Andrew Gallagher não vivia muito bem, mas não se importava. Ele morava em um furgão velho. Sempre tinha o que comer. Todos na cidade gostavam dele, e conseguia tudo o que queria. É claro que isso não era devido ao seu charme ou encanto pessoal, mas a uma habilidade especial que ele adquiriu por meios misteriosos, que até hoje não foram plenamente explicados.
Andrew tinha a capacidade de dominar a vontade das pessoas, apenas dizendo-lhes o que gostaria que fizessem. Ele era altamente persuasivo, sendo que conseguia influenciar até mesmo grupos de pessoas de uma só vez, e inclusive ultimamente, comunicar-se telepaticamente à distância. Obviamente as pessoas não sabiam disso, pois se o soubessem, elas poderiam ter medo de Andy ou até mesmo tentar matá-lo.
Sua ex-namorada ficou sabendo disso da pior maneira possível, e isso foi o fim de seu caso de amor. O boa-vida Andy procurava esquecer-se dessa triste lembrança conhecendo outras garotas legais, sem, contudo usar seu poder de persuasão nestas novas amiguinhas. O que? Se ele influenciasse a vontade das garotas para aceitarem-no, que graça teria em tentar conquistá-las?
Sendo assim nosso camarada Andy procurou dar um trato no visual, e conseguiu umas roupas transadas. Bem, aí seria uma dureza tentar conseguir tudo honestamente, então Andy persuadiu o dono da boutique a dar-lhe todas aquelas roupas "da hora". E o homem doou tudo e ainda fez questão de dar um caloroso abraço em Andy, desejando-lhe muito sucesso com as gatinhas.
Após renovar seu guarda-roupa, Andy pensou em melhorar seu vocabulário. Ele procurou um cara genuinamente popular na sua cidade, e passou a circular com ele. É claro, o carinha nunca soube o que o atingiu. Ele sabia apenas que tinha que sair com Andy e dar-lhe as dicas certas para conquistar as meninas.
Seu nome era Steve, mais conhecido como Dutch. Ele era descolado, enturmado e tinha muita atitude. Ele apresentou Andy aos amigos e às garotas mais quentes das redondezas. A princípio seus amigos ressentiam-se da súbita intimidade entre Andy e Dutch, mas após um rápido papo com Andy, eles passavam a adorá-lo também. Foi então que Andy a conheceu. Ela era a garota mais graciosa e feminina de todas. Tinha uma bonita cabeleira loira e um belo sorriso que iluminava o ambiente; sem falar naqueles fantásticos e enfeitiçantes, grandes olhos castanhos. Andy nem piscou quando a viu. Somente percebeu que não conseguia tirar os olhos dela, quando Dutch bateu em seu ombro e ficou rindo do seu deslumbramento.
– Andy, seu cachorro manhoso, você está apaixonado por Bethany.
– O que? Eu não! Quer dizer... Que anjo! Ela é estonteante!
– Hehe, todos se apaixonam por ela. Entre na fila, amigão. Eu estou com a senha 56, você com certeza pegará a senha 226.
– O que? Você também está apaixonado por ela?
– Não, estou brincando. Bethany é maravilhosa, mas ela não dá bola pra ninguém. É um grande desperdício, se quer minha opinião.
– Como assim? Ela não namora ninguém?
– Ninguém que eu conheça, meu velho. Vai ver ela não é chegada.
– Como pode ter certeza? Você já tentou conquistá-la?
Dutch deu de ombros e continuou bebericando sua cerveja. Naquela mesma noite, Andy usou sua habilidade de persuasão, para conseguir dos amigos toda a informação que pudesse sobre Bethany. Menos na própria Bethany.
Ele ficou sabendo que ela tinha um cachorrinho Yorkshire de estimação, chamado Tinkerbell. Seus pais moravam em Miami e bancavam seus estudos em uma universidade das redondezas. Ela dirigia um Porsche cor-de-rosa. Não bebia, nem fumava, mas diziam que já a haviam flagrado com substâncias ilícitas. Não cozinhava nada, mas era uma estilista amadora muito talentosa. Jogava truco e poker muito bem, mas era um desastre em damas. Falava francês fluentemente e uma vez passou um ano inteiro no Japão, fazendo intercâmbio. Ela fazia faculdade de Direito e pretendia trabalhar na Casa Branca.
Resumindo, era muita areia para o caminhãozinho de Andy. Seria muito difícil conquistar aquela garota, sem usar suas habilidades especiais. Se nem mesmo o boa-pinta e ultra cortejado Dutch conseguira nada, o que o pobre coitado e mal-ajambrado Andy poderia conseguir? Nada.
