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História O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo XII


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Repostado 07.09.20

Capítulo 12 - Capítulo XII


Fanfic / Fanfiction O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo XII

“Viver entre o ódio e o amor se tornou uma constância em minha vida, tão real e cruel que chega a ferir-me, e tudo isso se deu depois do primeiro instante em que meus olhos contemplaram suas palavras e por fim meus lábios as pronunciaram, sentenciando-me a esse martírio eterno, como pagamento de um crime que jamais cheguei a cometer.

Por que me feres, se tanto te amo? Por que me fazes esperar, se sabes o que tanto desejo?

És cruel em tua inocência, descreves lentamente os detalhes para que eu espere a palavra seguinte, na esperança febril de encontrar tudo que busco, apenas suspirando resignado, quando mais uma vez não encontro. 

Eu busco, caso não saibas, todos os toques e desejos.

Busco, em vez de mentiras e faces desesperadas, uma pintura que retrate todo amor que creio fielmente existir.” 

Andressa (Mira-a)


 *

O céu estava anilado; a temperatura, agradável. A manhã poderia facilmente ser considerada um recorte de um belo dia veranil. O lago, especialmente naquele horário, refletia a paisagem diante de si: árvores de galhos sinuosos e cúpulas densas, com folhas cobertas por uma paupérrima camada de geada, mais resultante do sereno da madrugada, não do clima propriamente dito.

A trilha bem definida e livre de qualquer óbice não entrava na encantadora miragem sobre a água límpida, no entanto, cortava a floresta de forma ainda mais encantadora e apreciativa. Um dia atípico para o início da primavera, sem dúvidas, e a duquesa certamente adoraria apreciá-lo com maior atenção; mas não se encontrava capaz de notar seriamente o mundo externo. No momento, as pernas apenas a guiavam conforme comandos inconscientes. 

Gostava de contar os passos, no entanto, perdera a conta deles. Não percebeu a mudança brusca de pensamentos, e quando se desse conta do incontrolável fato, a chateação por esquecer da tarefa que arduamente fazia todas as manhãs, não mais faria sentido. Também trazia consigo um livro, como era do costume dela, porém, igualmente obedecendo à regra que vinha a reger a caminhada, não chegou a lê-lo.

Os pensamentos agitavam-se na cabeça de Sakura, com a mesma intensidade que a atingiu durante toda a noite e a deixou sem dormir. 

O rumo de toda e qualquer divagação era o mesmo, o que se opunha e feria a própria definição de divagar. O Duque e seu respectivo comportamento, assim como tudo o que o rodeava: a dual existência moral e libertina, sombria e caçoadora, taciturna e provocadora, a solitária existência e a conduta dele que o fazia parecer indiferente a própria solitude… Todos os detalhes captados pela percepção e olhos ora atentos, colocavam-na na incessante procura de um meio termo, ou, no mínimo, explicações compreensíveis e plausíveis. 

Mas plausíveis para quem? Se sempre estava suscetível a julgá-lo até por respirar, embora soubesse que seu coração, desenfreado e confuso, amava aquele homem detestável. E talvez o fizesse apenas por isso, para fugir de todo amor que mantinha consigo, no íntimo do ser e distante de qualquer demonstração que o fizesse entender como realmente se sentia.

Todo o medo e orgulho que se enraizara na sua conduta como características irrefutáveis na luta contra a paixão pelo homem que jurou odiar, ela pensava com seus botões — enquanto as pernas a guiavam sobre uma considerável poça de lama que lhe sujava a barra do vestido —, estavam tornando-a amarga e cruel.

— Tem somente a mim — murmurou, embora não notasse falar sozinha. Temia estar sendo injusta mais do que temia a própria promessa de uma vida feliz, caso realmente estivesse agindo com improbidade e demasiada intolerância.  

Uma mentira continua sendo uma mentira, suas conjecturas fizeram questão de ressaltar, mas e se, de fato, o Sr. Uchiha e o Sr. Uzumaki tivessem agido por puramente acreditarem na nobreza dos próprios gestos? Não seria a mentira com interesses benignos, a única falha na máxima kantiana? Talvez, avaliou. Chegou a repetir em seus devaneios: sim, a mentira continua sendo uma falha! Mas e quando os propósitos são puramente genuínos e benevolentes, deveria continuar sendo vista assim, como algo completamente repreensível? 

“Menti para o seu próprio bem” Naruto havia dito, e agora estas palavras batiam incessantemente nos pensamentos dela, gerando um desconforto tamanho que se sentia na iminência de enlouquecer. Parecia que, em alguns minutos, a cabeça explodiria, como se estivesse prestes a descobrir algo que a natureza não a permitia descobrir, um segredo guardado por deus e incabível aos humanos. Se continuasse pensando e questionando sobre tais coisas, alcançaria e descobriria verdades além da própria condição.

O raciocínio seguia numa velocidade que não era capaz de suportar, fazendo-a caminhar desenfreada pela trilha, esperando que em um estalo a verdade viesse à tona; num súbito delírio, Deus concedesse inteligência e discernimento para afastar dela todo o orgulho que privavam-na de uma vida terna e fazia agir imprudentemente. 

