História O diário de Sorte - É sério isso universo?!

04 de Fevereiro Sexta Feira
Sorte
            Como é possível que todos os britânicos ainda não viraram sereias? Fala sério, não para de chover! Não que eu não goste de chuva e nem de dias frios, mas todo santo dia já é de mais! Enfim, hoje na aula de música enquanto eu viajava para um universo paralelo observando a chuva cair na janela à professora Newlands chamou a minha atenção e como eu estava focada de mais nos meus pensamentos idiotas do tipo "O que aconteceria se eu tocasse um funk pesadão agora?" Eu acabei levando um "sustinho bem meigo e fofo" e quase cai da cadeira. Após muitas risadas e alguns aplausos, eu já estava à beira de me jogar da janela. E olha que ainda era a primeira aula! Continuando, depois de todo o vexame ela pediu para que eu ficasse de pé e me apresentasse.
            O que dizer dessa professora que eu nem conheço e já odeio, ela foi a ÚNICA que pediu pra eu fazer isso! Não é mais fácil tirar Xerox da minha ficha escolar e mandar pra todo mundo? Ok respirei fundo e comecei a falar:
- Meu nome é Kira, tenho 15 anos e sou brasileira. Posso sentar? - assim que eu terminei de falar eu senti meu rosto esquentando, você não faz ideia de como eu odeio isso.
- Claro que não, conte mais sobre você, seus gostos musicais, sobre a sua cultura...Não seja tímida, estamos todos aqui para fazer novas amizades! - disse ela dando um sorriso pimposo. 
O que eu realmente queria dizer naquela hora:
- SE TÁ LOCONA MOÇA? ISSO AQUI É UMA SELVA! AS COISAS PODEM TER SIDO DIFERENTES NA ÉPOCA FEUDAL EM QUE TU VIVEU, MAS SÉCULO XXI JÁ CHEGOU.
O que eu disse:
- Ok, bom eu sei tocar a maioria dos instrumentos de corda, eu adoro música clássica, MPB, reggae, folk, eletrônica e também gosto de um pouquinho de indie. Odeio sertanejo universitário com todas as minhas forças e eu não sou chegada a ouvir funk, é mais pra zoar e essas coisas. Posso sentar agora? 
Ela começou a me encarar igual a uma criança encarando os presentes embaixo da árvore no natal.
- É um prazer senhorita Kira. Bom, eu estou planejando um novo projeto que envolve a música em diferentes culturas e a sua chegada foi mais que bem vinda. - ela foi até o canto da sala e me entregou um violão.
- Onde você está querendo chegar? - engoli em seco.
- Você poderia tocar uma música brasileira pra gente? - disse ela com um sorriso angelical.
Eu já estava começando a planejar um jeito de me arrastar até em casa com as duas pernas quebradas depois de ter me jogado da janela do terceiro andar.
- Então...sabe, eu...não sou tão boa assim, eu posso te trazer alguns cd's na próxima aula. É mais seguro, eu posso acabar estourando o tímpano de todos na sala. Sabe como é né.
            Ela parecia meio chateada, mas parecia ter desistido da ideia, quando eu comecei a agradecer a Deus por ela não ter insistido uma cabeça laranja se levantou e foi até mim e a professora.
- Kira você vai cantar né? Eu ainda tenho o vídeo de você cantando no pub do meu pai. Quer ver professora? - disse Erick enquanto entregava o celular nas mãos da senhora Newlands.
            Naquela hora eu só conseguia pensar em apenas uma coisa: "FILHO DA P~"  Desculpe o linguajar inapropriado Sorte, mas eu realmente não encontrei palavras bonitinhas então é só imaginar o "PI" na parte feia. Continuando, EU AINDA VOU MATAR O ERICK! Depois que a professora terminou de ver o suposto vídeo ela me obrigou indiretamente a tocar.
- Querida você é ótima, por que não disse antes? Não precisa ter medo, a gente não morde! - disse dando uma risadinha fofinha.
            Olhei o garoto ruivo nos olhos com o meu olhar intimidador de irmã mais velha, disse um simples "okay" e peguei o violão das mãos da professora. 

