História O fim é só o começo... - 1 E a montanha se curva diante do vento.

—Nossa foram rápidos com os nossos pedidos em... -Disse um dos garotos da outra mesa que estava vindo até nós. Yan olhou para mim desconfiado e depois voltou a atenção para os meninos que estavam chagando mais perto.- Espera isso tá um pouco errado.

Eu comecei a rir alto de novo. Peguei o garfo do bolo de cenoura com chocolate especial e finquei nas batatas com cheddar, e enfiei na boca sem fazer bagunça. Apesar de ser em uma quantidade grande não pareci sem educação, diria que fui até bem civilizada considerando minha fome.

—Para mim parece tudo certo. -Eu disse assim que engoli as batatas.

—Ei, essa batata não é minha...? - O menino que tinha pedido o Especial me perguntou mas eu estava mais uma vez colocando outra garfada de batata na boca.

—O que eu trouxe é... Um especial grande com um acréscimo de cheddar, um sanduíche normal grande, um pedaço de bolo de cenoura com chocolate especial, e uma tigela grande de salada de frutas com creme de leite e leite condensado. A e peguei o milkshake de ovomaltine de 800ml. E eles... Todos eles... São da senhorita Sayuri aqui. Mas nós já fizemos os outros pedidos. -Yan se virou para mim.- Mas o que eu quero saber é porque pediu tudo isso?

—Para comer ué. Eu pedi mais do que estou acostumada, eu assumo. Geralmente peço uma tigela normal de salada de frutas e um especial normal sem acréscimo, o resto é a mesma coisa. Mas não jantei ontem e sai as pressas de casa hoje sem forrar o estomago, então... E também meu metabolismo judia de mim. -Choraminguei- Sem tirar minha puxada rotina diária. -Choraminguei de novo.

—Ela ta falando sério?

—Droga minha batata já acabou... Bem agora o sanduíche. -Peguei o ovomaltine perto do Yan e olhei para ele.- Valeu Yan. -Todos estavam me olhando, sem falar nada. Então um garoto percebeu o que eu tinha acabado de dizer.

—O que!? A batata já foi!? Quando!?

—O QUE!! -Quase todos falaram ao mesmo tempo. Olharam para a "cesta" de batatas e depois para mim...

—Falei que estou com fome! -Choraminguei com manha.- É por isso que só como na cozinha dos empregados. -Olhei para todo mundo me encarando. Agora tinha terminado o sanduíche.- Esse bolo está com uma cara excelente... - Olhei para os garotos ainda me encarando e agora era só esperar para todo mundo me dar mais apelidos estranhos.

—HAHAHAHAHAHA! -Todos riram alto me pegando de surpresa.

—Cara você é muito diferente. - O Celty falou, depois começou a rir com os outros.

—E eu esperando ela pedir uma salada de frutas pequena.- Thiago disse ainda rindo de mim.

—Cara eu também achei que seria algo assim por ela ser bem magra. -Yan disse rindo também.

"Bem magra? Eu usava uma blusa de frio toda larga, como ele sabe...?"

Então a lembrança dele ter ficado bem perto de mim e ter segurado minha cintura veio a minha mente e eu corei abaixando a cabeça. Todos ainda estavam rindo.

—Ei! Todo mundo! Parem de rir!

Senti o olhar de todos em mim.

—Sayuri? Desculpe agente ter rido. Você está chorando?

Então Yan se abaixou um pouco colocou a mão no meu queixo para eu levantar o rosto.

"Droga se eu levantar vou ficar de frente para o rosto dele, sinto que vou ficar ainda mais envergonhada."

Levantei o rosto em outro angulo para não o olhar no olho.

—Não, eu est...

—Aaah! Realmente é a Biblioteca. Bem que você disse que ela estava tentando aparecer! 

—Ah não! O meu Yan estava quase beijando essa ridícula da Google?

—Cuidado Yanzinho, sua popularidade vai cair se ficar "pegando" qualquer uma.

Olhei para o lado e vi a Samantha, uma menina da minha turma. Ela me odiava por eu ter a nota mais alta da escola e porque o pai dela, o diretor, me considera como uma filha também. Ela estava com suas "puxa saco" ao seu lado.

—Eu disse que ela estava na mesa dos meninos do Yan. 

Ray... A garota que consegue ser mais antipática do que a Samantha. Adora espalhar fofocas pela a escola ela nem parece ser da "alta classe" como diz ser.

—Com certeza veio atrás deles para se mostrar... Como se fosse bonita. -Ray olhou para as outras duas que já estavam rindo e se juntou na gargalhada.

—Ah... Estava tentando lembrar de quem eram essas vozes irritantes, são "as cabeça de vento". Vocês não tem nenhuma maquiagem ou compras para fazer não? -Perguntei sem ânimo. Alguns garotos deram umas risadinhas, e elas ficaram vermelhas de raiva os fuzilando com os olhos.- Quem sabe a unha que fizeram antes de vir para a escola já não está velha de mais e precisa fazer de novo? -Agora olhava para a minha "irmãzinha"- Samantha, seu... bem quer dizer nosso pai vai ficar chateado e não vai te dar a atenção que quer se você continuar atrás de mim no ranking. -Agora eu estava comendo meu bolo. O que eu disse pareceu ir bem fundo na ferida da patricinha.

