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História O Lado Escuro da Lua - Prólogo - O garoto do caixão


Escrita por: bjstewart

Capítulo 1 - Prólogo - O garoto do caixão


Faleceram no dia 28.10
Stella Morgan
Gordon Lewis
Marlon Davidson
Marie Neveu
           
O Daily Longview oferece seus mais sinceros pêsames às famílias

 

A sensação de trabalhar em um escritório, normalmente abominada pela maioria de seus colegas de trabalho, era reconfortante para William. Depois de digitar a última coluna sobre os falecidos do dia anterior, seus dedos repousaram na mesa.

A cadeira de altura regulável gemeu. Will pensou amargurado que não tinha estudado anos de jornalismo para estar fazendo a coluna de obituários.

Girou a cadeira. Seu cubículo na redação ficava em frente à janela; um tipo de desculpa pela função designada a ele. As paredes da redação eram acinzentadas, e passavam uma constante sensação de frio. Os prédios de Longview não eram muito altos, então, dali, Will conseguia ver a cidade de um de seus pontos mais altos. Tinha uma caneta nas mãos, e colocou-a na boca, mordiscando a tampa.

Seu nome é William Persons. Você tem 25 anos. Estudou quatro anos publicidade, jornalismo e técnicas indiretas de persuasão. E está escrevendo obituários em uma pequena cidade californiana.

Olhou de volta para dentro do escritório. Olhar para a rua era um alívio, se comparado ao que tinha que ver no trabalho, todos os dias, por tantas horas. Olhou para fora do computador. Apertado em seu cubículo, entre vários outros jornalistas que tinham quase a mesma função que ele, ninguém era especial demais. Todos chegavam ali com um grande sorriso, roupas sociais, e poucos meses depois, estavam passando mais um dia em seus cubículos, dizendo que se tornarão os futuros Truman Capote assim que terminarem aquele artigo sobre como organizar sua geladeira corretamente.

William já tinha passado daquela fase, mas não tinha realmente aceitado sua sina. Ele olhou para seu próprio reflexo na tela de computador. Não era um homem muito forte, ou de beleza com grande chamariz. Talvez fosse isso o empecilho para sua promoção: a maioria dos jornalistas de televisão, ou dos repórteres de colunas próprias, tinham uma grande e charmosa foto de si próprios no topo da página.

Ele não iria, entretanto, desistir tão fácil. Sempre teve as mesmas ambições, e com amigos, sempre dissera as mesmas coisas sobre o que faria futuramente – nunca com “eu quero ser”, mas com “eu vou ser”.

“Vou ser um jornalista policial. Vou trabalhar com a delegacia. O melhor da região, talvez vire romancista.”

Ah, Will, você e tantos outros...

Estava só esperando o dia certo, a hora certa. O momento perfeito em que entraria na sala de Jameson, com uma matéria especial. Ou quando ele descobrisse o furo perfeito. Ou faria a investigação toda sozinho, talvez mesmo antes da polícia. Afinal, segundo boatos que circulavam pelo escritório, o melhor detetive da cidade, Tyler Kidd, estava afastado do cargo, em uma instituição psiquiátrica.

Segundo boatos, ele estava prestes a voltar à ativa. Um colega de trabalho de Will escrevera uma matéria que tinha sido publicada naquela manhã, sobre um crime ocorrido na cidade, e ele próprio sugeria a volta de Tyler. Na verdade, em todos os jornais, não se falava de outra coisa: Tyler Kidd aqui, Tyler Kidd lá. Will não estudara muito, ou acompanhara a coluna policial, para saber quem era Tyler e por que ele foi internado.

Ah, William Persons, o rei do suspense. William Persons, o mais influente jornalista de sua geração.

Escrevendo obituários.

Uma forma indireta de lidar com grandes casos. Não foi para isso que tornou-se jornalista? Para noticiar as coisas, informar?

O baque de quebra de expectativas de Will não foi imediata, mas ele estava começando a perder as esperanças cada vez mais. Era lamentável, de certo modo, toda sexta à noite, sair com os amigos e dizer que sim, um dia, ele ganharia sim o Pulitzer. Estava correndo cada vez menos, cansado.

Sabia que já tinha perdido o tiro de largada, mas não parecia conseguir enxergar quem estava correndo na frente.

O apelido de William no jornal era Garoto do Caixão, e todos sabem que quando você ganha um apelido, dificilmente te darão um bom motivo para mudá-lo.

