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História O Garoto da sacada - O "Fantasma"


Escrita por: taeyeol

Notas do Autor


Boa leitura ~

Capítulo 3 - O "Fantasma"


 

 

E, quando a mão dele chegou numa distância que pudesse me tocar, ela já não existia mais.

Tive que parar um pouco pra conseguir digerir o que tinha acabado de acontecer. Eu não disse nada, apenas me afastei daquele garoto — ou seja lá o que ele for — e fui pro meu quarto já não me importando mais com minha preocupação inicial, que era um estranho ter invadido a minha casa.

Soltei a sombrinha, que até o momento eu ainda segurava, a jogando em qualquer canto. Não sei por que, mas eu só não conseguia ficar parado. Eu não estava tremendo, o que seria normal de acontecer numa situação dessas, mas parecia que meu nível de adrenalina estava nas alturas. Eu podia ouvir as batidas do meu coração. Comecei a andar de um lado para o outro, tentando achar uma explicação plausível pelo que vi com meus próprios olhos.

– Tenho certeza que a mão dele desapareceu, eu tenho certeza! – Sussurrei com a esperança de que aquilo fosse me acalmar, mas o efeito foi contrário.

Ele é um fantasma. O velho do apartamento tinha razão, apesar de eu ter certeza de que ele estava apenas tentando ser engraçado naquele dia. Espera... Eu estava começando a me interessar por um fantasma, qual é classificação que dão pra isso? Fantasmossexual? Enfim, eu não sabia que ele era, eu não sou fantasmossexual — se é que isso existe. Isso é inacreditável. Eu, realmente, não sei se prefiro que seja apenas fruto da minha imaginação ou se é melhor que fantasmas existam de verdade.

O que será que ele quer comigo? Pelo que eu sei, essas entidades costumam aparecer quando ainda tem dívidas com alguém ou algo parecido. Não que eu saia fazendo maldades por aí, mas eu não me lembro de ter feito mal pra alguém que já morreu. Eu não to devendo nada também. Então ta tudo bem, o fantasma só deve ter se confundido. Vou sair desse quarto, ir conversar com ele, como uma pessoa normal faria — se é que pessoas normais conversam com fantasmas — e ele vai perceber que errou de vítima, então ele irá embora, me deixando em paz. É isso aí.

Respirei fundo, com medo de acabar tendo uma parada cardíaca, e saí do quarto pronto para o que aconteceria. Não vou mentir, mesmo não tendo crenças, eu rezei bem rapidinho pedindo que aquele cara não estivesse mais na sala de estar, mas, como eu previ, foi perca de tempo. Estava sentado no sofá, batendo um dos pés no chão ao som de alguma música que não estava tocando e sempre olhando pra fora da sacada. Quando o vi, meu estado de pânico interno voltou e sem querer esbarrei na minha estante de livros, derrubando alguns. Ele olhou pra mim na mesma hora, parecia ter se assustado — que loucura, eu assustando um fantasma.

– Tudo bem? Já tá mais calmo? – Ouvi a voz dele e tive vontade de voltar pro quarto imediatamente. Agora entendo porque ele ficou tão impressionado por eu ter o escutado, ele ta morto.

– Na verdade, não tô não. – Me abaixei recolhendo os livros rapidamente.

– Eu sou tão assustador assim?

– Ainda pergunta? – Cruzei os braços e preferi ficar de pé, eu não queria me aproximar dele. – Olhando, você parece ser muito real, mas eu vi o que acontece quando você chega perto de mim.

– Mas eu sou real, não fala besteira. – Balançou a cabeça negativamente.

– Você não é um fantasma? Então que tipo de truque foi aquele?

– Eu sou, quer dizer, eu não sei – Coçou a cabeça, parecia perdido como quando teve que dizer o próprio nome. – Pelo que entendi, eu tô em algum lugar entre o céu e a terra.

– Tá... – Semicerrei os olhos, como se fizer isso fosse me ajudar a entender. – Olha, eu não acredito nesse lugar entre o céu e a terra porque eu não acredito que o céu exista e também não acredito em fantasmas.

– Sabe, não faz sentido algum você não acreditar. – Riu um pouco. – Eu tô aqui falando com você!

– Não mesmo Park, eu tenho certeza que você é fruto da minha imaginação.

Ele se levantou do sofá assim que terminei de dizer aquela frase e voltou a se aproximar de mim, recuei alguns passos, mas percebi que ele não vinha em minha direção. Parou na frente da estante de livros e me encarou com uma expressão de impaciência, então ele empurrou um dos livros até que caísse no chão.

– Sua imaginação consegue derrubar objetos?

– Como você fez isso? – Me afastei um pouco mais. O sentimento de medo misturado com o nervosismo voltou. – Você não pode encostar em nada!

