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História O destruidor de corações - Camila


Escrita por: mandinhadias-1

Capítulo 3 - Camila


Fanfic / Fanfiction O destruidor de corações - Camila


Poucos dias depois, Regina entra em meu escritório para avisar que Shaw e o Sr. Jauregui estão aqui para a nossa reunião das onze. Claro, Shaw está quinze minutos adiantado e eu... eu estou atrasada. Faço o possível para encerrar o caso em que estou trabalhando rapidamente. Eu reconheço que tenho me aproveitado de Shaw ultimamente, quase desafiando-o a reclamar das minhas mentiras e atrasos. Mas ele não reclama. Ele não vai falar que pegou mais uma mentira na outra noite, quando eu disse que tinha que trabalhar muito cedo, e não tenho certeza se é porque ele não se importa ou se ele é muito educado.

— Obrigada. Ah, Regina, você poderia, por favor, levá-los até a sala de reunião e dizer que vou encontrá-los em alguns minutos?

— Claro que sim, Camila  — Gigi responde com sua voz de gata sexy que, definitivamente, não pertence a Regina. Eu sorrio, imaginando se ela quer me deixar tranquila de que eles ficarão felizes por estarem esperando e ela irá acalmá-los ou se, talvez, o Sr. Jauregui seja um cara mais velho de boa aparência que estimulou a aparição de Gigi.

Poucos minutos depois, eu vou até a sala de reunião, o que é uma surpresa, já que estou sempre muito atrasada. Na verdade, estou satisfeita comigo mesma por estar no horário. Shaw e seu cliente levantam no momento em que eu entro e sinto uma súbita vontade de cumprimentar os dois, por algum motivo. Minhas mãos estão ocupadas com meu café, blocos de notas, telefone celular e laptop. Eu nem sequer olho para os homens até que eu consigo colocar minha pilha sobre a mesa da sala de reuniões.

Regina entra na sala e ronrona: — Posso pegar café para os senhores? — Nenhum sinal de Regina; ela ainda está no modo Gigi.

Eu olho para Shaw, meio que esperando encontrar uma carranca em seu rosto por Gigi estar sendo tão pouco sutil, mas ele está sorrindo para mim com seu comportamento amigável de costume.

— Camila , este é Lorenzo Jauregui — Shaw acena para o homem sentado ao seu lado.

Eu finalmente olho para o homem que estava sentado ao lado de Shaw e fico assustada com o que encontro. O homem tira o ar dos meus pulmões. Ele é, muito possivelmente, o homem mais bonito que eu já vi. Shaw, que está sentado ao lado dele, não deixa a desejar na aparência, mas este homem é tudo o que Shaw não é. Pele branca, profundos olhos verdes, cabelo escuro rebelde, e um queixo másculo e áspero que emoldura o homem que estende a mão para mim.

— É Enzo, ninguém me chama de Lorenzo, exceto esse cara — Enzo faz um movimento para
Shaw com o polegar — e minha mãe. — Ele estende sua grande mão para mim. A minha mão pequena se perde na sua e parece que eu estou apertando a mão de um homem com uma luva de beisebol. Seu aperto de mão é firme e quente e ele olha diretamente nos meus olhos enquanto fala, com um sorriso um pouco arrogante em seu rosto. Eu sinto o calor se espalhar das nossas mãos unidas pelo meu corpo e partes de mim formigam quando o calor percorre o caminho até a minha área mais privada.

Enzo. O nome sexy combina com o homem sexy. Não me passa despercebido o fato de que deve matar Shaw ter que chamar o homem de Enzo, sabendo que ele tem um nome formal mais condizente com as normas da boa educação. Mas acho que Enzo corresponde ao homem diante de mim muito melhor do que Lorenzo. Estou olhando para ele, não só porque ele é absolutamente lindo, mas porque eu sinto que o conheço de algum lugar. Até o nome é familiar, Enzo Jauregui. Tenho certeza de que o conheço de algum lugar, mas ele tinha sido apresentado como Lorenzo Jauregui e esse nome não me lembra nada.

— Camila ? — Shaw chama a minha atenção de volta para ele. Espero que eu não esteja olhando por muito tempo. Será que eu estava de boca aberta? Isso seria rude.

— Lorenzo, humm, Enzo, tem um contrato de patrocínio que ele quer rescindir. O escritório analisou, mas pareceu bastante rígido para nós, então pensamos que talvez você pudesse aplicar o caso Weiland nele.

