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História O Inferno é frio - Impasses e imprevistos


Escrita por: Hellebore

Capítulo 14 - Impasses e imprevistos


“ Não existem coincidências. O destino é uma mera poesia (no máximo uma figura de linguagem) e o final feliz – para nosso desencanto – nunca passou de uma utopia, derrotada por uma obcecada distopia.”

- Max Rocha

 

(Hermione Granger)

Às vezes, ao final da tarde, o céu se tingia de rosa e roxo. Esses tons se misturavam e coloriam a pálida pele do pescoço do loiro ao meu lado. Eu observava os hematomas à medida que uma fraca luz banhava o quarto, passando pelas claras cortinas. Pensamentos, nublados pelo estado de consciência intermediária de quando se acaba de acordar, passavam pela minha mente. As luzes borradas que eu via e uma sensação de peso e leveza simultâneos que eu sentia pelo meu corpo, me levaram a imaginar que Draco Malfoy possuía todas as cores do céu.

Pisquei forte para dissipar essa nuvem, e me mexi um pouco, fazendo com que o loiro me apertasse mais. Eu sentia calor. Estávamos sob as cobertas, minha perna estava jogada sobre a dele e seus braços me envolviam protetoramente. Era algo reconfortante e familiar, embora eu não soubesse exatamente o porquê. Olhei para Draco, que parecia dormir tranquilo. Tranquilo, adjetivo bem diferente do que era algumas horas atrás. Fechei os olhos. Sentia novamente seus lábios agridoces em minha pele, ora gentis ora intensos, suaves e selvagens. Malfoy me provocava, e era tudo o que prometia. Uma dor prazerosa que se espalhava pelo meu corpo não me deixava esquecer a noite anterior. E, confesso, foi uma das melhores que já tive. Você poderia me chamar de promiscua por ter transado com ele depois de tão pouco tempo, e eu riria. Não há nada de errado em satisfazer seus desejos imediatos, e como eu o tinha desejado. E ainda desejava. Ser promiscua não era minha preocupação.

Respirei fundo e abri os olhos. Observei por algum tempo as pálpebras do loiro, os cílios claros tocando a pele, e decidi não acordá-lo. Lentamente, me desvencilhei de seus braços, parando quando ele murmurou algo incompreensível e voltando a respirar quando ele se virou e continuou dormindo. Meus pés descalços tocaram o chão de madeira e tentei sair em silêncio, não me preocupando em vestir mais nada, apenas a blusa, que ainda tinha o cheiro de Draco.

Com uma última olhada, fechei a porta e caminhei lentamente pelo corredor. Um corredor um pouco escuro, com bifurcações. Parei, e pela primeira vez, pensei nos pais de Malfoy. Eles estariam em casa? Me esqueci completamente de  perguntar quando voltariam. Não que eu estivesse com medo de encontrá-los, mas encontrá-los seminua não fazia parte do meu plano de vida.

Pensei em voltar para o quarto, mas precisava ligar para Harry, e meu celular estava na cozinha, provavelmente. Isso seria rápido, Malfoy não acordaria e eu poderia ir embora.

Desci as escadas, percebendo só agora que os corrimãos tinham serpentes entrelaçadas talhadas na madeira. Afastei as mãos, a família Malfoy com certeza era muito antiga e levemente obsessiva por simbologias. Olhei para a serpente estampada na blusa e sorri, Draco não sabia lidar com antigas tradições. Ele tentou, mas, realmente, nunca soube.

Assim que cheguei na cozinha, avistei meu celular no balcão. Havia duas chamadas perdidas de Harry Potter, já eram 10:00, não acreditei que havia dormido tanto, mas, para falar a verdade, não sabia a hora que tinha ido dormir. Inclinei-me contra o balcão, em frente a grande janela, com vista para o jardim. A pesada chuva do dia anterior se condensava, formando um nevoeiro denso, que cobria toda a grama e nublava as árvores, tirando quase toda a visibilidade da área externa. Um arrepio desceu pela minha coluna, e não era algo bom. Nesse momento, escutei passos se aproximando. Até que ele não demorou, pensei enquanto balançava a cabeça para dissipar aquela estanha sensação.