Ah! Enlouqueceria! Pois eram muitas as questões sem respostas, ou que, no mínimo, convergiam em um único ponto: a extrema arrogância com que lidou com os acontecimentos.

Caso perdoasse o primo e o marido, estaria confessando que a mentira possuía duas faces e também que esquecera tudo. De fato, esquecera, e seria muitíssimo simples não se forçar a lembrar; contudo, estaria também admitindo perdoar a própria conduta do Duque para consigo, qual ainda não estava completamente imune a críticas, pois nada justificava os modos dele.

Bem, a verdade era: apesar de não admitir, apaixonou-se exatamente pelo que ele era; portanto, desprezava a própria conduta, não a ele. Amava-o, apesar de tudo; assim sendo, era pior que ele, uma vez que Sasuke poderia, em uma hipótese distante, não amar os próprios gestos, o que o tornaria menos detestável a olhos corretos. Ela, por sua vez, amava exatamente a dual má índole e arrogância dele, embora afirmasse não encontrar nada que pudesse amar. Amava tudo, e era balela o que disse sobre preferir um meio termo. 

Portanto concluiu, finalmente, se devia odiar alguém, era a si mesma. A errada era ela em amá-lo. Apaixonou-se por um homem completamente arrogante, melancólico, irritadiço, libidinoso, de expressões longínquas que pouco se compadecia das emoções do momento. Um homem com tendência tenebrosa a caçoar de tudo a sua volta, como se fosse superior, sempre enxergando uma graça amarga e diabólica na inocência. 

O Sr. Uchiha era um demônio! Sim, era um demônio! Afinal, foi esse o primeiro pensamento que teve a respeito dele, antes mesmo de tê-lo conhecido. O estalo ocorreu da melhor forma possível, embora tivesse consumido muito dos seus nervos. O importante, porém, é que entendeu a natureza daquele homem. Um demônio, não teve dúvidas. Um demônio que a seduziu como tendia a seduzir todas as jovens. 

Ela tivera a resposta para todas as questões, antes até de se pegar envolvida na tenebrosa situação. Parecia que Deus, apesar de tudo, havia tentado lhe avisar a respeito do que estava prestes a enfrentar. 

Um demônio da pior espécie, resultado de uma tragédia que o tirou toda a família e o tornou um homem amargo e ambíguo, talvez porque tentava fingir, assim como ela, conseguir superar tudo da melhor forma. Ou, simplesmente, pelo quase inevitável rumo de uma mente enferma e atormentada. No segundo caso, poderia entendê-lo completamente; no primeiro, ainda mais que no segundo. Então... Era ela também um demônio? Os destroços de uma tragédia? Sim, estava suscetível a ser. 

Ó, que Deus mudasse seu rumo!

Sakura foi e voltou muitas vezes na maré de pensamentos contraditórios que a levaram a conclusões insanas. E imersa nesses pensamentos, perdeu a hora, a percepção do entorno e, até mesmo, o próprio fio do pensamento que a colocava nessa situação. 

A esmo esquecia-se onde parou em suas conjecturas, e a cabeça chegava a doer quando tentava lembrar no que exatamente estava pensando. Nessa confusão, muitas conclusões foram perdidas; muitas palavras, esquecidas. Chegou a ensaiar uma provável conversa com o Duque, mas esse também foi um assunto que ficou inacabado, devido à consequência da fadiga mental.  

Depois de horas a fio imersa nos próprios anseios, finalmente despertou, notando que há muito retornara a Summedise e agora os jardins da propriedade surgiam diante dos olhos.

À medida que adentrava a casa, notou o olhar repreensível dos criados sobre si. Demorou a entender, mas logo percebeu o que os incomodava. Estava suja, com a barra do vestido vergonhosamente repleta de lama, o que não pareceu nenhum pouco aceitável para uma duquesa.  

— Minha Senhora — a Srta. Samui a chamou, colocando-se no caminho com um risinho contido. E Sakura apenas a fitou em resposta, indicando-a continuar.

Não gostava da forma que, às vezes, a jovem a olhava. Percebia que aquela criada preferia servir ao Duque, e com ele era sempre cordial, mas consigo destilava ares pretensiosos. Detestara a moça de fios louros e seios fartos tão logo a conheceu, e nenhuma impressão posterior mudou o péssimo julgamento que fizera dela. Seria uma completa tola e uma mulher cega, caso não notasse as pretensões e avanços da criada insolente sobre o Sr. Uchiha, algo que ele parecia não notar, mas que a ela era evidente e completamente irritante. 

— As suas crianças estão na biblioteca — completou, deixando Sakura completamente confusa. —... Com o Duque. 

Diante da novidade e um tanto atônita pela surpresa, viu-se obrigada a desviar do rumo premeditado e imediatamente ir à biblioteca, sem chegar a proferir uma palavra e repreender Samui por tanto descaramento, pois o tom de maldade usado por ela evidenciava a confusão que esperava daquilo. 

O Duque não era um homem afetuoso, tampouco parecia gostar de crianças, esses detalhes a fizeram temer e apressar os passos. E quando chegou ao destino, abriu a porta com cautela, apertando os olhos e comprimindo os dentes contra o lábio inferior, torcendo para que ele não tivesse feito nenhuma maldade com seus pobres pupilos, pois seria completamente da índole dele: tratá-los com demasiada arrogância e assustá-los com uma postura e modos intimidadores, visto que até os criados o temiam. 

