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História O Essencial - Yielding to Temptations


Escrita por: srtainsana

Notas do Autor


Capítulo moderadamente simples.
Quaisquer erros, já sabem... Foi o meu cachorro que digitou.
Beijos caninos

Capítulo 29 - Yielding to Temptations


Taylor’s POV

Gasto um bom tempo alimentando o silêncio amargo de Laura, apenas encarando-a. Essa noite foi além do que eu imaginava, mas estou, de certo modo, aliviada por não ter me tornado uma assassina. Não me sinto mal por nada que fiz. Não matei o homem, eu fui bem legal com ele. Permiti que me mostrasse o que poderia fazer de melhor na cama com a mulher que ele pedira, chantageara e conseguira.

E o “melhor” dele acordou o meu pior.

Laura parece tão amuada e isso me incomoda tanto, não quero imaginar que ela esteja machucada. Eu não a condeno, mas também não me comovo caso seu plano tenha dado errado. Laura não é santa e eu sei o quanto ela queria aquele contato. Poderia morrer negando a mim, mas nunca a si mesma. Eu a conheço.

Mais uma vez, para me surpreender esta noite, ela começa a rir. Calando a vergonha e total quietude em que entrara. Primeiro, um riso fraco, seguido de risadas mais altas que tiram-na de sua posição encolhida, mudando seu semblante sobrecarregado.

Sou levada na graça da mulher, não exatamente pela causa, que eu nem faço ideia, mas pelo próprio som das, agora gargalhadas, dela.

Pessoas facetadas parecem fáceis de lidar apenas por terem seus lados mostrados facilmente, mas é muito mais complexo do que se imagina. Laura pode ser transparente como a água ou escura como o vinho. Em um minuto ela pode demonstrar exatamente o que está sentindo assim como pode omitir qualquer coisa de qualquer pessoa. Inclusive eu... Principalmente eu?

O disfarce é um deus muito bonito.

Eu venho reparando que quando Laura passa por muita tensão, tende a ver graça na situação depois. Depois começa a ver o que deveria e o que não deveria ter feito e fica discutindo sozinha, silenciosamente. Não tenho a certeza absoluta, claro, mas o costume não nega. Cada um lida com os sentimentos de um jeito. Por exemplo, se eu passar por uma situação de extrema raiva e estresse, vou querer descarregar minha energia acumulada em uma boa foda, até a exaustão.

– Vamos embora... – diz ela.

Laura, enfim, sai da cama. Toda a timidez fora dissolvida na tranquilidade que ela expressa movimentando-se pelo quarto, amarrando o cabelo, procurando o que vestir e...

– Caralho, o cretino despedaçou o meu vestido. – Ela pega os restos do pano no chão.

– Você fica bem melhor assim do que vestida.

Laura torce o corpo para olhar para mim. Ergo uma sobrancelha e dou um sorrisinho amarelo.

Strike 1.

– Você é imprestável, Schilling. – Afirma, vindo em minha direção.

Continuo sentada, agora mais relaxada, com a coluna esticada e as mãos atrás da cabeça. Tudo parece tão normal e ao mesmo tempo tão diferente.

Diferente da tensão que emanava por todo o ambiente, diferente do som dos gemidos e tiros agora substituídos por um manso silêncio e diferente do ar angustiante que nos inspirava.

Ela para à minha frente, o corpo já revelando algumas marcas deixadas pelo homem como tapas e mordidas. Me reclino à cadeira e abro minhas pernas, deixando a mulher no meu meio.

Examino o físico feminino com o suor secando, a pele rosada um pouco avermelhada em algumas partes, as mãos na cintura e as pernas juntas, como um manequim vivo... Em fim de liquidação.

– Como se você fosse diferente de mim – ergo agora meu corpo, quase me encostando nela.

Laura segura minha cintura com força, me puxando contra si. Sinto seu corpo frio de suor ofegar. Enfio meu rosto entre o cabelo da mulher, – o cheiro de sexo com Laura quase me chamando – para sussurrar em seu ouvido:

– Vai tomar um banho, vai.