            Milhares de músicas e bandas vieram na minha cabeça naquele instante, olhei ao redor e todos dirigiram sua curiosidade a mim me fazendo lembrar da minha vida a uns meses atrás, de como em um piscar de olhos tudo o que eu era e conhecia mudou completamente. Então eu respirei fundo e não, eu não toquei nenhum samba como já de se esperar. Na verdade eu acabei me empolgando um pouco e eu toquei duas músicas do Supercombo pra relembrar os velhos tempos.

            Assim que eu terminei a professora ficou simplesmente maravilhada e disse que se eu continuasse assim nem precisaria me preocupar com as minhas notas na matéria dela, o que foi uma bênção, mas não diminuiu em NADA a raiva que eu estava sentindo do Erick, então assim que bateu o sinal indicando o final da aula eu peguei minhas coisas e fui correndo em direção à porta esperando pela minha “presa”. Assim que eu avistei a cabeleira ruiva eu o recebi da forma mais educada possível. Com um soco obviamente.

- QUAL O SEU PROBLEMA SEU IDIOTA?! – disse enquanto me preparava para dar o segundo soco.

- Eu só estava te ajudando! – disse ele enquanto esfregava o braço dolorido.

- Para de ser um bebê chorão, eu nem bati tão forte assim. Dá próxima vez pergunte ANTES se eu vou querer a sua ajuda!

- Depois desse soco nunca mais te faço nada.

 Revirei os olhos e sai andando em direção à quadra onde eu teria a minha primeira aula de educação física.

            Essa foi sem duvida nenhuma a PIOR aula de educação física que eu já tive na minha vida!!!!!! ( Percebe-se que o negócio foi feio pela quantidade de ponto de exclamação que eu usei), Deixe eu te explicar melhor:

            Chegando à quadra todas as meninas tinham que ir pro vestiário colocar o “uniforme” para realizar os esportes. Voltamos para a quadra e jogamos vôlei junto com os meninos. Até ai ok. De repente a jovem e inocente Kira vai para o vestiário tomar uma ducha, esperei todo o montinho de garotas histéricas sair do chuveiro para finalmente poder me despir. Assim que eu coloquei a minha bolsa com as minhas roupas em um banco e pendurei a toalha em um suporte eu finalmente fui me lavar. Ok, assim que eu desliguei o chuveiro eu ouvi passos apressados e imediatamente eu abri a “cortininha” pra ver o que diabos estava acontecendo.

            Quando eu fui olhar eu simplesmente entrei em pânico. As minhas coisas tinham sumido! Eu estava completamente nua e molhada sem nenhuma toalha ou roupas! Olhei em volta pra ver se não tinha ninguém e procurei pelo vestiário inteiro e nada de achar! Não tinha nem uma toalhinha de rosto! Então como eu estava completamente envolta em adrenalina e pânico eu fiz a coisa mais idiota que alguém poderia fazer nessa situação: Eu fui para o vestiário masculino.

            Eu sabia que não ia ter ninguém por lá, os meninos estavam fazendo um treino especial para o campeonato de futebol então entrar lá foi bem fácil. Comecei a procurar feito uma louca por uma toalha ou um mísero pedaço de pano onde eu pudesse me esconder e nada de achar. O sinal indicando o final da aula tinha acabado de bater e eu ainda estava lá completamente nua. Então eu fui até a parte dos armários e me enfiei em um na esperança que um garoto me ajudasse.

