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História O Inferno é o nosso lar. - Irascível


Escrita por: youknow-who

Notas do Autor


O inferno é o nosso lar.
"Eles sabem nosso nome, mas nunca saberão quem nós somos."

Capítulo 1 - Irascível


Fanfic / Fanfiction O Inferno é o nosso lar. - Irascível

“Estávamos correndo, a polícia chegou e disse que seria o fim. Mãos para o alto!”

-Esse filme é um saco. – Francisco levantava do chão. Cabelos loiros, olhos castanhos claros. Caminhou até a cozinha para buscar outra garrafa

-Não está nem na metade... – reclamou Hugo; pele pálida cabelos escuros e um cigarro entre os dedos.

-E já esta um saco! – Completou Leandro, o mais novo com inocentes olhos azuis.

-O problema dos delinquentes de hoje em dia é a burrice. – Disse o loiro do outro cômodo.

Hugo pegou o celular para ver a hora, já se passava da meia noite.

O filme estava pausado. Leandro estava deitado no chão com as mãos na testa.
Os três encontravam-se em um apartamento de dois cômodos, que Francisco morava. A moradia se resumia em pouquíssima mobília, um colchão, cobertores e roupas jogadas. Na mesa de centro, cerca de 4 latas vazias. Havia posters de bandas de rock alternativo espalhados por todas as paredes. Uma única poltrona na sala, acompanhada de uma pequena televisão, um aparelho de dvd e um rádio, que Leandro ligou para quebrar o silencio que se estabeleceu. Os locutores conversavam com uma celebridade.

“Mas a sua historia é uma reviravolta...”, diziam.

-Tantas histórias melhores para serem narradas nas rádios, e escolhem justo a desse cara! –queixou-se Francisco. – Nem para inventarem uma historia fascinante.  

-Se eu fosse famoso, inventaria uma história. Diria que incendiei três casas com apenas um fósforo. – Hugo disse ao se levantar. Foi até a janela e acendeu outro cigarro.

-Mas você não seria famoso nas rádios e sim nas delegacias. – brincou Leandro.

-Eu estava assistindo a um filme esses dias onde os personagens cometiam muitos crimes, mas ninguém sabia seus rostos. Eles eram famosos nas delegacias e nas rádios. – Disse Francisco, se aproximando do amigo na janela, para admirar a cidade. – Eu quero dizer... É loucura não é?! Eles tinham uma história para contar. Agora nós somos uns fracassados, que se preocupam ir à escola quando se têm todas essas ruas de São Paulo para vagar e marcar historia. Desse jeito vamos cair no esquecimento.

-Essas ruas que estão sempre lotadas de gente! E o que você quer? Incendiar casas?

Os três trocam olhares.

Eles sempre foram melhores amigos, a confiança que tinham era o suficiente para tal ato.

 

***

“Vandalismo nas ruas. Um grupo de jovens destrói uma loja de conveniência!” Contava o locutor ao público.

Todas as quintas-feiras, depois da meia noite, o Clube visitava uma rua deserta, porém já estudada, usavam pés de cabras e deixavam vidros do comércio quebrados.

“Crimes na Oscar Freire dessa vez ganha destaque, jovens destrói uma joalheria, mas não levam nada!” Anunciava os jornais.

Sem nenhum ganho, sem nenhum roubo.

“Mais um dos ataques na Bela Vista, não se sabe ainda quem esta por traz disso.“ Contavam na televisão.

Eles sabem nossos nomes, mas não sabem que nos somos.

Vestiam-se formalmente. Seus cortes de cabelo são praticamente os mesmos, o que os diferencia eram as cores.

Quinta-feira:00h13

Os três caminharam até uma casa. O portão estava enferrujado e pouco complicado de abrir. Optaram então ir pelos fundos, onde encontram uma janela. Francisco ergue o pé de cabra disposto a quebrar, porém Hugo o interrompe, tirando do bolso uma arma envolvida por uma flanela.

-Que merda é essa! – Leandro diz surpreso. Nunca usaram armas além de pés de cabras para os atos. Isso tudo o deixava nervoso.

Sem responder, Hugo atira na janela trincando o vidro em vários pedaços, apenas um empurrão e ela cairia. O som do disparo ecoa pela a rua. Sua ação foi arriscada, ele sabia que não era necessário isso para quebrar a janela. A intenção foi mostrar a seus colegas que isso estava evoluindo.

Francisco com o pé de cabra finaliza, abrindo passagem e indo na frente. Ao entrar observa o papel de parede desgastado. Em alguns locais dava para perceber infiltrações. Hugo entra e atrás dele está Leandro ainda um pouco instável por conta do tiro.

-Aqui devia ser a cozinha. – Diz Hugo que estava próximo a uma pia. – Isso aqui deve ter muitos anos. – Conclui depois de observar o chão, que era de carpete, mas desgastado.


