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História O Homem sobre a Montanha - O Quinto Indivíduo


Escrita por: AMareliS

Notas do Autor


lá a todos! Como estão? Bem? Espero que sim!
Muitos adolescentes gostam de brincar com frases como "queria estar morta", "deus, me leva", etc. Não há nada de errado nisso, mas o que é abordado aqui é justamente a questão do suicídio de um forma um tanto diferente.

Quaisquer elogio, critica ou um simples "Olá" são muito bem vindos!

A história é de autoria inteiramente minha e plágio não é uma coisa legal, coleguinhas. Ela será postada também no Nyah!, se a encontrarem em qualquer outro site FAVOR AVISAR. A gerência agradece.

A capa é uma foto muito legal que achei por acaso... infelizmente não conheço o dono da mesma.

Espero que gostem, se quiser me mandar um "oi" estou aqui!

Capítulo 1 - O Quinto Indivíduo


Muitos o perguntavam o motivo para viver em um local tão desolado e perigoso, sem qualquer habitante por perto o idoso ficava a todo tempo vulnerável a pessoas mal intencionadas, solidão e a uma morte repentina e desconhecida, completamente apagada da história. Mas o senhor não se importava com tais fatos, pois o que o fazia sorrir e levantar todos os dias era única e simplesmente saber que poderia (talvez) salvar outra vida.

O cheiro do capim limão que forra a montanha sempre o recebe de braços abertos ao abrir a janela, a vista lhe é sempre bonita, mesmo nos dias de tempestade, pois ao olhar pelo vidro vê de um lado a imensidão verde de grama e poucas árvores, já do outro lado, o motivo pelo qual reside naquele lugar, um barranco direto ao mar. Essa era a última vista de várias pessoas, e esperava que também fosse a sua no tempo certo.

Caminha lentamente até sua cozinha, viver sozinho na montanha lhe mostrara que não há motivo para pressa, começa então a preparar seu café matinal. O cheiro do capim, graças à janela aberta, se mistura ao dos grãos de café sendo moídos. O homem se permite respirar fundo, apreciando calmamente o perfume que sentia todas as manhãs.

De repente, sente algo roçar sua perna, era Foxy, o cão havia sido abandonado por uma família há poucas semanas. O animal o encarava enquanto abanava o rabo de um lado para o outro pedindo atenção. Parando o que fazia, o idoso limpa suas mãos e abre o armário procurando a comida do canino, colocando seu contingente em um pequeno pote e depositando no chão. Conforme atendia ao pedido do cão, Foxy pulava alegre ao lado do novo dono, latidos enxiam o local geralmente silencioso, logo estava se satisfazendo devorando a comida que lhe fora oferecida.

Após o desjejum veste-se de forma mais arrumada, pegando algum dinheiro do pote de vidro da cozinha e as chaves, se despede de Foxy já na porta da pequena casa, sobe em sua bicicleta e parte em direção à vila mais próxima onde faria umas pequenas compras. Mas antes mesmo que pudesse se afastar mais que alguns metros da casa, percebe algo que já não acontecia há alguns meses.

Um carro vinha da direção oposta, rumo à queda livre do precipício. Sem pensar em mais nada, o idoso larga a bicicleta e corre em direção ao automóvel que para logo à frente. Um homem de aproximadamente vinte anos deixa o veículo, trajava vestes simples, uma calça jeans aparentemente puída com uma camiseta social cor-de-vinho, seus cabelos castanhos estavam bagunçados sobre sua cabeça, seus olhos estavam vermelhos e molhados, os lábios comprimidos e as sobrancelhas cerradas ele sussurrava para si mesmo repetidas vezes a frase: “Não aguento mais”. Suas pernas fraquejavam enquanto se dirigia à beira do penhasco, caminhando lentamente para sua morte.

–Espera! –O idoso grita logo atrás de si, mas o jovem parece não o ouvir, ele se ajoelha de frente à queda, fitando a água abaixo. Correndo ainda mais rápido o senhor consegue chegar perto o bastante para o outro o ouvir. –Espera pirralho! –Ele repete e finalmente o outro percebe sua presença, levantando a cabeça para ver quem falava, o idoso à sua frente se apoia nos próprios joelhos, recuperando o folego da curta corrida. –Qual seu nome? – Questiona entre golfadas de ar. O homem enxuga as lágrimas, se sentia humilhado ao ser pego chorando por outra pessoa, ainda mais outro homem. Ele não entende o motivo da pergunta, encarando o senhor um tanto desconfiado, mas responde mesmo assim ao ver o outro com a mão erguida, esperando um cumprimento.

