História O garoto da última casa - Especial Halloween - Capítulo único.

Jimin estava em pé no meio da sala de sua casa, enquanto sua mãe arrumava sua saia preta por cima da meia calça listrada em amarelo e preto. Quando a criança de sete anos revelou que queria passar o Halloween vestido de bruxinha, no primeiro momento seus pais haviam ficado muitos surpresos. Não que vissem problemas nisso, apenas acharam que a criança iria querer se vestir de coringa ou vampiro pois era a moda do ano. Mas logo saíram em busca de alguma loja que tivesse a tal fantasia do jeito que Jimin queria.

 

Naquele ano, no condomínio que moravam, os moradores resolveram deixar as crianças saírem de casa em casa dizendo a frase clichê: Gostosuras ou travessuras. Jimin desde o dia anterior estava ansioso, havia se planejado para ir em todas as casas e pedir doces. Na sua lista, estava um tópico em especial. Pela primeira vez, tomou coragem para tentar conversar com o garoto da ultima casa.

 

O garotinho que dava medo em todas as crianças do condomínio.

 

— Você esta lindo, meu amor. - A mulher sorriu ainda ajoelhada no carpete felpudo em cor bege. — A botinha não esta incomodando? Não esta apertando seus dedos na parte da frente?

 

— Não. - Jimin sorriu. Iria responder algo a mais, mas calou-se assim que escutou a porta da sala ser destrancada. Era o seu pai, e em sua mão estava uma sacola.

 

— Oi. - O homem sorriu, retirando seus sapatos no hall do cômodo.

 

— Oi, querido. Achou o chapéu de bruxa?

 

— Achei e foi caro porque comprei separado. Fui em três lojas para achar um chapéu mais bonito. - O DongHae aproximou-se de seu filho, ja retirando o item do plástico. Jimin sorriu largo ao ver aquele chapéu, ele era grande e possuía a ponta dobrada para trás. Esticou a mão para tocá-lo, era felpuldinho. — Você gostou?

 

— Sim! - O menor respondeu, ainda olhando o objeto. Ele até possuía uma espécie de cinto ao redor. Esperou que seu pai o colocasse em sua cabeça, e então, olhou com expectativa para a sua mãe.

 

— Você esta lindo. - Ela disse enquanto sorria. Afagou a bochecha macia e redonda do filho e levantou-se. Sentiu uma pequena pontada de dor na sua coluna, resultado de estar sentada horas e horas na frente do laptop tentando terminar de escrever seu livro. — Eu vou pegar a cesta.

 

Enquanto ela ia em rumo da cozinha, foi a deixa para o pai do menor se agachar em sua frente.

 

— Lembra das regras, filho?

 

— Sim, pai.

 

— E quais são?

 

— Não sair do condomínio, não falar com ninguém que seja fora do condomínio, apenas pegar os doces e não entrar na casa de ninguém.

 

— Exatamente. - Sorriu. — Esta faltando uma.

 

Jimin fez uma fofa careta, tentando capturar a lembrança de volta.

 

— Ah! Se eu ver um carro saindo da garagem, tenho que sair de perto.

 

— Isso aí. - Ele sorriu, arrumou o chapéu da criança...mesmo que não precisasse de mais ajustes.

 

— Aqui está. - A mãe entrou na sala, estendendo o cesto para o filho. — Há um recipiente aí dentro, fiz cupcakes com rostinho de abobora. É para dividir com o Jungkook, certo?

 

— Posso comer umzinho?

 

— Pode não, só quando estiver com o seu amiguinho. -Riu. Olhou para o relógio na sala, e ele mostrava ser seis e quarenta e três da tarde. O céu lá fora ainda estava pintado de laranja, pronto para receber o azul escuro da noite. — Meu amor, vá logo. Não quero que fiquei até tão tarde la fora.

 

Jimin balançou a cabeça freneticamente, afirmando que iria para a rua do seu condomínio. Deu um beijo molhado na bochecha da sua mãe e do seu pai, e logo correu de forma desajeitada até a porta. Assim que saiu, viu seu amigo Taehyung também sair de sua casa e ir correndo até a sua. Ele estava vestido com uma espécie de roupa preta com o desenho de esqueleto na frente, a cima de sua cabeça, tinha uma mascara de caveira.