Leandro começa a jogar o primeiro galão de álcool, por toda a cozinha.  Francisco e Hugo vão para o corredor, porém o loiro acaba desviando para a direita.

Era uma espécie de escritório, havia uma mesa acompanhada de uma cadeira, ambos de madeira e que já estavam desgastados. Papeis jogados pelo chão que Francisco deduziu como contas. Olhou para trás e viu um grande guarda roupa que ao abrir só havia cabides.

Leandro entrou, começou a jogar álcool e gasolina, então o loiro deixou o escritório e foi para o corredor. Estava andando pelo carpete que rangia, até que viu seu amigo Hugo agachado na beira de uma cama de casal com estrato de ferro. Ele estranhou no momento, mas logo associou o que seu amigo queria encontrar.

A expressão do garoto da pele pálida já dizia que ele esperava achar debaixo daquilo, ele tinha um olhar ganancioso. Francisco sabia o que devia ser feito. Assim que Hugo levantou o colchão, muita poeira subiu no ar. Os dois fecharam os olhos, no entanto assim que eles abriram, puderam ver um mar de notas velhas e molhadas enroladas por barbantes, o estado delas podia estar precário, mas ainda era dinheiro.

-Vamos queima-los. – Leandro entrou sem nenhum perceber e levaram um pequeno susto. Mas ele leu o pensamento de Francisco.

-De jeito nenhum! – Contradiz Hugo. – Meu pai foi demitido do trabalho, estamos com contas atrasadas, e eu encontrei. É meu por direito.

-Não vamos roubar. –Rebate Francisco

-Eu moro em uma droga de casa e não consigo pagar uma conta. Esse dinheiro não vai ser queimado, eu preciso dele. – Hugo se aproxima de seu amigo loiro ficando face a face.

-Você é membro do clube. – Francisco diz calmamente e pausadamente, tentando não se estressar.

-Você esta ficando louco. – O garoto de cabelos pretos vira o rosto,  Leandro só observa a cena. Ele sabia que Hugo estava sendo impulsivo, era regra do clube não ter nenhum ganho além de uma foto na capa do jornal. E isso era roubo! – Pensa na realidade, Francis! Isso não faz sentido algum. – Ele indicava com as mãos em volta, dando a entender que fazer os vandalismos não tinha propósito.

-Se não faz sentido para você, por que esta aqui? Alguém colocou uma arma na sua cabeça para arrombar essa casa? – Francisco grita.

O mesmo saca a arma e coloca na testa de seu amigo, ele sabia que se Hugo desistisse, seria arriscado ele contar a alguém quem são eles.  

Leandro tenta se aproximar para separar a arma que era pressionada no rosto de seu colega, porém o loiro faz um sinal com a mão para que ele se afaste. Os olhos de Hugo começam a ficar vermelhos e a lacrimejar.

-Consegue pensar Hugo? Consegue pensar com uma arma na sua cabeça? – Francisco gritava, e em um ato rápido vira a arma apontando agora para a sua testa. Ele pega a mão do colega e coloca no gatilho. – Consegue atirar em mim Hugo? Consegue pensar em como seria estraçalhar a minha cabeça e sair daqui milionário?

A atitude do loiro era inusitada, mas ele precisava fazer a cabeça do amigo, não só a dele mas a de Leandro também, que assistia toda a cena. Desistir do clube agora era tarde de mais. Eles não tinham mais a quem confiar a não serem eles mesmos. Francisco queria mostrar um ato de confiança. Se Hugo levasse o dinheiro desrespeitaria de certa forma ao clube e seus colegas, sendo ganancioso e desleal.

Se ele fosse leal ao clube, ele não puxaria o gatilho naquele instante em troca de dinheiro, era uma situação que colocava o garoto de pele pálida contra a parede. Ele trabalhava a semana toda e todo o seu dinheiro ia para o clube, ele não podia ajudar a família. Nesse momento ele não podia escolher matar seu amigo, ele precisava negar o dinheiro.

-Francis... – Hugo afasta a sua mão do gatilho, olha para o rosto de Leandro que esta com as mãos na cabeça e em choque com a situação. Somente Francis sabia o real significado e importância do clube.

-Nós não podemos roubar!– Choraminga Leandro aos berros e derrama todo o álcool no colchão. E risca um fosforo.

-Não! – Hugo berra, Francis segura seus braços para que Leandro consiga joga o fosforo no colchão. O fogo se espalha ligeiramente rápido. E eles escutam um barulho de sirene de policia. Hugo ainda se debate tentando ir para cima do fogo.

A vizinhança ouviu o disparo inicial e chamaram a policia.

-Vamos dar um fora daqui. – Leandro fala ao sair do quarto.

O trio corre pelos fundos da casa, e pulam para dentro do carro. O fogo vai se espalhando por todos os corredores, até deixar a casa abandonada completamente incendiada.

As viaturas de policia cercam o local, mas, os meninos estavam já bem longe.