Começou a brincar com uma moeda em cima da mesa. Usava uma camiseta azul, tinha braços e pernas finos, com poucos músculos delineando. O pescoço era fino, e Will era alto, o que o deixava ainda mais com uma aparência mais magra do que de fato era. A brancura de sua pele fazia jus à sua dedicação ao trabalho entre quatro paredes. Nem de longe Will tinha a aparência de um policial, como deveria ter, se de fato queria alguma chance na carreira de polícia.

Mas hey, você precisa continuar com esse brilho nos seus grandes olhos cor de âmbar. O mesmo brilho infantil, de esperança em mudança.

O sol sempre será o mesmo, mas você está ficando cada vez mais velho. Não tem ninguém esperando você cruzar a linha de chegada.

Tinha o olhar cansado. Mexeu nos cabelos, negros como ébano, despenteados. Seus finos lábios estavam inexpressivos, comprimidos e conformados. Não ia tentar mudar nada. Não naquela manhã. Quem sabe, no dia seguinte.

Algo quebrou a monotonia do Daily Longview. Um sol alto e repentino, da porta sendo aberta. Todos ergueram a cabeça para ver quem entrava com tanta rapidez, e se depararam com a figura de um homem robusto, alto, que vestia um blazer preto por cima de uma blusa social azul. Seu rosto tinha traços fortes, com uma barba aparada, e sua expressão era fechada, quase preocupada. Talvez apreensiva. Logo todos colocaram sua presença de lado, enquanto o visitante procurava por alguém na redação.

Ah, policial. Tudo bem.

Will nunca fora bom com leitura corporal, mas naquela manhã, quando viu o policial entrar daquele modo na sala, reparou que algo estava errado.

E que as coisas podiam começar a dar certo.

Estava distante de onde o homem estava. O visitante ajeitava os botões do blazer, passando os olhos com pouca objetividade pelo lugar. Acompanhou-o: de início, ele estava apressado demais para reparar, andando a passos largos em direção à sala do editor chefe.

Encontrou os olhos de Will no meio do caminho. Seus olhares se sustentaram. A curiosidade cresceu de repente, quando o desconhecido encarava-o fixamente, como se desafiasse-o. Devia ter a mesma idade de William, dono de um belo par de olhos azuis, brilhantes e celestes. Não parecia ser o estilo sorridente de homem, ainda mais com a aparência tão firme. Ele passou a mão nos cabelos, loiro escuros, agarrando um punhado acima de sua testa e ajeitando-o. Entrou na sala de Jameson, com um ar de que era o dono do jornal, em vez de apenas um estranho.

William arrastou as rodas de sua cadeira para a parede falsa de seu cubículo, para falar com seu colega que tinha descoberto o furo de Tyler Kidd.

– Sabe quem é aquele? – perguntou Will.

O outro jornalista deu de ombros.

– Quando eu fui na cena do crime que relatei, ele estava lá. Deve ser policial.

– Um pote de ouro para você, Capitão Óbvio. Lógico que ele é policial. Não viu o distintivo na calça dele?

– Não sei de mais nada, Garoto do Caixão. Só que ele é da polícia. Por que? Andou pisando fora da linha?

Will desistiu de conversar. Voltou para a frente de seu computador. Olhou para a sala de Jameson, com pouco interesse. Impressionantemente, o que viu foi o desconhecido de pé, gesticulando com firmeza e lentamente. Jameson estava sentado na cadeira, ouvindo tudo com o rosto de quem temia pelo próprio pescoço. O editor se levantou, foi até a persiana e fechou-a, não depois de encarar William em um aviso de que ele cuidasse de sua própria vida.

Ah, como ele ia cuidar de sua própria vida.

Amontoou alguns papéis que estavam em sua mesa, de outros artigos que tinha que digitar. Levantou-se apressado e foi até a porta de Jameson, ouvindo alguma coisa da conversa.

“Falar de Tyler desse modo é dar um tiro na divisão de homicídios. Não dependemos de uma única pessoa para realizar um trabalho. Quem foi a besta que fez essa matéria e colocou o nome de Kidd? Qual dos seus ratos nos ouviu cogitando a chance de recrutar Tyler?”

Era certamente a voz grossa de seu visitante, e isso soou estranhamente animador.

