História O dia em que eu percebi que era triste. - O meu eu hipocondríaco

Foi quando tudo deixou de fazer sentido.

O café parecia aguado demais e a cama permanecia sempre fria, o aquecedor não aquecia meus pés e meus dedos estavam quase roxos.

Eu não sentia fome, não tinha nem mesmo ânimo para fumar meus cigarros de menta, tragava o tabaco puro e dizia para os outros que era pra prevenir meu vício, – mas eu estava mesmo era me afogando nele.

O azul do céu noturno já não encantava mais como antes, a cidade cinza e suas luzes opacas traduziam tudo aquilo que estava impregnado nos meus pulmões destruídos.

Era tudo automático.

Foi quando eu percebi que era triste.

E nesse dia o que eu fiz foi me afundar ainda mais na minha ânsia de não querer ser.

Ser aquilo que eu sempre quis mas não pude.

“Essa profissão não vai te dar dinheiro”.

É só a porra de um pedaço de papel, mas permaneci triste por não poder ir contra a correnteza que me sugava para dentro daquele redemoinho.

Padronizado demais para minhas cinzas e meu cabelo colorido.

“É tudo uma questão de querer e ir atrás”.

Também não é assim, você ainda vai se ferrar muito na vida; quem disse que você vai conseguir na primeira tentativa estava errado.

E foi quando eu percebi que era só mais um, nunca deixaria de ser.

Roteirizado, vendido.

É tudo uma questão de percepção, mentira.

Eu ainda vou continuar sendo esse mesmo viciado em nicotina e erva barata, umas garrafas de conhaque que desce rasgando mas não cura aquela dor que a gente sente só na alma.

Serve mesmo pra aliviar, pra distrair; porque quando acordo e vejo o sol brilhando não tenho vontade de continuar.

As lágrimas rolam sem eu esperar, sintomas de depressão iminente.

Quatro da madrugada e eu não consigo dormir.