História O garoto de Etéreos (Yoonmin) - Comutar

O ar chegava a me faltar, o calor que sentia era como o inferno. Meu travesseiro estava imerso nas gotas de suor que não cessavam de escorrer por todo o meu corpo. Levantei-me e corri até o banheiro retirando o pijama completamente encharcado também. Um bom banho morno tiraria de mim aquela sensação horrível que sentia. A princípio foi isso que eu pensei.

—O que acha que está fazendo?—. Perguntei para o reflexo no espelho que ainda estava embasado pelo vapor do chuveiro, eu sabia do que se tratava e não deixaria isso se prolongar.

—O que você acha? É tedioso aqui dentro. Me deixe brincar um pouquinho—. Disse o anjo que tanto me importunou a noite passada.

—Achei que estivesse morto, estava muito feliz sem te ouvir por todos esses dias—. Passei as mãos pelo cabelo, arrumando os fios que estavam grudados na testa.

—É tão chato o fato de que você não usa mais seus poderes. Por que você é assim Jimin? Hun?—. Desviei o olhar do reflexo como se desviasse a atenção do anjo. Eu não queria ouvi-lo, não agora que tudo estava bem. Tanto para mim quanto para Yoongi, Tae e Hoseok.

—Por favor, só volte a fingir que não existe. Eu tenho aula daqui a pouco—. Saí do banheiro determinado a ignora-lo mas o desgraçado do anjo insistia em tentar tomar o controle do meu corpo e a cada passo era um espasmos e uma parte do corpo se batendo contra algum móvel. Me arrumei rapidamente ainda com dificuldade e desci as escadas com a bolsa nas costas e o jaleco branco, não desistiria de ter um dia normal só para satisfazer os desejos desse demônio incubado.

—Jiminnie-ah está tudo bem?—. Hobe perguntou assim que me pus a sentar na mesa em sua frente.

—Está sim—. Virei a jarra de suco no copo ainda sentindo o anjo tentar assumir o controle, o que fez com que um pouco do suco caísse sobre a toalha bordada da Sra.Jung. —Está calor hoje não acha? Estamos no inverno, é quase natal. Deveria estar nevando a essa altura—.

—Jimin, você está bem mesmo? Está quatro a baixo de zero hoje e não parou de nevar a noite toda—. Encarei a janela baixa que nos presenteava com a vista do pequeno jardim em frente a casa, onde agora todas as pequenas plantas, flores e a grama baixa era coberta por uma camada média de neve branquinha. Soltei um sorriso forçado tentando parecer o mais normal possível mas Hoseok não parecia ter engolido nada daquilo.

—O que há Jimin? Você e o Yoongi quebraram algo de novo lá em cima? Por que está tão nervoso logo cedo? —. Ele me enchia de mais perguntas enquanto tudo que eu queria fazer era voltar para cama e fingir que isso não estava acontecendo. Respirei fundo xingando o infeliz do anjo e toda a linhagem de sua família, se é que ele tinha uma.

— Nós não quebramos nada e eu já me desculpei pela pia do banheiro, até quando vai jogar isso na minha cara?—. Dei um gole no suco e o observei atentamente enquanto um sorriso malicioso brotava nos seus lábios.

—Talvez quando vocês pararem de fornicar no meu banheiro de visitas. Sabe o quão difícil foi inventar uma história pros meus pais? E você nem mesmo me ajudou—. Falou indignado enquanto terminava seu café escaldante.

—Mas Yoongi pagou a sua pia, não fique nos julgando por isso ainda—. Hobe abriu a boca para se manifestar mas se calou ao ouvir a campainha. Me levantei indo até a porta deixando o moreno sozinho com toda aquela comida.

—Estão prontos?—. Yoongi perguntou logo depositando um selo sobre meus lábios. Usava um casaco grosso em um tom claro, diferente das cores escuras que sempre usava. O frio deixava suas bochechas rosadas e nem mesmo o cachecol que ele usava conseguia esconde-las.

—Sim estamos—. Disse após observar todo o lindo ser em minha frente e lhe oferecer o meu melhor sorriso.

—Aonde estão suas roupas Park Jimin? Pretende sair assim?—. Yoongi passou a mão sobre minha testa e sentindo o quanto estava gelado e suando me segurou pelas bochechas. —Minnie, você está doente? Acho melhor ficar por aqui essa manhã—.

