Na primeira vez que lhe pedi um lápis emprestado, tive medo que não tivesse coragem de devolver. Era bonito e opaco, exatamente como você.
Demorou um bom tempo para eu constatar que seus lábios eram tão macios quanto sua própria borracha. Contudo, quando finalmente descobri que possuía muitos apontadores, tratei de me rabiscar por inteiro só para que pudesse me sentir ser apagado por você.
Apesar de tudo, suas lâminas eram bem afiadas, cortavam a mais fina folha e o mais bruto tecido. Quando vi que podia destruir as coisas com tanta facilidade, temi pelo meu pobre coração esmorecido.
Aprendi que os desenhos que você deixava sobre minha mesa tinham o peculiar estilo de um alguém que sabia como enfraquecer as pessoas, e mesmo que eu já soubesse sobre suas palavras aveludadas, tremi feito vara ao escutar um simples bom dia.
Pois é, você causava tudo isso em mim, deixava-me desnorteado e sem caminho ao ponto de me fazer suspirar amuado por ter caído em mais um de seus feitiços.
E eu cai, cai e cai no famoso conto da Cinderela. A única diferença é que no dia seguinte você não apareceria para me procurar.
Tive raiva de reconhecer a minha derrota, de olhar para minhas folhas e ver que elas não mais se mantinham vazias, mas que agora sim estavam repletas de seus traços malditos e dos retalhos que tanto chorei para colocar; porque apesar de odiar as palavras chulas as quais você fazia questão de cuspir sobre mim, eu ficava feliz só em lhe ouvir falar.
Odiei admitir que nada apagaria você da minha vida, nem a distância e nem mesmo o lado azul da borracha. Nada, simplesmente nada apagaria todas as noites que passamos juntos fantasiando sobre uma vida que nunca nos pertenceria.
A verdade é que nossos sonhos sempre foram rasos o bastante para que nenhum de nós dois nos afogássemos. Porém, se eu soubesse que você me deixaria tão covardemente assim, teria lhe preparado a mala e lhe dado uma caneta azul para que pudesse rabiscar em uma folha que não fosse a minha. Afinal, meu ser já estava repleto de seus borrões e curvas, não havia se quer um mísero espaço para me contornar.
E mesmo assim eu ainda não havia aprendido a lidar com sua régua, Yoongi, aquela que havia marcado uma linha tênue entre você e o amor que eu insistia em acumular.
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