Saio do alcance de Laura e vou andar pelo quarto.

Strike 2.

Eu poderia agarrá-la agora mesmo, mas fiquei um pouco baratinada com toda a situação. Acho que ela já foi bastante tocada hoje.

– Nós temos que ir embora, Taylor. Você sabe que ele pode voltar.

Observo os vestígios da férvida noite. A camisa de seda no chão, a marca da bala perfurada no tecido preto da calça social sobre a cadeira, os lençóis amassados e molhados, a mulher nua estressada como insatisfeita...

Eu gostei da noite. Dou um sorriso para mim mesma.

– Relaxa, podemos passar a noite aqui... Você parece cansada. – Insulto, pegando o CD espatifado no chão. – Ele não vai voltar.

Laura passa por mim com um olhar estreito.

– Me poupe das suas convicções incertas. Isso tudo aconteceu por sua causa... Eu vou chamar Williams e vamos embora.

– Espera aí... – seguro o braço de Laura, impedindo que ela se distancie – Tá colocando a culpa em mim?

Olhos de culpa caem sobre mim.

– A culpa é minha de você ter vontade de transar com ele? A culpa é minha de você ter provocado o homem e depois ter se fodido? – indago, irritada – A culpa é minha de ele ter te chantageado?

Ela me encara, séria. A resposta é gestual e atinge meu rosto em cheio.

Ela me dá um tapa. Um forte tapa. E eu queria poder dizer que Laura bate como mulherzinha, mas não... Não ligo para o quão dói o tapa, eu ligo para o que ele significa.

Laura puxa o braço e sai, brava, sem razão.

°°

Uma semana depois do grande fim de semana que afastou a mim e Laura, nos distanciamos ainda mais. Ela voltou para Los Angeles e eu fiquei em New York. Começaram as gravações do seu novo filme.

Depois daquela noite de sábado, depois do tapa e toda a revolta inexplicável de Laura, tentei me comunicar com ela, mas a morena anda impossível de se lidar. Sempre me preocupando, sempre me deixando louca. Falei no mesmo dia em que deixamos aquele loft sobre o uso da pílula anticoncepcional. Ela me garantiu que estava tomando, tentou me tranquilizar dizendo que eu não devia me preocupar e não iria usar camisinha com o tal chef e blá blá blá. Ótimo, ela o fez por conta e risco e não por falta de alerta.

Hoje é quinta feira. Manhã de sol. Acordei sorridente ouvindo um gorjear de pássaros e encantada com aquela linda manifestação da natureza até descobrir que dormi com a TV ligada.

Ora, pássaros. Encantada? O que eu esperava? Que os pássaros fossem entrar aqui e arrumar a casa enquanto cantávamos todos juntos?

Tal ilusão é suficiente para beliscar o meu mau humor, que abraça o relaxamento e ainda me mantém deitada na cama. Mas eu marquei de tomar um café com Natasha, que eu não vejo deve fazer alguns meses. Deveria me apressar.

– Só mais cinco horinhas... – murmuro, enterrada ao travesseiro.

Eu tenho sentido vontade de beber todas as noites e de dormir mais todas as manhãs. Acabaram-se as caminhadas matinais, Laura ficaria decepcionada se soubesse. Ela me obriga a ser saudável.

E por que eu tinha que me lembrar de Laura logo agora, que estou agarrada aos cobertores sentindo a ausência dela aqui, perto de mim?

Não faz nem uma semana que paramos de nos falar e parece que passaram-se anos. Eu tentei ligar para ela na terça-feira, não consegui, não obtive retorno. Quis não me preocupar. Estou cansada de me estressar à toa. Tenho problemas maiores a resolver do que ainda ficar correndo atrás de desfazer as manhas de Laura.

