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História O Garoto da sacada - Park alguma coisa


Escrita por: taeyeol

Notas do Autor


Boa leitura ~

Capítulo 2 - Park alguma coisa


 

 

Eu tinha me esquecido do quanto eu amava a palavra "férias". Falando sério, eu achava que as férias escolares demoravam pra chegar, mas mal sabia eu que, depois que eu crescesse e arranjasse um emprego, ouvir essa palavra maravilhosa se tornaria ainda mais difícil. Sem problemas, agora o fim do ano já tá perto e tenho direito á duas semanas de férias — isso porque trabalhei em alguns feriados no decorrer do ano. Administrar uma empresa de entretenimento não é fácil nem quando se tem ajuda de outros administradores. Esse é um emprego recente e meio pesado em vista dos que já tive, mas é ele quem ta fazendo a minha situação melhorar. Isso mesmo, daqui alguns meses pretendo comprar um carro. Mas, por enquanto, o jeito é andar por aí de metrô.

Saí um pouco atrasado, deixando o café da manhã pra mais tarde e fazendo o nó da gravata no caminho, mas não faz mal. Tive que correr pra não perder o metrô, se eu não entrasse naquele vagão eu chegaria muito tarde na empresa, e isso sim faz mal. Quase fui pego pela porta automática, mas consegui entrar inteiro. Esse é o tipo de aventura que eu enfrento no meu dia-a-dia. Como sempre, fui em pé e espremido por conta da lotação. De manhã, as coisas nas estações de metrô se transformam em algo parecido com jogos vorazes, consigo imaginar as pessoas correndo pra pegar as armas e matar os outros competidores pra conseguirem um espaço no vagão. Seria engraçado, não?

Depois de seis estações de pé e com o bom humor, com o qual eu tinha acordado, já pela metade, finalmente minha estação estava perto. Eu estava tão ansioso pra sair daquele aperto que as portas pareciam piscar pra mim. Então, antes mesmo delas se abrirem quando o vagão parou, eu o vi através do vidro. O garoto da sacada.

Tudo foi muito rápido. Ele estava no meio de uma multidão de pessoas, mas eu conseguia vê-lo e ele também podia me ver ali, já que estava me encarando de volta. Não sei dizer qual era a sua expressão, ele só estava ali parado me olhando enquanto as pessoas passavam ao redor e o maquinista se preparava pra apertar o botão que abriria as portas do vagão no qual eu estava. As portas se abriram e eu, ainda perplexo por ter o visto ali tão aleatoriamente, continuei parado piscando freneticamente, achando que aquilo fosse alguma brincadeira de mau gosto da minha mente fértil. O caminho á minha frente ficou livre outra vez e eu procurei rápido pelo rapaz, mas ele havia sumido. Simplesmente não estava mais ali.

– Da pra você sair da frente?! – Irritado, um homem barbudo praticamente gritou, por eu estar bloqueando a passagem.

Acatei o pedido andando imediatamente enquanto procurava pelo garoto alto, mas foi inútil. Ele já deveria estar longe.

Fiz meu caminho rotineiro até a empresa, mas, dessa vez, meus pensamentos estavam presos à ele. O que diabos aquele garoto pensa que está fazendo? Depois do dia em que o velho louco me disse que só podia ser um fantasma, eu tive que refazer as minhas teorias sobre o meu amigo estranho. Pensei que talvez aquele apartamento não fosse a casa dele, pode ter conseguido a chave, pois o antigo — e morto — morador podia ser amigo dele. Então, quando sente saudades, ele resolve visitar a bagunça do falecido e foi assim que acabou me vendo e gostando das roupas legais que uso enquanto leio — das roupas, óbvio. Mas aí algo aconteceu e ele não pôde mais ir até o apartamento. Basicamente, é isso.

Agora, depois de meses, ele aparece do nada na estação de metrô e, quando me vê, some. Será que ele é tão tímido assim, á ponto de fugir no meio de uma multidão de trabalhadores atrasados? Talvez fosse. Não vou julgar. Quando eu era mais novo, meu nível de timidez era tipo isso aí que ele tem. Só depois das aulas de teatro é que eu aprendi que é besteira me privar das partes boas da vida, que são os imprevistos — quer dizer, imprevistos também podem ser ruins, mas nada que existe é totalmente bom afinal. Tentei não pensar mais no assunto, toda essa história já tinha chegado ao fim pra mim. E sabe, não foi nada difícil esquecer, já que meu trabalho exige mais do que eu tenho.

O dia demorou a passar e, aquela metade de bom humor que eu tinha, caiu até chegar a números negativos. Falo sério. Quando deu a hora exata, eu juntei as minhas coisas e me apressei para ir embora, temendo que a pessoa que eu abomino aparecesse. Talvez eu esteja sendo exagerado e talvez a palavra certa não seja “abominar”, mas digamos que eu não quero falar com essa pessoa hoje — e nem em nenhum outro dia, se for possível. Antes de sair da sala verifiquei o corredor, só por precaução. E, com toda a delicadeza — que me falta —, fechei a porta devagar pra que não fizesse barulho e chamasse a atenção dos meus colegas de trabalho nas outras salas. Comemorei mentalmente quando comecei a andar e ninguém apareceu, mas o sentimento de alívio durou pouco.