Um policial sai do carro e se depara com o fogo que estava alto. Diz ao seu parceiro:

-Vamos precisar dos bombeiros!

Depois de se afastarem para longe daquela casa, em uma praça se embebedaram até não conseguir ficar em pé, com tudo, Hugo se isolava. Francisco então chama a atenção de seus dois amigos:

-Essa arma será nossa chave, caso um dia, um de nós resolva sair. – Ele faz um gesto com a arma na cabeça. – Vamos jurar nunca contar a ninguém sobre isso. Eu quero dizer...Se um dia acharmos que não somos o suficiente para o clube...- Ele olha para Hugo que o encara. -  Temos que sair. Mas um segredo só vai ser totalmente guardado se o que sair, estiver morto.

Se um dia, um deles desistir, terá que cometer suicídio, por mais que há confiança entre eles, não poderiam deixar um fora do clube com vida, arriscariam demais serem descobertos.

- Vamos ver o que acontece com o mundo, quando nós o chacoalhamos. É irônico não? Nós temos uma arma sem destino de tirar uma vida alheia, tem todo esse dinheiro sem destino de ganancia e temos isso. – Ele faz referencia ao clube. – Com destino de se fazer historia.

Hugo caminha até seus amigos e ergue a garrafa para o alto. Leandro e Francisco fazem o mesmo.

-Pelo clube! – Ele grita.

-Pelo clube! – Seus colegas dizem simultaneamente.

Eles não pretendiam matar ninguém que estivesse fora, poderiam ferir gravemente se fosse necessário, mas nunca tirariam uma vida.

Eles jogaram as garrafas de vidro que estavam em suas mãos com força no chão.

Eles estavam começando a entender os estágios que o clube tinha.

No apartamento Leandro e Francisco colam trio o mapa da cidade de São Paulo. Riscando ruas, vielas que já passaram. Na onde indicava a rua da casa abandonada, Leandro cola um post-it que marcava uma observação.

“Irascível

-O que é isso? – O amigo de cabelos loiros questiona colocando a nova arma de Hugo no bolso.

-Uma observação.

Francisco apenas ignora. Da meia volta e vai para a cozinha, abre a geladeira a procura da jarra de água.

-Onde o Hugo esta? – Leandro pergunta.

Ele esta andando a caminho do apartamento, havia passado a noite na praça. Momentos da casa abandonada passavam na sua cabeça como se fossem flashbacks. Ele não sentia raiva de não ter pegado o dinheiro, mas sim, de ter agido daquela forma. Ele mergulhou de cabeça desde o inicio, não queria estar fora do clube, por que estando fora seria sem vida.

Ao perceber que Hugo demorava, Leandro vai até sua casa. Lá, ele pega um remédio para dor de cabeça. Ele percebeu que seus colegas estavam realmente levando o clube a sério.

-Há essa hora? – Sua mãe o viu próximo a pia tomando um remédio para dor de cabeça. Ele estava de ressaca e esqueceu completamente que estava com paletó e gravata a roupa que o mesmo usava nos ataques. – E que roupas são essas?

Supôs que sua mãe poderia ter visto no noticiário os ataques, e talvez associado o sumiço do filho, com suas roupas e concluindo que ele era um membro dos vandalismos que estavam em massa. Sem pensar direito, arrumou uma desculpa.

- Estou tocando violão na igreja. – Ele olha o pulso que estava sem relógio, e finge que viu a hora – Estou atrasado.

Olha para a porta e corre rapidamente até o quintal. Avista sua bicicleta e no mesmo instante monta e ao sair sua mãe o chama.

-Não vai comer alguma coisa?– Sua mãe tenta o parar, mas Leandro já estava quase virando a esquina.

Ela estava surpresa, mas não pareceu desconfiar.

Não podia contar sobre o clube nem para a própria mãe, e voltar para a casa de novo não era mais uma opção. Ele ficou chateado por que a despedida que dera a sua mãe foi uma mentira e ele não sabia se veria ela de novo.

Ele era o único que se sentia culpado em realizar ao ataques. Não tinha muitos amigos, e nem muitas opções para escolher. Francisco e Hugo poderiam ser loucos, mas era tudo o que ele tinha no momento. Sempre temia aos atos, ele era o mais sentimental quando tinha que machucar alguém, por ter visto alguma coisa ou sei lá.

Ele tinha dores de cabeça muito fortes depois de se embriagar. Ele odiava ser o mais vulnerável do grupo, e não sabia o que fazer para controlar isso, então escrevia em um diário. Era uma forma de conversar com “alguém” sobre seus sentimentos, era uma forma dele entender o seu interior.

Eu não vejo mais a minha mãe, eu não vejo mais a mim mesmo.
Eu só vejo vidros quebrados, disparo de armas, e garrafas pelo chão.
Parece que agora todo dia é quinta-feira e eu
não pensava que nós de gravata sufocavam tanto.

 

 

 

 

 


Notas Finais


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