Ele me explicou que minha nova flor favorita chamava-se margarida e durante toda aquela semana ele me levou uma. Todos os dias. E eu me vi com um pequeno vaso sobre a escrivaninha que tinha exatas cinco margaridas branquinhas, com seus miolhinhos amarelos que me deixavam feliz. Olhar para aquelas flores quando eu me sentia cansado de trabalhar naquela mesa me dava um ânimo a mais.
Eu me vi ansioso para encarar todas as manhãs, porque por mais que eu sentisse meu coração praticamente saltar pela boca quando ele se aproximava, algo em mim não queria que ele fosse embora.
Desde a primeira conversa, quando ele me ofereceu um dos gostosos biscoitos de dona Carmen, a minha pequena rotina tinha mudado. Eu não mais ficava apenas o observando de longe enquanto eternizava seus traços com tinta preta numa das folhas amareladas do meu bloquinho, porque todos os dias quando ele virava a esquina em sua bicicleta azul, cumprimentava os velhinhos que caminhavam em direção a feira e dava um narciso para minha vizinha da frente, ele parada em minha frente e com um sorriso me dizia bom dia. Tirava a margarida da cestinha e se sentava do meu lado, esticando sua mão pálida e de aparência macia para que eu a pegasse. Então ele usava um de seus dedos para erguer seus óculos redondos e retirar um tufo teimoso de cabelo negro que insistia em cobrir seu olho esquerdo.
Mais um dia eu o vi virando a esquina. Estava um pouco mais frio que os outros dias, não a ponto de precisar de um abrigo, mas o vento estava gelado o suficiente para que fosse preciso usar um casaco leve. Ele estava com uma blusa branca de mangas compridas e gola dobrada e seus cabelos estavam escondidos por um gorro de cor mostarda com um pompom em cima e eu só pude pensar o quanto ele ficava cada dia mais bonito. A rua estava um pouco mais deserta por causa do frio e diferente dos outros dias, ele veio direto em minha direção
“Bom dia” a voz doce e bonita soou e eu sorri. Ele se sentou do meu lado, olhando atentamente para mim como sempre fazia e notando a caderneta aberta em uma folha em branco “O que vai desenhar hoje?” Perguntou curioso, ele sabia que todos os dias eu ao menos rabiscava algo.
“Eu ainda não sei” disse sincero e corando um pouco com a ideia que veio na minha cabeça “Talvez eu possa desenhar você…” Joguei envergonhado. Por mais que eu já tivesse feito aquilo muitas vezes, ele não tinha conhecimento e por um momento pensei que ele poderia me achar… estranho. Mas ele sorriu, me mostrando novamente aquela expressão que o deixava absurdamente lindo.
“Mas é claro!” disse animado “Eu juro que vou ficar paradinho”
E aquela foi a primeira vez que eu me esforcei tanto em um desenho. Cada traço, cada ponto. E quando eu terminei, seus olhos pareciam brilhar enquanto olhava aquele pedaço de papel.
“Eu adorei” disse baixinho, sem ao menos desviar o olhar. E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, dona Carmen abria seu portão com uma das mãos enquanto a outra carregava uma pequena bandeja com três xícaras fumegantes. E deixando uma dessas xícaras branquinhas com desenhos de corações rosados para cada um, entrou em minha casa a fim de visitar minha avó.
E com aquele chá de camomila gostoso e o riso baixo de Hoseok, o primeiro dia de outono foi absolutamente perfeito.
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