William bateu na porta. Jameson disse, com sua voz rouca, que ele poderia entrar, e o jovem seguiu a indicação. A sala do editor era bagunçada até o teto, com várias pastas espalhadas e arquivos empilhados. A mesa era abarrotada de folhas de coisas que tinham meses de publicação, e que poderiam estar no fundo de uma lixeira. Will mirou um canto que não tinha nada, para deixar o que tinha ido levar – Jameson logo pegaria e daria um fim àqueles papeis. Ou um fim, ou um sumiço.

Olhou para o cenário que se fazia. O homem de blazer estava de braços cruzados, de pé, e olhou-o com surpresa. Passou os olhos por Will, analisando-o. Seus cabelos bagunçados e a barba crescida não o deixavam com o rosto desleixado. Era o oposto de William. Arrumado, bem-sucedido.

O distintivo reluzia, assim como o crachá pendurado em seu pescoço, usado para entrar na redação. David Merrick, tenente da divisão de homicídios da delegacia de Longview.

Que maravilha.

– Os artigos que pediu, senhor Jameson – William falou, colocando o maço na mesa. Jameson e Merrick o encaravam, claramente interrompidos. O editor fez um gesto solto com a mão, indicando que Will deixasse aquilo em qualquer lugar que coubesse.

– São que artigos?

O jornalista viu o jornal em cima da mesa. Era a matéria daquele dia, sobre o crime e a provável volta de Tyler.

O nome do detetive estava em caixa alta no começo da página.

O tamanho da fonte de uma manchete é diretamente proporcional à importância da notícia retratada. Lição um do jornalismo.

– Da impressão de amanhã.

– Tem algo de Tyler em algum lugar?

Era a grossa voz do agente Merrick. William olhou para ele de lado, perdido no que estava acontecendo. Nunca tinha visto alguém intimidar Jameson, e Merrick parecia estar fazendo exatamente isso.

Em segundos de conversa. Aplausos.

– Não. Nada de nenhum Tyler.

Jameson ignorou a presença de William e prosseguiu:

– Isso não vai se repetir, senhor Merrick. Foi uma notícia sigilosa que vazou. Tomaremos as providência e tomaremos mais cuidado da próxima vez.

– Não vai ter “próxima vez”, senhor Jameson – David também parecia ignorar a presença de Will, continuando com sua voz grossa e não muito alta, porém, potente – Não temos tempo ou paciência para lidar com urubus, e temos coisa mais importante para tratar do que jornalistas. Não queremos ninguém cheirando qualquer caso. E se pegarmos mais alguém querendo cheirar a carne podre, não seremos tão bonzinhos para mandar alguém vir aqui te dar um aviso. Eu sou o oficial mais doce daquela delegacia.

David tirou um cartão do bolso da calça e colocou em cima da mesa de Jameson com delicadeza.

– Não esqueça que sempre andamos com uma arma, senhor Jameson.

Jameson não parecia querer contrariar Merrick, mas também não parecia estar pendendo para ceder a ele. Sentia a pressão da voz do tenente.

– Garoto do Caixão, o que ainda está fazendo aqui? – disse o editor, tentando manter a firmeza na voz, parecendo finalmente reparar que Will ainda estava ali.

O jornalista procurou a maçaneta com a mão atrás do corpo.

– Meu trabalho. Urubuzando a carne podre, senhor Jameson.

Saiu da sala sem dizer mais nada, mas ouvindo uma baixa risada do tenente Merrick.

 

De volta ao lar. Ah, seu belo cubículo. Sentira tanto sua falta.

William sentou-se na cadeira, que andou um pouco para trás. Aquilo foi um tiro no escuro. Dar uma resposta daquelas a Jameson podia valer seu emprego, mas quem se importava?

Não precisava daquilo. Não precisava ser o Garoto do Caixão.

David Merrick. Tenente.

Teve uma ideia brilhante.

Pegou o telefone em cima da mesa e ligou para a central de informações de Longview. Uma mulher o atendeu com um simpático “bom dia, como posso ajudar?”, rapidamente respondido:

– Bom dia. Gostaria de saber o endereço de David Merrick, sou jornalista e preciso entrevistá-lo para uma matéria. Meu nome é William Persons.

– Só um momento, senhor Persons.

– Todo.

 

– Comida mexicana ou chinesa, cara? – perguntou Kyle, assim que William abrira a porta para entrar em casa.

– Árabe – respondeu Will, fechando a porta.

– Mexicana ou chinesa? – perguntou Kyle novamente, aparecendo no corredor dessa vez.

– Árabe.

– Mexicana será.

