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História O Garoto do Sonho - Shawn


Escrita por: matheusvillegas

Capítulo 2 - Shawn


Estamos no último fim de semana de julho, consequentemente meus últimos dias de férias, ainda não consigo acreditar que tudo na minha vida mudou tão rapidamente, ainda não esqueci do meu irmão, ainda não me familiarizei com São Paulo, ainda não acredito que vou entrar em uma turma completamente nova – em pleno quinto período. Já irão existir laços de amizade, panelinhas, os grupos que se odeiam... Minha mãe entra no quarto sem bater e me tira desse devaneio depressivo.

- Bom dia querido.  

       Ela já está arrumada para o trabalho em seu jaleco tão branco quanto seus dentes.

- Bom dia doutora Júlia.

- Eu e o seu pai já estamos indo para o hospital, infelizmente não poderemos vir almoçar, tem dinheiro em cima da mesa da cozinha, qualquer coisa é só ligar ok?

- Mãe hoje é domingo! Quem trabalha em pleno domingo?

- Médicos! – diz ela de maneira categórica, beija a minha testa e sai do quarto.

       Sim, médicos. Já estava acostumado com toda essa rotina dos meus pais, não podia cobrar nada deles, sempre se esforçaram ao máximo para nos educar, ir aos eventos e reuniões escolares, estar presente no dia a dia, e pelo visto trabalhar ajudava eles a não pensarem tanto no João, foram dias insuportáveis depois do acidente, não havia sequer um dia que não os via chorar. Eu também chorava, não na frente deles, queria demonstrar que eles poderiam contar comigo para qualquer coisa. O fato é que já havia passado de um mês que a mamãe falava no João sem derramar uma lágrima, isso era ótimo, a mudança deu certo ao que parece. No entanto cá estava eu, em pleno domingo sozinho em casa, e com fome, muita fome.

       Não tinha nada pronto na cozinha, a preguiça de misturar o achocolatado em pó no leite era tamanha que decidi tomar café na padaria da esquina, também não podia descartar a possibilidade de encontrar meu vizinho por aí de novo, fazia mais de uma semana que não o via, aquilo já estava me deixando estressado.

       Voltei do café e nada do garoto. Já passava das duas horas da tarde quando decidi encerrar minha maratona Game of Thrones para almoçar, mas não queria comer nada saudável, queria comer porcaria, foi então que tive uma das melhores ideias da vida. Comecei a fazer brigadeiro, não pra mim e sim para os vizinhos, ia deixar em uma caixinha no canto da porta de cada um, além de se tornar amigo da vizinhança era mais uma chance de ver o meu vizinho – que honestamente, começava a achar que tinha mudado de apartamento. Terminados e embalados os brigadeiros, escrevi um bilhete de saudação com um final maroto dizendo: “espero que nossa convivência seja tão doce quanto esses brigadeiros”.

     

. . .

 

       Acordei com o barulho estridente do despertador, era hoje o grande dia, minha volta às aulas, tomei café e fui direto para o banheiro, não conseguia decidir o que vestir, eu precisava causar uma boa primeira impressão, essa era a primeira chance que tinha desde que cheguei na cidade de me aproximar de alguém, fazer amizades. Como estava frio escolhi uma camiseta branca e coloquei uma jaqueta de couro por cima, vesti uma calça jeans preta e calcei o meu all star branco que já estava quase amarelo.

- Vamos logo Miguel, se você não sair em um minuto vai de metrô, ônibus ou sei lá o que! – berrou meu pai.

- Já estou pronto seu Fernando. – falei com um tom de deboche e dando o sorriso mais falso do mundo. Odeio que me apressem.

- Garagem. Carro. Trânsito. Agora. – enfatizou ele, estalando os dedos apontando para a porta.

       Eu já sei dirigir, eu tinha um carro, eu tenho vinte anos de idade, mas depois do acidente do João meus pais simplesmente decidiram me tomar ele, no início eu não contestei a decisão pois entendia do que se tratava, mas isso precisava ser discutido novamente, logo!

- Mãe muda essa estação de rádio pelo amor de Deus.

- Não, preciso saber como anda o trânsito quando estiver voltando já que essa sua faculdade é na puta que pariu. – resmungou meu pai.

- Se eu estivesse de carro isso não seria necessário. – disse num resmungo tão baixo que parecia mais um pensamento.

       Ligo a playlist e começa a tocar Better Days do Edward Sharpe, esse celular me entende. Chego na universidade, é bem  maior do que a minha anterior, e pelo visto a busca pela sala que estou locado esse semestre vai ser grande também.

- Com licença, você pode me dizer onde fica o bloco E? – pergunto a uma moça de cabelo rosa.

- Claro, é pra lá que eu vou. – ela sorri e começa a andar.

       Estamos andando a quase sete minutos sem trocar uma palavra.

- Me chamo Miguel. – tento quebrar o silêncio.