Senti suas mãos rodearem minha cintura e me puxarem suavemente contra seu corpo forte. Olhei sobre o ombro e encontrei os olhos cinzentos de Draco, o mesmo cinza do céu lá fora. Murmurei um “bom dia” enquanto segurava os braços que me abraçavam sobre a barriga, seus olhos se cerraram quando ele curvou os lábios em um sorriso e me respondeu com um beijo na testa. Era estranho, não estava acostumada com isso, normalmente era apenas sexo e boa noite, não um bom dia com um beijo carinhoso. No entanto, virei-me para encará-lo, encostando-me no balcão e colocando as mãos no pescoço do loiro, que por sua vez não tirou as suas da minha cintura. Nos olhamos por alguns segundos, Malfoy tinha uma cara de sono que o deixava ainda mais lindo, usava as roupas amassadas que vestira na noite anterior. Comecei a me aproximar, mas nesse momento o celular tocou, merda. Potter tinha essa mania.

- Hermione Granger! Como assim você sai da minha casa sem me dizer nada e vai parar na casa de Malfoy? – dessa vez não era Harry, era Gina Potter, e ela gritava – Você está me escutando? O que está fazendo ai?

- Gina – coloquei minha mão sobre a testa e tentei fazê-la falar mais baixo, assim como alguém do outro lado da linha, mas eu não podia explicar a ela o que aconteceu – estou te ouvindo, calma.

- Harry me contou que você dormiu na mansão – ela continuou falando alto – O que aconteceu? Você está transando com Malfoy?

- Sim – respondi vendo que podia me desviar da verdade total assim, e o loiro deu um sorriso safado – Na verdade, ele está do meu lado agora, pode até te ouvir.

- Malfoy, você é legalzinho, mas se fizer merda eu juro que te transfiguro em um furão e te prendo em um hipogrifo – disse a ruiva.

- Ser preso em uma maldita galinha é a última coisa que eu quero, Sra. Potter – Draco respondeu.

- E ai, foi bom? – Gina, um exemplo de discrição. Eu e Malfoy nos olhamos, ele foi o primeiro a sorrir, seguido por mim, mas não respondemos.

- Depois, Ginevra – eu disse.

- Agora, Hermione – ouvi um ruído como se o celular fosse afastado e vozes altas misturadas – Vá até nossa casa, por favor.

Ela desligou o celular sem esperar por uma resposta. Revirei os olhos, eu precisava ir para casa, talvez depois fosse ver Gina. Tecnicamente, não trabalharíamos hoje, mas eu queria falar com Harry, então, de qualquer forma, ia vê-la cedo ou tarde.

- E então? – escutei a voz de Malfoy próxima, ele ainda não havia me soltado.

- Então o quê? – perguntei, achando que ele se referia à pergunta de Gina.

- Está com fome? – o loiro perguntou e eu sorri.

- Morrendo – ele começou a se afastar – mas preciso ir.

- Agora? – Malfoy respondeu, parando e apertando mais minha cintura.

- Agora.

Ele deu um sorriso de lado e me puxou, colando seu corpo no meu. Suas mãos desceram até a barra da camiseta e fizeram o caminho reverso, acariciando minhas coxas e por fim, apertando forte minha bunda.

- Tem certeza? – ele perguntou com a voz rouca.

Imitei o loiro, passando as mãos pelas minhas pernas e as colocando sobre as dele, e sorri.

- Tenho.

- Tudo bem, então vamos – ele respondeu, olhando para algum lugar além de mim.

- Vamos? Você sequer sabe aonde vou.

- Provavelmente para sua casa, que em breve será revistada pelo Ministério. Depois, vai para casa do seu amigo e também chefe dos aurores, Potter, com a desculpa de falar como eu fui incrível para a ruivinha levemente louca, mas com a intenção de conversar seriamente com Harry. Eu quero participar das conversas – ele parou e acrescentou – das duas. Então, podemos ir ou vamos continuar com a nossa conversa monossilábica de início de manhã?

