Ganhei uma passagem aérea do deus dos céus, que por acaso eu mandei calar a boca algumas horas antes. Será que eu devia me sentir seguro? Mas é claro que não!
Chegamos ao LGA (Aeroporto de LaGuardia) no Queens ás 17h, estava anoitecendo o que significava que eu iria dormir a viagem toda. Faltava quase meia hora para o embarque então fui procurar algo para comer e um travesseiro, pois esqueci o meu. Depois de comprar comida e um travesseiro me dirigi ao encontro dos outros, mas fui puxado de repente para trás pela gola da minha camisa e acabei num beco isolado no corredor que lava ao banheiro.
Se liga na minha situação, lá estava eu prensado contra a parede com uma barra de kit kat na boca e um monte de sacolas com salgadinhos e outras comidas que pais normalmente não deixam seus filhos comerem, com Reyna na minha frente impedindo qualquer chance de fuga.
- Então... Posso ajudá-la com algo? – Disse tentando não cuspir o único outro pedaço de chocolate na minha boca.
- Hmmm... Quem sabe? – Disse ela se fazendo de quem não tem intenção nenhuma.
- Estou começando a ficar com medo.
- Não se preocupe não vou te machucar, só quero um pouco de... Chocolate...
- Bom... É uma pena, mas aca... – Fui interrompido por um beijo de língua surpresa, e quando ela separou nossos lábios, percebi que meu chocolate tinha sumido. – Ei! Meu chocolate!
- Pare de reclamar! Eu estou tentando me desculpar com você aqui! – Disse ela me olhando com as bochechas infladas.
- Eu já te disse que você fica linda quando tá com raiva?
- Cala a boc... – Calei ela com outro beijo, que foi se intensificando e quando paramos para recuperar o ar, ela estava prensada na parede com as pernas entrelaçadas na minha cintura e com nossas testas encostadas.
- A-acho que é melhor voltarmos, vão notar que sumimos...
- Olha parece... – Peguei a capa de um jogo que comprei para passar o tempo, e virei de cabeça para baixo. – Que o jogo virou, não é mesmo?
Ela me encarou e colocou a mão no rosto para esconder o sorriso que se formava em seus lábios:
- Você é... Inacreditável.
- O que foi?! Eu não podia perder a oportunidade! Ah, qual é! Foi o melhor trocadilho que faço em semanas!
Ela colocou os pés no chão e disse:
- Terminamos isso depois. – Disse ela com um sorriso malicioso.
- Opa, quer dizer que tem continuação? – Devolvo o sorriso malicioso e ela riu.
- Quem sabe...
Fomos até Lilian e Nico que discutiam sobre Mitomagia, e Rodrick que simplesmente ria deles:
- Eu já disse que se você usar a carta de benção em uma figura de ação de um deus, ela não fará efeito! – Começava Nico.
- Mas está escrito no manual que você pode usar a carta de benção em qualquer personagem! – Rebatia Lilian.
- Vocês são muito infantis! – Disse Rodrick enquanto ria.
- Olha quem fala! – Respondiam os dois ao mesmo tempo.
- Eu ainda não sei como vocês não estão se pegando... – Disse Rodrick pensativo.
- Eu também não. – Eu disse surpreendendo aos outros com a quantidade de sacolas com doces que eu havia trago.
Chegamos na hora que começou a chamada para o embarque do voo à Paris. Era um pouco óbvio sabe, “terra do amor”, Paris, ok, não é?
Dentro do avião, eu peguei o pior e melhor lugar possível, tudo ao mesmo tempo, Reyna ficou do meu lado, mas atrás de mim tinha um moleque que ficava chutando o meu assento. Estávamos no ar à uma hora e o pirralho não dormia, nem parava de chutar até que cansei. Me virei para o moleque que estava sentado sozinho e Reyna ficou me encarando curiosa e risonha para saber o que eu iria fazer. Desacelerei o tempo e dei uma pancada na cabeça do moleque que desabou na hora, antes que alguém percebesse coloquei uma bolha temporal ao redor dele para que ficasse desacordado pelas próximas 2 horas. Voltei para meu lugar e Reyna se virou para o garoto e olhou para mim de volta:
- Você é mal, ou só não gosta de crianças?
- Sou mal com pirralhos irritantes, pois não gosto de pirralhos irritantes.
- Sinto pena da sua mãe, ela deve ter sofrido. – Disse ela para logo perceber o que disse, mas antes que ela pudesse pedir desculpas ou dizer algo como “eu lamento”, eu disse:
- A que sofrimento você se refere? Ao fato de ela ter tido que criar sozinha um pirralho catarrento que só sabia chorar, ou ao fato de ter tido o corpo desintegrado por um raio? – Eu disse sem olhar ela nos olhos. Antes que percebesse, um filete de água se formou nos meus olhos e desceu até o queixo.
- Me desculpe, eu... Não queria fazer você se lembrar disso...
- Não se preocupe... Me desculpe você, pelo que eu disse naquele dia... Eu não culpo vocês, semideuses, pelo o que aconteceu... Eu só estava com raiva.
Ela apoiou sua cabeça em meu ombro enquanto colocava a mão direita em cima da minha esquerda, e disse:
- Está tudo bem... Você não vai ficar sozinho de novo...
- Não está nada bem. Os deuses me mandaram para mais uma missão impossível na tentativa de me matar de uma vez por todas, o que não vai acontecer, e, bem, você sabe que é bem provável que depois dessa... Vida... Eu fique sozinho de novo.
- Eu não vou deixar.
- Isso não é algo que você possa simplesmente decidir. – Nesse momento ela me deu uma cotovelada na barriga e disse:
- Só cala a boca e me deixa te consolar.
- Ok... Ai...
- Um pouco de dor não faz mal.
- Quando a dor é causada por você, então sim, faz mal.
-...
-...
O silêncio ficou estabelecido, mas não era um silêncio incômodo, era um silêncio aconchegante. Quando me dei conta, nós havíamos caído no sono.
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