– Kyungsoo? – Era ela. A pessoa.

– Hyonlee! – Me virei para encará-la enquanto sustentava um sorriso falso no rosto.

– Você já tá indo, né? – Me encarava um tanto tímida, como sempre. – Que engraçado, a gente não se viu durante o dia inteiro.

– Pois é, como é o último dia, eu tive bastante coisa pra fazer hoje. – Isso não foi mentira. – Então, eu já vou.

– Espera! Eu queria saber se, agora nas férias, você topa sair comigo e, talvez, com uns amigos também.

– Ah... Eu vou viajar durante as férias. – Agora sim foi mentira. – É mesmo uma pena.

– Não, tá tudo bem. – Sorriu desanimada. – Você ta bonito hoje! Quero dizer, não só hoje, todos os dias, eu...

– Você também tá sempre muito bonita, mas eu tenho mesmo que ir agora. – A abracei rapidamente e deixei um beijo em seu rosto. – A gente se vê depois das férias!

Eu sei, fui um babaca. Eu não devia ter dito aquilo e nem ter dado um abraço nela, muito menos um beijo, mas é que eu não consigo acabar com as esperanças dela desse jeito. Não fiquei pra ver, mas aposto que ela surtou quando percebeu que eu a havia beijado. É por isso que eu não gosto de me encontrar com ela. Quando Hyonlee me lançar aquele sorrisinho triste, eu sempre vou ceder e fazer alguma cagada que vai dar forças pra ela me chamar pra sair outra vez, daí eu vou dispensar ela e tudo vai se repetir. O pior é que não existe um problema, ela é muito bonita e gentil, mas só não me atrai o suficiente. Além do mais, quando o assunto é quente, eu prefiro me aventurar com homens e não com mulheres.

Voltando pra casa, igual á todos os dias, refiz meu caminho de metrô. Mas, por algum motivo, hoje eu sentia como se toda a áurea das ruas estivesse diferente. Já é fim de ano, o ar está um tanto gelado e, apesar de muitos acharem que tudo fica mais melancólico com o frio, isso me deixa um pouco mais alegre e agitado do que eu geralmente sou — ou, talvez, seja apenas a felicidade em saber que tenho duas semanas inteirinhas de férias para fazer exatamente nada. Enquanto andava pra casa, querendo me aquecer debaixo das cobertas e assistir á um bom filme, eu quase podia ouvir as teclas de um piano tocando uma melodia relaxante ao fundo. Subi as escadas praticamente dançando ao som da música imaginária que tocava em minha cabeça. O cheirinho do chá quente e as almofadas do sofá confortável que comprei há poucos meses, eram meus planos para a noite. Rodei a maçaneta da porta e quanto mais o interior do meu apartamento se revelava, mais arrependido de ter voltado pra casa eu ficava.

– Oi – Ele sorriu, mas logo o sorriso se desmanchou. – Pela sua cara, acho que você tá assustado... Mas olha, fica calmo!

E, pela primeira vez, ouvi a voz dele. Grossa e doce, diferente do que imaginei — essas palavras soaram estranhas, mas não existe outra forma de explicar como a voz dele é. Eu continuava parado na entrada, segurando forte a maçaneta, como se minha vida dependesse dela. Nervosismo, ansiedade, medo e a realização de um dos meus desejos acontecendo ao mesmo tempo, como é que eu continuo vivo?

– Como você entrou aqui? – Franzi o cenho com a esperança de que o intruso também se sentisse intimidado. – Você tem me seguido até o trabalho, não é?

– Você consegue me ouvir! – Não sei se foi apenas o reflexo da luz, mas seus olhos chegaram a brilhar. Parecia feliz e impressionado ao mesmo tempo com o simples fato de eu ter respondido. – Porque você não entra pra gente conversar, hm? – Escondeu as mãos nos bolsos da blusa de frio que, apesar dele ser bem alto, ficava um pouco grande pra ele.

– Eu... Eu não confio em você. – Respondi querendo fechar a porta e sair correndo de volta pra rua. – Quero saber o que você tava fazendo na minha casa e também quero que você sai-

– Não! Por favor, não termina essa frase! – Gritou e esticou os braços fazendo um sinal de pare com as mãos. E é óbvio que eu me assustei e recuei alguns passos, soltando a maçaneta na mesma hora. Minha imagem de homem corajoso foi por água abaixo.

– Você tem algum problema especial? Precisa de ajuda? Quer que eu ligue pros seus pais ou algo assim? – Eu não falei com a intenção de soar engraçado, eu realmente queria saber o que ele tava fazendo ali. Dentro da minha casa.

– Não. – Bufou. – E sim, preciso da sua ajuda.

Não perguntei mais nada, apenas continuei de pé o encarando.

