História O florista - Bolinhos

Domingo era o único dia que eu não o via e por mais que não ficasse exatamente triste por isso, ele me fazia uma imensa falta. Era como se ele fosse a luz do meu dia ou minha dose de felicidade diária e sem essa dose eu não consegui permanecer sozinho naquela casa

    Havia acordado depois das dez, pensando em mil coisas sem sentido e nada funcionais. Comi porcarias e assisti um filme que não tinha nenhuma graça além de ler algumas páginas de um livro que tinha abandonado havia um tempo. Estava tudo tão malditamente tedioso que só pude deixar meu corpo se embrenhar em meio às cobertas bordadas enquanto ouvia uma playlist qualquer.

    Eu podia sentir meus olhos cedendo ao sono que me visitava, mas uma voz me despertou. É claro que pensei que fosse algo da minha cabeça. “Agora eu posso até mesmo ouvir sua voz na minha mente?” me perguntei, mas a voz continuava a me chamar. Me recusei a aceitar que estava simplesmente delirando e me levantei rapidamente, me esticando na janela do quarto e vendo uma sombra pelas cortinas. Caminhei até a porta, com as meias deslizando pelo chão liso e quando abri a porta, pude ver novamente aquele sorriso.

    Ele usava um macacão claro e uma blusa negra de gola alta por baixo e segurava em suas mãos uma pequena cesta coberta com uma toalha vermelha.

    “Oi, Yoongi” ele disse suavemente e eu só pude sorrir. Minha dose havia chegado “Você quer ir a um lugar comigo?”

    “Que lugar?” pergunte curioso, mesmo que em minha mente eu já soubesse que não importaria o lugar, eu gostaria de segui-lo.

    “É surpresa”

    Caminhamos lentamente por entre as ruas não tão cheias enquanto eu observava seus cabelos sendo bagunçados pelo vento. Pela milésima vez eu o analisava por inteiro, minha mente se enchia de dúvidas e meu coração estava inquieto. O silêncio era delicioso, como se estivéssemos ali somente para escutar o barulho que as folhas das árvores faziam ao serem tocadas pelo vento.

    E ele me levou para um dos lugares mais lindos que eu poderia ter visitado. O jardim aos fundos da floricultura de sua tia era absolutamente maravilhoso, era pequeno e delicado, com pequenos suportes de água doce que alimentavam os beija-flores e caixinhas com sementes que atraíam passarinhos famintos. A terra era divida com fitas coloridas que demarcavam o terreno que cada tipo de planta e ao fundo, perto de uma cerca-viva, havia um banco de madeira de tamanho médio. Ali ele descansou a cesta, retirando a toalha vermelha e a desdobrando para colocar no chão, era possível ver um pequeno pote transparente e com alguns bolinhos.

    Sentados naquela toalha num domingo antes tedioso ele me contou seus sonhos e segredos, enquanto comíamos os bolinhos que sua mãe tinha assado. Contou que sua vida era as flores, que sua cor preferida era azul, que amava gatos e que se pudesse, teria um pato de estimação. “Patos são fofinhos” me respondeu quando perguntei o porquê de querer um pato. Ele também me disse que no próximo ano estaria entrando em uma universidade para estudar biologia.

    “Eu gosto dos animais, mas nada mais me fascina tanto quanto as plantas” ele disse, enquanto fitava o céu “Elas dizem tanto sem dizer nada, entende?” E quando eu disse que não entendia, ele sorriu “Elas são como você, Yoongi”