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História O Garoto da sacada - Prólogo


Escrita por: taeyeol

Notas do Autor


Boa leitura ~

Capítulo 1 - Prólogo


 

 

Sair da casa dos meus pais foi a melhor decisão que já tomei na vida. Talvez eu pense dessa maneira por eu ser responsável o suficiente pra conseguir me manter num apartamento — nem um pouco luxuoso — ou pelo fato de que meus pais são religiosos demais, a ponto de quererem me crucificar se descobrirem sobre a minha sexualidade. Mas isso não vem ao caso, não agora. Depois que me mudei pra esse apartamento, eu passei a viver em paz e posso dizer que sou feliz, pelo menos nesse exato momento. Eu não sabia que poder comer o que quiser na hora que quiser deixava qualquer comida mais gostosa ainda de se comer. Eu não sabia o quanto eu gostava de andar pelado pela casa depois de sair do banho e esquecer a toalha propositalmente no quarto. E eu também não sabia o quanto eu adoro ler meus livros na poltrona da sacada, mesmo que a vista não seja lá grandes coisas. Se bem que, acho que não posso mais dizer que leio livros, eles só servem agora como uma desculpa pra que eu passe o início da noite no meu lugar favorito desse cubículo.

De frente pra minha sacada tem um outro prédio de apartamentos, ele parece ser ainda pior que esse no qual eu moro, mas, se eu pudesse, moraria lá — mais especificamente naquele apartamento, com aquele rapaz. Não pense que eu estou apaixonado ou algo do tipo, quer dizer, talvez eu esteja, só que gosto de pensar que o que eu sinto por ele é uma mistura admiração, por ele ser bonito, alto e engraçado ao mesmo tempo, e curiosidade. Se minhas contas estiverem certas, faz oito meses desde que nos vimos pela primeira vez e acredite, até hoje não sei qual é o som da voz dele. Nosso relacionamento é uma coisa bem engraçada e meio infantil, admito, mas ao mesmo tempo é empolgante e bonito, dependendo do ponto de vista de quem vê.

Na noite em que o vi pela primeira vez meu dia tinha sido péssimo. Meu trabalho nunca foi tão pesado quanto foi naquele dia, cheguei em casa acabado. Como de costume, tomei um banho, me sentei na poltrona da sacada acompanhado de uma caneca com chá e meu livro da semana, esperando que ficasse tarde o suficiente pra que eu pudesse dormir. Então, depois de alguns minutos perdido nas frases de efeito dos personagens daquele livro, desviei meu olhar para o prédio á minha frente e lá estava ele me observando como se eu fosse a coisa mais interessante do mundo. Tentei ignorar e até pensei que ele fosse algum pervertido no início, mas então, quando, por curiosidade, encontrei os olhos dele outra vez, ele mostrou língua pra mim e começou a rir feito um idiota. Isso mesmo, como uma criança de cinco anos faria.

Eu poderia começar a inventar aqui uma perfeita primeira vez em que nos vimos, digna de virar roteiro dos filminhos românticos que os adolescentes de hoje adoram, mas, sendo sincero, eu ignorei o cara visivelmente problemático da sacada á frente e entrei pra casa, louco pra dormir logo — e não, eu não pensei nele o resto da noite e nem tive algum sonho bobo onde ele mostrava língua e sorria outra vez. Acontece que, depois dessa primeira vez, todos os dias que eu resolvia me sentar na poltrona da sacada ele estava lá também, às vezes de pé apoiado na grade de segurança, outras vezes ele se sentava no chão ou numa cadeira meio acabada que tinha o dever de enfeitar a sacada dele. Fiquei um tanto incomodado no inicio, até porque não é normal um desconhecido ter o costume de ficar te observando enquanto você lê livros, só que, como ele nunca me atrapalhava diretamente — por exemplo, fazendo barulhos tentando me chamar —, acabei me acostumando com ele ali. O rapaz só fazia alguma gracinha quando eu desprendia meus olhos das páginas pra saber se eu ainda tinha sua companhia.

