História O diário que se repete - Capítulo 5 - O teatro da mentira

    Todos os dias imagino como seria se eu pudesse voltar tudo ao que era antes, nos dias em que a benevolência com o próximo era tão real quanto as pilhas de vermonion, tida como as mais grandiosas e brilhantes pedras vermelhas, porem rapidamente me deparo com a realidade de que algo assim não possa ser feito, talvez, nem deva. Felizmente de todas as coisas ruins eu conheci ela, a garota enigmática, com problemas comuns e um péssimo senso de direção, que de alguma forma me apresentou à um belíssimo sentimento, o amor.
    Uma leve gota de suor escorria do lado esquerdo de seu rosto, só pude entender que ela estava nervosa, pois não estava quente. Talvez o vestido que separei para ela, vermelho com alguns transados, estivesse colaborando para aquela gota de suor. Seu cabelo vermelho estava amarrado, formando um coque. De vez enquanto ela olhava nervosa para os lados, como se não quisesse ser vista.
    - O que te preocupa, Elaha? - perguntei usando uma entonação calma e suave.
    Ela não respondeu nada por um tempo.
    - Serio Rei, uma carruagem... Em que estava pensando?! - disse indignada com a situação.
    - Posso ver que você nunca andou de carruagem. - disse enquanto olhava para frente.
    - A questão não é essa, eu não sei de onde você veio, mas em 2016 não usamos mais esse meio de transporte, principalmente em uma rua movimentada! - disse Elaha enquanto olhava pela janela e ouvia algumas buzinas de carros.
    Humanos vivem tão pouco, sinto pena deles, mesmo dos mais cruéis.
    Soltei um leve sorriso para chamar sua atenção.
    - Não se preocupe, em breve, o seu conceito de estranho irá mudar. - disse enquanto imaginava a cena dela conhecendo meu amigo que estava no teatro,  Roryest Belvega.
    - O que você... - ela começou a falar algo porem a interrompi.
    - Chegamos. - disse com uma voz firme.
    O teatro contava com um palco bem iluminado, Elaha e eu estávamos sentados na primeira fileira nas primeiras cadeiras da esquerda.
    - Bem vindos senhoras e senhores. - disse um locutor oculto - Nossa peça, Fantoches de vento está prestes a começar.
    Ahh, não gosto desta, meu amigo Rory, tem habilidades incríveis, porem um péssimo gosto para arte. No palco uma jovem com longos cabelos começou a andar para o centro. Instantes depois, um homem, forte de cabelo grisalho entra em cena.
    - Cecilia, você não precisa casar com o príncipe de Grimires... - fez uma leve pausa, estendeu a mão para frente, enquanto a jovem mostrava uma expressão triste para o chão. - Podemos sobreviver a guerra sem ajuda daquele reino.
    - Obrigado pai... - a jovem colocou a mão no peito, devia ter uns 16 anos. - Mas eu sei que precisamos dessa aliança...
    - Cecilia... Peço que me perdoe por isso... - O homem começou a demonstrar um olhar de tristeza também.
    A plateia estava começando a ficar comovida com a estória, claro, humanos no geral são assim, sentimentalistas.
    -  Vossa alteza, Orlam, temos noticias urgentes. - disse um dos três guardas, após entrarem em cena e se ajoelharem.
    - Prossiga - respondeu a alteza.
    - O reino de Grimires se aliou à Butia! - disse o guarda com uma voz firme.
    A alteza se estremeceu de medo, a jovem demonstrava um grande sentimento de culpa.
    - Ei Rei! - ouvi a voz de Elaha um pouco exaltada. Varias pessoas estavam falando no fundo. Ah, é claro, acabei pegando no sono novamente. - Não acredito que você dormiu... A Cecilia foi demais, ela e Robert ficaram perfeitos juntos! - disse Elaha contente.
    Tenho certeza que ela também se inclinaria a pegar no sono se não fosse afetada pelos poderes mentais de Rory. Porem, agora que acabou posso finalmente falar com Rory.
    - Qual foi a última parte que se lembra Rei? - perguntou Elaha.
    - Dos guardas entrando na cena e falando com a alteza. - disse enquanto me levantava.
    - Ahh?! Isso foi super no começo! - disse Elaha surpresa.
    - Bem, não consigo me interessar pelas peças deste meu amigo. - disse enquanto me espreguiçava.
    - Ah, mas foi tão legal... - disse Elaha sem entender o que eu não gostei na obra. - Porem não sei o que me impressionou mais, a obra, ou o fato de eu ter entendido mesmo todos os diálogos sendo em inglês... - disse Elaha.
    - Enquanto estiver com o amuleto de Krokof você vai conseguir entender e se comunicar nesses idiomas mais básicos. - disse para ela com certa indiferença.
    - Krokof, é? É realmente um amuleto mágico... - disse enquanto olhava para o colar pendurado em seu pescoço.