Interessante. Weiland foi um caso que eu escrevi um artigo a respeito e que foi publicado no meu último ano da faculdade de direito. Era algo bem inusitado, uma aluna ter publicado um artigo numa revista jurídica, por isso não estou surpresa por Shaw lembrar do caso. O caso era sobre um atleta que tinha um contrato de patrocínio de três anos com uma empresa que vendia bebida energética, quando ele assinou o contrato, mas, mais tarde, fundiu-se com outra empresa. A outra empresa fabricava uma bebida que era comercializada para mascarar o uso de drogas para melhorar o desempenho. Weiland não queria ser associado a uma empresa que exaltava a possibilidade de mascarar substâncias dopantes em testes. Infelizmente, o seu contrato era totalmente fechado. Mas, com uma jogada genial de seu advogado, ao invés de alegar que um dos termos do contrato era inválido, coisa que o faria perder, eles processaram com base em uma violação da cláusula moral do contrato.

Então, Enzo é um atleta? Isso não me surpreende, pela sua aparência. Ele é um homem grande e posso dizer que ele está em ótima forma, mesmo com um terno cobrindo seu corpo. — Por que você não me conta sua história, Enzo?

Eu estou ansiosa para ouvir sua história, por algum motivo. É mais do que um caso em perspectiva; estou curiosa sobre o homem que está na minha frente.

Enzo começa a falar que ele pratica artes marciais mistas. Eu realmente não sei o que isso implica, mas suponho que ele queira dizer que é um tipo de especialista em karatê. Enquanto ele fala, eu tento fazer algumas anotações, mas me pego olhando para ele, incapaz de mover os olhos para o papel para escrever. Ele fala olhando diretamente nos meus olhos e é ainda mais difícil quebrar a troca de olhares. Eu esqueço que Shaw está sentado ao lado dele. Não há ninguém na sala, apenas eu e o homem com profundos olhos verdes, que não me poupa da intensidade que suga a energia do
meu corpo.

Regina entra na sala com café para nossos clientes e eu sou grata pela interrupção quando Enzo volta sua atenção para Regina para agradecer. Quando ele volta sua atenção para mim novamente, eu olho para cima, em direção a Regina, que está parada na porta, e, em seguida, olha entre Enzo e mim e mexe as sobrancelhas sugestivamente. Eu finjo uma tosse para cobrir o meu sorriso com a mão e Shaw me oferece a sua água. Sempre um cavalheiro.

Enzo retoma de onde parou e eu tiro um instante para olhar seu rosto antes que ele prenda o meu olhar com o seu novamente. Eu noto uma pequena cicatriz acima do olho esquerdo e outra mais longa em sua bochecha direita. Elas são suaves, como se estivessem lá há anos, mas sua pele branca dá um tom mais claro às cicatrizes, fazendo com que elas se destaquem mais do que o normal. As cicatrizes fazem seu rosto parecer ainda mais robusto e, de alguma forma, enfatizam a masculinidade de seu queixo . O rosto pertence a um homem forte, um homem do qual eu não consigo desgrudar meus olhos por qualquer motivo.

Shaw fala quando Enzo termina e, finalmente, sua voz me faz lembrar que ele está na sala. Espero que eu não tenha ficado babando enquanto seu cliente estava falando. Eu tento me concentrar em Shaw enquanto ele fala, mas meus olhos ficam vagando de volta para Enzo, que me captura a todo momento. Eu noto uma ligeira contração no canto da boca de Enzo, secretamente reconhecendo que fui pega.

Consigo voltar o foco para Shaw quando ele começa a explicar como o caso Weiland poderia ser aplicado. Enzo quer romper um contrato de patrocínio que está em vigor porque o fabricante utiliza trabalho infantil. O fato de que o homem está disposto a encerrar um contrato de milhões de dólares por uma causa tão nobre o torna ainda mais sexy para mim.

Depois de quase uma hora, Shaw olha para o relógio e começa a guardas as coisas. Enzo pergunta a minha opinião sobre o seu caso e eu digo-lhe que preciso de uma cópia do contrato e algum tempo para fazer uma pequena pesquisa sobre a empresa antes que eu possa dar um parecer definitivo.

Shaw concorda e fala: — Será que podemos aproveitar nosso encontro na quinta-feira e talvez possamos discutir mais sobre o assunto?

— Umm, sim. — Eu pego Enzo olhando para nós dois. Eu acho que ele está observando a nossa interação.

Enzo aperta minha mão novamente e meu batimento cardíaco acelera com o simples contato. Ele não libera minha mão imediatamente. Em vez disso, ele usa a outra mão para fazer um movimento entre Shaw e mim e pergunta: — Vocês dois são um casal?