Dias, semanas e meses se passaram. Eu já sentia como se ele fizesse parte da minha pequena lista de amigos e não achei que isso fosse algum problema, mas a questão é que eu não sabia nada sobre ele, nem ao menos seu nome. Isso tudo é um tanto estranho, não porque nós só nos vemos nas sacadas dos nossos apartamentos, mas porque eu realmente me interessei por ele — é meio raro de acontecer. É misterioso ao mesmo tempo em que não é. Sinto que ele adoraria que eu fosse até o prédio do outro lado da rua, onde ele mora, pra que a gente finalmente pudesse se conhecer como duas pessoas normais e, mesmo que antes eu não reagisse às gracinhas que ele faz, eu também adoraria ir até lá, como já disse. Ainda não sei o que me impede de fazer isso.

Então, depois de mais um dos meus dias repetitivos — apenas com o acréscimo de que chovera o dia inteiro —, passei na livraria do centro da cidade e comprei mais um livro pra adicionar à minha coleção. Cheguei em casa, preparei algo pra comer e, enquanto comia, espiei pela cortina da porta de vidro, só pra ter certeza de que ele ainda não tinha dado as caras — eu não tinha pressa, mas também não queria me atrasar pro meu “encontro” rotineiro com o carinha da sacada á frente. Tomei um banho rápido enquanto o fogo esquentava meu chá, vesti roupas confortáveis e, com a caneca e o livro em mãos, me sentei na poltrona.

Naquele dia o vento estava tão gelado que, mesmo agasalhado, me arrepiei quando o sopro chegou ao meu rosto. Esperei um pouco antes de começar a ler, ele estava atrasado. Os minutos estavam passando, era impossível desviar o olhar daquela maldita sacada. Então a minha ficha caiu e percebi o quão idiota eu estava sendo. Aquilo não era um compromisso, ele não tinha o dever de estar ali todos os dias que eu resolvesse ler. Porque diabos eu estava esperando? Ignorei o incomodo que ausência dele me causava e acabei me perdendo na história envolvente do livro que escolhi mais cedo. Meu chá pareceu terminar mais rápido naquele dia e, bom, sempre que minha caneca esvazia, é a deixa pra que eu entre e vá dormir.

Foi a primeira noite, desde algum momento da minha adolescência tosca, que minha cabeça se encheu de perguntas sobre o paradeiro de uma pessoa. Não sei se já deu pra notar, mas eu me perco fácil nos meus pensamentos, então não é nenhuma surpresa se eu disser que acabei não dormindo criando várias situações que poderiam fazer o garoto da sacada se esquecer de ir me observar. A primeira coisa que pensei foi que, talvez, ele tivesse uma namorada e ela quisesse muito transar naquela noite em especial, talvez ele tivesse que ir visitar algum parente que não via há muito tempo ou fez hora extra no trabalho, só não acredito que ele tenha esquecido de mim. Fala sério, três vezes por semana durante quatro meses, não é possível que ele tenha se esquecido de repente.

A questão é que, depois do dia em que ele não apareceu, eu fiquei meio que intrigado com isso. Passei a me sentar naquela merda de poltrona por mais que só alguns dias da semana. Todos os dias eu estava ali. E, depois de um tempo, o livro na minha mão se tornou inútil, pois eu já nem lia. Eu ficava vidrado na sacada á minha frente esperando que o rapaz passasse pela porta de madeira e voltasse a me observar. Mais do que nunca eu queria conhecê-lo, perguntar o motivo pelo qual ele começou tudo isso e o porquê dele desaparecer de repente.

Só depois de semanas, eu criei coragem pra tentar ir mais afundo nessa história. É feriado então, já que eu não tenho muito o que fazer, ir até o apartamento do meu amigo desconhecido não parece ser uma má ideia. Minha coragem levou algumas horas pra se tornar suficiente pra que eu saísse de casa, mas acho que sete horas da noite não é tão tarde. Coloquei um dos meus casacos e, antes de sair, planejei o que eu diria se caso ele estivesse mesmo em casa. A rua está um tanto movimentada hoje, acho que porque a maioria das pessoas está em casa, e a noite está bonita apesar de as luzes da cidade atrapalharem o brilho das estrelas.