Contudo, naquela ocasião, assim como em outras, as suposições dela foram devastadoramente derrotadas. Para grande surpresa, o marido se mostrou muito superior à ideia que tinha dele.

Sasuke estava parado diante da janela, segurando a menininha nos braços e mostrando algo além do horizonte. Akemi sorria, achando graça daquilo que vislumbrava, e a alegria do Duque era igualmente evidente e indiscutível. Ele esbanjava um longo sorriso a atenuar os traços sempre firmes e rudes. Estava aparentemente feliz e imerso em sentimentos talvez desconhecidos. Uma visão que, de início, deixou Sakura intrigada, mas que a entorpeceu e provocou sorrisos de alívio. Passada a surpresa de vê-lo em algo tão singelo e puro, observou-o encantada até ser notada. 

— Senhora! — Moegi se apressou a chamá-la, tão logo a viu, consequentemente chamando a atenção de Sasuke.

A menina correu e abraçou a duquesa fortemente, sendo prontamente correspondida. 

— Minha mamãe está doente — adiantou-se a contar. Era energética e tagarela, quando a vergonha não se fazia presente. — O boticário disse que está tuberculosa.

— O boticário?  

— Sim. E também recomendou nos mandar para um parente próximo, mas não temos parentes próximos. Então mamãe nos mandou para a senhora.

— Como chegaram aqui? 

— Na carroça do boticário. Tem tempo. E estávamos sujos, então a Sra. Hyuga nos lavou e nos deixou aqui, pois temeu a reação do vosso marido ao nos descobrir. Mas Akemi chorou, e Udon não soube como acalmá-la, então o Duque apareceu. Mas ele não é mau, senhora, é bom, e sabe como acalmar Akemi.

— Um homem mau que a forçou a um casamento. É esta a história que tem contado para assustar crianças? — ele finalmente se pronunciou, fazendo-a se erguer e encará-lo. E tão logo o fez, a pequena estendeu os braços para a duquesa. 

Sakura segurou a menina, tirando-a do colo de Sasuke, e lhe beijou a testa. 

— Por que nunca vi essas crianças antes, se a Srta. Samui me contou que vem trazendo-as a Summedise Hall há quase uma semana? 

— Samui é uma criada intrometida e ardilosa, não deveria cair nas armadilhas dela. Nunca os viu antes porque os busco durante a tarde, quando posso me dedicar completamente a eles — disse, aprofundando-o em uma carranca sem precedentes. 

— Senhora?  — Udon a chamou. — Moegi e eu podemos brincar no jardim? 

— Evidentemente. 

— Também podemos comer a torta de maçã? 

Ela consentiu com um sorriso. Havia se tornado um hábito pedir para Tenten servir torta de maçã para as crianças. E enquanto Akemi puxava-lhe os cabelos da trança já emaranhada, observou os outros dois deixarem a biblioteca. Por fim, tornou a conversar com o Duque:

— São do vilarejo. O pai faleceu e a mãe não tem como sustentá-los. Agora, as informações nos dizem que está tuberculosa. 

— Fui capaz de ouvir. E me parece que terão de ficar aqui — disse, aparentemente insatisfeito. Sentou-se em seguida, em uma postura imponente e intimidadora, mas que pouco teve efeito sobre ela, pois logo o desafiou com um olhar altivo.

— Não entendo por que esbanja esse semblante sério e me olha assim, com tanto mau humor. Gostou deles, notei isso. Há pouco o vi sorrindo com esta menininha nos braços, evidentemente contente e satisfeito. Contudo, tão logo me viu, seu semblante endureceu. 

— A sua presença me endurece? — Com essas palavras, esbanjou um sorriso caçoador. Por mais que tentasse conter-se, gostava de irritar a esposa com suposições de duplo sentido; apesar das brincadeiras perderem completamente a graça, quando ela não compreendia a perversidade e sarcasmo. Ainda assim, não deixava de ser interessante. Divertia-se provocando-a, era só o que podia fazer.

— Sim, é evidente que sim. Quando cheguei o senhor parecia feliz, mas tão logo me viu se deixou entristecer, como se eu fosse o seu carrasco. Parece que realmente já destruiu qualquer sentimento que nutria por mim, e agora me tem como uma inimiga. Espero que isso não confunda o seu discernimento na hora de julgar se deve deixar estas crianças ficarem, quando não possuem outro lugar para ir. 

— Não cheguei a julgar, decidi-me prontamente. Se for da sua vontade, os órfãos poderão viver aqui e lhe poupar da solidão. 

— Não são órfãos, têm uma mãe.

— Que logo morrerá, conheço a forma que age a tuberculose. 

 — É cruel por dizer isso. Não deveria pensar em tal coisa ou, pelo menos, entristecer-se ao revelar tais pensamentos.

— Peco apenas por pensar? Estou sendo realista, Sakura. A mãe morrerá, foi o que disse o boticário. 

— Chegou a conversar com ele?

— Não. No entanto, a Sra. Hyuga me contou que foram estas as palavras dele. 

— E não se compadeceu da desgraça dela? Fala assim, como se não fosse nada? 

