História O florista - Vontade louca

    E eu perdi as contas. Perdi a contagem dos dias desde que havia o conhecido, desde que ele havia se tornado algo a mais para mim; desde quando eu me dei conta de todos os sentimentos bagunçados que ele despertava em mim. Durante toda aquela semana, ele virou a esquina. Todos os dias da mesma forma, com o mesmo jeitinho meigo de sempre, os cabelos arrepiados pelo vento e a mão esquerda arrumando os próprios óculos, para que eles permanecessem no mesmo lugar por mais tempo. Por mais que o dia estivesse um tanto quanto frio – como havia estado durante um bom período – e com uma boa chance de chover, eu ainda o esperava naquele banco. E por mais incrível que pudesse parecer para mim mesmo, ele ainda aparecia. Mesmo que soubesse que dona Carmen estava viajando, que vovó não saia tão cedinho no frio, que o vizinho do lado estava doente e que o senhor da feira não iria durante aquela semana por conta dos chuviscos recorrentes. Ele aparecia todos os dias somente por minha causa e aquilo me intrigou.

    “Eu venho pra te ver, ué” disse como se fosse óbvio, erguendo as sobrancelhas como quem pensa que eu fiz uma pergunta estúpida.

    Eu me perguntei o porquê de ele simplesmente não aproveitar seu tempo com algo mais divertido do que ficar comigo.

    “Você é especial, Yoongi” ele disse, como se lesse meus pensamentos “E eu gosto de você”

E só eu sei o quanto desejei que tudo aquilo fosse recíproco. Como eu desejei que seu peito também pulsasse forte a cada vez que se aproximasse de mim; que minha imagem o visitasse em seus sonhos; que imaginasse como seriam meus beijos e carícias e que fantasiasse um futuro comigo. Mas me senti estúpido demais em ter tantas esperanças e o silêncio se instalou enquanto eu brigava mentalmente comigo mesmo. Porque eu sabia que não poderia nutrir aquilo e que não conseguiria mais viver caso ele me abandonasse.

E meu corpo tremeu quando ele se achegou ainda mais em meu lado. Nossos braços se tocavam e ele, com o nariz um tanto quanto vermelho, sorria de forma tímida.

“As vezes eu sinto uma vontade louca de fazer uma coisa” revelou, enquanto olhava timidamente para sua bicicleta “Sabe quando você vê um gatinho muito fofo na rua, mas não sabe ao certo se deve ou não acariciar? Então… é o que acontece quando eu tenho essa vontade de fazer algo.”

Eu pensei por um tempo:

“Não vejo um porquê de não afagar um gatinho”

“Eu vejo vários porquês. Ele pode correr para longe e não voltar mais, assim eu seria impedido de apreciá-lo novamente. Ele também pode me morder” riu baixinho e ali eu percebi que Hoseok era diferente do que aparentava na maior parte do tempo. Ele pensava demais e tinha medo demais; não era realmente o rapaz que parecia somente fazer as coisas que queria.

“Mas ele pode gostar do carinho e se aconchegar mais em você. Isso seria bom, não é? E você teria matado sua vontade”

“Só que não se trata de um gatinho, Yoongi. Não depende só de mim e não sei se estou preparado para as consequências disso” ele parecia tão nervoso, percebi que suas mãos tremiam levemente e ele apenas olhava para um ponto fixo qualquer. “Como posso saber se tudo não vai dar errado caso eu me mova por um simples desejo egoísta?”

Pensei por um tempo. Eu sabia que meus pensamentos se assemelhavam aos dele; toda a minha vida eu tive medo de praticamente tudo, nunca me arrisquei, nunca cedi aos meus desejos. Mas naquele momento, eu não queria que ele fosse como eu. Não queria que perdesse o que eu perdi.

“Tente” disse simplista, matando minha vontade de pedir para que ele se guardasse, que pensasse e que tentasse não se machucar. “Se não tentar, nunca vai saber”

E então, ele buscou seu desejo. E matou sua vontade louca, quando seus lábios tocaram os meus.