—Olha aqui su...

—AH! LEMBREI! -O Thiago gritou de novo interrompendo a Samantha. Até parecia um hábito feio dele, mas é melhor do que escutar a voz dela.- Eu disse que já tinha visto seu nome em algum lugar, você é a garota que está em primeiro na lista do ranking dessa escola!

—Nossa! Sério que é ela?- Celt assobiou. Eu fuzilei o gritador com os olhos e me ignorando ele afirmou para o garoto.

—Além de divertida, diferente, ainda é inteligente... que combo bom em? - o Celty me mandou uma piscadela.

Yan veio ao meu lado, segurou minha cintura e olhou feio para o garoto que me elogiou. E eu olhei feio para ele mas, mais uma vez, fui ignorada.

—Você esqueceu de dizer que ela é...

—Parece que vocês não conhecem essa esquisita direito mesmo em... Todos que a conhecem não gostam dela. Se vocês ainda querem ser populares acho bom se afastarem dela. -Samantha olhou fundo nos olhos do Yan e ele estava prestes a falar algo.

—Eu concordo com ela! -Eu disse chamando a atenção de todos.- Fazer o que? Eu tenho memoria eidética... Eu nasci assim e isso me ajuda bastante. No fundo você acha bem útil isso né Samantha? Mas por não ser você a ter, acaba achando bizarro e fica julgando... Bem, eu que tenho já acho bizarro. Hahaha. Mas quer saber? Foda-se o que você... O que vocês acham de mim! E quer saber mais? Não é aqui no meio dessas pessoas que eu quero estar... Já sei qual vai ser a escolha de vocês... -Me virei rápido para o Yan e os outros garotos- Não precisam me dizer!

Olhei para todos que estavam me encarando. Agora quase a metade da escola estava presente assistindo.

—Ainda bem que você sabe Biblioteca Irritante, acha que é a tal só por lembrar de livrinhos. Mas nós só precisamos de um Google no mundo e não é você. - Bruno, O Brutamontes. Se ele está presente isso vai ser bom.

A maioria agora faziam comentários maliciosos do que o bruno tinha falado, o que quer dizer que estavam prestando a atenção no que acontecia.

—Que bom! Não vou precisar pedir para que todos prestem atenção em mim! -Olhei ao meu redor.- Eu quero lhes dar um aviso! -Eu aumentei a voz para que todos escutassem mas mesmo assim disse bem calmamente.- A próxima pessoa a falar ou me dar qualquer apelido... Pode esperar para sair dessa escola com algum membro quebrado.

Vi algumas caras de deboche e alguns risinhos, mas ignorei e continuei.

—Não passei nove anos de minha vida treinando artes marciais para ficar engolindo sapo pro o resto de minha vida! E vai por mim, não é só para livros e pesquisas que minha memoria é boa. -Olhei para o bruno. Ele estava rindo com tom de deboche e seus seguidores também.

—Tem algum comentário para fazer Bruno? - O cara riu mais um pouco e se virou para mim.

—Só queria saber se a nossa querida "BI-BLI-O-TE-CA" vai conseguir cumprir o combinado. - Ele destacou bem meu apelido e abriu um sorriso largo.

Olhei a minha volta, todos olhando o que aconteceria, alguns até dando risadinhas por pensar o mesmo que o brutamontes do Bruno. Então vi Nathãn sem expressão me olhando, ele deu uma leve balançada de cabeça dizendo um "não" quando percebeu que era para ele que eu olhava.

"Até parece que vou dar ouvidos a você!" - revirei os olhos.

Yan vinha em minha direção. Então eu olhei séria para ele, um aviso para ele não se meter e dessa vez não deixei espaço para ser ignorada de novo. Me aproximei do Bruno, ele enrijeceu todos os músculos do corpo ainda sorrindo. Ele amava se gabar dos seus músculos. Com certeza passava horas na academia.

—Fique a vontade, tente o que quiser! - Ele me disse com um tom de "maldade".

Não fiquei nem a um passo de distância dele, passei a mão em seu abdômen bem definido, fingindo estar o idolatrando. Depois em seu peitoral, depois em seu pescoço.

—Ele disse para você bater nele! E não abusar sexualmente! - um dos seus membros no grupo de idiotas falou e algumas pessoas riram.

Depois do pescoço eu fiquei de pontinha de pé para ir em direção ao ouvido dele.

—Se você tentar tirar a minha mão vou estourar de vez o seu tendão, entendeu? - Eu sussurrei em seu ouvido e depois voltei um pouco para trás para olhar seu rosto. Ele não parecia entender.