— Há tempos não me importo com tais desgraças, ou com a angústia dos outros. As minhas são suficientes.

— É um homem egoísta. 

— Não me envergonho disso. 

— Pensei tê-lo ouvido dizer que prefere agir de forma a pensar em seus semelhantes. 

— Caso fosse um bom homem. Eu não sou.

A afirmação fê-la hesitar e o observar com intensidade, e mesmo não recebendo a atenção desejada, não evitou dizer: 

— Pelo menos, envie um médico para a mulher. O parecer de um boticário não é absolutamente confiável. 

— Envie-o. O dinheiro é tão meu quanto seu, desperdice-o como desejar. Aliás, é realmente uma mulher simples e sem caprichos, ou tem evitado gastos porque o orgulho a impede de usar a minha maldita fortuna? Não tem comprado vestidos, ou chamado a modista... 

— Não estou condizente com uma Duquesa? — Preocupou-se realmente com toda a lama impregnada em si. Num impulso vão, deslizou a mão livre sobre o vestido, autoavaliando-se. — A forma que me visto tem envergonhado o senhor? 

— Não... Não foi o que eu disse. Desejo apenas saber os rendimentos necessários para lhe manter. Não tenho percebido exageros, apesar dos seus desvios para a caridade. Mas espero que também gaste consigo, e não seja orgulhosa a ponto de hesitar me escrever, caso necessite de mais. 

— Eu não entendo. — De fato, estava confusa, pouco acompanhou o rumo da nova conversa. Desapegou-se da autoanálise e observou-o, esperando algo mais esclarecedor. 

— Apesar de saber da sua aversão a este casamento, e evidentemente ele está passível de ser anulado, não é a minha intenção enfrentar uma anulação.  Como tentei esclarecer ontem, concluí que a melhor solução é lhe dar o que quer, sem que a exposição seja necessária ou sua honra fique manchada de alguma forma. Viverá aqui, como minha esposa. A propriedade estará ao seu completo dispor, também os criados... — dizia, quando foi interrompido pelo próprio gemido de dor, contorcendo-se sobre a cadeira e instantaneamente levando a mão a pressionar o abdômen ferido. 

Sakura correu para socorrê-lo, rapidamente deixando a menina sobre o tapete e se colocando entre as pernas dele. Numa pressa e preocupação absurda, despiu-o parcialmente da camisa, puxando o tecido de dentro da calça para expor o ferimento.

— Está inflamado.

— Foi somente uma pontada, não perca tempo com isso. — Apesar da negativa, ela continuou a analisar o ferimento, ajoelhada diante dele e forçando os dedos delicados e quentes contra a pele machucada. Sem notar, exibia o busto parcialmente exposto, tentadoramente atraindo toda atenção de Sasuke para o decote do vestido.

O Duque tentou não tirar proveito da situação, mas não conseguiu evitar olhar.  Observando as curvas dos seios dela, um calafrio feroz lhe percorreu o corpo, excitando-o vergonhosamente. Desejava-a com insana intensidade, e tinha a impressão que ela se colocava em tal tipo de situação com a única finalidade de provocá-lo. Decerto, uma mulher ardilosa e vingativa. 

Não suportando, ele apertou os punhos contra o encosto da cadeira. A face exprimiu-se em tentação. 

— Está doendo? — Só poderia supor que a expressão do marido era de dor. Em evidente preocupação, ela o observou sem reservas, com aqueles olhos verdes e dissimulados, exibindo uma inocência descarada que o fez fantasiar situações, embora não tenham existido toques mais incisivos ou a promessa de consumação do ato que tanto ansiava.  

— Levante-se. Levante-se! Não vê que não está me ajudando? — Foi rude, na tentativa de não arfar em resposta ou deixá-la perceber o estado em que se encontrava. Imediatamente recompôs-se e enfiou a bata dentro da calça. Tamanha estupidez e ingratidão, impregnadas no tom pouco cortês e nos gestos extremamente bruscos, fê-la recuar com remorso e apreensão. 

Agitada e sem saber lidar com os modos do homem diante de si, Sakura não se ateve a tentar repreendê-lo. Recuperou Akemi do chão e deixou o cômodo, chegando a, enquanto desnorteada, esbarrar na criada que ameaçava entrar.

A moça, cumprindo com o dever de ignorar tudo o que via, inclinou o torso em uma reverência exagerada ao Duque. 

— Vosso banho está pronto, senhor. A Sra. Nekobaa alertou que deve tomá-lo imediatamente, do contrário as folhas e ervas não terão o efeito desejado sobre a ferida.

Após um simples meneio de confirmação, o Duque levantou e, em postura áspera e feições insípidas, seguiu para o quarto de banho, o qual não lhe  trouxe grande sentimento apreciativo.

A água na banheira estava acinzentada, folhas desbotadas atenuavam o cenário esquálido. Ainda assim, ele se despiu e imergiu naquilo que prometia curar a ferida e cessar a dor latente provinda dela. Fechou os olhos e se permitiu repousar. Mas embora tenha experimentado um súbito alívio; em vez de uma fuga dos tormentos, a imagem de Sakura logo veio à cabeça. 

