História O diferente envelhecer - 18h 06min: desentendimentos

Depois de ajudar seu loirinho a colher os frutos da pequena horta que tinha no fundo de casa e recolher alguns ovos das galinhas; a essa hora, Yuichiro terminava de arrumar a banheira para ele e Mikaela. O mais velho gostava de fazer isso, era gratificante de certa forma, era um sentimento estranho e uma vontade curiosa que surgia e o fazia querer arrumar todo o banho conforme Mika gostava.

    O cheiro de rosas já preenchia o cômodo e as espumas começavam a brotar na banheira enquanto ela enchia. Então, Yuu desligou a torneira que enchia a banheira e foi catar Mikaela pela casa. Era incrível como o loiro sempre achava algo para fazer sendo que os dois não eram muito bagunceiros… okay, okay, talvez Yuichiro fosse um pouco.

— Mika! Oe, Mika! — Chamou alto, enquanto andava pela casa.

— Estou aqui, Yu-chan! — Respondeu uma voz abafada.

    Yuichiro respirou fundo.

— Aqui onde, Mikaela?

— Aqui. — E o loiro surgiu bem atrás do dono dos olhos verdes, o qual se assustou com a aparição repentina do outro.

— Mikaela! Que susto! — Confessou fechando os olhos ao pôr a mão no peito próxima ao coração.

    Mika tombou a cabeça para o lado.

— Você era mais corajoso que isso antigamente, Yu-chan. — Comentou com falsa causalidade ao dar uma piscadela.

— Vou te mostrar o corajoso. — Desafiou ao colar seu peito no do loiro e ficarem cara a cara.

    Mikaela sorriu de canto, sentindo-se o vitorioso e soltou:

— Acha mesmo que, depois de cinquenta e quatro anos juntos, eu não conheço o seu “corajoso”, Yu-chan? Eu o conheço decor e salteado, de cima a baixo, de frente e de costas… principalmente de frente.

— Claro que conhece, adorava colocá-lo na…

    E Yuichiro foi calado quando Mikaela deu fim a proximidade das bocas quando seus lábios tocaram os do namorado sem cerimônia alguma. O loiro sentia seu peito se aquecer pelo carinho que trocavam, a boca um tantinho ressecada de Yuichiro recuperava a suavidade conforme a macia de Mikaela massageava a sua devagarinho, como se tivesse todo o tempo do mundo apenas para isso. Aos poucos as mãos do grisalho escalaram o quadril do loiro para chegar a cintura deste e, automaticamente, os braços de Mika envolveram o pescoço de seu eterno Yu-chan e os dedos fizeram cafunés delicados e vagarosos nos antigos cabelos negros do namorado.

    Os dois se separaram aos pouquinhos, com Mikaela deixando rápidos beijinhos pelo rosto de Yuichiro.

— Que feio, Yu-chan, você falando essas coisas obscenas.

— Eu? — Perguntou Yuichiro visivelmente indignado. — Você que começou! Aliás… onde você estava antes de eu te chamar? — Olhou sério para o loiro ao cruzar os braços.

    Mikaela olhava para cima a fim de evitar cruzar seus olhos rosáceos com os verdes de Yuichiro, as mãos saíram do pescoço do namorado para ficarem escondidas atrás das costas e as pernas alternando o peso do corpo de uma para a outra.

— Eu estava em casa.

    A resposta óbvia. Yuu conhecia todos esses sinais e eles gritavam que o namorado estava lhe escondendo alguma coisa, só não sabia o quê. Ou melhor, soube no instante em que sentiu uma bolinha de pelos fungar repetidamente seus pés. O grisalho olhou para baixo e viu um cachorrinho pequeno e pelos pretos, os quais precisavam de um corte (principalmente os que cobriam os olhos castanhos do animal).

— Ei, quem é você… garota? — Perguntou para a cachorrinha que balançou o rabo quando o mais velho acariciou seu dorso com a ponta do pé.

    Com um pouco de dificuldade e com a ajuda de Mikaela, Yuichiro se sentou no chão para ser recebido com diversas lambidas da cadelinha por si, o homem aproveitou e fez mais carícias nela antes de dirigir-se a Mika.

— Era por isso que eu não encontrava você? Que fofa!

— Ela estava abandonada a alguns metros depois do nosso muro e o resto você já pode imaginar.

— Com certeza. Você a escutou chorar, — comentou pegando o animal no colo — ficou com dó e a trouxe para cá. Nem preciso dizer que adorei essa nova companheira. — Concluiu olhando com apreço para o outro.

— Sou um herói!

— Tá, tá, ô herói do olimpo… alguma ideia de nome?

    O loiro se abaixou e tirou a cadela dos braços de Yuichiro, o qual fez um muxoxo em reclamação. Mika segurou o animalzinho como se segurasse um bebê por baixo das patas anteriores e a ergueu. Tão fofa…, pensava o loiro consigo ao ver a língua da pequena para fora e a cauda balançando em animação para, logo depois, ela olhá-lo com curiosidade ao pender a cabeça para um dos lados, ato que foi imitado pelo vampiro seguidamente.