Então quer dizer que o garoto é real, afinal. Eu já tinha começado a pensar na possibilidade de eu ter que marcar um horário com meu antigo psicólogo por estar tendo alucinações, e sim, eu tava acreditando nas palavras daquele velho de que se tratava de um fantasma que veio do além pra me assombrar. Até parece. Enfim, essas duas coisas eu já posso tirar da minha lista, só espero que ele não seja um maníaco ou um ladrão — o que eu suspeito que seja, pois ele já me seguiu hoje, então...

Ele levantou uma das sobrancelhas enquanto encarava minha expressão pensativa.

– Pode entrar! Eu não tô planejando assassinar você, se for nisso que sua mente tanto trabalha. – Colocou as mãos na cintura como se estivesse esperando eu fazer o que ele pediu.

– Isso é exatamente o que um assassino diria. – Mesmo receoso, tratei de entrar logo em casa.

Fechei a porta atrás de mim e fiquei ali. Ele também continuou de pé no meio do corredor que levava à sala. Não ousei me mexer, eu não ia me aproximar mais dele de jeito nenhum. Tenho quase certeza de que ele tem uma faca ou uma arma. Esse rosto bonito e inocente não vai me passar pra trás.

– Vem – Andou sumindo pelo corredor, como se a casa fosse dele. – É melhor você se sentar porque a história é longa.

Assim que fiquei sozinho comecei a procurar por algo que eu pudesse usar como arma, claro. Que situação mais complicada, eu quero conhecer o cara, mas, ao mesmo tempo to morrendo de medo dele. Qual é o problema dele invadindo a minha casa desse jeito? Mesmo que eu descubra algum dia, não interessa quem ele seja de verdade, ele sempre vai ser um cara anormal pra mim. Bati o olho no meu guarda-chuva, o peguei e, acendendo as luzes do apartamento, fui até a sala procurando pelo intruso.

– Como você se chama? – Ele perguntou meio distraído. Estava olhando alguma coisa pela porta aberta da sacada.

– Do Kyungsoo. – Deixei minha bolsa no sofá e, sem soltar o guarda-chuva, continuei de pé mantendo uma distância que julguei ser segura.

– Eu sou Park alguma coisa, eu não me lembro. – Desviou o olhar do lado de fora e parou em mim. – Qual é a desse guarda-chuva?

– Você não se lembra do seu próprio nome? – Ri sem humor.

– É, e se quiser saber, isso é frustrante.

– Vou ser sincero e direto com você, Park sei lá do quê...

– Eu disse “Park alguma coisa”. – Praticamente sussurrou.

– Não interessa! – Suspirei impaciente. – Olha, eu até queria te conhecer, a gente ficou meses nos vendo pela sacada e tudo mais, mas eu to vendo agora que você tem algum problema grave e eu não sou a melhor pessoa pra cuidar desse tipo de problema que você tem. Então você pode sair da minha casa, ou eu vou ter que chamar a policia?

O garoto, que agora sei se chamar Park, ficou me encarando sério e boquiaberto por alguns segundos. Agradeci ao deus que realmente existe, por eu ter o assustado ou só por tê-lo feito parar de se sentir á vontade, como se pudesse entrar na casa dos outros sem dar satisfações. Então, um minuto depois, minha imagem de ‘homem coragem’ desceu pelo ralo mais uma vez. Ele começou a rir repentinamente, como se o que eu tivesse dito fosse algo idiota de se dizer. Me segurei pra não quebrar o guarda-chuva das costas do idiota.

– Espera, você tava interessado em mim? – Ainda rindo, ele teve que se sentar no sofá e colocar as mãos na barriga pra tentar se controlar. – E o que você acha que a policia vai fazer?

– Você é corajoso nesse nível? Então espera só... – Peguei minha bolsa jogada no sofá e comecei a procurar pelo meu celular.

– Ei, não faz isso, eles vão achar que você tá maluco.

Secando as lágrimas que começavam a cair por conta dos risos, ele se levantou vindo até mim. Me afastei largando a bolsa e levantando o guarda-chuva, tive que bancar o ator e fazer a expressão mais intimidadora que eu conseguia.

– Kyungsoo abaixa isso, você não pode encostar em mim. – Disse sem medo algum da ameaça que eu fazia.

– Tá duvidando? – Ele se aproximava aos poucos e eu me afastava.

– Deixa eu te mostrar uma coisa...

Fui obrigado a parar de me afastar quando senti a parede atrás de mim. Só fingi que eu ia acertá-lo com o guarda-chuva — de qualquer maneira, eu nem teria coragem mesmo —, mas ele nem se assustou, apenas deixou escapar uma risadinha. Se ele fosse um assassino eu, provavelmente, já estaria morto, mas ele não é.

Ele parou de dar passos quando já estava á um braço de distância. Então uma de suas mãos veio lentamente em direção ao meu rosto, ele não tinha uma expressão má e nem parecia querer me fazer mal e, acho que, só por isso, não fugi. Deixei que ele me mostrasse o que queria e notei que conforme a mão dele se aproximava do meu rosto ela ia desaparecendo. Era algo surreal e muito assustador, eu fiquei paralisado. E, quando a mão dele chegou numa distância que pudesse me tocar, ela já não existia mais.

 

 



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