Não foi capaz de esquecer a doce e tentadora visão que tivera dela. Os seios volumosos e aparentemente apetitosos... Teve certeza que os abocanharia incessantemente, tão imediato quanto pudesse, sugando, saciando-se... E esta certeza, juntamente da lembrança, novamente o excitou.

Sasuke, em um gesto impensado, cedeu às tentações da carne: tocou-se, ditando movimentos firmes. Os pensamentos foram inundados por desejos obscuros e vislumbres do corpo dela completamente nu, dando-lhe prazer com a boca. Imaginava-a, em atos carnais, com a mesma ferocidade e altivez que esbanjava quando irritada. 

Deleitou-se, então, com a imagem em sua cabeça, na qual era estimulado por gemidos satisfeitos e os olhos verdes o encaravam com selvageria e desejo. A cada movimento ela pedia por mais entre olhares sedutores e movimentos ardilosos, por fim deitando-se para recebê-lo entre as pernas, expondo-lhe uma intimidade imaculada e úmida. 

Toda a fantasia provocou em Sasuke um estado profundo de agitação. O último espasmo dominou-lhe o corpo e toda a imagem assim se desfez. Estava sozinho.

Passada a violenta exaltação, tão logo abriu os olhos e de forma fugaz o prazer cessou, o fato como um todo ganhou ares vexatórios. Ele se envergonhou pelas ações promíscuas. Imaginara a esposa com um comportamento imoral, profanou-a infamemente.

Para maior embaraço e depreciação, observou o movimento da água e dos esgalhos a dançarem sobre a superfície agitada. Não havia alegria ali, as folhas e ervas eram de uma coloração pálida e invernal. Como em raríssimas vezes na vida, sentiu-se um pecador, visto de perto em seus atos de luxúria. 

Era escravo do próprio corpo e dos desejos deste. E que beleza havia nisso? Nenhuma, senão os doestos da luxúria, senão a palidez do inverno, como estação fria e transitiva: um prelúdio que surgia da desgraça das árvores secas e seguia em adágio a um desfecho com promessas vãs de recuperação e glória. Mas igualmente a qualquer estado do corpo, dava voltas em limites bem determinado, círculos viciosos e que pouco poderiam ser apreciados, uma vez fadados a desconhecer o início e fim, pois tão logo surgem, desvanecem-se. 

Pensar que com aqueles atos, promessas e sonhos, confortar-se-ia, quando suas reais vontades eram indiscutivelmente livres de qualquer amarra moral, mas a possível denigração acovardava toda e qualquer manifestação do que ansiava. Reconheceu, porém, que tais empecilhos o impediam de agir como um animal, pois embora já o fosse, quando perdido em volúpia cedeu à carne, seus desejos eram ainda piores e mais arrebatadores.

Desejava ter aquela mulher, possuí-la de incontáveis e inimagináveis formas. Ir até ela e esquecer de qualquer princípio que o fazia agir com prudência e decência. Cobrá-la de seus deveres, ainda que o obedecesse contra vontade, ainda que esbravejasse  e o ferisse com palavras... Não importaria, se apesar disso o deixasse pecar em suas curvas e unicamente semear seu ventre ou sobre o corpo de pele macia e febril. E que também o deixasse experimentar do seu gosto, quando com a boca a sugasse e levasse a prazeres intensos e violentos. 

Não se incomodaria de amá-la unilateralmente e da possibilidade de ela apenas se entregar por uma temporal inclinação leviana, porque a adorava e desejava de tal forma, que todo o corpo ardia com a simples expectativa de tê-la. Contudo, caso a seduzisse e levasse a sucumbir, qual tipo de homem seria? O mesmo que ela pintava e odiava, a hipótese assim o acovardou. 

Por quase todo o dia, sentiu-se humilhado e constrangido, tanto pela própria conduta, quanto pelas alucinações sujas com a mulher que tanto o odiava. Chegou a observá-la de longe durante a tarde, bordando rosas de tons variados em musselina, para enfeitar uma enorme cesta onde provavelmente colocaria a menininha de riso fácil para dormir. À tarde, para ela, passou-se daquela forma: enquanto as crianças maiores brincavam, Sakura cuidava da menor e lhe preparava um berço.

Felizmente e para menores retraimentos, voltou a vê-la, face à face, apenas quando o jantar foi servido.

Sasuke, de forma educada e ainda lutando contra a auto recriminação, levantou-se prontamente assim que ela chegou a mesa. No entanto, nenhuma conversa foi iniciada. Até as crianças, antes divertidas e espirituosas, evitaram olhá-lo e o dirigir qualquer palavra; induzindo-o, em um delírio de perseguição, a cogitar se a esposa enalteceu e firmou nas cabeças infantis, a história em que o retratava como um homem tenebroso e cruel que deveria ser evitado. 

O jantar se deu no completo silêncio. Até que, como vinha se tornando costume, Sakura se retirou antes. Levou com ela os novos hóspedes. 

Novamente sozinho, o Duque pediu para que o servissem de vinho, umas três ou quatro vezes. Buscou, no sabor e acidez da bebida, o refúgio que tanto almejava. 

Apesar de tanto tentar fugir e querer evitar ouvir o quanto era desprezado, já tarde da noite, não foi capaz de aplacar a necessidade de procurá-la. Depois de muito culpar-se, ir e vir pelo amplo corredor, bateu à porta do quarto dela, deparando-se com o inesperado.