Minha mão ainda estava em seu pescoço, então a deslizei e a coloquei em seu ombro. Olhei nos olhos dele e lhe dei um sorriso com um olhar sedutor. E quando vi ele retribuindo com um sorriso apertei o tendão de seu ombro e braço de forma que ele soltou um grito alto e foi com a outra mão para tentar tirar a minha de seu ombro.

—O que eu te avisei sobre tentar tirar minha mão? -O lembrei, explicando o que disse antes.

Apertei mais forte. Ele soltou um grito entre os dentes e abaixou a mão que tinha levantado para retirar a minha.

—Bom garoto. - Bruno quase rosnou para mim.- Agora, para eu não estourar seu tendão e você nunca mais usar direito seu braço, acho melhor você fazer o que eu mandar.

Falei bem calmamente e vagarosamente, ainda fazendo um olhar sedutor. De canto de olho vi um de seus amiguinhos tentando se aproximar de fininho.

—Que tal começar a fazer o que digo e mandar seu amiguinho se afastar? - Falei alto o suficiente para o garoto também escutar.

—Ramon... -Bruno olhou para o garoto, não parecia querer falar para ele ficar longe então lhe lembrei da dor em seu ombro.- Aaaai! Fica ai! Não vem! Aaai!

—Viu Bruno, eu sabia que você podia ser bonzinho. Então que tal me pedir desculpas por todas as vezes que fez bullying comigo?

—Nem ferrando! -Ele me olhou com ódio.

Lhe mostrei um sorriso. Eu realmente estava amando aquilo, sempre sonhei em fazer isso com um desses valentões.

—Oh Bruninho, queria tanto ver agente se dando bem sabia? -Apertei mais forte do que as outras vezes e mantive daquela forma.- Tem certeza de que não quer fazer as pazes? -Dei mais um forte aperto e ele caiu de joelhos gritando.

"E a montanha se curva diante do vento."

—Bruno, era só pedir desculpas, não precisava se ajoelhar. Mas já que o fez que tal aproveitar? -Eu passei a mão livre no seu rosto lhe fazendo carinho. -Cade minhas desculpas?

"Ele ainda parece relutante em me dar suas desculpas. Mas não teria graça se ele o fizesse tão rápido. Vou Lhe dar uma mãozinha."

 Apertei mais forte, dava para sentir o tendão se contraindo de dor a cada aperto.

—Aaaai!!! Para! Meu braço está dormente!!

—Para! 

—Você esta machucando ele!

—Já está bom, ele já entendeu!

—Para com isso!

Agora quase todo mundo falava para mim parar.

—Não estou fazendo isso só para ele entender, preciso que todos entendam. -Olhei a minha volta ignorando os olhares assustados do grupo do Yan.- Vocês acham que é só ele que fica fazendo bullying comigo. -Olhei em volta de novo.- Mas a partir de agora se vocês não podem me tratar normalmente sem apelidos toscos, podem simplesmente me ignorar. Não vou solta-lo sem ele me pedir desculpas mas se vocês querem pegar o lugar dele, vou aceitar a troca. -Todos ficaram calados.

—D-des-desculpa! - ele disse sussurrando.

—Ah, que pena! Eu não escutei! Que tal falar alto do mesmo jeito que fazia  para me bullinar? Vamos! Você consegue! - O encorajei e apertei só um pouco mais que antes seu tendão.

—DESCULPA PORRA! Desculpa... Desculpa.

Assim que ele disse eu o soltei.

—Não irei quebrar nenhum membro seu, isso que fiz foi só um aviso para a próxima vez! Então Bruninho meu mais novo amigo, alcancei suas expectativas? Se quiser sei outras formas de fazer você sentir dor! - Mordi o lábio e olhei em seus olhos.

Não esperei ele responder. Olhei para todos. Não tinha ninguém rindo, com cara de raiva ou de nojo, só avia espanto. Aqueles que sempre mexiam comigo demonstrava medo também.

—Aaah! Por que essas caras? Só irei ser má com crianças travessas. -Comecei a rir.

"Realizei meu sonho, sempre quis fazer e falar isso. kkkkkkk"

—Mais alguém tem alguma duvida do que eu posso fazer? Por que hoje eu realmente estou bem animada para os esclarecer.

Ninguém respondeu, então eu continuei.

—Meu nome é Sayuri e quero ser chamada assim! Nada de Google e Biblioteca, não fui batizada com esses nomes! Se na boa vida que vocês levam, ninguém os ensinou, ou ensina, a tratar bem as outras pessoas que são diferentes de vocês, eu vou lhes ensinar!

Sai olhando para todos mais uma vez. Ninguém se atreveu a me responder. Yan e os outros garotos estavam surpresos. Eles tinham acabado de me conhecer e então viram meu lado... Mal.

—Aqui... isso é pelo milkshake, não quero ficar devendo. Tchal.

Peguei minha salada de frutas.

"Não vou deixar minha comida para trás! Ainda estou com fome!"

E sai do local olhando para os rostos assustados das patricinhas e do resto das pessoas com um sorriso de vitória estampado.