Andy ficou arrasado quando chegou a essa conclusão. Procurou ser prático e esquecer-se de Bethany. Lançou então sua rede em outra direção. Percebeu uma bela morena sentada no bar sozinha. Ela não era de se jogar fora. Talvez com essa ele tivesse melhor sorte. Aproximou-se e sentou ao lado dela. Chamou o barman e pediu o mesmo que ela estava bebendo. A garota nem se dignou a olhá-lo. Andy resolveu arriscar. Não tinha mesmo nada a perder.
– Oi! Meu nome é Andy. Soube que este bar é famoso por atrair garotas bonitas.
– ...
– Você por acaso está acompanhada?
– ...
– Eu soube que haverá um terremoto aqui em 4 minutos. Sempre é bom estar acompanhada nessas horas, para ter em quem se agarrar.
– Essa foi a pior cantada que eu já levei.
– É. Eu sei, mas pelo menos você falou comigo. - Andy falou sorridente.
– Me esquece, seu mala.
– Puxa! Eu pensei que você iria me abraçar e me dar um beijo apaixonado.
Então a morenaça virou-se e enlaçou Andy. Olhou-o sensualmente e beijou-o até ficar sem fôlego. Andy teve que empurrá-la para poder respirar.
– Já chega, moça.
Andy desvencilhou-se dos braços dela, pagou sua bebida e afastou-se do bar. A moça desconhecida ficou atônita e colocou a mão na boca, tentando entender por que perdera a cabeça, e beijara daquela forma um tipinho canhestro como aquele.
Andy ficou deprimido e saiu do pub. Ultimamente, usar suas habilidades para conseguir companhia feminina havia perdido toda a graça. Ele se ressentia do fato de não ser capaz de conquistar ninguém por seus próprios méritos e encanto pessoal. Sentou-se na calçada e ficou imaginando se realmente valia à pena estar ali, com falsos amigos, forçando garotas bonitas a beijá-lo contra a vontade delas.
– Ouvi dizer que você perguntou por mim a noite inteira.
Andy surpreendeu-se com a frase e com a pessoa que a proferira. Bethany estava em pé próxima a Andy. Ele levantou-se rapidamente.
– Você é muito bonita. Deve estar acostumada a que os rapazes fiquem perguntando tudo a seu respeito.
– Estou acostumada a responder a tais perguntas.
– Oh, sim. Imagino. Olhe para mim. Você me responderia alguma coisa se eu perguntasse?
– Sim.
– Realmente? Então eu vou perguntar. Você tem namorado?
– Oficialmente não.
– Ah, tá! Que raio de resposta é essa? Isso quer dizer sim?
– Quer dizer que eu estou saindo de um relacionamento, então ainda me sinto ligada ao meu ex, mas eu estou oficialmente disponível.
– Tudo bem. Por que veio falar comigo?
– Fiquei curiosa.
– Oh, esqueci! Você é estudante de Direito. Veio aqui porque achou que eu fosse um predador de garotas bonitas?
– Não. Quis saber por que perguntou tanto a meu respeito e não foi falar comigo.
– Simples! Eu desisti!
– Desistiu de mim?
– É! Oh, não se ofenda. Na verdade eu desisti de pensar que você pudesse ser minha namorada.
– Você desiste facilmente.
– Você quer dizer que... Que poderia ser minha namorada?
– Não sei, mas gostaria de conhecê-lo melhor.
– Prazer, meu nome é Andrew Gallagher.
Andy deu um sorriso bobo enquanto estendia a mão para cumprimentar Bethany. Esta ficou constrangida, mas resolveu cumprimentá-lo e sorriu também.
– Bem, o meu nome você já sabe. Prazer em conhecê-lo Andy.
Os dois então ficaram caminhando perto do pub. Ela com os braços cruzados, ele com as mãos nos bolsos. Conversaram sobre amenidades e sobre pontos de vista. Não trocaram nenhum beijo, mas apreciaram muitíssimo a companhia um do outro.
Sam e Dean Winchester, os irmãos caçadores de monstros, seguiam o rastro de mais uma criatura sobrenatural, quando uma pista os levou até a cidade de Andy, que eles já conheciam de outra oportunidade. Dean estacionou seu Impala próximo ao furgão com o desenho da rainha bárbara montada no urso polar. Bateu na porta traseira acordando Andy, que excepcionalmente, na noite anterior dormira sozinho no seu velho calhambeque.
– Ei, olá, rapazes! Há quanto tempo?
– Olá, Andy! Estávamos aqui por perto e resolvemos dar um alô. - Falou Sam.
– Vocês não acham que eu estou aprontando, acham?
– Fica frio cara. Estamos atrás de OUTRA aberração, nada do seu tipo. - Falou Dean.
– Tenho andado na linha. Palavra de escoteiro.
– Andy, estamos no rastro de uma bruxa. Não uma do tipo comum, mas do tipo mulher muito bonita e muito bem sucedida com tão pouca idade. Ouviu alguma coisa a esse respeito? - Sam informou.
– Eu? Por que acham que eu sei de algo? Alguém falou alguma coisa a meu respeito pra vocês?