Sakura, embora estivesse com o cabelo solto e em roupas de dormir, mantinha uma criança nos braços. Evidentemente tentava adormecer a menininha, enquanto as outras duas crianças repousavam em sono profundo, esparramadas sobre a cama dela, aquela onde ele desejava passar a noite.

— Dormirão em sua cama ou, em algum momento da noite, os levará para outro quarto? —  perguntou, adentrando o cômodo sem esperar permissão.

— Permanecerão onde estão, Sr. Uchiha. Não tenho motivos para reacomodá-los. Brincaram o dia inteiro e agora merecem o sono dos justos, sem interrupções.

— Sim, brincaram o dia inteiro. Aliás, pude notar: foi apenas isso que fizeram.

— Porque é isso que devem fazer. Ou o senhor concorda com as crianças trabalhando em fábricas? 

— Não. Não… Mas e quanto os adultos, Sakura? O que fazem os adultos? Não devem se divertir com brincadeiras, também?

— Creio que não, senhor.

— Não?

— Não, senhor.

— Senhor, senhor, senhor...  É minha esposa, pode me chamar pelo nome, no entanto, chama-me assim, como a qualquer outro, com demasiada polidez e indiferença, talvez em um capricho vingativo. Senhor! — vociferou com desdém. — Não se cansa dessa palavra? 

— Não, senhor. — respondeu rude, da mesma forma que ele chegou a tratá-la naquele dia. Não entendeu o porquê de ele estar ali. Em verdade, não se julgou capaz de compreendê-lo, apesar de tentar. Quando estava prestes a acreditar interpretá-lo, descobria-se ainda mais perdida.

— Diverte-se me perturbando. — Ele tornou, observando-a.

— Não parece perturbado.

— Diga-me, então, como pareço.

— Tranquilo. Sempre parece tranquilo, o que dificulta de ser compreendido e me custa de tentar adivinhar seus pensamentos.

— E esta é uma coisa que costuma fazer com tranquilidade, ler pensamentos? Se sim, responda-me também, foi um dom lhe dado por Deus ou pelo próprio diabo?   

— O senhor se excedeu no vinho?

— Pareço embriagado?  E também tranquilo? Diga-me exatamente como pareço, não consigo acompanhar sua análise. Penso agora que não possui dom algum, está blefando comigo.

— Eu não disse que possuía… senhor — provocou. Sim, desejava irritá-lo. Arrancá-lo de toda aquela austeridade e torná-lo tangível, era a sua vontade pálida e nua. 

Contudo, como se entendesse as intenções dela, ele apenas sentou-se sobre a cadeira ao lado da cama e ali ficou por longos minutos. Aparentemente consultava a consciência antes de retomar a palavra. Para Sakura, pareceu impossível tirá-lo do sério e vencê-lo.

— Não estão igualmente tuberculosos? — disse, depois de certo tempo, observando as crianças sobre a cama.

— Não, o boticário garantiu que não.

— Chame o médico amanhã, para que os verifique e confirme se realmente não foram acometidos pela tuberculose.

— Acabei de lhe dizer: não estão enfermos. Mas se o seu temor em relação ao contágio é tanto, chamarei o médico, apenas para que o senhor não os evite como pestes e indique as criadas terem o mesmo comportamento.

— Não sou tão cruel como tende a acreditar. — Remexeu-se sobre a cadeira, ainda assim, preservou a expressão imparcial que não denunciava o desconforto. — Além do mais, disse-me que o parecer do boticário não era confiável, mudou de ideia? — Não houve resposta. — Foi o que imaginei. Também, peço-a isso por realmente me preocupar com a saúde destes inocentes. E penso que a contratação de uma preceptora se faz completamente necessária.  

— Eu mesma desempenharei este papel, senhor.

— Não me parece muito recomendável, tenho minhas dúvidas quanto ao seu método. As crianças devem se divertir, de fato; contudo, devem se portar e crescer com educação e modos. Temo principalmente pela menina, ela tem uma personalidade muito parecida com a sua, é tão petulante quanto.

— Petulante? — riu-se. — Achei que diria selvagem, senhor. É como já ousou me chamar, o que realmente me faz rir, pois costuma me atribuir os mesmos adjetivos característicos dos animais indomáveis. “Quando libertos, dão-lhe um ar silvestre, peculiaridade esta que não gosto de ver em moças.” — ironizou, seguindo de um muxoxo. — Foi a sua observação a respeito do meu cabelo, e quantas mais ousou fazer sobre mim! Agora, vê-se também no direito de rechaçar uma criança por se parecer comigo, pois penso que sou eu a parecer com ela, não o contrário. E não vejo problemas nisso, que a minha alma envelheça infantil, é o meu desejo. Quanto a sua sugestão, não acatarei, não pedirei a uma preceptora o que eu posso fazer e... — pausou, ao notar como ele torcia o canto dos lábios, concedendo-lhe aquele desdenhoso sorriso. 

Observou-o, enquanto embalava o sono da pequena Akemi, e esperou que lhe contasse o motivo dos risos provocativos.

— Lembra-se das minhas exatas palavras? 

