Era fim de tarde, e ele estava parado na calçada, esperando sua dupla voltar. Na verdade, era mais um estorvo, mas Sasuke preferia não entrar em detalhes. A tarde estava quase quieta, considerando o seu normal, que geralmente se resumia a pessoas, pessoas, e mais pessoas passeando, correndo, E se atropelando naquelas ruas.
O moreno se perguntou onde diabos estava o outro, quando percebeu a repentina correria alheia. Algumas pessoas estavam andando mais rápido, se abrigando, outras abriam seus guarda-chuvas. Só percebeu que a chuva caia do céu quando seu cabelo começou a pingar, e ele se apressou em se refugiar dentro de uma joalheria. Os poucos funcionários que conversavam no canto do recinto o fitaram curiosos e uma moça se aproximou. Ele a dispensou displicente, como se não estivesse fazendo nada de errado e continuou fitando as gotas de chuva escorregando pelo vidro da porta.
Cinco segundos se passaram e já estava batendo os pés no chão impaciente. Não gostava de esperar ninguém, e se sentia tentado a ganhar as ruas novamente e deixar o paspalho para trás. Que se danasse! O loiro que rodasse sozinho. Mas mal deu dois passos em direção a porta, e um homem a escancarou do nada. Sentiu, mas demorou a perceber, o cano da arma frio, sendo esmagado contra sua testa.
– Anda! Anda! Anda! – O estranho gritou, apontando-a sobre si.
Só aí se deu conta do quanto suas pernas tremiam como dois bambus. O homem mandou que ele andasse até os outros, agora reféns, e o empurrou com força em direção a uma das paredes, esbravejando algo que Sasuke não ouviu. Afinal, acabara de se lembrar de respirar.
Ele ouvia alguma das mulheres chorando em desespero, um homem gritando e esmurrando coisas, outro tropeçava com a voz levemente sôfrega. Mas mais que tudo isso, o moreno podia ouvir claramente seu coração bater como um louco dentro do peito. Ele se perguntava, ainda que não admitisse, onde diabos estava Naruto.
E foi como se os céus ouvissem suas preces.
No segundo seguinte, ele avistou de relance uma figura conhecida se aproximar da porta. Quase sentiu alívio, mas então a imagem do loiro sendo baleado passou como um “flash” em sua mente, e um sentimento de agonia tomou conta de si. Queria gritar para que o outro se mantivesse longe, mas o loiro já tinha feito sua entrada triunfal no segundo seguinte, e foi como se tudo parasse.
Enquanto os funcionários se agitavam no lugar, Naruto se jogou como um louco em cima do meliante e os dois foram ao chão. A arma escorregou até o outro lado da sala, e os reféns gritaram em empolgação. Sasuke instantaneamente espalmou a mão no rosto, sem acreditar no que via. Não era de hoje que o loiro bancava uma de herói, e acabava ferrando os dois de uma vez. Mesmo sabendo disso, Sasuke não conseguia para de pensar que se o loiro não tivesse aparecido, quem sabe o que teria acontecido?
– Naruto, seu idiota! – Gritou o moreno, sem saber bem o que fazer.
– Você poderia parar de reclamar e vim me ajudar. – O loiro falou com dificuldade, tentando imobilizar o homem.
Sasuke não se sentia tentado a mover um dedo para ajuda-lo, mas ao ver que o ladrão quase alcançava a arma jogada no chão, o corpo do moreno se moveu sozinho. Correu desvairadamente, se jogando com as pernas abertas em direção ao objeto, chutando-o para longe bem no momento em que o bandido iria tocá-la. Ela voou para longe, e o moreno deu Graças a Deus pela mesma não ter disparado no processo, porém a sensação de alívio durou pouco, pois logo foi jogado no chão com força. Fitou a luz acesa acima de sua cabeça e só então sentiu falta dos gritos histéricos dos reféns.
Olhou em volta por alguns milésimos de segundo, e pensou, chocado: Os filhos da mãe tinham os deixado para morrer ali!
Agora só restara ele, o gatuno, e o loiro cabeça-oca, embolados em algum tipo de luta amadora. Estava perdido. Só restava agora rezar para que os espertinhos ao menos chamassem a polícia depois de terem fugido. Seus pensamentos foram cortados pela cotovelada que recebera no estômago, sentindo este se revirar. Não pode conter sua fúria e gritou, por cima da cabeça encapuzada do homem com o qual “lutava”.