Algo vibra entre as cobertas. É o meu celular. Agarro o aparelho, forçando a vista para ver quem chama. É Dennis, em sua décima ligação, provavelmente querendo saber porque não o avisei que aceitei dar uma palestra ativista em defesa da mulher. Eu não sei como algum dia tornei este homem meu assessor. Totalmente desinteressado e extremamente interesseiro. E agora não sai da minha cola.

Recuso a ligação e arremesso o celular de volta entre os panos. Levanto meu corpo da inércia que me abate e sento à cama, fazendo alguns movimentos básicos para me alongar, afastando a preguiça.

Uma vibração conhecida agita os lençóis. Agora é Natasha me lembrando do compromisso matutino de tomar café da manhã com ela. Ontem à noite, ela deve ter me ligado umas três vezes para avisar que queria me encontrar para um café hoje. Mais alta que o Empire State. E eu insisti para encontrá-la à tarde até porque depois de saber que ela estava bebendo na noite anterior, logo previ que ela não estaria acordada tão cedo.

Mas Natasha Lyonne é feita de surpresas.

Deslizo a tela.

– Tasho...

– Não dá pra marcar nada de manhã com você, Schilling!

Alcanço meu relógio de pulso sobre o criado ao lado da cama.

– De manhã mesmo seria às oito, já passa das onze e meia. – Rio, da minha furada – Me desculpe.

– Não desculpo. Venha almoçar comigo – cobra ela – Estou com Clea, vamos para o Marea.

– Não pode ser outro? Tô evitando comida italiana... – sugiro.

Saio da cama, indo lentamente de encontro ao espelho arredondado da parede do quarto.

– Sabia que restaurante italiano tem muito mais do que comida italiana? Mas ok, como a madame quiser – debocha a pequena. Ela cochicha algo para Clea – Pode ser naquela churrascaria que íamos na East 40s?

Suspiro apenas em ouvir o nome churrascaria. Jamais poderia negar a minha natureza carnívora.

– Está ótimo. Chego em poucos minutos.

Tiro minha blusa, larga, amassada e tão aconchegante naquele momento e entrego meu corpo a um delicioso banho gelado para acordar.

°°

– Poucos minutos, loira? Já estávamos aqui pedindo o jantar.

Eu estava com saudade do drama exagerado e sarcástico de Natasha.

Abraço a mulher quando a mesma se levanta para me receber. Cumprimento Clea DuVall, grande colega que conheci quando gravei Argo, que acompanha Natasha, mas hoje veio com cara de poucos amigos.

Vamos de conversas frívolas e muita carne vermelha. Tanto tempo com Laura acaba me deixando presa naquele mundo herbívoro e me distancia da minha vida como a boa consumidora de proteína animal que sou. Porém nem mesmo aqui com as garotas e toda essa realidade, que chega a sangrar – literalmente – não consigo deixar de pensar em...

– Laura... Como ela está? – pergunta Natasha, me cutucando levemente com a mão – Não tive mais notícias, não quero perder o contato com ela. Depois, vai que ela aparece grávida, não quero ser a última a saber.

Elas riem. Eu estremeço.

Grávida.

– Ela está...

Grávida?

– Bem.

Caralho.

– Taylo?

– O que houve? Por que ela ficou pálida?

É bem diferente ouvir de outra pessoa a possibilidade de que Laura pode estar gerando uma criança. Passa a parecer mais... Possível. Enquanto no meu momento de raiva e descontrole eu quis não cogitar as chances disso acontecer, por estar sedada por uma confiança no improvável.

– Não... Não – gaguejo, com a reação intrigada das duas – Estou bem.

Dou um sorriso sem graça que só é capaz de distrair ambas as mulheres a minha frente e criar um monte de piadas sobre meu comportamento abstraído, mas não o medo que me invade.

– Taylor, uma amiga minha dará uma festa hoje... Não quer vir com a gente? – propõe Clea, agora mais amigável e entrosada.

Outro dia eu ia adorar ir a essa festa, mas...

– Não, acho que eu tô velha demais pra essa merda.

