Liguei o chuveiro e entrei, passei as mãos pelos meus cabelos sentindo a água cair sobre meu corpo. Respirei fundo sentindo aquela sensação ruim me invadir novamente e lágrimas começarem a escorrer sobre meu rosto se misturando com a água do chuveiro.
Uma semana!
Haviam se passado uma semana desde da partida de Melissa, e com certeza essa semana entrou para o ranking de pior semana da minha vida. Sabe o quão estranho e desconfortante é você chegar em um lugar onde sempre costumava ver uma pessoa, e ela simplesmente não está mais lá? Pois é... Foi assim que eu me senti esses dias naquela escola!
Apesar de que nos últimos tempos eu e ela não estávamos nos falando, passamos o maior tempo de nossas vidas e vivemos os melhores momentos naquela escola, e esse foi um dos motivos que me fizeram ter receio de voltar pra lá.
Passei a toalha pelo meu corpo tirando todo os respingo de água que restava, peguei meu hidrante e despejei um pouco em minha mão espalhando por meu corpo logo em seguida. Me enrolei na toalha novamente e peguei meu secador, secando meus cabelos.
Desliguei o secador assim que ouvi duas leves batidas na porta, murmurei um "entra" e logo em seguida Guilherme passou pela mesma.
- Não sabia que estava se trocando! - disse ele meio desconcertado pelo fato de eu estar de toalha.
- Só um estante! - disse andando em direção ao meu closet, coloquei minhas peças íntimas e vesti um vestidinho branco e simples. - Pronto! - voltei por quarto o encontrando sentado em minha cama.
- Já sabe quando viaja? - perguntou dando espaço para que eu pudesse me sentar na cama ao seu lado.
- Em menos de um mês eu acho...- dei de ombros.
- Ah...- assentiu levemente e se remexeu desconfortavelmente.
- Quer me dizer algo? - perguntei notando seu estado.
- Eu, não é que...- o interrompi.
- Desembucha logo Guilherme! - revirei os olhos impaciente.
- Tá...- respirou fundo. - A criança irá ficar com a família de Melissa?
- Não sei, parece que Leonardo não aceitou muito bem a partida de sua irmã! - vocês não devem estar entendendo nada né? Pois então, um dia após o funeral de Melissa, apareceu um rapaz na casa da mesma dizendo ser pai da criança. Todos ficamos surpresos, e claro gerou muita polêmica e tumultos, mas nada do que uma boa conversa não resolvesse.
- E isso quer dizer o quê? - encarou-me confuso.
- Ele não consegue olhar para a criança, talvez procurando uma forma de se sentir melhor, decidiu despejar toda culpa no bebê! - suspirei cansada.
- Não acredito nisso! - exclamou indignado. - É só uma criança...
- Ele não encara assim, então logo após que ela receber alta, irá para a casa de seu pai!
- Séria cruel de mais se eu te dissesse que me senti aliviado por não ser o verdadeiro pai dessa criança? - fiquei encarando-o procurando uma resposta digna a sua pergunta, mas tudo o que eu fiz foi dar um sorrisinho de lado.
- Você nunca gostou de Melissa, e tinha total certeza de que não era pai dessa criança então...- dei de ombros dando fim no assunto.
- É, mas eu queria vê-la! - assumiu envergonhado.
- Vá até o hospital então, não vai se arrepender, ela é linda! - sorri de lado lembrando do seu lindo rostinho.
- Ruiva, né? - assenti. - Já vai arrumar suas coisas? - perguntou mudando de assunto e olhando em volta. Meu quarto estava um caos.
- Comecei guardando umas coisas aqui e ali, mas confesso que já estou com uma certa preguiça! - joguei-me pra trás fechando os olhos.
- Poderia te oferecer ajuda, mas lembrei que odeio arrumar malas e esse negócios ai, então...- deu uma piscadela indo em direção à porta.
- Tudo bem, tudo bem! Me deixa sozinha mesmo, com essa bagunça toda...- fiz drama.
- Bagunça essa que VOCÊ arrumou...-disse ele num tom acusatório. - E ninguém mandou inventar de ir embora também! - exclamou emburrado.
- Não fique assim, sei que irei fazer muita falta, até porque sou insubstituível, mas não ficarei por muito tempo fora! - disse me levantando e indo até ele abraçá-lo.