— Sim, destas e também de outras que sussurrou em meu ouvido. — respondeu inocentemente, levando as palavras à boca antes que pudesse pensar. Assim, quando notou o que havia dito, sentiu o gosto amargo do arrependimento.

Engoliu em seco o súbito nó a fechar a garganta. Caminhou pelo quarto, apertando as pálpebras, tão logo se viu escondida dos olhos observadores. As malditas palavras dele, como se perversamente e com o único intuito de constrangê-la, repetiram-se em seus pensamentos, trazendo uma sensação vívida a pele, como se ele as murmurasse novamente. Suspirou, sentindo os pelos eriçarem apenas com a lembrança. E logo, a voz dele, rouca e grave, fez-se realmente presente:

— Então gosta que eu lhe sussurre coisas no ouvido?

Ela fugiu da pergunta e continuou a se movimentar, fingindo ser realmente necessário para guiar a menininha a um sono tranquilo.

— Seu silêncio me diz algumas coisas, Sakura — afirmou o Sr. Uchiha, observando-a pelas costas. 

— O silêncio não diz nada, senhor, é exatamente a ausência do som. Se me diz ouvir algo, só posso pensar que possui sérios problemas auditivos ou mentais ou, quem sabe, os dois, o que muito me assusta.

— Não gosto da sua espirituosidade.

— Tenho a impressão que não gosta de nada em mim, senhor.

— Pois eu, senhora... — começou, em tom irônico. — Tenho a certeza que não gosta de nada em mim. Nesse caso, o que considera melhor: a impressão ou a certeza?

— Depende do quão sonhadores somos e do quanto nos frustra a realidade. A impressão, apesar de tender a um rumo negativo, dar-nos uma mísera esperança, um espaço hipotético a nos permitir sonhar e cogitar coisas boas, assim sempre estaremos motivados, embora provavelmente iludidos; a certeza, por outro lado, quando se trata de algo que nos fere, mesmo dilacerante nos dar a opção de superar e seguir. Mas eu não poderia dizer se esse é o seu caso, pois não pode ter certeza a respeito dos meus reais gostos.

Ele riu, sem graça alguma.

— Não? Disse-me, inúmeras vezes, que me despreza.

— Inúmeras vezes? Não me recordo muito bem. Talvez umas duas ou três, mas não inúmeras. Ou o senhor considera qualquer número inúmero?

— Considero inúmero o tanto de pessoas em sua cama. São dois, eu diria que apenas, mas completam todo espaço disponível. Logo, tudo se trata de: em relação a quê? Às vezes, uma única palavra, dita uma reles vez, é suficiente para se petrificar e ferir por toda a eternidade.  

Dessa vez foi ela quem sorriu. E com os braços cansados, também as pernas, sentou-se sobre a cama, diante dele. Direcionou-o, por fim, um sorriso terno e amigável, como nunca o havia concedido.

— Veja como é linda — disse, fugindo do assunto desconfortável e mostrando o bebê em seu colo. — Dorme profundamente e nesses minutos é como se não existisse. Não sei se sonha, mas se o fizer, com certeza, vislumbra as coisas mais bonitas e que para nós, hoje, são inimagináveis.

O Duque não chegou a acatar a indicação. Não observou a criança. Os olhos, maravilhados, prenderam-se apenas àquela que a segurava.

— Será uma boa mãe, Sakura.

— Uma boa mãe... — riu em silêncio. Depois levantou e deixou Akemi no berço temporário. Pensou nas palavras proferidas, enquanto dedilhava uma rosa sobre o tecido.

— Deseja ter filhos? — ele perguntou, livrando-a da vaga observação das flores que arduamente bordara durante a tarde e que agora ameaçavam levá-la para longe dali. Levantou-se e, colocando-se diante dela, continuou: —... Não responda pensando poder tê-los apenas comigo. Responda sem a necessidade de me contrariar, expressando apenas seus reais desejos.

— Não consigo ser imparcial e supor o que me pede. Sou uma senhora casada, de qual outra forma posso imaginar ter filhos, se não com o senhor?

— Talvez nenhuma. Então não fale mais nada, não me dê uma resposta. Por ora, terminamos assim esse assunto, com uma conversa amigável e algumas impressões que me darão uma vaga esperança e irão me permiti fazer suposições positivas. Pensei no que disse, não quero a certeza e, consequentemente, pôr-me a tentar esquecer o que não desejo ouvir, isso não tem me ajudado ou confortado. Além do mais, parece cansada, deixarei que durma sem lhe provocar qualquer agitação, porque era essa a minha intenção: agitá-la.  Vim até o seu quarto movido por pensamentos insensatos, na esperança pífia de fazê-la se render a mim, mesmo sem amor. Porém, dei-me com uma realidade crua, apesar de encantadora. Agora novamente me pergunto: o que eu seria se a tocasse? Pode um demônio almejar tanto o pecado e a desgraça, a ponto de tocar e corromper um anjo? Tentá-lo a sucumbir, privando-o de permanecer em sua glória no paraíso e cair, tal como lúcifer?  

— Eu não sou um anjo...

— Sim, é um anjo, ou uma santa, eu não poderia afirmar com certeza, visto que não compreendo a grande diferença entre estes. Não sou um grande admirador de livros, mas se o fosse, dentre todos, a bíblia não seria aquele ao qual me apegaria, não iria me preocupar em entender as manifestações divinas ou a arduamente ler sermões e os proferir em repreensão.