– Você tem razão, isso é uma coisa perigosa de se fazer – Disse pensativo e se calou por um breve momento só para continuar a falar um pouco mais animado. – Mas foi só pra você acreditar no que eu to dizendo, eu preciso da sua ajuda.

– Tudo bem, mas primeiro volta lá pro sofá, não chega perto mim. – Ele riu, provavelmente, da minha cara, enquanto atendia o meu pedido. – Fala o que você quer.

E, depois de insistir que eu me sentasse também, o Park começou a falar. Ele contou que não tem muita noção de tempo, então usou “um tempinho atrás” pra se referir ao dia em que a confusão começou. De acordo com ele, tudo aconteceu rápido e de repente. Disse que acordou no meio de uma estrada deserta e que, naquela época, ainda sabia quem ele mesmo era. Ficou assustado e pensou que estivesse ficando louco quando todos á sua volta o ignoravam. Depois de uma longa caminhada até a cidade, ele voltou a pedir ajuda às pessoas, mas, então, quando ele tentou encostar alguém para chamar sua atenção, sua mão transpassou a pessoa. Daquele mesmo jeito como ele fez questão de me mostrar.

Disse que, quando entrou em desespero, começou a se esquecer das coisas. Se esqueceu da vida que tinha, se esqueceu na ultima coisa que aconteceu antes dele acordar no meio de uma estrada deserta e por fim esqueceu o próprio nome. Quando já estava prestes a perder a sanidade, contou ter encontrado alguém que conseguia vê-lo e os dois até podiam conversar, mas o rapaz também era um “fantasma” e estava preso entre o céu e a terra, como ele. Foi esse mesmo amigo dele que o explicou o que estava acontecendo. Foi através dele também que o Park soube que, se estava entre o céu e a terra, significava que ele ainda não tinha morrido, mas que provavelmente iria, se ele não encontrasse o próprio corpo.

É aí que eu entro na história. Park falou que ele consegue sentir quando está perto de algo familiar, algo que já foi dele um dia. Por isso ele conseguiu encontrar o próprio apartamento e lá ficou por algum tempo, tentando achar alguma pista de onde o corpo dele poderia estar ou até mesmo saber o próprio nome, mas já que, por ser um fantasma, seus recursos são limitados, não achou nada muito significante. Disse que no dia em que desistiria do apartamento para tentar procurar em outros lugares, ele me viu na sacada. Falou que o motivo por ter me observado por tanto tempo era que ele precisava de uma certeza de que eu estava mesmo vendo ele ali. Segundo ele, já aconteceu de algumas pessoas dizerem que viram vultos e, na verdade, era apenas ele tentando pedir ajuda. Então, num daqueles dias da sacada, eu ri das gracinhas que ele fez pra mim e aquela foi a confirmação. Naquele dia ele descobriu que eu conseguia vê-lo.

– E porque demorou tanto pra vir me procurar? – Perguntei já envolvido e até um pouco maravilhado com aquela história incrível.

– Eu não demorei... Demorei?

– Quase seis meses e, se seu vizinho tava certo quando falei com ele, acho que já vai fazer dois anos que você ta morto.

– Eu não tô... Espera, dois anos? – Foi a vez dele de se desesperar. – Eu não quero morrer, eu não posso morrer!

– Então é melhor você fazer alguma coisa.

– Kyungsoo, por favor, você tem que me ajudar! – Pulou pro sofá menor, onde eu tava sentando.

– Eu disse pra não chegar perto! – Me levantei. – E como eu posso ajudar? Eu não sou nenhum policial investigativo pra ficar procurando corpos por aí.

– Você pode me ajudar a achar pistas no meu apartamento, tem alguns papéis lá.

– Mas você pode tocar nos objetos, não é? – Cruzei os braços só pra passar uma imagem mais autoritária.

– Posso, mas isso me enfraquece. Quando ultrapasso os limites espirituais, meu corpo fica mais fraco. – Passou as mãos no próprio cabelo jogando os fios escuros para trás. Assustadoramente bonito. – Eu preciso de você, você é a única pessoa que eu encontrei que consegue me ouvir e me ver.

Deixa eu ver se entendi bem. Hoje de manhã eu acordei e tudo estava maravilhosamente normal, até esse garoto “fantasma” me seguir no caminho ao trabalho. Então agora, que eu cheguei em casa depois de um dia cansativo, ele vem com um papo de que eu tenho que ajudá-lo a achar o corpo dele que, já que ele não tem ideia, pode estar em qualquer lugar do mundo, sendo que tudo o que eu queria era um banho quente, cobertas macias e um bom filme. Tudo bem, tranquilo.

