História O diário que se repete - Capítulo 4 - Uma radiante luz começa a florecer

    Penso que, talvez eu goste da visita que estes pássaros me fazem todas as manhãs, não é algo que eu possa afirmar, afinal nunca tive uma grande afinidade por vidas desconhecidas por mim, porem neste momento, em que vejo suas diferentes cores e cantos fluindo através do jardim, ecoando levemente dentro de meu quarto, 
mesmo que brevemente, uma sensação de paz e tranquilidade preenche o meu corpo, me fazendo lembrar de como as coisas eram antes de tudo acontecer.
    - Rei, terminei de preparar o cafe da manhã. - a voz suave de Elaha lentamente se sobressai aos sons dos pássaros. Após alguns instantes me dou conta do presente em que me encontro.
    - Estou ansioso para experimentar seu prato secreto! - gritei do quarto enquanto me encaminhava para a cozinha.
    - Sim, se você não roubou, então, certamente vai se surpreender! - ela parecia animada, cinco dias após a morte de sua família e ela já demonstrava estar mais forte que eu.
    - Não manipulei o tempo, se é o que quis dizer. - disse enquanto entrava na cozinha.
    Esse cheiro... parece algo doce... um bolo de cenoura talvez?
    - Que rufem os tambores - animada, começou a bater com as mão na mesa, o suposto bolo estava tampado com uma toalha branca. - Então, o que você pensa quê é?
    Olhei por um instante para ela, admirado com sua contagiante alegria, a luz branca da lampada refletia seus cabelos vermelhos, ainda assim eles mantinham um tom forte. Após encara-la por alguns segundos, dirijo um leve sorriso, como se já tivesse ganhado. Por um momento ela ficou envergonhada, porem depois de instantes ela devolveu o mesmo sorriso.
    - Bolo de cenoura. - disse ainda olhando para ela, exalando confiança em minhas palavras.
    - Huh hu hu. - sorriu com a ponta dos dedos da mão direita na frente da boca. - Parece que temos um vencedor aqui, e sinto lhe informar, não é você, Rei. - após dizer isso ela puxou rapidamente a toalha.
    Entendo, a cenoura foi apenas para me enganar, ela fez uma sopa.
    - Muito bem, realmente me surpreendi. - disse de maneira indiferente enquanto puxava a cadeira para ela sentar.
    - Como pode ser tão frio, pode não parecer mas me esforcei pra fazer isso, seu idiota! - disse olhando para mim, enquanto se sentava na cadeira fazendo uma ligeira careta.
    - Peço desculpas pela minha frieza, porem acredite, esta sopa realmente me alegra - disse enquanto a olhava e passava levemente a mão em seu rosto. Novamente vi uma garota nervosa e envergonhada.
    - Uhm... Vou te perdoar dessa vez. - disse parando de me encarar e direcionando seu foco para o prato.
    - Hoje é o dia, você está pronta? - perguntei para ela enquanto me sentava na cadeira à sua frente. Era uma mesa redonda.
    - É apenas um teatro certo? - perguntou ainda olhando para o prato.
    - Sim, exatamente - assenti para ela.
    - Então, lá vamos encontrar com um dos seus três amigos que estão na terra... - percebi que ela estava um pouco nervosa.
    - Não precisa se preocupar, este é de longe o mais normal de meus amigos, você certamente vai gostar dele. - tentei dizer de maneira positiva, apesar de não estar acostumado a usar essa entonação.
    - Você pode me dizer agora, por que estamos indo encontrar esses seus amigos? - ela ainda estava inquieta, talvez eu tenha a assustado sem querer em algum momento.
    - Elaha, eu só não te contei isso ainda pois preciso me reunir com eles para discutir o plano, não quero ficar te passando apenas indulgências da minha mente. Porem por hora vou lhe dizer algo que faremos com certeza.
    - Algo que faremos com certeza? O que é? - ela parecia curiosa.
    - Vamos sair desse planeta e ir para outro chamado Kritiam. - ela não pareceu tão surpresa quanto eu esperava.
    - Kritiam... isso após encontrar seus amigos? - rapidamente ela estava conseguindo absorver a situação, algo incomum para os humanos da terra, que na sua maioria nascem e morrem praticamente no mesmo lugar.
    - Exatamente, porem antes vamos precisar bolar algo para enganar a Lily. - a conversa estava fluindo bem, muito melhor que o esperado.
    - Uhm.. A Mor.. digo Lily, você já não havia feito algo a respeito? - perguntou para confirmar se havia entendido corretamente a situação anterior ocorrida em sua casa.
    - O que fiz foi algo provisório, serve apenas para a terra. Caso tente sair com seu nome escrito no livro de mortes recentes de Lily, ela certamente descobrira.
    - Espera, não era uma lista? - perguntou ao se lembrar da conversa da primeira noite.
    Tenho que admitir, já havia começado a esquecer de como Elaha era uma garota perspicaz.
    - O trabalho da Lily possui algumas etapas, dentre elas as mais importantes são:
    1 - Lista. Pessoas que devem morrer.
    2 - Livro de mortes recentes. Mortes de até cinco anos.
    3 - Livro de mortes antigas. Mortes com mais de cinco anos.
    - fiz uma pausa, olhei a hora no notebook que estava ligado à minha esquerda, em cima do sofá . - Porem você não precisa se preocupar com isso agora, o mais importante no momento é o teatro, a carruagem vai chegar em uma hora.