- Legal Miguel, meu nome é Alice, você é crente?

- Como assim? – retribuo a pergunta confuso.

- Tipo... de igreja sabe? – ela não para de sorrir.

- Ah, evangélico você quer dizer! Não, não sou. Por quê?

- Miguel, o nome do anjo de Maria não é? – ela para, olha para um papel que tem em mãos, depois volta o olhar para o meu rosto e sorri novamente.

“É doida, minha primeira conversa com alguém que não é nenhum dos meus pais nessa cidade é com uma doida!”

- Aqui, chegamos. – ela toma o papel que tenho em mãos. – Sortudo, vai ficar no térreo, eu fico no quarto andar.

- Hã, então, obrigado Alice, vejo você por aí?

- Claro. Ah aqui, toma um presente de boas-vindas. – ela me entrega um pedaço de bolo de chocolate enrolado em papel filme que tirou de dentro da mochila.

- Obrigado. – não sei o que fazer, provavelmente isso é um bolo de maconha o que explica esse comportamento dela.

       A garota de cabelo rosa sai correndo e me dando tchau, até que ela cai no gramado, levanta e continua a se despedir, olho para trás e tenho a certeza de que ainda é comigo. Depois que ela some de vista guardo o bolo dentro da mochila e entro na minha sala.

       Esse é um momento importante, a escolha do meu lugar, tenho que decidir rapidamente pois não quero que todo mundo perceba o novato entrando, por fim sento no fundo da sala. A turma é grande, e como já imaginava: panelinhas, amigos e etc. Olho a porta se abrindo novamente, e não consigo acreditar, é ele, o vizinho que sumiu.

“Caralho, ele tá vindo na minha direção, será que ainda me reconhece? Será que comeu os brigadeiros?”

- Com licença. – ele parou na minha frente. – Esse lugar é meu!

- Err me desculpa, eu... eu não sabia. – falo juntando as minhas coisas.

- Tudo bem, sem problema, é brincadeira. – diz ele gargalhando e se dirigindo a carteira atrás de mim.

       Que merdinha.

       Ouço ele cumprimentando algumas pessoas atrás de mim, até que o professor chega. Direito do Trabalho que ótimo, o primeiro dia da semana já começa com a pior matéria de todas.

       A aula se arrastou, mas felizmente acabou, meu vizinho não calou a boca nem por um segundo conversando com seus amigos, o que me desconcentrou e muito, a voz dele é maravilhosa, ele devia ser cantor e não cursar direito!

       Estou andando em direção ao ponto de ônibus quando ouço uma buzina, não olho para trás geralmente nunca é comigo, outra vez o barulho da buzina, continuo caminhando, novamente buzinam e decido olhar. Um carro prateado se aproxima e abaixa o vidro, é ele.

- Fala vizinho novo!

- Oi. – sorrio.

- Vai pra casa?

- Aham, e você? – chego mais próximo da janela.

- Também, quer uma carona? – ele dá um sorriso tímido.

- Não precisa, não quero incomodar.

- Deixa de bobeira, vamos para o mesmo prédio. – ele abre a porta do carona.

       Se ele diz que vamos para o mesmo prédio significa que ainda mora lá, o que me faz perguntar onde ele esteve esse tempo todo.

- Legal estudarmos juntos. – ele mantém os olhos fixos na rua.

- Sim, legal. – olho pela janela.

      Eu simplesmente não sei o que falar.

- Eu preciso falar uma coisa para você. – ele olha sério pra mim.

- O que foi? – meu coração tá quase parando.

- Essa carona, você vai ter que me pagar por ela, com uma coisa. – o semblante do vizinho fica ainda mais tenso.

- Então fala o que é, cuida! – outro doido que conheci, não é possível.

- Com mais brigadeiros daqueles. – ele gargalha.

- Ah, então é isso! Claro, sem problemas. – respiro aliviado.

- O que foi? Você achou que ia pedir para me beijar por acaso? – diz ele com desdém.

- Não, que é isso, claro que não. – ele é hetero, foi tudo fantasia minha, é visível o tom de decepção na minha voz, acho que ele não percebeu.

- Porque para me beijar eu preciso saber pelo menos o nome da pessoa sabe? – ele para no semáforo e olha nos meus olhos.

- Entendi. – sorrio. – O semáforo abriu.

       Ele continua, e um silêncio se instaura no carro.

- Meu nome é Miguel. – quebro o silêncio.

- Shawn, meu nome é Shawn.

“É o quê?”

       Chegamos no prédio, ele estaciona e partimos para o elevador. Novamente uma tensão se instaura na caixa de metal, estamos passando pelo terceiro andar, até que Shawn para o elevador.

- Bem, eu já sei seu nome.

Então ele me beija.


Notas Finais


Demorou mas chegou!

O próximo capitulo sai no domingo que vem 25/09/2016.

-Math.


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