Aiolia encontrou Marin nas proximidades do Santuário, perdida em seus pensamentos, sentada sobre um pilar caído, observando ao longe a paisagem que aquela região antiga e montanhosa possuía. Ela notou a presença de Aiolia e virou o rosto em sua direção, ela segurava um jornal amassado na mão.
—Olá, Aiolia.
—Que bom encontrá-la. -ele parecia aliviado.
—Algo errado, Aiolia?
—Bem... Sim. -sentou-se ao lado dela e perguntou cauteloso. -Soube do que está havendo no oriente? Com Seiya?
—Refere-se a tal Guerra Galáctica? Sim, eu soube. -ela respondeu simplesmente, como se não fosse nada, surpreendo o cavaleiro de ouro. -Seiya sempre me disse que estava procurando a irmã. E que precisava da armadura para isso. Apesar de que... Isso esteja incomodando o mestre, nada posso fazer se o Grande mestre não ordenar que eu o impeça ou castigue.
—E isso não a preocupa?
Marin levantou-se, colocando as mãos na cintura, e de costas para Aiolia respondeu:
—Não. Seiya já não é mais discípulo. Se ele for considerado rebelde e traidor pelo Santuário, seria meu dever matá-lo.
O cavaleiro a fitou, mesmo estando ela de costas, não conseguia crer que ela dissera aquilo com sinceridade total.
—O mestre enviou cavaleiros para castigar Seiya e os outros. E trazer a...
—A suposta armadura de ouro de Sagitário. -ela virou-se. -Não creio que seja a verdadeira. Acho que tudo é apenas uma grande encenação para a mídia.
—Por que diz isso?
Ela lhe estendeu o jornal e ele o desamassou, olhando a foto impressa sobre a Guerra Galáctica.
—Não sou uma especialista, mas creio que a armadura está um pouco...
—Diferente. -Ele completou. -Totalmente diferente da armadura de meu irmão. Creio que tem razão, Marin.
—Acho que devemos apenas nos manter afastados deste assunto.
—Shina não a deixará ter esta atitude complacente com o assunto. -ele a advertiu. -Ela transferiu a você a culpa pela derrota de Cássius.
—Shina é apenas uma péssima perdedora. -Marin cruzou os braços sobre o peito. -Dela eu dou conta.
—Tem certeza?
—Claro! Não confia em mim, Aiolia?
Ele demorou apenas alguns instantes antes de responder, levantando-se e dando um sorriso. Um daqueles sorrisos que fazem com que o coração da amazona disparar e agradecer por usar uma máscara, que o impediu de ver seu rosto corado.
—Sempre confiei em você. -ele disse por fim.
—Bem... Preciso ir agora. -disse, escondendo o nervosismo que sentia toda vez que ficava próxima a ele.
O cavaleiro a viu se afastando. De repente sentiu que algo errado estava acontecendo, mas não sabia exatamente o que.
Marin caminhava até sua casa, ela era humilde e afastada das demais casas destinadas a moradia dos cavaleiros e amazonas, e gostava deste isolamento. Mas ao estender a mão para tocar a maçaneta, notou que não estava sozinha.
Ao sentir a presença de um cosmo poderoso, mas que seu dono parecia querer mantê-lo oculto. Virou-se para fitar a pessoa que ostentava tal cosmo, ao mesmo tempo tranquilo e poderoso.
Não escondeu seu espanto.
—Você?!
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Muitas coisas aconteceram após esta breve conversa entre Marin e Aiolia. Houve o fim da Guerra Galáctica, precedida pela luta entre os cavaleiros de bronze. O fato dos rebeldes terem derrotado os cavaleiros enviados pelo mestre, levou este a enviar os cavaleiros de prata.
Misty, Asterion, Moses e Marin foram enviados para esta missão. A notícia chegou aos ouvidos de Aiolia. Apesar de o cavaleiro confiar nas habilidades da amazona, não deixou de imaginar como a amazona lidaria com o fato de ter que matar o próprio discípulo em nome do Santuário.
O menino que ele acompanhou a distância o crescimento e seu desenvolvimento para um cavaleiro, agora era um traidor. E traidores eram punidos com a morte. Não importava quem eram, levantar a mão contra o Santuário e contra a própria Atena era algo imperdoável!
