Patrik Bennett
Patrick caminhava impaciente em seu cavalo. Duas quinzenas passaram-se desde que seu pai fora a Vila da Sereia, procurar por uma criatura conhecida apenas como Devorador de Crianças. Nem uma carta lhe fora mandada desde então, seu pai não dera nenhum sinal de vida.
- O que pensa ter ocorrido a ele?- perguntou-lhe Bill, antigo companheiro de viagem.
- Com meu pai?
- E com quem mais seria?! Não é por ele que estamos indo a Vila da Sereia?
- É sim – suspirou Patrick ao olhar a infinita estrada à sua frente.- Provavelmente descobriram suas falcatruas e o mataram – completou, tentando digerir a dureza de suas próprias palavras.
- Isso não o incomoda?- Bill estudava-o com os olhos.
- Ele era um fanfarrão, um homem que se aproveitava das pessoas. Teve o que mereceu.
Pelo menos era no que Patrick queria acreditar, como se de alguma maneira, isso pudesse diminuir a dor que sentia. Canalha ou não, um pai é sempre um pai.
A caminhada seguiu-se por todo o dia, enquanto Bill cantarolava sobre monstros, mulheres, dinheiro e o que mais lhe viesse a mente. Por baixo da barba e cabelo desajustados e da expressão dura, era um bom homem. Mesmo que se esquecesse frequentemente disso.
Passaram-se mais algumas horas até que enfim chegaram na vila. A lua brilhava deslumbrante sobre suas cabeças, permitindo-lhes notar cada casebre sujo e envelhecido ao seu redor.
- Há algo estranho por aqui – disse Bill a enrugar ainda mais a testa.
- O que o faz pensar isso?
- Mesmo que tarde da noite, a chegada de forasteiros nunca passa tão despercebida.
Patrick olhou em volta. Realmente não havia uma sequer pessoa à vista. Ambos se olharam e puseram-se a caminhar com mais calma. Por alguns minutos não ouvia-se nada além do bater dos cascos e da respiração dos cavalos.
Aos poucos o cheiro de fumaça e os gritos amontoados do que parecia ser uma multidão tomaram o ambiente. Andaram mais um pouco e a centímetros, um aglomerado de cinquenta ou mais pessoas levantavam tochas e praguejavam diante de uma fogueira:
- Queimem-na, queimem-na – gritavam enlouquecidos.
O alto homem de batina preta fez um sinal e uma mulher de aparência velha fora arrastada por três homens fortes até um tronco de madeira.
- Eis aqui a esposa de satanás – disse o homem de preto. – Eis a fonte de nosso sofrimento, de nossas perdas.
A multidão praguejava e desejava coisas horríveis à mulher que não esboçava qualquer reação. Parecia já ter aceito sua sentença maldita.
- Vamos apenas olhar enquanto matam aquela mulher? – perguntou Patrick à Bill.
- Não podemos interferir.
- Você sabe que ela não é uma bruxa. Se fosse, já teria fugido há muito tempo.
- E o que acha que poderíamos fazer contra toda essa gente?!
- Prefere ficar aqui olhando enquanto a queimam viva?
- Honestamente? Sim.
Patrick cogitou deixar que aquela barbaridade continuasse, mas uma mulher saiu em meio a toda aquela gente, gritando pela vida da suposta bruxa. Não demorou para que sua ousadia fosse notada e, por consequência, repreendida por um empurrão forte de um homem qualquer.
- Se vai ficar aqui olhando isso, saiba que eu não vou – dito isso, Patrick esporou seu cavalo e disparou em direção a multidão.
- Garoto – gritou Bill, mas já era tarde.
Patrick bateu com a empunhadura de sua espada na cabeça do homem, derrubando-o e estendeu a mão à mulher, que se levantava.
A mulher o olhou com desconfiança, mas pegou em sua mão e subiu junto a ele no cavalo. Outro homem, demasiado parecido com o que fora a pouco derrubado, empunhou uma foice.
- Desça desse cavalo e me encare como um homem – disse o homem em tom ameaçador.
Patrick saltou do animal e empunhou a espada. O homem golpeou-o com a foice e, desviando-se, Patrick bateu em sua face com a empunhadura e chutou-lhe o joelho direito, o fazendo quebrar.
Antes que o resto da multidão avançasse, Bill gritou aproximando-se em seu cavalo.
- Acalmem-se, meu amigo não voltará a perturbá-los.
As pessoas não teriam dado atenção a ele se o homem trajado de preto - que revelava-se um padre – não tivesse intercedido.
- Acalmem-se, homens – gritou ele. - Não tornaremos isso num banho de sangue.
A multidão pareceu ouvi-lo e foi aos poucos acalmando-se. O homem da foice levantou-se, apoiando-se naquele que parecia ser seu irmão.
- Ele nos agrediu – disse ele, colocando a mão sobre a perna que parecia ter virado ao avesso.
- Tudo pela sobrinha da bruxa – disse o outro, cujo galo na cabeça parecia um chifre.
- Ela não é uma bruxa – gritou a mulher.
Patrick pensou em expressar-se, mas hesitou ao ver o olhar de repreensão que Bill lhe enviou.
- Peço desculpas pelo meu amigo – disse Bill. – Ele não consegue se conter ao ver um rosto bonito.
- Quem são e o que traz os senhores à cidade? – perguntou o padre.
- Chamo-me Bill Grenalli e...
- Eu sou Patrick Bennett. Não me arrependo do que fiz, esses homem estavam maltratando essa mulher...
- Já lhe disse, cale-se – e assim Bill prosseguiu. – Pagaremos caro por comida e pousada. Explicaremos tudo aos senhores amanhã.
- Tudo bem – disse o padre. – Meu nome é Antony. Estes são os irmãos Carigon. Desde que paguem pelo tratamento da perna de Lorenzo, podem dormir na igreja.
Bill deu mais uma olhadela para Patrick e concordou com a cabeça. Padre Antony olhou para uma jovem freira.
- Ágata, leve-os para a igreja. Vou voltar minhas atenções para a bruxa.
- Não – gritou a mulher que Patrick salvara, mas fora repreendida por Bill.
- Agradeça por sair dessa viva – disse com dureza a ela.
- Estão cometendo um erro, seus idiotas. – e aos prantos ela se pôs a correr dali.
O padre voltou para o palco onde começavam a atear fogo. Os irmãos Carigon se arrastaram para um lugar qualquer,e ouvindo os gritos histéricos da bruxa à queimar, Patrick e Bill caminharam rumo a igreja.
- Sejam bem vindos a Vila da Sereia – disse-lhes a freira.
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