Clea ri e Natasha franze o cenho com sua famosa expressão duvidosa.

– Se você está velha, nós já estamos mortas. Você tá ficando estranha como aquela senhora que rondava os estúdios. Lembra dela?

Balanço a cabeça, sentindo o humor mordaz da ruiva realmente me fazer rir.

– Tá igualzinha. – completa, com um falso ar sério.

– Eu não tô bem no clima de festas ultimamente, Tash. – confesso.

Natasha me observa novamente com toda a sua desconfiança e começo a me sentir desconfortável. O telefone de Clea toca, como um gongo, me salvando do olhar especulativo de Lyonne.

Clea nos deixa às sós para ir atender o telefonema.

– Alguém está tendo problemas amorosos...

Respiro fundo. Sei que será mais trabalhoso esconder do que revelar tudo para a mulher a minha frente.

– Sua bola de cristal nunca erra. – Relaxo os ombros, dando um gole em meu suco.

Ela dá um riso fraco, fazendo um barulhinho sagaz de vitoriosa.

– Schilling, Schilling... Eu tô vendo que a coisa não tá boa – ela me fita de maneira preocupada. – Eu não vou deixar você ficar enterrada no seu apartamento bebendo a porra de um vinho ou um chá ou qualquer coisa que você beba pra relaxar. Eu quero que venha com a gente hoje, pra se divertir. Se for pra beber, que seja comigo e com mais outras doze mulheres que estão loucas para descobrirem o delicioso mundo bissexual e que nós podemos mostrar.

Nunca vou entender como ela consegue ser tão eloquente e inexpressiva ao mesmo tempo. Não há como não ser contagiada pelo espírito enérgico da mulher.

Talvez venha a ser divertido. Natasha pode tornar um velório divertido.

– Eu vou pensar, ok?

Clea aparece com um sorriso enorme no rosto e senta-se à mesa.

– Não tem muito o que pensar, Chaylo. Muitas bebidas e calcinhas... Não é, Clea? – Acrescenta, piscando para a outra.

Eu deveria arranjar umas companhias mais decentes.

Contudo, pensando bem, talvez não seja má ideia dar uma volta por aí com elas. Eu preciso arejar minha mente de todo o estresse que me cerca.

°°

Eu adoro a minha vida. Adoro ainda mais depois de todo o álcool que tomei. Adoro agora a cerveja que estou tomando e cada uma das mulheres naquela sala que já estão quase me mostrando a cor de suas calcinhas. Não haveria uma ideia melhor do que vir para essa festa hoje.

– Você precisa de... Alguém que te valorize. Quem era aquela mulher no meu apartamento levantando meu astral, minha autoestima, – diz uma ruiva, aproximando-se mais – minha moral?

Enrubesço, tenho certeza. Minhas bochechas estão em brasa. Ela está muito próxima, já posso sentir suas mãos em meu corpo. Não sei como ela veio parar aqui, nesta festa, nesta cozinha, em cima de mim, literalmente... Por mais de dez anos, Jackie esteve fora do mapa e agora a vejo em todos os lugares. New York não pode ser tão pequena assim.

– Jackie, é melhor pararmos por aqui... – alerto, tirando as mãos dela da minha cintura.

Meu consciente ainda está vivo, graças a Deus.

– Acha mesmo?

Muito próxima de mim, posso sentir a respiração dela em meu rosto. Fico nervosa com a proximidade e as intenções por trás do olhar ébrio de Jackie. A umidade dos lábios, o calor do corpo, o jeito como ela coloca a garrafa na boca enquanto olha para mim fazem minhas estruturas estremecerem.

– Tudo bem... – Jackie enche o peito, encostando-se em mim e sem tirar os olhos dos meus, ela se move para trás – Você quem sabe.

Seguro o braço dela para que não se afaste.

Vou me arrepender disso.