- É isso que você realmente quer? - perguntou seriamente passando seus braços pela minha cintura.
- Sim! - assenti convicta.
- Então quem sou eu para contrariá-la, não é mesmo? - fez uma voz formal me fazendo rir.
- Exato! - balancei a cabeça positivamente. - Vou sentir sua falta! - murmurei enquanto te abraçava.
- Ainda dá tempo de desistir! - disse ele me fazendo rir.
- Confesso que é uma proposta tentadora...- sorri de lado me afastando para encará-lo.
- Tudo isso por causa daquele filho da puta? - sua expressão passou de leve para raivosa.
- Tudo isso é por MINHA causa, estou precisando desse tempo! - desvencilhei-me de seus braços.
- E precisa ser tão longe assim?
- Você e a mamãe falam como se eu fosse morar em outro país...- revirei os olhos com o drama dele.
- Não é em outro país mas não deixa de ser longe...- murmurou.
- Para de drama vai Guilherme! - dei um beijo em sua bochecha. - Você pode muito bem ir pra lá quando quiser...
- E você pode muito bem ficar aqui...- cantarolou.
- Tá tá! Não começa! - revirei os olhos e sentei em minha cama.
- Vou jogar bola, qualquer me liga, tá? - disse ele abrindo à porta.
- Sim senhor, bom jogo! - sorri de lado e soprei um beijo no ar pra ele.
POV. Lucas
- Sabe o que eu estava pensando? - disse Brenda se sentado em meu colo.
- E você pensa? - perguntei irônico a fazendo revirar os olhos. Essa garota não tem vergonha na cara...
- Cala boca Lucas...- bufou. - A Luiza está bem sensível agora né? - encarou-me maldosa me fazendo franzir o cenho.
- Onde quer chegar com isso?
- Ela está vulnerável com perda da amiguinha, não acha que é uma boa oportunidade para por seu plano em prática? - arqueou a sobrancelha sugestivamente.
- Que plano garota? - perguntei sem paciência com aquele joguinho todo.
- Pelo amor de Deus Lucas...- bufou impaciente. - Qual foi o seu objetivo quando se aproximou da pobre Luiza num passado um tanto presente? - perguntou ela me fazendo ficar rígido.
- Você me dá nojo garota! - a empurrei de meu colo me levantando e indo em direção á porta.
- Se eu te desse tanto nojo assim, não estaria aqui em meu quarto sem camisa logo após uma foda! - exclamou nervosa.
- É exatamente isso o que disse, só uma foda! Eu te humilhei, te tratei que nem um lixo, e mesmo assim não se cansa de abrir as pernas pra mim não é mesmo? - coloquei minha camisa.
- Eu te odeio! - rosnou raivosa.
- Não você não me odeia, você odeia o modo que eu te trato...- disse indo em sua direção. - Mas adivinha, eu não vou mudar, até porque uma vagabunda deve ser tradada com uma vagabunda! - fechei os olhos assim que senti o impacto de sua mão em meu rosto.
- Saí daqui...- me empurrou até a porta com lágrimas nos olhos.
- Pode me bater o quanto quiser, mas eu sei que minhas palavras doeram muito mais do que esse seu tapa! - disse maldoso saindo do quarto dela logo em seguida.
Duas semanas depois...
POV. Luiza
- Então é isso mesmo? - disse minha mãe parando na porta de meu quarto. - Você vai passar seu aniversário longe de mim? Longe da sua família?
- Vovó e vovô também são minha família! - respondi enquanto guardava minhas últimas peças dentro da mala.
- Não se faça...- disse ela nervosa. - Luiza você está sendo muito cruel conosco! - exclamou irritada.
- Mãe por favor...- murmurei cansada daquele papo todo.
- Mãe por favor nada! Você já parou para pensar na Eduarda? Ela é praticamente grudada em você!
- Praticamente não é totalmente ou completamente, não irei sumir do mapa, e além do mais no natal vocês irão pra lá...- dei de ombros indo em direção ao meu closet que agora se encontrava com poucas coisas, pra falar a verdade, quase sem nada.
- Não se faça de indiferente...- veio atrás de mim.- Já te disse o quanto esse seu jeito me irrita?
- Já...- sorri forçadamente. - E você já sabe o que eu sinto sobre isso, ou melhor, não sinto, não ligo pra isso! - peguei meus vestidos os colocando dentro da minha mala e a fechando em seguida.
