishan... - sussurrei seu nome, e uma sensação boa percorreu os meus ossos. Tentei novamente. - Kishan...

Coloquei o anel no dedo e ele encaixou perfeitamente, assim como meus dedos encaixaram nos de Kishan quando entrelaçamos as mãos por cima da mesa.

- Eramos noivos, Kishan. Mas e agora, o que nós somos?

Uma batida suavemente na porta me sobressaltou. Arranquei o anel e o escondi debaixo do travesseiro.

- Quem é? - perguntei sem ar.

- Sou eu, Kelsey. - uma pausa quando não reconheci a voz. - Kishan.

Meu coração disparou quando eu disse:

- Entre.

A porta se abriu, e um Kishan de banho tomado entrou e fechou a porta lentamente atrás de si. Como se não quisesse me assustar ele andou pelo quarto e se sentou na cadeira da penteadeira, de frente para mim.

- Como está se sentindo? - disse Kishan, apoiando os antebraços nos joelhos.

- Ah, eu... me sinto bem. - hesitei quando vi que aquele movimento fez com que os músculos dos braços dele se destacassem pela camisa preta. Deviei o olhar corando quando ele reparou que eu olhava.

- Tem certeza? - ele perguntou, não muito convencido com minha resposta. - Nilima me disse que você estava se sentindo mal.

- Ahn? Ah sim, mas eu já tomei um remédio para dor de cabeça.

- Bom.

Um silêncio sobrepujou o quarto por um momento constrangedor, até que...

- Eu vim aqui para falar sobre nós. - disse Kishan, olhando para mim.

- Nós? - eu disse, desviando um olhar nervoso para o travesseiro que escondia o anel.

- Sim, e vou responder qualquer pergunta que você tenha.
Observei seus olhos dourados e sedutores. Estremeci de leve e ele sorriu docemente para mim.

- Eu queria saber como você... me pediu em casamento. O que você pensou na hora. - falei rapidamente e esperei.

Quando olhei novamente para ele, Kishan me observava emocionado, e aqueles olhos pareciam conter todo o amor do mundo quando ele finalmente falou:

- Estávamos prestes a viajar com o submarino feito por Kadam, para entrar no reino de fogo e pegar a última oferenda. - disse Kishan. - Mas antes disso, eu a levei para a praia para passarmos um dia tranquilo juntos antes de termos que enfrentar qualquer tipo de desafio que nos aguardava. Eu havia pedido para que o anel de noivado fosse feito como uma flor de lótus em volta do rubi da Casa das Cabaças, para que você se lembrasse de Shangri-lá.

- Eu não pretendia te pedir em casamento naquele dia, pois estava esperando o momento certo para fazer algum movimento. Mas quando eu olhei para você, Kelsey. Eu a vi ali. Tão linda, tão maravilhosa e doce olhando para o mar, que não consegui resistir e retirei o anel do bolso e pedi sua mão ali mesmo. Queria que você fosse minha esposa e desejava que passasse a vida inteira ao meu lado como minha parceira.

Seu olhar ansioso procurou o meu e em seguida olhou para o meu dedo nu. Pisquei para afastar as lágrimas e coloquei a mão debaixo do travesseiro para puxar o anel de noivado. Kishan ficou surpreso e abriu a boca para dizer algo, mas eu o interrompi.

- Eu não sabia o que este anel significava até ontem a noite, quando ouvi você e Ren conversando na varanda.

Kishan parecia querer dizer algo, mas esperou para ouvir o que eu tinha a dizer.

- E sim, eu ouvi tudo o que você disse à ele. - Franzi a testa. - Kishan, eu não quero que você me esconda nada, por mais que você queria me proteger... eu quero saber de tudo. Tudo mesmo. Talvez assim eu possa me lembrar desse dia que você me pediu em casamento. E também quero saber da minha história com Ren, pois não é justo eu não dar espaço para ele se abrir comigo também. Eu sei que isso tudo é muito difícil para você. Somos noivos, e isso me deixa assustada porque eu não o conheço e não conheço Ren, portanto temos que deixar isso de lado por enquanto até que eu possa me acostumar com a idéia.

Coloquei o anel em cima da cômoda.

- Me desculpe. - sussurrei para Kishan.

- Não tem que se desculpar, bilauta. - disse Kishan, e levantou da cadeira para sentar ao meu lado na cama.

- Eu esperarei você por quanto tempo precisar.

Olhos dourados percorreram meu rosto e sorri para ele.

- Obrigada, Kishan. - levantei a mão devagar e hesitante, e toquei o rosto dele suavemente. - Espero poder lembrar de você logo.

Passei os dedos pelo seu rosto barbeado e macio, e fiquei observando meu dedão acariciar sua pele bronzeada.
Kishan sorriu e colocou sua mão por cima da minha, inclinando a cabeça nela.

Dei uma risadinha quando ele piscou um olho.

- O que significa bilauta? - sussurrei baixinho e aquele sorriso aumentou.

- Significa gatinha.

Olhei para ele com ternura. Kishan beijou a palma da minha mão e se levantou.

- Descanse, Kells. Por que amanhã iremos treinar um pouco.

- Treinar o que exatamente?

- Vamos lutar wushu.

- Mas Lokesh já não foi... aniquilado? Por que continuar treinando?

- Para ver se lutar não é o gatilho para suas memórias. Costumávamos ter aulas de wushu no Oregon e talvez isso seja familiar para você. - Kishan respondeu e completou com um sorriso selvagem. - E para você não ficar muito preguiçosa.

Joguei um travesseiro nele mas ele se desviou agilmente e saiu pela porta sorrindo, me dando uma última piscada.

E quando deitei para dormir, me peguei pensando naqueles olhos dourados e quentes, antes de adormecer com um sorriso brincando nos lábios.

Notas Finais


Desculpem pela demora (eu estava lendo um livro maravilhoso, vamos ser sinceros aqui kk) Eu pretendo fazer capítulos bem maiores daqui pra frente, mas tenho que confessar uma coisa antes: Esse fim de ano talvez eu não poste pq vou estar viajando, mas se der eu posto (pelo 3g... aff)
Feliz natal e ano novo
Um Beijo


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