Vejo o vulto de um sorriso nos lábios de Jackie. Puxo a cintura dela e tomo, sugo, acabo com aqueles mesmos lábios que carregavam tal sorriso travesso. Deixo a ruiva entre mim e a bancada de mármore que sustenta várias garrafas de bebida vazias.

Viro de costas o abrasado corpo feminino rendido a mim e agarro os quadris inquietos, exigentes por mais contato. Amasso a saia no corpo dela, saia essa que nunca pareceu tão longa quando tento alcançar o que ela guarda. O desespero da excitação me faz tentar mil coisas ao mesmo tempo.

Acaricio, cobrindo e descobrindo as formosas coxas da mulher. Os cabelos, afastados para outro lado do ombro, abrem espaço para que eu explore o pescoço com a boca com mais facilidade. Empurro Jackie com meu corpo, sentindo-a, tocando-a e adorando a forma ansiosa como ela me corresponde. Os lábios tímidos e curiosos encontram minha boca novamente bem no tempo em que percebo a ausência de sua calcinha. Isso me deixa transtornada e ainda mais ávida.

Toco o íntimo de Jackie, arrancando-lhe alguns gemidos suspirantes quando meus dedos a contornam e a penetram sem demora.

Molhada e ardente. Entro em uma esfera erótico-alucinógena, túrbida de desejo, um desejo sujo e reprimido, agora cada vez mais vivo enquanto o mato, realizando minhas vontades impulsivas.

– Shhh.... – sibilo, tapando a boca da mulher quando aumenta o volume dos gemidos.

Mordo o pescoço dela, que me atrai com um cheiro silvestre e tropical, onde minha boca não se importa em se arrastar.

Mais forte... Não é isso que ela queria? Não é ela quem está me provocando a noite inteira, o tempo inteiro desde que apareceu? Muito bem, se é foder que ela quer...

O bumbum empinado, roçando minha virilha, mexe, boleia, buscando mais contato. Pressiono-o contra mim, dando exatamente o que ela pede. Jackie se contrai em meus dedos, se apertando, alterada. Continuo meu ritmo voraz, rápido e firme.

– Eu vou chamar a Taylor!

Uma voz distante ameaça se aproximar e eu tremo em um susto. Introduzo mais um dedo dentro de Jackie e dou uma palmada em sua bunda, pedindo que ela goze para mim, rápido.

Vindos do corredor, os passos e vozes vão ficando mais perto, em meio à conversas e risadas.

Jackie se escorre em meus dedos, trêmula, com gemidos baixos e arrastados.

Boazinha.

Apoiada no balcão, ela vira o rosto, procurando minha boca, que eu dou sem pestanejar, enquanto deixo minhas mãos se encherem em seus seios, apertando-os com vigor. Pego a cerveja que bebia sobre a bancada e me afasto rapidamente da ruiva, que se recompõe para receber que está chegando à cozinha.

Não lembro a quanto tempo não sentia uma adrenalina dessas.

– Ah, você está aí! – duas conhecidas entram na cozinha, animadas, apontando para mim.

Duas mulheres adoráveis, excitadas e curiosas. Alegres demais para estarem sóbrias. Acho que conheci tais fêmeas logo quando cheguei, mas não fui apresentada. Até agora...

– Eu estou aqui. – Sorrio fraco, levantando a garrafa.

Arrumo levemente o cabelo que cai em meu rosto enquanto as mulheres se aproximam, empolgadas. Ambas começam a fazer comentários sobre alguns de meus trabalhos e como pareço mais bonita ao vivo.

A mais baixa de cabelos curtos chama-se Meredith. A outra, mais alta, com uma forte aparência latina, Susana. De soslaio, observo Jackie, em seu canto, parada não muito longe de mim. Mal encarada.

Tenho aqui três estilos diferentes, mas que compartilham da mesma vontade. Todas são damas querendo ser vagabundas. Todas ao meu alcance.

Se Deus não existe, como explicar este divino banquete? Graças a Deus, Ele existe.