Passei pela portaria com facilidade, ninguém me perguntou quem eu era ou o que eu estava fazendo ali, mesmo sendo a primeira vez que viam entrando no prédio. Eu não fazia ideia de qual era o andar onde ele morava, mas, já que a sacada dele é de frente para a minha, deduzi que fosse no quinto, como eu. Subi as escadas com certa pressa e, quando parei no quinto andar, dei de cara com duas portas. Duas portas que ficavam na mesma direção da sacada do meu apartamento. Eu não sabia qual, mas era uma das duas. Me arrisquei e bati na primeira porta.

– Quem é? – Ouvi uma voz um pouco falha.

– Eu... Sou seu quase vizinho. – Respondi.

Antes mesmo que eu fechasse a boca, a porta foi aberta, mas quem apareceu foi um senhor com os fios de cabelo mais brancos que já vi. Talvez fosse avô ou pai do garoto observador, de qualquer maneira, preferi pensar que a porta certa fosse a porta ao lado.

– Ah, me desculpe. – Fiz uma breve reverência. – Acho que bati na porta errada.

– Tudo bem. – Ele sorriu e fechou a porta na minha frente sem dizer mais nada.

Enchendo os pulmões de ar e o corpo de coragem, fui até a porta ao lado e bati. Esperei um pouco até que alguém respondesse ou me atendesse, mas isso não aconteceu. Então levei a minha mão á porta mais uma vez e o silêncio continuou. Parece que ele não está em casa e talvez esteja fora desde a última vez em que o vi semanas atrás. Ele pode ter viajado ou se mudado, bom, isso não é da minha conta. Comecei a fazer meu caminho de volta pra casa, mas, quando desci o primeiro degrau, ouvi uma porta se abrir. Me virei e voltei a ver o senhorzinho de fios extremamente brancos.

– Foi você quem bateu na porta ao lado? – Ele perguntou.

– Sim. Eu só estava procurando um amigo que mora aqui, mas ele não está. – Sorri apenas por gentileza.

– Claro... Mas ninguém nunca está nesse apartamento – Meu sorriso se desmanchou. – O rapaz que morava aí morreu no ano passado e a família ainda não tomou providências sobre o que fariam com as coisas dele.

– O senhor tem certeza? Acho que tem alguém morando aí sim. – Ri um pouco nervoso.

– Só pode ser um fantasma então! – Riu como se estivesse contando a melhor piada do ano.

– Um fantasma... – Olhei uma ultima vez praquela porta com o número 406 gravado na madeira. – Tenho que ir, muito obrigado.

Não esperei por uma resposta e, talvez ele até tenha respondido, mas não escutei. Desci as escadas com pressa e, no meio do caminho, esbarrei em alguém que me xingou. Eu só continuei andando até chegar em casa. Ofegante, mais pelo que descobri do que pela caminhada apressada, fechei a porta atrás de mim e, por algum tempo, permaneci ali de pé pensando no que tinha acabado de acontecer. Aquele garoto da sacada não podia ser um fantasma, eu sempre consegui vê-lo claramente, era feito de carne e osso, não se parecia nada com o que sei sobre fantasmas. Tem que haver alguma outra explicação pra tudo o que ta acontecendo.

Quero dizer, como eu seria capaz de ver um fantasma? A minha infância e adolescência foram marcadas por histórias bizarras que alguns dos meus amigos contavam. Eu sempre escutava que um vulto tinha aparecido no quarto de alguém ou o espírito de um parente morto resolveu voltar pra dar um “oi”, mas esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo. Então, na maioria das vezes em que me falavam sobre coisas sobrenaturais, eu apenas ignorava e as colocava na pilha de assuntos nos quais eu não acredito. Mas o assunto agora é diferente. Não é possível que não tenha alguém morando naquele apartamento. Talvez aquele velho esteja velho demais e as doenças da idade acabaram afetando o senso de realidade dele, vai saber. De qualquer maneira, é melhor que eu não me preocupe com isso. Se o garoto da sacada sumiu, foi porque ele se cansou da vista que tinha.

 

 


Notas Finais


Dedico essa fanfic maluca pra ~mioongy e também pra todos os chansoo shippers do site ^-^


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