– Guarda um pouco para mim. Vou ter que passar em um lugar agora – indicou o jornalista, colocando sua pasta em cima da mesa, mas mantendo a bolsa carteiro pendurada em seu ombro. Vestia uma jaqueta de couro, já que tinha começado a chover um pouco.

– Agora? – Kyle reapareceu, com o telefone no ouvido. Vestia apenas seus calções, e por mais que William não ficasse à vontade com aquela visão, aprendera a aceitá-la – Você acabou de voltar da rua.

– Já ouviu falar de David Merrick?

– Nunca ouvi mais gordo.

– E Tyler Kidd?

– Mais ainda.

William virou os olhos.

– Acho que vou conseguir um emprego novo.

– Sério? – o rosto confuso de Kyle virara um sorriso – Aonde? Você sempre quis sair daquele buraco no Daily.

– Continuarei no Daily. Mas não no buraco.

– Como conseguiu isso?

– Dei um fora no meu chefe.

O sorriso de Kyle caiu para uma boca aberta, impressionado com a burrice ou ousadia de Persons.

– Ou você é um gênio, ou é um idiota.

Will pegava suas chaves e as guardava no bolso, voltando para a porta e abrindo-a.

– Não acho que todos fujam dessa diferença tênue. Já volto. Guarde um pouco de comida chinesa para mim.

– Chinesa? Não era árabe?

O jornalista olhou para seu colega de quarto e piscou um olho.

– Exatamente, árabe.

 

David morava na área nobre de Longview, em uma mansão de dois andares. Will foi até lá com seu modesto carro, que dividia com Kyle, e tocou o interfone, embaixo da chuva.

– Quem é? – perguntou David.

Educado. Muito educado.

– Boa noite, meu nome é William Persons, sou jornalista do Daily Longview, senhor Merrick – Will respondeu aos gritos, já que as pesadas gotas de chuva faziam barulho demais, podendo interferir em sua fala.

– Quem? – perguntou o tenente em resposta.

Will virou os olhos.

– O Garoto do Caixão.

O portão foi aberto logo depois. O jornalista entrou na propriedade de Merrick, seguindo o caminho de pedras até a entrada de sua bela e, claramente, cara casa. David já estava na porta, esperando-o.

– O Garoto do Caixão – falou, erguendo o canto do lábio em simpatia – Não esperava ser surpreendido por um jornalista, bem na minha casa.

– Estamos em todo lugar – retrucou Will, tentando reproduzir o sorriso do tenente, sem muito sucesso. Merrick tinha um charme ausente em Persons.

– Entre, Persons. O que quer?

Will entrou rapidamente na casa, tomando cuidado para não molhar muito as coisas. Felizmente, uma das poltronas de David era de couro, impermeável. Ele indicou tal lugar e William sentou-se. O tenente sentou-se no outro sofá. Vestia a mesma blusa social de antes, mas sem o blazer e o distintivo.

– Gostaria de fazer uma proposta, senhor Merrick.

– Uma proposta? – David franziu o cenho, deitando um pouco a cabeça para o lado. Ter um jornalista em sua casa do nada, à noite, e mais aquilo? Afinal, quem era aquele Garoto do Caixão?

Will tomou fôlego. O que diabos estava fazendo ali, sentado na poltrona da casa de um tenente da polícia? Que merda tinha na cabeça?

– Senhor, eu estava pensando que se o artigo sobre Tyler Kidd for verdadeiro, e vocês estiverem mesmo cogitando recrutar um detetive afastado para o caso atual...

Ele esperou a confirmação ou negação de David, que apenas arqueou as sobrancelhas, para que ele continuasse. William interpretou aquilo como uma confirmação.

Ah, vamos. Vai amarelar agora? Termine de falar!

– Vão ter dezenas de jornalistas todos os dias na delegacia, ou na cena do crime. Vão atrás de vocês, persegui-los e acabar com sua paciência. Vamos querer farejar toda provável declaração potencial, para publicarmos e conseguirmos mais alguns leitores, já que nossa seção policial anda aos trancos e barrancos.

– E qual sua ideia, senhor Persons? – David perguntou, servindo-se de um cigarro que estava em cima da mesa. Não perguntou se Will fumava, ou se ele se importava com a fumaça. Afinal, a casa era de Dave, e ele podia fazer o que quisesse ali, com convidados ou não.

Não comprou uma casa de milhões para perguntar a um jornalistazinho se ele se importava com fumaça de cigarro.

Will respirou fundo novamente.

– Estou vindo aqui para me indicar como jornalista principal dessa investigação, na delegacia.