– Naruto, seu usuratonkashi! Isso é culpa sua. Não tem uma vez que você não faça merda? – Gritou, rosnando.
– Seu mal-agradecido! Eu venho aqui te salvar e é assim que me trata? – Gritou o loiro de volta, enquanto dava uma chave de braço mal feita no ladrão.
– Você, me salvar? Olha a nossa situação! – Ele gargalhou em pura ironia, chutando a cara do homem.
Sentiu um arrepio ao ouvir uma voz que definitivamente não era a de Naruto.
– Vou matar vocês, podem acreditar! – O homem encapuzado rosnou, ameaçando morder seu tornozelo.
– Olha aqui o que você vai matar! – Naruto bradou, enfiando uma meia preta na boca do homem, que se engasgou logo em seguida.
Sasuke estava tão chocado com a cena que afrouxou o aperto no braço do homem, recebendo um murro na altura do ombro. – Ouch!
O ladrão jogou a meia fora, cuspindo no chão como um louco. Naruto gargalhava ás suas costas, com um lado do pé calçado e o outro descalço. O moreno não sabia se ria ou se chorava da situação em que se encontravam, recebendo a resposta no segundo seguinte.
O homem perdeu a cabeça de repente. Parece que a meia fedorenta do loiro foi muito para ele. Sasuke viu que aquele era o pior de tudo, e foi jogado com toda a força para o chão, escorregando até bater as costas na parede. Gemeu de dor e praguejou alguma coisa que nem ele mesmo entendera, focalizando aos poucos a imagem do homem imobilizando o loiro no chão.
– Sasuke! Você está bem? – Gritou o loiro, ainda que em pior situação que o moreno.
Queria esmurrá-lo por isso.
Pensou que tudo estava perdido, até ouvir rompantes vindos da entrada da loja e visualizar homens uniformizados e armados entrando. Suspirou instantaneamente, sentando-se com dificuldade no chão e vendo o homem ser tirado de cima de Naruto, que o moreno podia ver, ria da cara dele. O moreno revirou os olhos diante da atitude infantil do amigo, esperando que ele mostrasse a língua para o bandido, ou fizesse alguma dancinha da vitória ridícula.
E Sasuke podia se julgar conhecedor o bastante da personalidade do outro pra saber que ele faria exatamente isso. E bem, ele fez. O homem rosnou diante da “tiração de sarro” do loiro e ameaçou avançar sobre ele. Ele levantou no mesmo instante e avançou no loiro, segurando seus braços e tampando sua boca, logo abrindo um sorriso amarelo:
– Desculpe por isso. Sabe como é, retardados mentais. – Gargalhou sem graça. – Sem ressentimentos, não é? – Sorriu, e pensou em estender sua mão, mas tinha medo que o homem a arrancasse com os próprios dentes. Sasuke, na verdade, receava que aquele individuo fosse atrás deles com sede de vingança. Nunca se sabe, melhor prevenir do que remediar.
Assim que o homem foi levado, um policial foi encher o saco dos dois sobre prevenções e idas ao psicólogo. Sasuke quase riu daquilo, pois tinha se ido o tempo em que ele podia pagar alguma consulta no psicólogo decente. Eles poderiam falar com a tia do Naruto, mas era bem capaz de ela esmaga-los antes do fim da consulta apenas pelo fato de eles não estarem pagando-a.
Os dois, enfim, saíram do local do crime, passando ainda por várias vãs televisivas, carros da polícia e reféns sendo entrevistados. Sasuke observou um deles chorar em desespero para os microfones, e o moreno sentiu que podia apalpar o tédio mal disfarçado da repórter que o ouvia.
– No que está pensando? – Naruto perguntou ao pé de seu ouvido, e não pode evitar dar um pulo no lugar. Não gostava daquelas sensações estranhas que a aproximação do outro causavam em si.
Sua relação com o loiro desde o primeiro dia em que foram apresentados como colegas de trabalho, e agora parceiros, fora de estranheza. Nos primeiros dias, os dois viviam brigando entre si, e era assim até agora, a diferença era que aprenderam a se suportar. As coisas estavam “normais”. O problema foi quando Sasuke começou a reparar “coisas” no seu parceiro de trabalho. Como quando começou a procurar os seus olhos toda vez que falavam, ou como sempre queria saber o que ele estava fazendo quando não estava juntos, ou como reparava em cada pequeno movimento do outro a quase todo instante.