            Não precisa jogar na minha cara o quão idiota isso foi, mas você queria que eu fizesse o quê? Andasse pelos corredores completamente pelada até a sala da diretora?  Então pare de me julgar Sorte. Continuando, enquanto eu estava encolhida em um armário de metal completamente nua os garotos conversavam e riam entre si. Comecei a reconhecer algumas vozes como a do PJ e daqueles três idiotas de antes. Meu coração parou por um segundo e eu entrei em pânico novamente, e se esse armário fosse de um dos três?! Minha vida estaria simplesmente arruinada! Comecei a rezar pra todos os santos que eu conhecia na esperança de que isso fosse apenas um pesadelo idiota, mas lá no fundo eu sabia que não era.

             Depois do que pareceram horas de aflição alguém finalmente abriu o armário, como eu estava bem encolhida as minhas pernas cobriam toda a minha nudez, olhei para o garoto que havia abrido o armário. Eu não sabia se ficava feliz ou ficava brava, já deu pra sacar quem era né? Não? Era nada mais nada menos que o “senhor beleza rara”. Ele me olhou perplexo e como eu não estava com tempo para “bater um papinho” eu simplesmente disse me ajuda! Bem baixinho, ele pareceu entender o recado porque imediatamente ele fechou o armário.

-Se tá bem cara? Parece que viu uma assombração.

-Sim, eu só estou com tontura, acho que preciso comer mais hambúrgueres.

- Então tá. Você vem?

- Vão indo vocês, eu tenho que fazer uma coisa antes.

- Você que sabe.

            Isso foi tudo o que eu consegui ouvir do lugar onde eu estava, depois do que pareceram uns dez minutos finalmente o vestiário parecia vazio, até eu ouvir duas batidinhas na porta do armário.

- Kira você ainda está ai? – disse ele encostado nos buraquinhos para a passagem de ar daquela caixa de metal.

-Não, não, eu estou em Nárnia. Idiota. – disse com a voz mais irônica que eu consegui fazer.

Ele finalmente abriu o armário

- Bom, pelo visto você está se divertindo pra caramba em Nárnia então eu acho que vou embora. – disse ele enquanto fechava o armário lentamente.

- Asa espera! – esse filho da mãe vai me fazer implorar – Me ajuda, por favor!

- Já que você insiste – ele abriu o armário novamente. – Aqui uma toalha.

- Se você tentar espiar eu juro que mato você!

- Eu não vou olhar! E se apresse, eu não tenho todo o tempo do mundo.

Desci do armário e me enrolei na toalha que estava no chão.

- Pode virar – assim que ele me viu enrolada seu rosto instantaneamente ficou vermelho e começou a gaguejar – Antes que pergunte, alguém roubou minhas roupas.

- E-e o que você q-quer que eu f-faça? Eu não sou o Homem-Aranha!

- Primeiro nós temos que sair daqui, alguém pode entrar a qualquer momento.

- Poderíamos ir pra sala do zelador, ninguém entra lá. O problema vai ser atravessar o corredor com você desse jeito. – ele percorreu os olhos pelo meu corpo.

- PARA DE ENCARAR!

- DESCULPA! – revirei os olhos.

- Provavelmente não vai ter ninguém nos corredores, estão todos na sala de aula.

            Ele apenas assentiu, saímos do vestiário “de fininho” e como Asa é um pouco mais alto que eu ele acabou virando o meu escudo. A cada barulho que ouvia eu apertava a mão dele com muita força até finalmente chegarmos à sala do zelador.

- Você quase esmagou a minha mão! – disse enquanto massageava a mão esquerda.

- Eu nem apertei tanto assim, pare de choramingar. – comecei a percorrer meus olhos por aquela sala suja e mofada tentando tirar das profundezas do meu cérebro uma resposta pra tudo isso. Afinal, eu não assisti todas as temporadas de Bones pra nada. É claro que estava bem óbvio quem tinha feito tudo isso, Miranda ficou a aula inteirinha me encarando e cochichando com sua irmãzinha. Pelo visto eu subestimei as duas, alguém aqui sabe brincar.

- Já sei onde estão minhas roupas e você vai ter que pegá-las pra mim. – disse num tom sério.