Revirei os olhos, pensando que passamos muito tempo juntos nas últimas horas. No entanto, eu não iria discutir por ele querer me acompanhar. Era um dia cinza, e eu não estava me sentindo confortável, nem para sair no nevoeiro e muito menos para aguentar as perguntas de Ginevra. Considerei simplesmente ficar aqui, mas não era normal simplesmente ficar na Mansão Malfoy. Me afastei de Draco e murmurei um “tudo bem”, tentando conter um bocejo.

Ele sorriu e se espreguiçou, fazendo com que a camisa marcasse seus músculos. Apenas desfoquei o olhar dali quando Draco segurou meus ombros e fez com que eu andasse na frente dele. Eu já conhecia o caminho pelo qual seguíamos, não fiquei surpresa ao me deparar novamente com o quarto de Malfoy, que ainda estava muito bagunçado. No entanto, sobre a cama desfeita, estavam minhas roupas dobradas e limpas. Meus agradecimentos ao elfo, pensei.

Draco caminhou até a porta do banheiro e estacou ali. Eu começara a tirar a blusa esmeralda para vestir minha própria roupa.

- Você vem? – o loiro perguntou baixo, se referindo ao banho.

- Prefiro fazer isso em casa, obrigada – respondi enquanto fechava o sutiã preto e observava os olhos dele escurecerem.

- Eu sugiro que faça aqui – ele devolveu atravessando o quarto em poucos passos.

Quando nossos corpos entraram em contato novamente, nossos narizes quase se tocavam, o espaço e o tempo eram mínimos, mas inclinei a cabeça e rocei meus lábios em seu lóbulo.

- E eu sugiro que seja rápido – eu disse terminando de abotoar a calça e me afastando – Posso mudar de ideia.

Draco passou os dedos pelo cabelo, sorrindo de canto, e voltou para o banheiro.

Assim que terminei de me vestir completamente, comecei a arrumar o quarto. Os lençóis estavam todos bagunçados, e parte da culpa era minha. Depois que organizei tudo – até as coisas que eu não tive culpa em desorganizar – me sentei na cama, um pouco tonta. Me deixei cair para trás, deitada, começando a sentir os efeitos que uma sucessão de impactos físicos e mentais podiam causar. Eu não sabia se o loiro tinha demorado ou não, soube que ele havia saído do banho quando escutei sua voz, perguntando se eu estava bem.

Inclinei um pouco a cabeça e o olhei. Ele tinha uma toalha enrolada nos quadris e secava o cabelo com outra. Por Merlin, joguei minha cabeça para trás de novo, não, não estava.

- Ótima – eu disse.

Não houve resposta, mas depois de alguns minutos, a cama se afundou ao meu lado. Malfoy já estava vestido e me olhava estranhamente, não esperei muito e me levantei. Andamos em silêncio até a porta de entrada.  Quando saímos para a manhã cinza, não havia vento, só frio. Estava tudo muito parado, as folhas das árvores não balançavam e as nuvens que cobriam todo o céu não pareciam se mover. Atravessamos o caminho até o portão, levemente afastados e calados.

Segurei a mão de Draco e aparatamos em frente a minha casa. Dessa vez, não o soltei. Olhei ao redor, a mesma sensação estranha de quando olhei pela janela da Mansão me atingiu, me senti exposta e puxei o loiro em direção à entrada.

A casa não tinha o mesmo ar sombrio de quando entramos no dia anterior, tudo estava no lugar, todas as janelas fechadas. Subi a escada com Malfoy em meu alcanço. Entrei em meu quarto e me virei para encará-lo. Ele observava a decoração, que tinha um forte contraste com a de seu próprio quarto, era como frio no quente. Como nós.

- Se quiser esperar aqui, tudo bem – eu disse, entrando no banheiro.

- Claro, não vou perder a chance de mexer em suas coisas – ele respondeu.

Cerrei os olhos, fingindo um olhar ameaçador e fechei a porta. Tentei tomar um banho rápido, mas não foi possível. Eu estava cansada, apenas me permiti ficar sob a água quente por um longo tempo.

Quando sai, Malfoy não estava lá. Coloquei uma roupa confortável e sequei o cabelo, o prendendo em um coque desleixado. Desci as escadas e escutei um barulho vindo da cozinha. Que ele não esteja fazendo o que eu acho que está, pensei.