As duas beldades que conversam comigo entusiasmadamente me pedem uma foto. Ficam uma de cada lado meu, aproveitando o momento para me tocarem com seus respectivos e agitados corpos. Natasha chega em algazarra com mais uma mulher, essa, mais jovem, e ficamos proseando sobre assuntos que ninguém se importa.

Lyonne se aproxima de mim e me cutuca.

– Eu disse que você se divertiria hoje comigo, não foi?

Vamos andando para nos distanciar da algazarra feminina.

– O que seria da minha vida sem você, Tasho? – tomo um longo gole de cerveja.

– Vai com calma, garotona... Elas estão fervendo e você é uma mulher comprometida agora – ela ri, sempre com deboche.

–  Pra que me trouxe pra cá hoje, então, de enfeite? Além do mais, é só cerveja, não embriaga...

Preciso me apoiar em algo. Me escoro na porta de entrada da cozinha.

– A vida de você e da Laura não é da minha conta, mas... Tem algo que eu não saiba acontecendo? – Natasha pega no meu ombro – Quando falei hoje sobre a Laura estar grávida você ficou com uma cara de quem acabou de descobrir que vai ser pai.

Minha cabeça gira, de repente, e sinto que vou desmaiar. Pisco repetidas vezes, respirando fundo.

– Não tá havendo nada entre nós... Literalmente. – Passo a mão em meus cabelos, agora exasperada – Não se preocupe... É só... Bobagem.

– Tá bom... –  Ela me abraça, sem jeito –  Olha, você viu que aquela Jackie tá aqui?

Ela olha para a ruiva e depois para mim, tão maliciosa que me constrange. Jackie olha para onde estamos e dá um sorriso discreto, quase envergonhado.

– Eu vou contar pra patroa – brinca Natasha, caminhando de volta para perto daquela mina de estrogênio.

Passo o braço pelo pescoço da pequena, de modo a enforcá-la levemente e murmuro, próxima:

– Como vai contar algo se não viu nada?

°°

Mais cerveja, mais falatórios fúteis sobre tudo o que é desnecessário na vida. Me pego sendo observada constantemente por Jackie, que conversa com outras mulheres, no outro extremo do cômodo. Cada olhada, um sorrisinho, uma jogada de cabelo, talvez. O velho charme feminil que me desarma. A ruiva tem uma espécie de timidez lasciva que me deixa completamente tentada.

Eu preciso de uma bebida mais forte.

Meu avô provavelmente diria para eu sim, ser forte e encarar meus medos, meus problemas e minhas dúvidas sozinha, consciente, sem a covardia do álcool para me guiar... Quem sabe, outro dia, em que eu esteja preocupada em pensar em alguma coisa.

Já estou aqui, já fodi, já estou fodida, a mulher que eu amo está a quilômetros de distância de mim e deu para um imbecil com o meu consentimento... Com o meu consentimento ele pode ter feito um filho nela. Eu deveria ter tido o pulso mais firme quanto a obrigação do uso da porra da camisinha. Agora eu não consigo mais pensar em outra coisa e parece que vou enlouquecer sufocada nessa espécie de desalinho emocional e remorso.

Sem dúvidas, eu sou muito melhor quando abandono o fraco e doloroso mundo sentimental e ajo na coerência da razão. Se deixar levar pela emoção é o melhor caminho para chegar à insanidade e eu gosto muito de ter o domínio dos meus pensamentos e ações. Aliás, quem não gosta? Se apaixonar é só uma viagem sem data de ida e de volta, indo do inferno ao céu em um piscar de olhos e nunca ficando em um só dos dois lugares.

Aposto que a Filosofia originou-se de um porre de algum marmanjo apaixonado...

De qualquer forma, hoje, fodam-se a emoção e a razão. Dane-se tudo. Se eu quiser comer cada uma dessas mulheres nesta casa, eu vou comer cada uma delas. Incluindo Natasha e quantas mais chegarem aqui.

Para isso eu tenho o pulso firme.


Notas Finais


Feliz dia das crianças :)


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