– Desculpa, mas acho que não vai rolar. – Comecei a andar a fim de ir até a cozinha fazer algo pra que minha fome passasse. – Pode continuar aí se quiser, eu vou marcar um horário com um médico pra saber o que ta acontecendo comigo.

– Você não pode simplesmente sair assim!

Ele gritou e eu ia, mas nem tive tempo de me assustar. Senti uma falta de ar repentina e, pra não cair, tive que me apoiar nas paredes do corredor. Então, Park apareceu na minha frente.

– O que você fez? – Assim que consegui respirar normalmente, perguntei assustado. – Nunca mais faça isso!

– Me desculpa, eu não queria – Parecia arrependido e até fez menção em tentar me ajudar, mas acho que ele se lembrou do pequeno detalhe: Ele é um “fantasma”. – É um caso de vida ou morte...

– Eu já disse que não vou me envolver nisso! – Gritei e, desviando do “fantasma” á minha frente, continuei meu caminho.

– Eu tô pedindo, por favor! – Choramingou. – Então só... Só vai até o meu apartamento e procura meu nome naqueles papéis, é logo aqui do lado, não custa nada.

Primeiramente, admito que adorei ouvir toda aquela história. O desespero do protagonista e os personagens secundários, tudo estava incrível. Mas, na minha opinião, fazer parte desse universo maluco não seria tão divertido. Além do mais, eu tenho minhas férias pra aproveitar, descansar é mais importante que salvar a vida alguém. Quero dizer, só nesse caso, que, provavelmente, é fruto da minha imaginação. Amanhã eu vou acordar e perceber que foi apenas um sonho... Ou pesadelo.

– Você tá me pedindo pra invadir um apartamento, eu tenho cara de quem faz uma coisa dessas por acaso? – Perguntei, já sem paciência, enquanto pegava um dos pacotes de biscoito no armário.

– Não é invasão, eu sou o dono do apartamento e autorizo que você entre lá. – Veio andando do corredor até estar comigo na cozinha.

– Claro, explica isso pras pessoas não mortas.

– Eu não to morto! – Elevou o tom de voz. – E, se você me ajudar, vai poder ver.

Park é tão bom ator quanto eu. Seus olhos estavam cheios d’água, parecia que ia chorar á qualquer momento. Me encarava com esperança de que eu fosse ceder e topar ajuda-lo, mas isso tudo não é tão simples. Eu nem sei se o que ele diz é verdade, e, nem sei se ele realmente existe ou sou eu que to ficando louco — se bem que ele tem razão, minha mente não pode derrubar livros.

– E como eu vou entrar lá? – Me arrependi de ter perguntado, mas as palavras já tinham saído.

– Tem uma chave mestra. – Abriu um sorriso assim que notou que eu estava concordando em ajudar. – Uma que abre todas as portas do prédio, ela fica na recepção.

– Você acha que, se eu pedir, eles me entregaram a chave? – Tentei ser otimista.

– Acho que não... – Mordeu o lábio inferior, parecia pensar no que fazer. – O meu vizinho pode pegar pra você.

– Ele não vai fazer isso.

– Fala meu nome e diz que é um caso de vida ou morte.

– Esse é seu argumento pra tudo, não é? – Ouvi ele concordar com um resmungo.

Terminei de comer meus biscoitos enquanto minha ficha, de que eu estava ajudando um suposto fantasma, ainda caia. O Park não calou a boca por um momento sequer, estava fazendo um roteiro do que eu faria pra conseguir a chave e o que procurar quando eu estivesse dentro do apartamento. Ele insistiu mais algumas vezes, dizendo que eu deveria ajudá-lo um pouco mais que só indo até o apartamento dele vasculhar, mas, quando me irritei, ele desistiu. Ele parece tão real que, mesmo tendo descoberto toda a sua história agora á pouco, ainda me esqueço de que ele é um fantasma. Isso tudo é tão estranho.

Eu já estava no andar do apartamento do Park e, na hora, até pensei em desistir, mas o babaca começou a dar um show de drama, como havia feito na minha casa. Então, com raiva, eu decidi que faria aquilo de uma vez e apenas bati na porta do senhorzinho, pra que eu pudesse dormir em paz naquela noite. No fim, o plano merda que o Park fez, deu certo. Eu comecei dizendo ser um amigo de longa data da família Park e inventei na hora que a mãe do falecido garoto pediu que eu buscasse alguns documentos importantes, mas que, só quando ela tinha ido embora, é que se deu conta de que não tinha me entregado a chave, então, meu último recurso seria a chave mestra. Claro, levou mais algum tempo pra que ele acreditasse na minha história, mas, quando pareceu se cansar, desceu as escadas e pediu a chave mestra na recepção.

Agora vem a parte fácil.

 

 


Notas Finais


Espero que todo mundo esteja gostando até aqui... Até mais ^^


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