- Eu não acredito nisso – falei, entrando no cômodo.

- Nem eu – respondeu o loiro, sem desviar os olhos de um caderno de couro e balançando a varinha em direção a uma panela.

- Onde encontrou isso? – perguntei me referindo ao caderno.

- Estava na sua mesa, achei que era um diário, mas infelizmente era só um livro de receitas – ele respondeu, eu tinha um livro de receitas? – pelo menos vi os esboços dos seus desenhos. Tenho que dizer que estou impressionado.

Fiquei meio confusa, eu tinha deixado desenhos na mesa? Tudo bem que eu gostava de desenhar, mas eram só rabiscos aleatórios, e não havia feito isso recentemente, organizara a casa a pouco tempo.

- Hum, Hermione? – Draco perguntou, me tirando do meu devaneio – Isso é normal?

Ele olhava para dentro da panela com um olhar questionador. Eu não precisava olhar, o cheiro de queimado dizia tudo o que eu precisava.

- A tentativa foi boa, Doninha – eu disse rindo e apaguei o fogo – mas a ideia é não nos matar.

Depois de eu ter feito algo comestível, com a improvável ajuda do loiro, e da interminável conversa durante e depois do almoço, só conversa, juro, desaparatamos na rua de Harry. Enquanto eu esperava na soleira, o pensamento de que eu devia ter enviado uma mensagem antes de vir passou pela minha cabeça, já havia se passado horas desde que eu falara com Gina, a tarde já caía.

Harry abriu a porta e nos cumprimentou, lançando um olhar estranho para Draco e para mim, como se dissesse que sentia muito. Eu ia perguntar o que estava acontecendo, mas fui interrompida por Gina, que se atirou em meu pescoço e no do loiro simultaneamente.

- Vamos lá, temos alguns assuntos a tratar – disse a ruiva nos conduzindo para a sala de estar.

Sentamo-nos ao redor de uma mesa de centro, que tinha três xicaras vazias e um anel prateado. Franzi o cenho.

- Por que voltaram tão logo da Toca? – perguntou Draco.

- Houve alguns imprevistos – respondeu Harry, passando o braço pelos ombros de Gina, que estava com as pernas dobradas sobre o sofá, e a puxou para seu peito.

- Quem está aqui? – perguntei olhando o anel.

- Nosso imprevisto – disse Gina olhando para um lugar atrás de mim.

Virei-me e encontrei Rony parado, com uma expressão estranha. Não sei se fiquei feliz ou nervosa por vê-lo. O lado bom é que eu não precisaria conversar com Gina, o ruim é que eu não falaria com Harry. Ah, e claro, Malfoy também estava aqui.

- O que aconteceu? – perguntei a Rony.

Ele não respondeu, apenas deu meia volta e foi na direção da cozinha. Olhei para os outros procurando ajuda, Gina apenas revirou os olhos e o seguiu.

- Não é um bom dia para ele – Harry disse, pegando o anel da mesa e girando na mão – assim como não foi centenas de vezes antes. É melhor guardar isso, eles sempre voltam.

- E o que foi dessa vez? – perguntei.

- Ninguém sabe, Lilá é um pouco exagerada. E ele escutar a sua conversa com Gina de manhã não ajudou muito.

- Então parece que eu sou o impasse. Isso pode ser interessante – Malfoy disse com um sorriso sarcástico e presunçoso.

- Se isso não for mentira é uma puta imaturidade – eu disse, realmente achando que ele estava zoando, mas não, Harry balançou a cabeça. Rony realmente não tinha mudado.

- Então, já? – o moreno perguntou, e eu sabia que ele se referia a mim e a Malfoy.

- Queria que eu contasse a verdade sobre dormir lá para sua amada, Sr. Potter? – desviei da pergunta, dando a entender que nada havia acontecido.

- Tudo bem, vou fingir que eu não os vi na festa e vocês fingem que não está acontecendo nada – ele disse.

- Ótimo, já estamos acostumados a fingir – respondi brevemente e Harry ficou apático, olhando-me.