—Eu estou bem e não posso faltar hoje, de jeito nenhum—. Segurei suas mãos sobre minhas bochechas que nesse momento estavam sendo esmagadas e o ruivo permaneceu olhando em meus olhos com suas orbes vermelhas e profundas. Mesmo com a lente ainda era presente a cor por trás do castanho. Hobe me entregou um casaco grosso junto com o resto de meus pertences e saímos de casa.

(...)

—Jimin?—. Ouvi me chamarem e em seguida puxadas frequentes em meu braço, virei-me e encarei Jungkook que parecia preocupado.

—Ah, Jungkook. O que foi?—.

—Você parece distraído hoje, nem mesmo respondeu a chamada. Está tudo bem?—. O garoto deu um sorriso simpático e afastou a mão do meu braço.

—Acho que é só um resfriado. Esse tempo acaba comigo—. Devolvi o sorriso e ele assentiu voltando a ler o livro em cima de sua mesa. —O que temos para hoje?—. Ele direcionou o livro em minha direção e apontou para uma das páginas.

—Sistema cardiorrespiratório—. Falou animado voltando o livro para a mesa. Me virei procurando o livro em minha bolsa mas o bendito parecia ter saído dali.

—Droga, eu jurava que havia o colocado aqui—.

—Quer dividir comigo?—. Perguntou o moreno já se aproximando. Jungkook era muito simpático e educado, pelo menos comigo ele sempre se mostrou assim. Assim que cheguei ele me ajudou a conhecer o prédio e mesmo hoje ele continua ajudando.

—Obrigado—. Falei focando no livro mas antes que eu pudesse terminar de ler a primeira linha o anjo decidiu brincar novamente comigo.

—Jimin-ah, vamos lá. Pare de tentar me impedir você sabe que hora ou outra eu vou sair—.

Olhei ao redor disfarçando a vontade que tinha de xinga-lo. Estava demorando para que ele aparecesse novamente e me importunasse, mas não hoje, não nessa aula e não perto de todas essas pessoas.

—Jimin...—. O anjo soltou como um sussurro que me fez arrepiar por inteiro, ele era bizarro mesmo ainda sendo parte de mim.

—Você não sente isso Jimin? O poder que sai do seu colega de classe?—.

O que esse idiota estava falando? Que poder? Jungkook era humano, eu tinha certeza. Não havia ninguém mais humano do que ele nessa sala. Olhei de relance para o moreno que transmitia uma áurea tranquila e despreocupada ao meu lado e me voltei ao livro.

—Do que você está falando? Cale a boca—. Falei num sussurro para que nem mesmo Jungkook ouvisse.

—Pare de agir como um humano idiota Jimin, apenas sinta e verá o que estou dizendo—. Desde quando esse anjo se tornou tão cheio de autoridade assim? Ah sim, desde sempre. Jungkook nunca mostrou nenhum comportamento estranho aos meus olhos, em todas essas semanas sempre fora alguém relativamente normal, algo que eu tentava transparecer também, mesmo sendo difícil. Me virei novamente para Jungkook e me surpreendi ao notar que o mesmo já me olhava.

—Você falou comigo?—. Perguntou simplista.

—Ah não, não. Estava falando comigo mesmo. Desculpe—. O garoto continuou me encarando e eu prossegui com o contato também mesmo parecendo não aguentar por muito tempo, o anjo dentro de mim me forçava a continuar e então finalmente eu pude sentir. Jungkook exalava algo forte, era quase como o que eu sentia em Yoongi. Autoridade, poder, vingança e maldade. Via claramente em suas orbes que não deixaram de me surpreender ainda mais quando mudaram de um castanho escuro para um negro sem fim. Meu corpo se ergueu sem meu consentimento, estava sendo controlado pelo anjo agora.

—Quem é você?—. Falei em um tom alto fazendo todos da sala se voltarem a mim e a Jungkook. Eu gostaria de parar o anjo e se pudesse esgana-lo eu também faria, mas além de tudo eu também estava curioso sobre o moreno. Toda aquela escuridão me deixou fascinado e horrorizado, como não percebi essas sensações antes?