–Harry. –Aperta a mão do idoso sem muita vontade após sentar, o outro se abaixa levemente para conversar consigo. Ainda sem entender o motivo para aquilo, queria simplesmente terminar com tudo ali. Acabar com sua dor e sofrimento que pareciam encobrir qualquer felicidade, até mesmo o céu azul sobre suas cabeças lhe parecia cinza, completamente sem brilho. De algum modo o canto dos pássaros não chegava a seus ouvidos.

–O que faz longe de Hogwarts, Harry? –O idoso sorri com a própria piada, conseguindo um sorriso fraco do outro, não sabia dizer quantas vezes tivera que lidar com tal piada. –Brincadeiras a parte, não gostaria de tomar um café comigo? –O sorriso do homem se fecha, ele encara as ondas se quebrando sobre o precipício de forma triste. Queria recusar, já aguentara a dor que carrega no peito por tempo demais. Sem que se desse conta lágrimas voltam a escorrer pelo seu rosto. –Tome o tempo que precisar, mas se não aparecer vou ficar triste... como posso eu beber café para duas pessoas? Posso acabar ficando com gastrite. –Por algum motivo, as falas daquele homem o acalmavam, o fazendo soltar uma risada anasalada. –Você não quer que eu fique com gastrite, quer? –Ele nega com a cabeça. –Então vem comigo garoto. –Ele ergue a mão direita para ajudar o homem a se levantar, a ajuda é aceita de bom grado, já de pé ele enxuga as lágrimas antes de seguir o outro até a pequena casa de madeira.

Ao entrar, o homem repara na simplicidade da residência, havia vários retratos do idoso com pessoas diferentes, tanto nas paredes quanto sobre os móveis. Percebe também o cão de pelugem negra que vem para cumprimentar o dono e cheirar o convidado, que se afasta com a repentina aproximação do animal desconhecido. O cão percebe o cheiro diferente do recém chegado e rosna desconfiado, não conhecia aquele homem.

–Foxy, não assuste o bom rapaz, ele parece estar tendo um dia difícil. –Como se fosse treinado, o cão se afasta com um ar triste, sumindo pelo corredor. –Pois bem, por que não me conta um pouco sobre você enquanto preparo o café? –Ele o segue até a cozinha e se senta em uma das duas únicas cadeiras que havia. A cozinha era simples, um pequeno fogão, a pia quase vazia, uma geladeira antiga que fazia um barulho estranho, armários velhos de madeira envernizada para parecer nova, a mesa também de madeira no centro e duas cadeiras, aquele homem não parecia receber muitas visitas.

–Não tenho muito a falar... –Ele pensa por alguns segundos antes de prosseguir. –Sou casado há alguns meses, –O idoso estranha a informação, Harry parecia jovem demais para ser casado. –mas não nos casamos por amor. Foi mais como uma travessura do destino, estávamos ambos bêbados em uma festa, nem nos conhecíamos, acabamos transando. Usei camisinha é claro, para evitar... Evitar o que acabou acontecendo de qualquer forma. –Ele abaixa a cabeça fitando os desenhos no pano branco que cobria a mesa. –Ela acabou engravidando e então nos casamos. Conviver com ela me enxia de dores de cabeça, mas eu aprendi a amá-la, aprendi a lidar com seus chiliques e manhas. –Ele respira fundo e percebe que o outro o encarava apoiado com as costas no armário, o café estava coando, preenchendo o local com seu cheiro forte.

–Mas...? –Ele o pede para prosseguir, suas mãos faziam movimentos suaves no sentido anti-horário, despejando devagar a água quente sobre o filtro do café, mas seus olhos não deixavam em momento algum de encarar por cima do ombro aquele que discursava.