 

(Draco Malfoy)

O clima na sala não era dos melhores. Eu não sabia se Hermione queria dizer algo especifico com aquilo, mas não tive muito tempo para pensar sobre. Um barulho vindo da cozinha chamou nossa atenção, Granger foi a primeira a se levantar e nos congelou com um olhar, que pedia que não a seguíssemos.

Potter continuou em seu lugar, mas eu me levantei e comecei a andar pelo ambiente, mexendo distraidamente em coisas aleatórias, sem dizer nada. Meu percurso foi interrompido por uma ruiva que entrava tempestuosamente na sala e subia as escadas, atirando palavras que eu, como um defensor da moral e dos bons costumes, não me atrevo a dizer. Cicatriz me olhou e eu gesticulei um “vai logo caralho”, revirando os olhos, e ele seguiu Gina.

Eu quase me arrependia de ter vindo com Hermione, na verdade, nem sabia porque tinha escolhido vir. Eu nunca tinha feito isso, acordar ao lado de uma pessoa com quem tinha feito sexo casual e me sentir bem. Queria que ela ficasse, queria sentir mais daquilo. Essa atração, nublada pelo sono e preocupação, me fizeram estar onde estava, e eu não ia esperar mais.

Caminhei até a porta da cozinha, que estava entreaberta, mas me detive assim que escutei meu nome na boca do ruivo.

- Draco Malfoy? Ele é o cara mais babaca que já conheci, Hermione, sempre foi.

- Você não se importa se foi ele ou não. Você não está com ciúmes, só está tentando me controlar como antes, com a sua mentalidade conservadora. Eu não posso transar com ninguém, mas você pode, com várias, como fez quando estava comigo. – Hermione respondeu com a voz calma e ríspida.

- É diferente, nunca transei com alguém que me humilhou no passado – Ronald devolveu de forma alterada.

- É claro que é diferente, eu não quebrei uma promessa, eu não traí ninguém, eu faço porque eu quero e posso, você não tem mais o direito de me questionar sobre a minha vida. Além disso, sim, Malfoy, o cara mais babaca que você já conheceu, mas que nunca me fez chorar, como você já fez, e como provavelmente faz com Lilá. Espero que ela já tenha descoberto quem você é.

Ela foi longe demais. Percebi isso pelos segundos de silêncio que se seguiram antes que eu abrisse a porta completamente. Encontrei Weasley apertando forte os braços de Granger, os dois muito próximos e ambos com as varinhas na mão, mas sem apontar um para o outro. A raiva dele era perceptível pela veia que pulsava em sua têmpora. Antes que o cabeça de cenoura pudesse fazer qualquer coisa, proferi mentalmente “expelliarmus” e tanto a varinha de Hermione quanto a dele voaram e eu as apanhei no ar.

- Ronald Weasley, goleiro dos Chudley Cannons, herói da guerra – minha voz estava controlada, uma raiva fria emanava dela, enquanto eu caminhava lentamente até eles – ninguém nunca imaginou que tudo fosse só aparência, que você poderia trair ou até mesmo machucar alguém.

Meu olhar caiu sobre suas mãos no braço dela, eu estava pronto para explodir, mas me obriguei a lembrar de Gina no andar superior. O ruivo soltou Hermione na hora, que por sua vez, se deslocou até o meu lado e lhe entreguei sua varinha.

Com um último olhar de desprezo, me virei para ir embora, puxando a morena. No entanto, escutei a voz do outro atrás de mim.

- Eu esperava tudo de você Granger, menos que tivesse se tornado essa vadia que dá até para um comensal.

Não tive tempo para uma última respiração, ou um último piscar de olhos. Eu não consegui ver mais nada, ou melhor, tudo que eu via era sangue. Não literalmente, naquele momento, mas minha visão se nublou por um ódio incontrolável. Voltei em mim quando percebi o som do osso se quebrando. Minha visão se estabilizou e eu pude ver o sangue de verdade. Ele estava em minha mão, mas não era meu. Weasley segurava o nariz, que pingava o liquido escarlate, apoiado no balcão. Aquele canalha não disse nada, se disse, não escutei, apenas senti Hermione me puxando para a saída.