Eu respondo não, ao mesmo tempo em que Shaw responde sim. Eu olho para Shaw e depois para Enzo, que ainda está segurando a minha mão no nosso aperto de mão, e eu acho que noto um vislumbre em seus olhos que coincide com o sorriso no rosto. Ele está se divertindo com a nossa resposta, e eu não o culpo. Ele finalmente libera a minha mão e me sinto estranhamente desapontada por ele não estar me tocando mais.

Eu me viro para Shaw e vejo que ele ainda está olhando em direção à minha mão que tinha
sido segurada pela mão de Enzo. Seu rosto parece aborrecido e confuso e me sinto mal pelo desrespeito que acabei de demonstrar a ele. Ele baixa a voz para mim: — Eu vou te ver na quinta-feira?

Concordo com a cabeça, pensando que é melhor manter a conversa que preciso ter com ele em particular. Eu paro ao lado da mesa de Regina enquanto os dois homens seguem até a saída. Enzo olha para trás no último segundo e sorri para mim. Shaw não olha para trás.




Eu viro de um lado para o outro a noite toda, sem conseguir tirar a imagem de Enzo Jauregui da minha cabeça. O homem é absurdamente sexy e me incomoda o fato de eu não conseguir controlar meus pensamentos. Parece que eu só peguei no sono há dez minutos, quando acordo com a música programada no despertador do meu telefone. Eu arrasto meu corpo ainda sonolento até o chuveiro e deixo a água fria cair sobre mim, na tentativa de me forçar a acordar. Depois de alguns minutos de tortura autoinfligida, ajusto a temperatura da água e fecho os olhos para relaxar no calor. Algo me atinge. Meus olhos se abrem, tentando forçar a imagem que apareceu vinda da escuridão da minha memória, sem aviso prévio.

Enzo Jauregui. Enzo “Destruidor de Corações” Jauregui. Eu estava lá na noite em que ele matou um homem. Foi a primeira e única luta que eu havia assistido. E agora, tudo isso vem à tona. Eu pensava naquela luta como luta livre, mas, pensando nisso agora, lembro que chamavam de MMA, artes marciais mistas.

Meu padrasto é policial aposentado. Às vezes, ele trabalha como segurança em eventos esportivos. Grande parte dos policiais aposentados faz isso. Ele ganhou dois ingressos para um grande campeonato de luta de MMA, e os ofereceu para mim. Eu normalmente não iria, considerando o meu passado e como eu me sinto sobre assistir pessoas golpearem umas às outras, mesmo que seja consensual. Mas o meu irmãozinho Max é um grande fã do esporte e eu fui a otária a levá-lo. Eu simplesmente não conseguia dizer não para um menino mimado de doze anos de idade, que momentaneamente se esqueceu que deveria agir de forma calma e ficou pulando para cima e para baixo como ele fazia quando tinha quatro anos.

A luta não durou muito, dois rounds. Isso eu me lembro claramente. Durou, provavelmente, menos de dez minutos, no total. As festividades de antes da luta duraram uma hora a mais do que a luta em si. Nossos lugares eram bons, apenas dez fileiras de distância do octógono. Lembro-me de recuar a cada vez que um dos homens dava um soco, mas eu não podia virar as costas. Fecho os meus olhos e vejo, imediatamente, o replay dos segundos finais. A maioria das pessoas acha que ter uma memória fotográfica é uma bênção, mas no meu caso é uma maldição. Sim, eu lembro de muitas imagens e expressões, mas também me lembro de todas as coisas ruins que eu prefiro esquecer.

É como se eu tivesse acionado o play de um vídeo e estivesse assistindo os últimos segundos da luta. Eu vejo Enzo dar o soco, e então, assisto, em câmera lenta, quando ele vira a cabeça do seu adversário para o lado, com a força de dez homens. Ele cai no chão, com a cabeça mole, fazendo barulho antes mesmo de atingir a lona. A multidão que gritava silencia, e a equipe médica corre para
dentro da gaiola, segundos depois de tudo acontecer.

Por mais horrível que seja ver toda aquela situação na minha mente, não é isso que me assombra. É o silêncio do lutador que caiu de joelhos quando percebe que o homem não está vivo. Ele está destruído. Eu não consigo tirar os meus olhos do seu rosto quando eu o assisto quebrar em um milhão de pedacinhos. Eu deveria sentir pena do homem que acaba de perder a vida, mas eu nem sequer olho em sua direção. Eu estou obcecada pelo homem que nunca mais será o mesmo. Jamais. Eu sei que não. Sinto-me ligada a ele por um instante, parada no tempo.

Na minha mente, é meio-dia e a sombra do meu passado é o dobro do meu tamanho, elevando-se sobre mim. Eu não consigo escapar.



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