–Mas certo dia, ligam para meu trabalho e recebo a notícia que havia acontecido um acidente com minha mulher, vou correndo ao hospital e... ela havia perdido a criança. –Ele enxuga os olhos como se novamente fosse chorar. –Comecei a chorar com a notícia, mas ela parecia feliz. Feliz em poder continuar sua vida sem problemas e responsabilidades, aparentemente eu era o único a ter aceitado o destino de construir uma família. E então, ela me contou com um sorriso no rosto que não foi um acidente, ela tinha pulado repetidas vezes na cama de barriga para baixo com esperança do “parasita” morrer. O “parasita” que eu já amava, na mulher que eu aprendi a amar. –Ele interrompe sua história graças aos soluços que começam a escapar de sua garganta. O outro não o encarava solidário como gostaria, sua feição beirava a indiferença, aguardando o término da história. –Em um momento de raiva a chamei de assassina. Expulsei-a da casa que estávamos morando, mas ela não entendia, achava que eu também queria continuar minha vida de jovem despreocupado. Implorou-me por perdão, mas eu não a ouvi. Sempre que me ligava eu a chamava de assassina e desligava, sem ouvir uma palavra se quer. Até que ligam outro dia para meu trabalho com outra notícia, minha ainda esposa, pois ainda não havíamos planejado o divórcio, tentara se matar. Novamente corri até o hospital e pude ouvir apenas as últimas palavras: “Me desculpe por roubar sua felicidade, me desculpe por matar nossa criança. Mas você me matou, é um assassino assim como eu sou, mas infelizmente eu nunca aprendi a te odiar.” –Ele soluça novamente, as lágrimas pingavam de seu rosto pálido.

Finalmente o café estava pronto, o idoso o serve em duas canecas, pega também um pote com biscoitos para dividirem. Logo pede para o outro prosseguir ainda imparcial, ele leva a caneca aos lábios, distraído com os contos e acaba queimando de leve a língua, passando a assoprar o conteúdo fervente.

–Essas notícias chegaram ao meu chefe, que disse que pessoas psicologicamente doentes não ajudam no desenvolvimento da empresa. Me vi completamente sem rumo ou futuro. Passei noites e mais noites em bares tentando esquecer, mas esquecer não ajuda a mudar os fatos. Resolvi então tomar uma providência drástica, por isso eu vim aqui... –Antes que pudesse finalizar sua frase é cortado pelo senhor.

–Por isso veio aqui tomar um café e bater um papo com este senhor de idade. –Ele mergulha um biscoito no café, mas o doce acaba se quebrando em duas partes, uma firme em sua mão, já a outra flutuava no líquido negro. Ele murmura xingamentos e abre uma gaveta próxima a si, retirando dali uma colher para retirar o indesejado de sua caneca.

–... Posso fazer uma pergunta agora? –Harry parecia um pouco melhor, o idoso apenas assente com a cabeça. –Por que mora tão longe de tudo? Ainda mais do lado de um penhasco? –O senhor aponta para o homem que o encara sem entender.

–Você é o motivo. –Harry pisca os olhos algumas vezes tentando assimilar a resposta, o outro o encara com um sorriso divertindo, percebendo que tentava entender o que fora dito. –Veja bem, você não é o primeiro a vir até aquela beirada com esse pensamento triste de... você sabe. Querer terminar com a própria vida. –O jovem sente o peito apertar ao ouvir as últimas palavras. –Tampouco você será o último, infelizmente. Vê essas fotos? –Ele aponta às fotografias nas paradas da sala ao lado. –São todas pessoas que vieram aqui com o mesmo propósito que você, mas com problemas diferentes: Falta de aceitação, vergonha, medo. Mas, após uma boa conversa, eles se acalmaram e mudaram de ideia, mesmo alguns tendo se passados anos, ainda me lembro dos nomes: Rosalina, Peter, Luana, Teddy, Doug, Brooke... –Seus olhos vagam de um lado para o outro enquanto recita alguns nomes. –No entanto, nem todos aceitaram meu café, nem todos mudam de ideia. Às vezes a dor é tão grande que nem mesmo conhecer um novo amigo pode acalmar o coração, é algo que pode acontecer, e já aconteceu mais vezes do que consigo contar...