Ele esperava uma sonora risada de David, mas o loiro nada fez. Ergueu uma sobrancelha, demonstrando surpresa, e perguntou:

– Como é?

– Eu estava pensando, senhor Merrick – William prosseguiu, apoiando os cotovelos nos próprios joelhos, um pouco mais à vontade, gesticulando um pouco e sentindo seus olhos âmbar brilharem – Vocês não querem jornalistas atrapalhando seu trabalho. Nós queremos informações e leitores acompanhando nossas matérias. Então, por que não conciliar isso, colocando um jornalista infiltrado na equipe policial? Assim, você poderia controlar exatamente o que seria divulgado, e o jornal teria o que quer.

– Não queremos, senhor Persons, precisamente – ele enfatizara a palavra como se William fosse um retardado que não entenderia o que ela quer dizer, tragando rapidamente –, que algo seja divulgado.

– Mas nós vamos continuar querendo isso. E se conseguirmos algo que vocês não querem que tenhamos, pode ser ruim para os dois. Minha proposta é eu entrar na delegacia e escrever artigos sobre os casos. E vocês mesmos vão filtrar o que eu mando ou não para a redação.

– Você? – David bateu as cinzas do cigarro em um cinzeiro na mesa de centro.

– Sim. Eu.

– O que te faz pensar que recrutaríamos você?

William engoliu em seco.

– Quantos jornalistas se levantaram para ver o que estava acontecendo entre você e Jameson, e quantos vieram falar com você hoje?

Dave franziu o cenho, sentindo-se desafiado.

– Você fez isso porque é um curioso – ele concluiu, tragando novamente.

– Então pode ver que estou preparado para o trabalho.

David deu uma risada, deixando a fumaça escapar. Will estava nervoso, mas algo dizia que ele estava indo bem. Ao menos, fazendo a coisa certa.

– Eu precisaria de um tempo para lhe dar a resposta, garoto. Não resolvo essas coisas sozinho. Preciso da aprovação da delegada. A burocracia para buscar Tyler está pronta, mas a sua ainda precisa da aceitação dela.

– Então acho uma boa ideia o senhor contatá-la logo, está ficando tarde.

David estreitou os olhos. Tragou novamente, segurando o cigarro com o indicador e o polegar, e ficou de pé, indo para dentro da casa.

William ficou sozinho na sala, pensando na besteira que acabara de fazer.

Ele vai rir da minha cara, vai fingir que ligou para a delegada, Jameson vai me demitir e vou depender do Kyle para ter um prato de comida. Nunca vou estar tão fodido.

Pôs as mãos na frente do rosto, mas assim que ouviu os passos de David se aproximando, voltou à sua postura anterior: o corpo para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.

– Prepare seu material, Persons. Amanhã de tarde estaremos buscando Tyler no Instituto Manson.

– Eu e você? – Will tentou disfarçar sua surpresa, sem muito sucesso.

– Vá para o Manson depois do almoço. Eu dirijo, e te levo para a delegacia depois. Você vai conhecer a equipe. Ligo para o Jameson de manhã e falo do que combinamos.

– Vou escrever artigos semanais e passar para você. E você dá o selo de qualidade.

– Esse é o espírito – disse David, se aproximando da mesa de centro e de William, amassando a ponta do cigarro no cinzeiro.

O jornalista ficou de pé. E sentiu a explosão.

A grande chance de William Persons, o big bang de Longview.

Ele estendeu a mão para o tenente, que não tinha se introduzido formalmente ainda.

– David Merrick.

– Meu futuro colega de trabalho – Will sorria, enquanto Dave apertava sua mão com força.

– Seu futuro chefe – corrigiu David. O sorriso de Will murchou.

Formalidades.

Provavelmente, era um homem responsável, mas devia ser desagradável.

David indicou a porta para o jornalista, e seguiu-o em direção a esta. Abriu, e apertou um botão em um painel na parede para que o portão também fosse aberto. Will saiu da casa, mas a porta permaneceu aberta.

– Gostei do seu apelido, Garoto do Caixão. Amanhã seu trabalho começa, e sugiro que aproveite enquanto ainda não o tem – disse David.

Seu nome é William Persons e você está tendo a chance da sua vida.

– Obrigado, David. Pela oportunidade.

Não deixe isso escapar, Persons.

– Senhor Merrick. Não se esqueça, novato.

David fechou a porta.

Novato. Melhor do que Garoto do Caixão.



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