Isso acontecia muito, mais do que desejaria.
– Que susto! Não faça isso, dobe. – Falou, mal-humorado. De repente lembrou-se que eles tinham trabalho a fazer, e sentiu o calor dentro daquele terno aumentar. – Estamos perdidos.
– Que nada. Nós podemos alegar que fomos feitos reféns. – O loiro assumiu o lugar ao lado do moreno.
– EU fui feito refém, você foi um doido. – O moreno acusou, raivoso.
– Nem nos entrevistaram. Fomos nós que pegamos o bandido!
– Tanto faz, estou mais preocupado com o que vai nos acontecer quando Tsunade descobrir que não fizemos a entrega e... – Uma lembrança atingiu em cheio a mente de Sasuke. – Cadê o pacote que você foi buscar?
– Pacote? – O loiro riu sem graça.
– Não, você não fez isso.
– Fez o que?
– Você não perdeu o pacote né?
– Anh....
– Merda! Você é um dobe mesmo! Quero ver como vamos nos safar dessa agora. Estamos perdidos, completamente perdidos. Já era...Isso é culpa sua e-
Sasuke não sabia dizer com clareza o que aconteceu entre o segundo em que estava andando lado a lado com o loiro, e o que estava prensado entre a parede e o corpo do outro, tendo seus lábios esmagados pelos do mesmo. Mas se alguém algum dia lhe perguntasse qual foi a sensação, diria: Foi como se todo o meu corpo tomasse um delicioso choque.
E depois ele riria.
Quando percebeu, seus braços já rodeavam o pescoço de Naruto, e ele amassava entre seus dedos os fios loiros, os quais sempre teve uma vontade obscura de tocar. Sentiu as mãos dele descerem até a sua cintura e ali apertarem, como se não quisessem que ele movesse um músculo do lugar. Sasuke nunca havia sentido algo assim antes. O beijo era desejoso, mas ao mesmo tempo, tinha certa doçura. Naquele momento, ele soube que era perigoso beijá-lo.
Então sentiu as mãos dele avançarem por dentro de suas roupas, literalmente “entrando” em suas calças. Foi neste instante que um flash de sanidade piscou dentro da cabeça do moreno e ele percebeu que estavam se agarrando dentro de um beco, com a probabilidade alta de alguém passar e vê-los como dois pervertidos. Em um beco. Aquela hora do dia.
As palavras cadeia, delegacia, demissão e constrangimento invadiram a mente do moreno, e isso foi o suficiente para que ele se afastasse.
O loiro praguejou com a distância, mordendo os lábios do moreno antes de deixá-los por completo. Arfante, o loiro sussurrou: Você se preocupa demais.
Sasuke não conseguiu ficar com raiva, mas revirou os olhos como se estivesse descontente com tudo. Porém, Naruto percebeu, que sem afastá-los, o moreno continuava com as mãos espalmadas contra seu peito. Bem no fundo, ele sabia que o outro não queria largá-lo. Isso o agradava mais do que gostaria.
– Você vai ficar comigo agora não é? – Naruto perguntou, sorrindo marotamente.
– Anh? Não sei de nada disso. Eu acho que sou muito para você.
– Está muito convencido. Mas admito, é verdade. – O loiro deu um sorriso que perturbou o moreno por alguns segundos.
– Humpt. Isso não significa que vou ficar com você.
– Acho que tenho tempo pra te fazer entender. – Riu o loiro.
Sasuke não pode evitar sentir-se bem, e deu um sorriso mínimo, mas que foi o suficiente para fazer Naruto sorrir de orelha a orelha. O momento durou pouco, entretanto, pois Sasuke logo lembrou que tinham horário no trabalho, e estavam ferrados.
– Seu puto! Estamos ferrados! Vamos logo! – E puxou-o pela mão, gesto que nunca se imaginou fazendo, ainda mais com alguém como o loiro.
Sasuke, mesmo de costas, sentia o sorriso do outro perfurando suas costas. E bem, ele também estava sorrindo, mas se certificou de que o loiro não pudesse ver. Ele gostava de manter essas situações confortavéis. Enfim, quando chegaram ao prédio onde eram escravizados...quer dizer, onde trabalhavam, Sasuke sentiu que precisava dizer algo importante a Naruto.
– Dobe.
– Unh?
– Dá para tirar a mão da minha bunda?
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