Aiolia não deixou de comparar a situação com sua própria história. Ele sabia o que era sentir na pele possuir alguém próximo e amado, se tornar um traidor e ser executado. Com estas dúvidas e lembranças amargas em mente, Aiolia parecia longe, parado nas escadarias próximas a primeira casa, tão distraído que nem percebeu que outra pessoa se aproximava.
—O tempo está fechando. -a voz forte de Aldebaran faz o cavaleiro de leão olhar pelo ombro, em seguida para o céu azul e límpido.
—Ao contrário, Aldebaran. Está um belo dia!
—Não. Tempos difíceis estão vindo. -encostou-se a parede de pedra, cruzando os braços.
—Se refere ao tempo ou aos atos de rebelião no Oriente? -ergueu uma sobrancelha analisando Aldebaran. -Sempre que visita Mu em Jamiel você volta com uma conversa estranha. Acho que deveria parar de ir a Jamiel.
—Por que?
—Ele é um rebelde. Insiste em não voltar para sua Casa Zodiacal e a obedecer ao mestre.
—Engraçado... sorriu coçando o queixo. -Por um momento lembrou-me de outra pessoa que sumiu do Santuário.
—Quem?
—Você, de sete anos atrás. Está falando igual àqueles que sempre detestou seguir. –sorriu ao perceber o olhar hostil de Aiolia com sua provocação, em seguida o sorriso sumiu em seus lábios ao ver uma figura cambaleante se aproximando. -Mas o que...?
Aiolia levantou-se fitando o mesmo homem que se aproximava. Soldados correram para ele e o ampararam quando este caiu ao chão, exausto.
—É Asterion! -um deles gritou, espantado. -Está ferido!
—Levem-no imediatamente aos curandeiros! -ordenou um com ares de líder, preocupado com a situação do cavaleiro de prata. -Rápido, avisem ao senhor Píton o que está havendo!
—Esperem! -ordenou Aiolia se aproximando. Os soldados davam passagem ao cavaleiro de ouro, nenhum se atrevendo a impedi-lo. -Cavaleiro de prata, diga o que houve...
—Aiolia. Ele está ferido. -advertiu Aldebaran, observando próximo. -Deixe-o se recuperar antes.
—Não. Preciso saber! -olhou para Asterion, forçando-o a fitá-lo. -Marin foi com você para o Oriente punir os rebeldes...onde ela está? Por que ela não retornou? -sua voz alterou-se, denotando preocupação com a vida de Marin. -Onde ela está?
—E-ela está viva... -Aiolia suspirou aliviado. -Fo-fomos derrotados...-respondia enfraquecido. -É uma vergonha admitir...mas meus companheiros foram derrotados por um reles cavaleiro de bronze...
—Impossível! -exclamaram os soldados.
—E foi este cavaleiro de bronze que o derrotou? Não consigo imaginar que tenha feito isso...
—Fomos traídos...-falou cuspindo sangue. -Marin nos traiu... -diz lançando seu último suspiro.
—O que? -Aiolia o segurou pela gola da blusa. -Mentira!
—Aiolia! -Aldebaran segurou firme no ombro do companheiro. -Já chega! Não vê que ele está morto? Não pode responder mais nenhuma pergunta sua!
Ele hesitou um instante, mas soltou o cavaleiro de prata que foi carregado pelos soldados para longe do cavaleiro de leão, que estava transtornado.
—Ele estava morrendo. Não dizia coisa com coisa. -dizia Aldebaran. -Provavelmente delirando.
—Tem razão. Marin jamais trairia o Santuário. -voltou o olhar para o taurino. -Mas porque não retornou?
—Talvez esteja se recuperando de algum ferimento. -concluiu Aldebaran. -Ou não pretende voltar até cumprir sua missão.
Aiolia não respondeu, subindo as escadarias com uma sombra de dúvida e preocupação pairando sobre si.
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—Marin traiu o Santuário?
—Sabia que não deveriam confiar em uma estrangeira.
—Agora uma amazona de prata está com os rebeldes?
—Por que alguém como a Amazona de Águia trairia Atena?
Aiolia ouvia os comentários entre soldados e moradores do Santuário, sobre a Amazona que havia traído Atena e se aliado aos rebeldes. Os comentários somente aumentavam a medida que os dias passavam e novas notícias de cavaleiros derrotados pelos rebeldes chegavam.
Alguns moradores olhavam desconfiados para o cavaleiro, sabiam da amizade que o cavaleiro de leão nutria pela amazona. Uma incômoda lembrança de um passado que ele queria muito esquecer parecia ter retornado.