 

— Jiminnie!! - O garotinho sorriu quadrado. — Vamos começar logo a pedir doces!.- Mostrou sua cesta, ainda vazia. — Vamos na casa da senhora Lee primeiro?!, ela disse que comprou varias balas com recheio!.

 

— Agora não dá, Taetae. Eu vou na casa do Jungkook primeiro.

 

— O garoto estranho? O que você vai fazer lá?.

 

Jimin ficou pensando alguns segundos, nem ele sabia ao certo.

 

— Ah, vou perguntar se ele não quer sair para pedir doces também...

 

— Eu queria ir com você, mas a mamãe me disse que tenho que pedir os doces logo porque mais tarde vamos ir em um festival que vai ter no colégio da minha irmã. Ela disse que vai ter até zumbis!

 

— Então você não vai poder brincar comigo hoje? - Jimin fez um bico nos lábios fartos e vermelhos. Poxa, que traição. Planejou a noite todinha para bagunçar com o seu amigo e agora ele disse que não ficaria ali por muito tempo.

 

— Desculpa, Minnie. Nós podemos brincar amanhã! - Sorriu mais largo, tentando animar o amigo. — Podemos brincar ali no parquinho.

 

— Promete? - Jimin estendeu o dedo mindinho, como sempre fazia quando prometiam uma coisa um ao outro.

 

— Prometo. - Taehyung entrelaçou o seu ao dele. — Eu preciso ir Minnie, senão fico sem doces. Tchau! - Ja corria para longe, acenando freneticamente.

 

Jimin apenas suspirou meio desanimado, queria muito que Taehyung ficasse ali com ele para poder brincar e pedir doces. Jogou os pensamentos de lado e foi andando pela rua, a mesma estava molhada, fazendo com que sua bota fizesse barulho quando entrava em contato com ela. De manhã havia chovido, ficou feliz que isso não durou muito.

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O pequeno de cabelo castanho bateu na porta verde timidamente, ficava olhando para algumas aboboras que tinham de enfeite ali no chão para tentar aliviar o nervosismo. Não conhecia nenhum deles.

 

Escutou um click vindo do lado de dentro, viu a porta se abrir de forma rápida e deu um passo para trás. Uma mulher alta o olhava com um sorriso no rosto.

 

— Oi pequeno. Ah!, você veio pegar doces, não é?

 

— E-eu... na verdade...- Sentiu as bochechas esquentarem. — O Jungkook está aí?

 

Ela logo arregalou os olhos, deixando uma expressão de surpresa lhe tomar a face. Ficou uns segundos processando a informação...

 

— Você... é amiguinho dele?

 

— Não. Mas... eu queria o conhecer. Ja falei e brinquei com todas as crianças do condomínio, mas nunca falei com ele. Ele sempre foge.

 

A mãe de Jungkook mordeu os lábios de forma nervosa, sabia muito bem porque Jungkook fugia. Seu menino sentia vergonha e ficava triste quando as outras crianças apontavam para si, por isso o menor quase não saia de casa. Ficou um tempinho pensando, quem sabe aquela não seria uma ótima oportunidade para Jungkook fazer um amiguinho.

 

— Vou chamá-lo. Entra.

 

Jimin negou com a cabeça.

 

— Meu pai disse que não posso entrar na casa de estranhos.

 

— Oh! E ele está certíssimo. - Sorriu compreensiva. — Eu ja volto.

 

Jimin apenas segurou com mais força a alça de sua cesta, estava nervoso. Nunca ficava assim quando fazia um amiguinho novo, mas Jungkook era diferente... porque ele nunca falava com ninguém e quase não saia de casa. Enfiou a mão na cesta, e de lá, tirou o recipiente quadrado que possuía os cupcakes alaranjados.

 

Será que Jungkook gosta de cupcakes?

 

Levantou a cabeça rapidamente quando sentiu que alguém estava ali.