    - Se simplificar bastante ele é um amuleto mágico mesmo, de qualquer forma - disse olhando para ela. - Vamos ver meu amigo, ele deve estar no camarim.
    Segurei a mão de Elaha e comecei a me encaminhar para a produção do teatro. Consegui entrar sem problemas, haviam várias salas, porem todas com nomes.
    - Está aqui - apontei para a porta com a placa “Roryest Belvega”.
    Bati na porta duas vezes. Após alguns instantes uma jovem abriu a porta.
    - Rei! Seu amigo era a Cecilia? Ela é ainda mais linda de perto! - disse Elaha surpresa para mim.
    - Quanto tempo Rory. - disse com um leve sorriso.
    - Rei?! Só você mesmo pra me surpreender. - disse em meio a gargalhadas - Em pensar que, você realmente escapou, e ainda por cima veio pra cá. - suas risadas não cessavam.
    - Então Rory, ainda está comigo? - perguntei após alguns instantes.
    A situação ficou um pouco seria por um momento. Pude perceber que até mesmo Elaha entendeu o clima.
    - Hum. Que pergunta é esta Rei. Já disse, estarei sempre ao seu lado! - disse Rory seriamente.
    - Rei, você e essa garota! - disse Elaha vermelha de ciúmes.
    Apenas olhei para ela e sorri.
    - O qu.. que... é tão engraçado Rei! - Elaha estava realmente nervosa. - O que você me disse...
    - Não é disso que estou rindo Elaha, acontece que, por mais linda que Rory pareça, ela, é um garoto.
    - Estava um pouco curioso Rei, quem é está humana? - disse Rory um pouco mais serio.
    - Está é a garota de quem eu falei no bar de Litius, lembra? - disse olhando para Rory.
    - É claro que lembro, como poderia esquecer do nosso último encontro. - disse um pouco aliviado com a situação.
    - Aproposito, Rory, pode parar de vasculhar a mente da Elaha? - disse enquanto eu colocava a mão sobre a cabeça da Elaha.
    - Ah, desculpe, é um costume difícil de controlar. - disse Rory olhando para mim e fazendo uma cara de bobo.
    - Gostaria também que mostrasse sua verdadeira aparência, apenas para Elaha ficar ciente de como você é. - disse para Rory.
    Rory se virou de costas para mim e Elaha, removeu seu vestido rosa, vestiu uma camisa branca que estava no balcão a sua frente. Continuou usando o shorts rosa que vestia por baixo do vestido. Ele era magro e continuava com uma aparência feminina.
    - Se você confia nessa humana, então eu também confio. - disse Rory, imediatamente sua aparência começou a mudar, seus cabelos pretos ficaram completamente brancos, sua orelhas ficaram pontudas, varias marcas pretas aparecerem em seu corpo frágil, no olho esquerdo uma imagem semelhante a um cavalo marinho azul se formou, no direito uma foice negra. As marcas negras se conectavam por todo o corpo. A maioria formava símbolos desconhecidos até mesmo por mim. Neste momento o cheiro da morte pairava sob o ar. Pude perceber a tensão nos olhos de Elaha.
    - Está bem Rory. - disse fazendo um sinal para ele voltar a forma que estava antes.
    - Desculpe se te assustei, senhorita - disse após alguns instantes, já na forma anterior.
    - Rory também é um mago, porem diferente de mim, que controlo o tempo, ele controla as trevas. - disse para Elaha. - Mas você não precisa se preocupar, ele está do nosso lado. - disse tentando tranquiliza-la.
    - Eu.. Eu estou bem Rei! - disse Elaha tentando parecer forte.
    - Posso ver que está - disse dando um leve sorriso para ela. - Certo, então, Rory, vou precisar apagar a existência da sua Lifa do tempo.
    - Ah, claro, só um momento - Rory puxa um zíper invisível de sua mão direita, imediatamente uma fenda negra se abre em sua mão. Após se concentrar um pouco uma pequena pedra incolor sai de dentro de sua mão.
    Elaha me olhava assustada.
    - Se te consola, isso também é um pouco estranho pra mim. - disse olhando pra ela, em seguida peguei a Lifa do tempo de Rory.
    Do bolso da minha calça social retirei um pequeno martelo dourado, de aproximadamente três centímetros.
    - Rory. - disse olhando para ele com a Lifa na mão esquerda e o martelo na direita.
    - O martelo de Kruger, continua esperto como sempre. - disse Rory para mim. Fiz um sinal para a Elaha ir para o canto do quarto. - Furrizer Trega! - após dizer estas palavras, um cubo negro de dois metros se formou ao meu redor.
    Escuridão absoluta, poucas coisas podiam escapar do FT do Rory. Poucas coisas mesmo, nem a luz estava inclusa na lista. Rapidamente dou um leve toque com o martelo na Lifa que segurava na mão esquerda. Uma explosão super potente destruiu completamente a existência da Lifa do tempo, junto com o meu corpo.