— Sou péssimo com nomes. — Afirmou Mikaela desviando seus olhos rosáceos do animal para Yuu.

— Que tal… — Começou o grisalho ao levantar-se do chão se apoiado em uma cadeira. — Sekai?

— Gosta desse nome? Sekai? — Questionou o loiro, dessa vez para a cadela sendo ninada em seu colo e sorriu feliz quando a pequena latiu. — Sendo assim, bem-vinda a família, Sekai!

    Logo, Yuichiro tomou a cachorrinha das mãos do outro e, com sua mão livre, começou a empurrar o loiro em direção ao banheiro devagarinho.

— Vamos pro banho, sim?

— Você já arrumou todas as coisas? — Perguntou Mikaela surpreso.

— Do jeito que você gosta.

— Nossa! Quanta eficiência! — Exclamou.

— Pff, Mika, meu nome do meio é eficiência! — Disse convencido ao abrir a porta do banheiro e dar passagem ao parceiro.

    Yuichiro deixou a nova membro da família no tapetinho do banheiro enquanto ele e o loiro se despiam para entrar na banheira cheia de espuma e aroma de rosas vermelhas. Ambos suspiraram aliviados ao ficarem mergulhados na água morna da banheira, os músculos relaxaram de um dia cheio de tarefas caseiras com intervalos para momentos a dois do casal. Primeiro, os dois curtiram a água amolecendo seus corpos, as pernas se entrelaçando e roçando delicadamente nas do parceiro a frente e só então decidiram se ensaboar.

[♪]

    Ao mesmo tempo que o sabonete percorria a pele lisa de Mika e a enrugada de Yuichiro, a conversa rolava solta entre os dois, as risadas preenchiam o cômodo e a discussão sobre qual era o próximo lugar da França que podiam visitar era calorosa. Às vezes os dois ainda lembravam de viagens passadas, das coisas que esqueceram em cada uma delas e das pessoas que conheceram e lhes ensinaram diversos costumes do lugar que Mikaela e Yuu visitavam. Vez ou outras a água da banheira caía pelas bordas, culpa de Yuu que dava um tapa na água para jogá-la em seu loiro, o qual, obviamente, não deixava barato e retribuía o ataque com outro com destreza. Após perceberem que o chão estava começando a ficar com mais água que a banheira e que Sekai dormia na área do tapete que se tornara sua ilha, ambos decidiram dar início a lavagem de seus cabelos.

    Primeiro, Mikaela lavava os do moreno, depois eles trocavam de posições. E foi quando Yuichiro lavava os cabelos loiros de Mika, que o mais velho quis dar início a uma ideia que fazia sentido em sua cabeça.

— Mika, já pensou em seguir… — pausou receoso — sem mim?

— Yuichiro… — o loiro fechou os olhos para continuar — Eu sei que vai chegar um momento em que você não estará mais comigo e, quando isso acontecer, eu planejo não ficar aqui por mais tempo.

    Instantaneamente, o grisalho parou de enxaguar as madeixas loiras a sua frente ao arregalar os olhos, indignado com o que acabara de ouvir.

— Mika! Você não tem motivo para fazer isso, é absurdo!

    Ao passo que Yuu começava a se exaltar, Mikaela seguia com sua calma intacta por fora ao virar-se de frente para o mais velho.

— Yu-chan, eu já decidi isso, nada do que você disser vai me fazer mudar de ideia.

— Mikaela você tem uma vida eterna pela frente! — Disse apoiando suas mãos no ombro do loiro ao olhar firme nos olhos rosáceos. — Você ainda tem o mundo para explorar, pessoas para amar, pode me deix-

    E isso bastou para que Mikaela perdesse a compostura.

— Eu não quero amar outras pessoas se elas não forem você! Você não entende!? Explorar o mundo não teria a menor graça para mim se eu não tivesse a sua companhia, Yuichiro! — Concluiu tirando as mãos do outro de seus ombros com a pouca delicadeza que ainda tinha. Estavam discutindo, mas Mikaela sabia que não deveria destratar o namorado.

— Mika, é você que não entende! Por qual outra razão você continuaria aqui se não fosse porque ainda não morri? Hã?

— Talvez porque eu te ame, Yuichiro!? Ou isso não é motivo suficiente?

    Mikaela sentia os olhos arderem pelas lágrimas, ele tinha noção de que aquelas palavras pesavam da forma que as usara, porém, Yuichiro estava falando da própria vida como se ela não fosse nada, ou pior! Como se fosse um estorvo para o vampiro. Isso, Mika não podia tolerar!

— Mika…

— Chega… — Murmurou, passando a mão no rosto para limpar a lágrima que teimou em escorrer, o que serviu de incentivo para todas as outras.

    Logo, Mikaela se apoiou nas bordas da banheira e tentou levantar soluçando baixinho.

    Entretanto, algo estava errado.

    A força dos braços do loiro cedeu por não suportar o peso e ele caiu, com os joelhos indo de encontro ao assoalho duro da banheira. Imediatamente, Yuichiro tratou de ajudar o namorado como pôde ao mostrar-se visivelmente preocupado.