—Está tudo bem ai garotos?—. Ouvi a voz de meu professor e assenti sem ao menos olhar para ele. A força que me consumia segurou no braço do outro a minha frente e o fez levantar e seguimos arrastando o corpo alto para fora da sala.

—Jimin está resfriado, vamos para a enfermaria. Não se preocupe professor—. Disse Jungkook sendo puxado por mim, ou mais especificamente pelo anjo.

—Só irei perguntar mais uma vez. Quem é você?—. A voz saiu firme e assustadoramente forte, fazendo-me estremecer mesmo que só fazendo parte de sua consciência agora.

—Eu não sei do que está falando Park Jimin. E você está me assustando. Vamos para a enfermaria por favor, o resfriado é pior do que eu imaginava—. O garoto se virou e começou a andar tentando puxar a mim que permaneci estático no corredor. Em um movimento rápido o anjo segurou Jungkook pelo moletom que usava e o ergueu levando seu corpo a parede e o prensando na mesma.

—Jimin por favor me solte eu não sei de nada por favor!—.

Por um milésimo de tempo eu senti uma angústia enorme mas não era o mesmo que o anjo sentiu ao erguer a mão e deferir um soco no moreno que desacordou. Meu corpo foi tomado por uma onda de calor e eu pude sentir as mãos soando as pernas tremendo e os braços sem força, havia enfim voltando ao controle.

—Ótimo, você faz as merdas e deixa para mim tomar conta?—. Falei me juntando ao corpo do garoto no chão.

—Não confie nele Jimin, não confie mais—. A voz ecoou em minha cabeça fazendo tudo girar. Fique calmo Jimin, fique calmo. Fechei os olhos e respirei por um momento. Tomei forças para levantar e tentei fazer o mesmo com Jungkook mas seu corpo alto era mais pesado do que parecia. Olhei pelo corredor e segui o arrastando. Já me sentia em um crime daqueles mal planejados no momento.

—Você é um idiota, o que eu faço agora!—. Soltei ainda arrastando o pobre corpo.

—Ai meu Deus!—. Uma garota gritou no fim do corredor me fazendo correr para o banheiro sem encara-la.

—Por que está cuidando do corpo dele? Apenas corra e o deixe ai—. Disse o anjo rindo alto em minha mente.

—Você só pode estar me zoando não é—. Puxei o celular do bolso e liguei para Yoongi. Uma, duas tentativas e finalmente ele havia atendido.

—Você precisa vir até o banheiro do segundo andar do meu prédio. Por favor eu preciso da sua ajuda—. Desliguei sem nem ouvir sua resposta. Isso com certeza o deixaria assustado mas não tanto quanto eu estava. E se alguém entrasse no banheiro e me visse com um corpo estirado no chão? Céus eu não quero ser preso. O calor tomou meu corpo novamente e eu me vi voltando a não ter controle algum sobre mim mesmo.

(...)

—Deixe-me ver se entendi, você suspeitou do garoto, tirou-o da sala e o desacordou. Então saiu arrastando o corpo dele pelo corredor até aqui?—. Yoongi não parava de rir enquanto Tae permanecia com os braços cruzados na porta.

—Você não vê o quanto isso é sério? Jimin está sendo controlado fora dos muros, tem noção do que o anjo pode fazer aqui fora? Isso é terrível—. Tae se aproximou de meu corpo e apontou o dedo em minha direção. —Você, por que está controlando ele assim? O deixe em paz —. O anjo riu, riu alto como Yoongi ria alguns segundos atrás. Subitamente parou e analisou Taehyung.

—Eu não sou uma criança, não me trate como uma. Aliás, isso não é culpa minha. O meu desejo de controla-lo existe sim mas não fui eu quem fez a troca dessa vez—.

—O que quer dizer com isso?—. Perguntou Yoongi se aproximando também.

—Quero dizer que isso está fora de controle desde a hora que ficamos preso nos olhos daquele maldito—. Ele apontou para onde o corpo de Jungkook estava já que agora o mesmo se encontrava na enfermaria. O anjo estava certo, a princípio achei que estava mantendo o controle mas após a primeira troca, ainda na sala, percebemos que estava ocorrendo a todo o tempo mesmo contra nossa vontade. Não temos ideia do que Jungkook é e o que ele fez mas sabemos que é poderoso.