–Então por que ainda insiste nisso?! Não é angustiante tentar salvar a vida de alguém, sendo que nem a mesma quer ser salva? Eu vim aqui com um propósito sim, não é uma conversa que apagará a dor.

–Insisto nisso, pois não creio que possa existir um momento na vida de alguém onde nada mais importa. A satisfação ao ver que consegui salvar alguém, fala mais alto que a dor em ter falhado. Pare e pense, eu não posso te impedir de pular, mas será que não há ninguém que ainda precise de você? Ninguém por quem ainda vale a pena estar vivo? Ou pelo menos algum sonho esperando para ser realizado? –Harry comprime os lábios tentando se impedir de cair em lágrimas novamente.

O homem arregala os olhos, mas nada responde. As lágrimas pareciam ter acabado, mas seu rosto permanecia na coloração avermelhada e as fungadas denunciavam sua tristeza. Não se lembrava de um dia que chorara como naquele, não se lembrava de ter sido salvo como por aquele senhor que nem ao menos sabe o nome. O idoso ampara o novo amigo e lhe pede uma foto para sempre se lembrar do rosto do homem que fora salvo. Harry o abraça, sussurrando inúmeros: “Obrigado senhor”. Nunca esqueceria aquele rosto enrugado, os fios brancos e levemente longos e os olhos elétricos como de criança.

O idoso procura sua câmera enquanto o homem aguarda na sala, observando todos os retratos com um sorriso triste no rosto, queria chorar novamente, mas agora não de tristeza, mas de felicidade. Aquele homem vivia em um lugar tão triste, foco de inúmeros suicidas, mas ainda assim conseguiu transformar aquilo em algo belo. Ele abria mão de viver próximo à família simplesmente para salvar vidas de pessoas que nem ao menos conhece.

Eles tiram a foto com sorrisos no rosto, Harry lhe dá outro abraço e agradece mais algumas vezes antes de finalmente perceber que ficara por tempo demais na casa do senhor que devia ter outras coisas para se preocupar. Harry dá a partida no carro e dá a ré por alguns metros até se lembrar de algo.

–Espera, você não me disse seu nome. –O idoso que acenava com a mão, se despedindo do outro abre um curto sorriso antes de responder em voz alta para o outro entender mesmo com o som do motor abafando sua voz.

–Lembre-se de mim apenas como “O homem sobre a montanha”. –Harry abre um sorriso, assim como não entendia muita coisa sobre o “velhote” também não entendia o motivo para não conhecer seu nome. Talvez por ser fã de livros juvenis, talvez por não precisar ser reconhecido por fazer o bem, talvez por não querer que se apegue a um nome. Mas o jovem nunca se esqueceria do apelido que lhe foi apresentado nem do cheiro de capim junto ao do café sendo coado. Principalmente, nunca se esqueceria do senhor que mesmo sem precisar, o salvara, assim como salvara várias outras pessoas, sem buscar nada em troca.

O homem sobre a montanha o observa desaparecer no horizonte com um sorriso satisfeito no rosto, havia salvado outra vida. Volta para dentro de casa e anota o nome: Harry. Na parte traseira da foto que tiraram, e também em um pequeno caderno, logo abaixo do nome “Victória”. Ao lado do nome desenha um círculo pequeno, indicando que conseguira o salvar.

Achei que não era mais capaz de salvar alguém... –Pensa sozinho enquanto encara que os últimos quatro nomes possuíam xises ao lado. –Acha que eu o salvei Harry? Foi você quem me salvou. ­­–Uma lágrima solitária desliza pelo rosto do idoso e pinga sobre o caderno. Há vários anos havia criado uma regra para seu “trabalho”, se fracassasse em salvar cinco pessoas em sequência teria de se matar da mesma forma que todos os outros. Mas não se sentia pronto para tal, tampouco levou a própria regra a sério, porém a dor de ver tantas pessoas se matarem, de fato o fazia querer levar aquilo adiante.

Obrigado Harry. –Pensa depositando o caderno antigo de folhas amareladas de volta à estante.


Notas Finais


Olá novamente!
Algo que gostaria de acrescentar sobre sua leitura? Alguma crítica? Algum elogio?... Por favor...?
Então, gostaria de saber que conclusões tiraram da história! :D Estarei aguardando vocês nos comentários!
xoxo


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