Atravessando a sala, encontramos com Harry, que se dirigia à cozinha e assumiu um olhar preocupado quando viu minha mão ensanguentada.

- Não conte a Gina – eu disse, entregando-lhe a varinha do ruivo – e evite que ele consiga isso. Por hora.

Harry confirmou com a cabeça que havia entendido, mas nos lançou um olhar que fazia uma promessa, ele queria saber de tudo. Guardou a varinha no cós da calça antes de desaparecer no corredor.

O céu estava mais escuro, mas não parecia fazer tanto tempo que havíamos entrado na casa. Hermione andava rápido na minha frente, parecia não ter se abalado. No entanto, quando chegou à rua, parou, sem saber ao certo o que fazer.

Eu observava a morena de costas para mim, os cachos presos e bagunçados, a pele branca do pescoço com algumas marcas roxas, os ombros delicados. E tudo o que eu conseguia pensar era que ela não merecia ser machucada. Eu mal a conhecia, realmente, mas me lembrava do passado e algumas coisas começaram a fazer sentido. Por algum motivo, me senti culpado, mas minha mão, que agora começava a doer, não me deixava esquecer a satisfação de ter socado a cara de Ronald Weasley.

- Granger – chamei baixo, me aproximando.

Hermione se virou para mim, tinha uma expressão que eu reconhecia, parecia algo como raiva, suas bochechas estavam coradas e os lábios entreabertos. Achei que ela fosse começar a gritar comigo, mas sua voz saiu baixa, carregada de sarcasmo.

- Porque eu sou uma vadia não é – ela dizia mais para si mesma do que para mim, e no instante seguinte, seus lábios estavam colados nos meus, pedindo passagem.

Cedi completamente. Esquecendo a dor na mão, o sangue, qualquer coisa, apertei sua cintura, e a puxei para mim. Granger puxava meus cabelos, seu beijo era o mesmo, mas estava mais exigente. Eu sabia que ela estava fazendo aquilo para se provar alguma coisa. Eu não me importava, mas quando nos separamos buscando ar, o olhar dela havia mudado, não era orgulhoso, queimava de desejo. E algo mais intenso. Não Hermione, se vadia quer dizer dona de si mesma, você era. E naquele momento, era de mim também.

Retomei o beijo, na mesma intensidade na qual havíamos parado, eu já ansiava a sentir por inteiro. A segurei mais forte e senti aquela pressão que comprimia seus pulmões a ponto de te fazer parar de respirar. Aparatamos em frente à mansão Malfoy, nos recuperando do desequilíbrio em poucos segundos.

Dessa vez, não houve resistência de Hermione para entrar, tudo o que queríamos era nos perder no outro. Beijei-a e mordi seus lábios, a puxando pela mão em direção à casa.

A medida que nos aproximávamos da entrada, pude ver luzes acesas pela mansão. As vezes, os prenúncios se disfarçam de vento, sussurram coisas escuras ao pé do ouvido e vão embora, deixando apenas um arrepio. No entanto, naquela noite não havia vento, mas senti o arrepio. E não dei importância.

Beijamo-nos na soleira, enquanto eu abria a porta. Assim que entramos, encostei Hermione nela, prendendo seus braços sobre a cabeça. Antes que nos lábios se encontrassem novamente, ouvimos uma voz vinda do escuro.

- Não vai apresentar sua convidada, Draco?

Encostei minha testa na de Hermione. A voz de minha mãe cortou o recinto como uma faca de gelo. A rispidez era característica dela, até me senti feliz ao ouvi-la, mas isso significava que Lúcio Malfoy estaria ao seu lado. Preocupei-me, não comigo, não com o que eles pensariam sobre o que estava acontecendo, mas com Granger, que se retesou sob meu corpo. O calafrio retornou.

Eu sempre acreditei na Lei de Murphy, se algo pode dar errado, dará. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava bem, eu tinha esquecido o mundo, e agora, ele retorna, frio e cortante. Eu acreditava na Lei de Murphy, mas não acreditava em coincidências.


Notas Finais


Foi mal gente, eu não odeio o Rony e vou tentar não fazer dele um babaca completo (sem ironia).
Bjos!


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