- De jeito nenhum! Se me virem andando pelos corredores em horário de aula eu vou estar muito ferrado! – revirei os olhos.

- Você acha mesmo que eu ia pedir pra você fazer algo sabendo que ia dar errado? Faça-me o favor. Enfim, você sabe onde a Miranda e a “irmãzinha” dela estão?

- Provavelmente na aula de Geografia que é onde eu deveria estar! Por quê? Espera um minuto, você não está achando que foram elas. Né?

- Não, é só pra você ir lá ver se elas estão usando o batom que eu recomendei. – revirei os olhos – Você vai até a sala de aula e fala pro professor que você estava na enfermaria e pede desculpas por ter chegado no meio da aula. Então você vai usar as suas habilidades mágicas de ator e vai convencê-las a te entregar a minha bolsa. Entendeu?

- Para pra pensar por um segundo, existe uma chance de 1% de terem sido elas! Eu sugiro que eu vá até a diretoria pra explicar o que aconteceu, é só você usar as roupas do achados e perdidos. Problema resolvido! – disse ele se virando em direção à porta.

Agarrei o braço dele.

- Você realmente é muito burro. NUNCA devemos delatar um inimigo! Nem os mais sujos delatam e eu não vou fazer o mesmo só porque você está com medinho. Eu tenho certeza absoluta que foram elas. Escuta, eu não vou te obrigar a nada. – soltei o braço dele e apertei a toalha rente ao meu corpo – Se você quiser ir o problema é seu, eu me viro sozinha.

Ele pareceu refletir por uns instantes enquanto direcionava o olhar ora para mim, ora para a porta.

- Você tem certeza absoluta que esse plano vai dar certo? – disse enquanto mordiscava o lábio inferior.

- É obvio que eu tenho! Confia em mim ou não?- eu já estava começando a ficar impaciente com a covardia desse garoto!

- Ok, você venceu. Mas e se eu não conseguir pegar a bolsa delas?

- Não existe esse “e se”, você vai pegar e ponto final. Só volte aqui com a minha bolsa, entendeu?

- Sim, mamãe – disse ele ironicamente.

            Sem brincadeira, eu fiquei tanto tempo sentada naquela sala mofada que quando ele chegou com a minha bolsa a primeira pergunta que eu fiz foi em que ano a gente estava. Eu já conseguia ouvir o barulho das bandejas e das cadeiras sendo arrastadas no refeitório!  Mas por sorte ele conseguiu recuperar a minha bolsa! E honestamente eu nem estava botando tanta fé nesse plano.

- Teria sido mais fácil pegar um pedaço de bife da boca de um leão do que recuperar a suas coisas. Mas, como eu sou maravilhosamente incrível, eu consegui. – disse ele enquanto me entregava a minha mochila.

- Eu nem acredito que vou dizer isso, Asa você é incrível! – disse enquanto largava minha bolsa no chão e dava um abraço de urso no cara que salvou a minha pele.

- Eu ouvi direito? Você disse que eu sou incrível? É isso mesmo mundo?

- Não exagera! Garoto estranho.

E de repente o silencio tomou conta e ficamos lá parados, um olhando pra cara do outro.

- Então, vai querer ficar aqui e ver eu me trocar? – disse ironicamente

- O-o quê?! N-não, não. – disse ele olhando para os próprios pés

- Foi o que eu pensei. Agora dá licença fazendo o favor?

Ele apenas assentiu e foi em direção à porta.

            Eu nunca gostei tanto de um uniforme escolar na minha vida depois do que aconteceu essa manhã. Eu precisei ficar um tempo trancada no meu quarto pra assimilar o que aconteceu. Lembra do Thomas e o trabalho de fotografia dele? Eu pedi pra mudarmos pra amanhã, não ia aguentar uma sessão de fotos (me achando à poderosíssima) depois de andar só com uma toalha enrolada pelos corredores da escola. Eu ainda não tô acreditando! É sério isso universo?