–Oh, Andy! Relaxa cara, se acalme, ok? Ninguém falou nada pra gente. Você não é um suspeito. Respira fundo. Isso. - Dean o acalmou.
– Se eu não sou um suspeito, por que é que eu acho que vocês estão falando da Bethany?
– Quem é Bethany?
– Vocês não sabem quem é? Acho que falei demais.
– Andy, escuta. Se você pensou nessa moça é porque tem alguma coisa de errado com ela.
– Não tem nada de errado com ela. Ela é maravilhosa.
– Deixe-me adivinhar. Ela é muito bonita e muito bem sucedida, apesar da pouca idade, não é?
– Não, não, não. Ela tem pai e mãe. Ela tem uma história de vida. Não é uma bruxa.
– Tem certeza, Andy?
– Tenho.
Sam e Dean deixaram Andy e Bethany em paz. Isso foi bem a tempo, pois já se aproximava o dia dos namorados, e Andy não queria que esse dia fosse estragado por investigadores do sobrenatural. Ele conseguiu que um joalheiro lhe desse graciosamente, um pequeno mimo para dar de presente a Bethany. Marcou um encontro a dois, próximo a represa da cidade. Dutch emprestou-lhe seu carro esporte, e Andy foi feliz apanhar a sua princesa encantada.
Ao chegarem ao local do encontro, Andy colocou uma manta no chão para ele e Bethany sentarem-se. Pegou seu presentinho e entregou a ela.
– Oh, Andy é tão lindo. Sinto muito, não posso aceitar.
– Fique com ele Bethany, por favor. Hoje é dia dos namorados. É um dia muito especial para mim. Não sabe o quanto eu desejei estar aqui com você no dia de hoje.
– Está bem, Andy, eu aceito. Muito obrigada!
Bethany colocou a pequena joia nela mesma.
– Eu mal acredito que você escolheu ficar comigo hoje, quando poderia estar com qualquer homem que desejasse.
– Bem, nenhum deles é tão especial quanto você, Andy.
– Como assim? O que você quer dizer?
– Nenhum deles tem o dom de convencer facilmente as pessoas como você.
– Eu... Eu... Eu não fiz isso com você, Bethany. - Andy entrou em pânico. Isso não podia estar acontecendo.
– Eu sei, mesmo que tentasse não ia dar certo. Eu sou imune a esse tipo de coisa.
– P-P-Por quê? - Andy começou a pedir ajuda a Dean em sua mente, teve medo que Sam, por ser paranormal como ele, fosse imune ao tipo de habilidade que possuía.
– Porque eu não sou como as outras pessoas da cidade, Andy. Tenho vivido neste mundo por séculos.
– Vo-vo-você por acaso não é uma bruxa, é?
– Como adivinhou? Bem, docinho, eu trouxe um presentinho para você. Não é tão valioso como o seu, mas significa tudo para mim.
Bethany tirou de sua bolsa de mão, um pequeno objeto no formato de camafeu. Ela o abriu revelando presas negras. Então se virou para Andy, com o objeto na mão como uma arma.
– O que vai fazer com isso?
– Considere-se prestigiado. Eu geralmente escolho a dedo as minhas vítimas, pois acabo absorvendo seus tempos de vida, qualidades e habilidades, quando morrem. Por assim dizer eles ficam eternamente no meu coração. Quer coisa mais romântica que esta?
Então se ouviu um disparo e o artefato demoníaco voou da mão da bruxa. Ela levantou-se e encarou dois caçadores de monstros, que estavam armados de pistolas apontadas para ela.
– Afaste-se dela, Andy.
Não foi preciso dizer duas vezes. Andy correu rapidamente para longe de seu encontro amoroso.
– O que vão fazer com ela? - Andy perguntou apreensivo.
– Na idade média elas eram queimadas vivas. Parece que isso dava certo. - Dean gracejou.
– Não, por favor! - Andy implorou.
– Calma Andy, somos mais civilizados agora. Nós apenas a aprisionaremos até o efeito de sua magia acabar e ela volte a sua forma original, quer dizer, alguém com 500 anos. - Sam o acalmou.
– Não os deixe fazer isso comigo, Andy. Se você me ama me salve desse destino. Nós ainda poderemos ser felizes, docinho. Por favor!
– Está bem, querida.
Andy então piscou e Dean disparou sua pistola contra Bethany, atingindo-a na testa. Bethany estava com os olhos arregalados e caiu dura no chão. Então lentamente seu corpo foi murchando até chegar aos ossos que viraram pó, espalhados pelo vento. Dean estava perplexo com o poder que Andy tinha sobre ele. Temeu pela vida do próprio irmão, se estivesse sob o poder de persuasão do psíquico.
Andy abaixou-se próximo ao monte de poeira que uma vez fora uma belíssima moça, e recolheu um broche de ouro na forma de borboleta. Uma lágrima caiu sobre ele.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.