- Luiza Ticiano! - bateu o pé nervosa. - Para com isso...
- Mãe para você! - parei o que eu estava fazendo e virei-me para encará-la. - Eu te fiz um pedido e você fez a sua escolha me deixando ir morar com meus avós, agora não tem volta e chega desse assunto, não quero desperdiçar meu pouco tempo aqui em casa discutindo com você um assunto que não tem mais lógica de ser discutido!
- Você é madura demais para sua idade! - murmurou me encarado perplexa.
- Pelo meu ver isso é bom, certo? - perguntei com um sorrisinho de lado.
- Não, não quando você usa toda essa maturidade para querer sair de casa! - revirei os olhos com seu drama.
- Vai ficar assim mesmo? - perguntei entediada.
- Assim como?
- Emburrada, irritada, reclamando...- fui interrompida.
- Ok, eu já entendi! - revirou os olhos. - Não vejo outra solução, não quando se trata da minha filha indo embora!
- Julianna para de encher o saco da menina! - disse meu pai entrando no quarto e a abraçando por trás.
- Alex não se intrometa! - exclamou irritada.
- Você sabe que toda essa sua lavagem cerebral, ou tentativa de lavagem cerebral não funciona né? - perguntou ele com divertimento. -Não com a nossa filha...
- Obrigada Deus por enviar uma pessoa para me ajudar! - disse juntando as mãos e olhando para cima os fazendo rir.
- Não estou gostando nada disso, mas já demos nossa palavra final e não vamos voltar atrás! - disse ele seriamente.
- Assim eu espero...- murmurei a mim mesma.
- Estou arrependida...- disse minha mãe derrotada.
- Não fique, logo mais você estará dando graças à Deus com a minha partida! - sorri ironicamente.
- Não diga besteiras Luiza...- repreendeu-me com o olhar. - Você sabe que eu mais do que ninguém estou sofrendo com a sua ida!
- Lógico que eu sei, colocou até o nome da Eduarda no meio! - disse rindo.
- Como é que é? - perguntou meu pai.
- Chantagem...- comecei.
- Emocional! - completou ele.
- Fiquem quietos os dois, e você...- apontou pra mim. - Venha me dar um abraço! - veio em minha direção.
- Oh meu Deus, ela está carente! - disse a abraçando e rindo.
- ABRAÇO EM FAMÍLIA! - gritou Guilherme entrando em meu quarto com Eduarda no colo.
E assim terminamos nossa tarde curtindo nossos últimos momentos em família...
- Você realmente não vai se despedir dele? - perguntou Amanda me puxando para um canto. Estávamos no aeroporto esperando meu voo.
- Não, é melhor assim...- suspirei frustada.
- Tem certeza? - perguntou Gi docemente.
- Sim, mas não querendo ser rude, não quero mais falar sobre esse assunto!
- Tudo bem, tudo bem! - suspirou Amanda.
- Será que eu posso te sequestrar um minutinho? - pediu Matheus.
- Toda sua! - disse Giovanna se afastando e puxando Amanda junto.
- Ainda dá tempo de desistir! - disse ele me fazendo rir levemente.
- Não irei desistir!
- Infelizmente...- murmurou. - Mas se quiser ainda dá tempo de fugir! - levantou as sobrancelhas me fazendo rir.
Antes que eu pudesse respondê-lo ouvi meu voo ser anunciado.
- Nãoooo...- disse ele me abraçando.
- Vou sentir sua falta! - sussurrei te abraçando.
- Também irei sentir a sua! - me apertou contra seu corpo. - Promete me ligar todos os dias? - senti meus olhos marejarem.
- Prometo! Promete não me substituir? - senti as lágrimas quentes rolarem pelo meu rosto.
- Você é insubstituível! - disse ele me encarando de uma forma diferente, não soube decifrar que olhar era aquele.
- Eu te amo! - sorri entre lágrimas te abraçando fortemente.
- Eu te amo princesa! - beijou o topo da minha cabeça.
Entrei no avião enxugando minhas lágrimas, sentei na minha poltrona e respirei fundo. Com certeza eu não gosto de despedidas, fechei os olhos lembrando de todos e sorri de lado.
Vida nova Luiza, vida nova!
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