—O que esperar de quem anda com o irmão do traidor? -alguém disse com desprezo na voz.
Aiolia estancou ao ouvir isso, o olhar de ira e indignação voltado àquela gente, fazendo-os estremecer e desviarem os olhares em vergonha e medo. Fechando o punho em sinal de raiva, o cavaleiro caminhou a passos largos na direção da Décima Terceira Casa.
Chegando finalmente ao Salão do Grande Mestre ouviu vozes. Reconheceu imediatamente as vozes do Mestre Ares e de Milo de Escorpião. Ele parecia surpreso com o que o mestre dizia a respeito dos rebeldes, fazendo Aiolia imaginar em que mundo Milo vivia para não estar a par dos últimos acontecimentos.
Lembrou-se que o cavaleiro defensor da oitava casa havia passado meses longe do Santuário, em alguma missão secreta para o mestre e por isso, não sabia o que estava acontecendo.
Ao ouvir que o mestre insistia em mandar um cavaleiro de ouro acabar com a ridícula rebelião no Oriente e punir os responsáveis por ela, resolveu se manifestar. Era aquela a sua chance.
Iria ao oriente. Puniria Seiya e os demais cavaleiros de bronze. Traria a armadura dourada em posse dos rebeldes consigo. Limparia sua honra, a do Santuário e reencontraria Marin e a traria de volta. Com este pensamento invadiu o Salão sagrado, exigindo cumprir tal missão, mesmo que isso significasse matar o cavaleiro de Escorpião para conseguir isso.
Nada o impediria.
“—Marin...” -era o nome que ecoava em sua mente.
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Japão, em um galpão abandonado nas imediações do aeroporto internacional de Tóquio.
Marin acabava de enfaixar seu pulso ainda dolorido pela última luta, a máscara jazia ao seu lado. A amazona suspirou, em um misto de preocupação e inquietação. Sentia as mudanças no ar. Sentia que as lutas se tornavam cada vez mais perigosas. Vir ao Japão sanou todas as suas dúvidas a respeito do Mestre do Santuário.
As amazonas raramente entravam em batalhas sangrentas. Cabiam a elas missões de espionagem e reconhecimento. E há algum tempo, movida por suas próprias desconfianças e alimentada pela visita de um cavaleiro de ouro, dado como rebelde.
Mu de Áries apareceu para a jovem, indagando-a sobre o que ela pensava a respeito do Mestre, dos últimos acontecimentos, dos atos dos cavaleiros que não condiziam com a filosofia de justiça e amor defendidos pela deusa.
A conversa breve foi o suficiente para que a amazona passasse a investigar o comportamento do Mestre Ares. E ver, mesmo ao longe a menina chamada Saori Kido, foi mais do que suficiente para que ela tivesse a certeza. Ela era a verdadeira Atena.
Ela sabia dos riscos que estava correndo, e tentava segurar o medo que a dominava. Não era o medo da morte, não temia morrer em nome daquilo em que acreditava. Temia sobre o que um certo cavaleiro pensaria sobre ela, até que a verdade surgisse.
—Agora...-murmurava a si mesma. -Preciso resolver algumas coisas antes de voltar ao Santuário e ajudar Atena a voltar ao seu devido lugar. Conto com você para protegê-la, Seiya. Pois não será fácil cumprir esta missão...
Estremeceu levemente ao pensar que Seiya teria que enfrentar ao lado de seus amigos cavaleiros poderosos como os Cavaleiros dourados... tão poderosos que até mesmo deuses caíram diante deles.
Será que Aiolia se colocaria diante de Seiya?
—Não...ele não faria isso. -dizia a si mesma. -Aiolia tem um bom coração, ele perceberia as verdadeiras intenções dos cavaleiros de bronze e sentiria que Atena está ao lado deles...preciso acreditar nisso...
Marin recoloca sua máscara e em seguida caminha para fora de seu abrigo. Embarcaria incógnita em um avião de cargas que partiria para um país vizinho a Grécia. De lá daria um jeito de chegar imediatamente ao Santuário. Pretendia chegar lá antes de Seiya e os outros.
Se suas suspeitas finais se confirmassem, precisaria convencer Aiolia de que lado deveria ficar e ele alertaria os demais cavaleiros que desconheciam a verdade. E se alguém ainda duvidasse...bastaria mostrar a eles o que Star Hill escondia. Antes de mais nada, era para lá que seguiria.
Com isso em mente, correu na direção de seu destino.
Continua...
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