 

O garoto chegou perto do batente da porta timidamente, apertava a manga do casaco preto que usava. Jimin, assim que olhou bem para o seu rosto... ficou em choque. Prendeu a respiração e deixou que seus lábios ficassem entreabertos, deixando Jungkook extremamente sem graça.

 

No rosto dele, ao lado direito, as cicatrizes tomavam conta. Sua pele era repuxada e pálida. Jimin ficou um bom tempo olhando, até que viu que o garoto a sua frente estava incomodado com isso.

 

— Er... Oi. - Jimin tentou abrir o seu melhor sorriso, e como consequência, seus olhinhos se fecharam e as maçãs do rosto ficaram avantajadas. Abriu a tampa do recipiente e com as duas mãos, estendeu. — Você quer?

 

Jungkook piscou três ou quatro vezes, olhava de forma confusa para Jimin. Estava nervoso por dentro, muito nervoso. Nenhuma criança do condomínio havia ido falar com ele ou lhe oferecer coisas. Bom... até agora. Olhou para baixo, vendo os cupcakes alaranjados com desenhos de abobora por cima.

 

— Quero...- Ele disse de forma tímida.

 

— Pega.

 

Jungkook o olhou mais uma vez, Jimin era mais baixo do que si e estava muito bonitinho vestido de bruxa. Ainda nervoso, esticou a mão e pegou um cupcake do meio. Aproximou aquela delicia da boca e mordeu.

 

— Esta gostoso? - Jimin perguntou animado. — Minha mãe quem fez. Ela também fez um bolo de chocolate com cerejas!.

 

O garoto mastigava lentamente, aproveitando o sabor. Jimin falava demais.

 

— Esta muito gostoso. - Ele disse e ensaiou um sorriso.

 

— Você quer sair e pedir doces comigo?

 

—Ah...E-eu...acho melhor não. - Jungkook deu um passo para trás, querendo a proteção do seu quarto novamente.

 

Jimin apenas franziu a testa e deixou que um bico tomasse seus lábios.

 

— Porque não?

 

— As outras crianças ficam rindo de mim. E ficam falando coisas...

 

— Por quê?

 

Jungkook apenas apontou para as cicatrizes do seu rosto.

 

— E eu também não tenho uma fantasia.

 

Jimin o ficou encarando. Era muita maldade das outras crianças, sua mãe sempre lhe disse que jamais, jamais poderia rir de forma maldosa de alguém. Mas seu pai completou com um... '' A não ser que alguém mereça''. Achava que Jungkook não merecia.

 

— Por favor, vem comigo. Podemos pensar em alguma fantasia e... Ah!, ja sei!. - Abriu um grande sorriso, se achando um gênio pela ideia que teve. — Você ja esta de moletom preto, é só colocar o capuz e fingir que é a morte.

 

Jungkook ficou um tempo o encarando, estava nervoso com a ideia de sair pelo condomínio. Sabia que as outras crianças também estariam indo de porta em porta para pedir doces. Mas... não queria desapontar Jimin, ele foi a primeira pessoa que foi chamá-lo e ainda lhe ofereceu cupcake. Não queria que Jimin lhe achasse sem graça.

 

— Tudo bem. Eu... vou falar com a minha mãe.

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O céu ja estava escuro, deixando que algumas nuvens cobrissem a lua. Jimin andava quase saltitando ao lado de Jungkook, o menor tinha um lindo sorriso no rosto. Jungkook estranhava aquela animação toda, estava acostumado com coisas calmas.

 

Estava sentindo-se desconfortável da maneira que estava '' fantasiado''. Trajava uma calça preta, moletom preto com o capuz na cabeça e abaixo dos olhos sua mãe havia passado uma sombra escura. Mas não poderia negar, estava se divertindo como há muito tempo não fazia. Ele e Jimin passaram em quase todas as casas pedindo doces, Jungkook até mesmo foi elogiado pela sua fantasia.

 

Riu bastante quando bateram na porta da casa dos Min. Yoongi, o adolescente quase legal, deu doces mas disse que Halloween era coisa de gente idiota. Mas o loiro pagou com a língua e quase enfartou quando seu namorado Hoseok saiu do carro vestido de abobora gigante.