— Está mesmo embriagado, não está? 

— Talvez eu esteja, mas o que me tira a lucidez e entorpece não é o álcool, é a sua presença, Sakura. Os seus gestos que, com a única intenção de me enlouquecer, levam-me a delírios e atos promíscuos, vergonhosos até para um homem. Não... Não é um anjo ou uma santa, é realmente uma mulher de carne e osso, tão bonita e feminina quanto o rosto na La Scapigliata. Observando-a bem, posso afirmar: não possui o espírito polido e doméstico da Madonna.

— O senhor cheira a vinho. — Segurou a enorme necessidade de sorrir, em completo sentimento irrisório provocado pelas declarações que beiravam a zombaria, e realmente acreditaria que ele estava tentando ridicularizá-la, caso o odor da bebida não fosse perceptível. 

Sasuke estava bêbado, ela teve certeza disso. Mas não soube porque sentia a necessidade de rir, deveria se repreender por achar graça do deplorável estado em que o Duque se encontrava, no entanto, não conseguiu deixar de se divertir com a situação. De repente, sem mais conter-se, sorriu sonoramente. E Moegi se remexeu na cama, abrindo os olhos e chegando a olhar o casal no meio do quarto, mas logo tornou a baixar a cabeça e virou-se para o outro lado. 

— Trouxe comigo o transtorno. Perturbei o sono das crianças.

— Não. Sou a culpada. Perdoe-me por sorrir. Mas talvez o senhor deva se deitar; certamente amanhã acordará melhor, sem os efeitos da bebida. E quem sabe durante o desjejum ou numa caminhada, como preferir,  retorne a me comparar a telas; não me oporei aos seus elogios. Porém, agora, acredito que ambos merecemos o descanso; é tarde. 

— Sim, devo me deitar e descansar. Mas antes... — Aproximou-se, aparentemente preso aos detalhes do rosto dela. — Deixe-me beijá-la. 

Lentamente, para não assustá-la, Sasuke ergueu o braço. Dedilhou a boca entreaberta. 

— Temo ter esquecido o sabor dos seus lábios — murmurou, fazendo-a inutilmente tentar dizer algo. — Apenas um beijo... — ressaltou em súplica; conquanto, temendo a não concessão, agiu antes de receber uma resposta. Inclinou-se sobre ela. Beijou-a, sugando-lhe o lábio inferior de forma lenta, como se, realmente, apenas para provar o gosto que tinha. Tendo lembrado, dispôs-se a afastar-se, antes da mulher se recuperar do ato e lhe desferir palavras cruéis; porém, percebeu-se preso. 

Sakura não soube exatamente em qual instante movera as mãos, mas segurava firmemente as abas do sobretudo masculino. E não o soltou quando deveria ser necessário. Embriagada pelo beijo, a proximidade quente entre os corpos, e presa aos olhos negros a observarem-na com tanta admiração e desejo, pensou no pedido feito no outro dia, de passar a noite com ele e aquecê-lo. Tanto quanto pensou em como não desejava vê-lo partir e, consequentemente, condenar ambos a solidão. O Duque tinha apenas a ela. 

Céus, e olhando-o tão de perto, quando o coração batia acelerado pelo contato e o desejo de ser beijada novamente, não houve como resistir ou continuar fingindo detestá-lo. Decidiu-se por esquecer as ofensas do passado. Esteve prestes a tocar o rosto dele com afeto, colocar-se na ponta dos pés e alcançá-lo os lábios, amenizar os tormentos… No entanto, uma voz infantil se fez ouvir.

— Senhora? — Era Moegi, novamente desperta.

Tudo então se desfez. Assustada, por oferecer tamanha cena imprópria aos olhos de uma criança, Sakura finalmente soltou o marido, afastando-se envergonhada pelo flagrante. E ele partiu num rompante, atordoado, sem ao menos esperar uma palavra.

Aquietando-se, a duquesa deitou ao lado da menina; com afagos gentis devolveu-a aos sonhos. Presa em pensamentos, chegou a duvidar do ocorrido. Talvez o formigamento e sabor sentidos na boca, fosse fruto de uma imaginação fantasiosa. Pensou até se enlouquecera completamente, se o Duque de fato ousou beijá-la, ou sequer esteve ali. Mas na hipótese de ainda estar em plenas faculdades mentais, e o beijo, assim como a conversa ilógica, terem realmente ocorrido, ficou certa de naquele noite dormir com uma sensação nova, pois fechou os olhos e tocou os próprios lábios com um sentimento agradabilíssimo e um sorriso tolo. 

             


Notas Finais


Texto lindo no prólogo do capítulo, como eu coloquei lá, é da ~Mira-a ( https://spiritfanfics.com/perfil/boaa-hancock ) que com dó do Sasuke, escreveu essa maravilha *-* como comentário no capítulo XI. Eu fiquei apaixonada!

Sobre o trecho pervo, eu sei que algumas pessoas não gostam disso em estórias de época, mas espero que, de alguma forma, tenham gostado do capítulo como um todo ^-^

Obrigada!
Até mais vê, em francês, Au revoir


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