História O dia em que a morte se apaixonou pela vida. - O dia em que você se foi ...

A séculos segui por esse mundo com somente um propósito, resgatar as almas perdidas e leva-las comigo para a eternidade. Algumas seguiriam um trajeto diferente, outras apenas seguindo seu percurso natural. Com apenas um toque todo o sofrimento era tirado, simplesmente observava até que minha hora de agir chegasse, se tratava de um trabalho onde sentir sensibilidade estava fora de cogitação. Diferente do que todos imaginam , não carrego comigo uma foice ou uso uma capa preta tapando meus olhos, poderia conter uma aparência aparentemente normal, poderia ser como quisesse e quando quisesse, bastava querer.

Tudo parecia estar dentro dos conformes aquele dia, até que meus olhos a viram, cabelos pretos jogados sobre o ombros e um sorriso realmente encantador. Se tratava de uma bela garota, simples e com uma vida toda pela frente. Pode soar como ironia , afinal meu trabalho é justamente tirar aquilo que ela amava ter, á vida. Daquele dia em diante resolvi segui-lá , estava acompanhada da mesma em todos os seus momentos bons ou até mesmo ruins, estava presente com ela todo o tempo. Foram dias e dias acompanhando sua jornada, e a cada ano que se passava, menas vontade de terminar com aquilo sentia, se tratava de algo que sempre ouvi e nunca imaginei sentir. Muitas das almas levadas por mim sofriam pela saudade ou pela distância da pessoa amada, além de carrega-las podia me sentir um bom ouvinte, e assim o fiz tantas e tantas vezes. 

Foram muitos aprendizados durante esse tempo todo, os seres humanos continham algo especial considerado por mim, o dom de amar e de ainda se importarem com coisas ou pessoas, mesmo não as tendo mais. Mas ela era diferente, sentia prazer em ajudar o próximo e dividir o pouco que tinha, ajudava quem precisasse sem esperar nada em troca. Era simples sua forma de ser, de se portar e muitas vezes de viajar no seu próprio mundo, ali permanecia sentado observando-a por horas sem me dar conta. E assim o tempo correu contra nós, sem que percebesse já não tinha forças para permanecer aqui, seu corpo sentia cansaço e seus olhos imploravam para que aquele sofrimento acabasse.

- Eu sei que você está por perto, alias sempre esteve! Sorri aquela velha senhora, deitada sobre a cama confortável.

- Não posso fazer isso, simplesmente não posso! Sussurrou a morte, observando a velha senhora sobre a cama.

- Não se preocupe, eu também quero isso!  Respira fundo, tossindo algumas poucas vezes.- Não posso vê-lá, mas sei que sempre esteve  por perto! Indica para que a mesma se aproxime.- Venha, se aproxime morte!

- Desculpe, mas eu ...... Caminha lentamente até a velha senhora.

- Me leve! Estende vagarosamente uma de suas mãos, recebendo o toque da morte. Seus olhos foram fechando vagarosamente, até que seu último suspiro foi dado.

Então finalmente pude sentir aquilo que tanto ouvi, ela simplesmente se foi como tantos outros haviam ido através de minhas mãos, mas diferente dos outros ela levou de mim o amor que nunca mais haverei de sentir.