 

— Eca. - A voz de uma garotinha se fez presente. — Olha o rosto dele.- Disse, apontando para Jungkook.

 

Os dois logo pararam de andar e olharam para três pessoas a sua frente. Uma garotinha loira estava acompanhada por mais dois garotinhos. E em suas faces, haviam caretas estampadas.

 

— Isso é de verdade mesmo? - Um deles falou. — É muito feio.

 

— É por isso que ninguém quer brincar com você? - O outro perguntou, mesmo dizendo isso de forma inocente... o tom que usara pareceu maldoso demais.

 

Jungkook apenas deu um passo para trás e abaixou a cabeça. Sentindo-se mais uma vez feio e esquisito, as outras crianças não gostavam de chegar perto de si por conta da sua cicatriz grande demais. Achavam que era contagioso. Mas não era, Jungkook apenas havia se machucado com a agua quente que estava em uma panela em cima da pia.

 

— Minnie, vem brincar com a gente. - A garotinha disse, mostrando um sorriso doce e querendo levar o outro para brincar com os demais.

 

— Eu posso levar o Jungkook-ah também? - Perguntou animado.

 

— Não, Minnie. Ele é muito estranho. Se você ficar perto dele... pode pegar esse negocio que ele tem no rosto. - Jun-Suh, o menor dos três falou.

 

Jimin franziu o cenho, ficando bravo.

 

— Então eu não vou! E ele não é estranho, ele é legal e mais legal que vocês! - Apontou para eles. — E é melhor saírem daqui ou eu vou chamar o meu pai e contar tudo. Ele é delegado! - Falou alto e com orgulho, seu pai era delegado, podia muito bem prender aqueles três por eles serem maus.

 

As outras crianças apenas saíram correndo de perto dos dois. Achando que Jimin realmente chamaria seu pai que era da policia.

 

— É, é melhor correrem mesmo! - Gritou para as crianças que ja estavam quase longe. — Ele é meu amigo e ele é doido!

 

Jungkook, que estava atrás de Jimin, apenas ficou surpreso pelo seu dongsaeng ter lhe defendido e ainda falado que ele era seu amigo. Sentiu-se feliz, Jimin o considerava seu amigo...Park Jimin, o garotinho do condomínio que todas as crianças gostavam e o achavam legal.

 

— Jungkook-Ah, não liga para o que eles disseram, tudo bem? - Jimin aproximou-se de si e segurou a mão do seu Hyung. — Você é muito legal, não é estranho.

 

— Você... você não me achava feio por conta do meu rosto? - Jungkook perguntou baixinho.

 

— Não! - Deu um sorriso largo, deixando que seus olhos se fechassem. E para provar, o menor se aproximou mais e lhe deu um beijinho molhado em sua bochecha por cima da cicatriz. — É só um machucadinho, todo mundo se machuca.

 

O moreno sentiu sua bochecha esquentar junto com as orelhas, ficou feliz por saber que Jimin não sentia nojo de si. Ainda havia ganhado um beijinho!. Por conta desse momento, veio uma lembrança em sua mente junto com as palavras de sua mãe: '' Fazemos isso quando queremos dar o maior gesto de carinho para a outra pessoa''.

 

Com esse pensamento e um sentimento feliz, Jungkook apenas abaixou a cabeça e selou seus lábios com os de Jimin. Apenas um leve contato inocente. Logo se afastou e pode ver o rosto do menor um pouco vermelho e surpreso.

 

— Você é a pessoa mais legal do mundo, Minnie. - Sorriu.

 

O Park ficou o encarando por um tempo, mas deixou que um sorriso largo tomasse seus lábios. Segurou a mão de Jungkook e começou a correr em direção a sua casa, lembrou-se do bolo que sua mãe fizera mais cedo e queria que Jungkook comesse com ele também.

 

Enquanto corria, ainda sentia um leve formigar em seus lábios. Mal sabia que no futuro iria sentir mais vezes essas sensações...

 

Graças ao garoto da ultima casa.